Nameless escrita por Guardian


Capítulo 11
Máscaras


Notas iniciais do capítulo

Era pra eu ter terminado esse capítulo semana passada, mas o aniversário da minha sobrinha ocupou todo meu sábado ._.



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 Entediado. Era assim que Mello se encontrava no momento; profunda e extremamente... Entediado.

 Odiava aquele tipo de lugar, odiava aquele tipo de roupa, odiava aquele tipo de pessoas, odiava aquele tipo de trabalho, e mais ainda, odiava aquele homem maldito!

 ...

 Deu para entender algo além de que Mello odiava muitas coisas? Não? Então vamos explicar parte por parte.

 Lugar? Bom, para entender isso, é preciso antes dizer que o serviço o qual Mello tinha "aceitado" desta vez, deveria ser realizado em uma mansão de quatro andares - sem contar o sótão - preenchidos de futilidades, e cheia de pessoas mais fúteis ainda. E assim como já foi revelado que o promissor estudante irlandês de Direito, Mello, é na verdade o antigo herdeiro de uma rica família inglesa, Mihael, também já foi revelado que mesmo quando pequeno ele odiava se sentir preso em uma casa enorme e cheia de regras e itens, considerados por ele, inúteis.

  Roupa? Acontece que nesta mansão em específico, nesta mesma exata ocasião, estava sendo realizada uma festa. E não uma festa qualquer; um baile de máscaras. Isso mesmo, com direito a roupas de épocas antigas, alguns chapéus aqui e ali, e tudo quanto é tipo de máscaras. E para sua infelicidade, Mello não era exceção. As roupas incomodavam, iam totalmente contra seu gosto, e ainda era obrigado a usar um chapéu "ridículo" para completar!

 Pessoas? "Preocupação exclusiva com a conta bancária, aparência, exibicionismo, e fofocas sobre a vida dos outros" era o único fator que Mello enxergava ao observar aquelas pessoas ali reunidas, rindo, bebendo, dançando. Talvez nem todas elas fossem realmente assim, provavelmente haviam consideráveis exceções, mas mesmo que ele estivesse errado em seu julgamento,... Não importava, ele não aceitaria estar errado e continuaria as vendo do mesmo jeito.

 Trabalho? Estava longe de se importar em ter que "cuidar" daquele perfil de vítimas, ou de ter a lista com mais de um alvo. O que o incomodava era mais a questão de ter que se misturar no ambiente e praticar o ato em um local, além de desconhecido, lotado. Não que estivesse além de suas habilidades, apenas... Achava um saco ter que fazer o papel de convidado em um evento extremamente maçante, e ainda por cima ter que ter todo o cuidado redobrado de ser silencioso e discreto na hora de cumprir o serviço. Normalmente já tinha cuidado além do necessário, mas nesse tipo de trabalho nem isso era suficiente...

  Homem? Obviamente que estamos falando de Klaus, por aparecer com um trabalho desses e sem nenhuma opção de recusa. Bem, a opção não era exatamente inexistente, mas isso implicaria em algumas consequências que Mello gostaria de não ter de enfrentar e...

 De qualquer forma, cá estava o loiro, apenas esperando pelo momento mais oportuno para agir.

- Como? - foi a única pergunta que Mello conseguiu formular, encarando descrente o conteúdo do pacote que Klaus havia lhe entregue há pouco, e certo de que as palavras que tinha ouvido eram somente mais uma brincadeira sem graça e sem sentido do mais velho. Porque ele queria acreditar que aquela pessoa que supostamente o conhecia melhor do que qualquer outro, não acreditaria realmente que ele aceitaria fazer aquilo de bom grado.

 - Exatamente o que está escrito aí - o homem abriu um largo sorriso e seus olhos amendoados chegaram a brilhar de forma divertida pela expressão de seu "protegido" - E já deixo avisado que não vou aceitar nem um "não" nem um "talvez" desta vez.

 Mello bufou irritado e jogou a pasta na mesa, bem em frente à Klaus, em um implícito "Ah é? Azar seu".

 O moreno apenas deu de ombros sem nem vacilar o sorriso - Então acho que vou ter que ficar indo à sua casa todos os dias até o prazo máximo. Espero que você tenha cerveja na geladeira.

 Klaus não sabia, mas tinha acabado de dizer as palavras mágicas pra conseguir o que queria. 

 Se ele fosse ao apartamento do loiro, encontraria Mail lá. E se ele encontrasse Mail, Mello não tinha dúvidas de qual seria o destino do ruivo. E por algum motivo que ainda não era capaz de entender, ele queria evitar as chances daquilo acontecer, mesmo que isso significasse... Ter que fazer a merda do trabalho.

 O salão era imenso, e mesmo o enorme número de pessoas que o ocupava não conseguia disfarçar esse fato. Chegava a ser engraçado que, mesmo com todo o sentimento de independência e aversão quanto à Inglaterra, algumas pessoas que se diziam ser extremamente patriotas e anti-britânicas, ostentasse com tanto orgulho obras oriundas daquele país, como alguns dos quadros pendurados pela extensão, de William Blake ou de Charles Landseer. 

 Enfim. a decoração estava, sem dúvida alguma, impecável. E as fantasias dos convidados, certamente invejáveis. 

 Quer um exemplo? O próprio Mello. A roupa consistia em um conjunto azul meia-noite, onde a calça branca colada e a camisa de um tom de azul ligeiramente mais claro eram parcialmente cobertos pela sobrecasaca, que ia até a altura dos joelhos. Uma máscara preta, com poucos e dsicretos detalhes também em azul, cobria boa parte de seu rosto, inclusive a cicatriz, e o cabelo loiro estava preso para trás, escondido sob um chapéu simples, o mais discreto dentre todos ali. Claro que o objetivo principal daquela fantasia não era agradar seu usuário - o que seria bem difícil -, e sim fazê-lo se misturar ao grupo de convidados e, principalmente, esconder a identidade dele de modo que se alguma daquelas pessoas o encontrasse novamente, não fosse capaz de reconhecê-lo.

  O loiro mantinha-se fora do caminho, encostado discretamente em um "lados" do salão circular, apenas observando os movimentos ao redor. Os olhos azuis, parecendo até mesmo um complemento de sua máscara, iam de um lado a outro, acompanhando as desenvolturas das danças que ocorriam no centro e ponderando qual seria o melhor alvo pelo qual começar. Duas mulheres e um homem de aparente bom condicionamento físico. 

 Talvez fosse melhor começar pelo homem e deixar as mulheres por último, assim, se acabasse chamando a atenção, já poderia deixar o lugar sem nem olhar para trás. E não, não é nada parecido com pessimismo ou algo assim que o fez pensar desse jeito. É somente uma fato conhecido por todos: mulheres fazem barulho. Principalmente quando estão sendo mortas.

 Bom, era isso o que ele planejava fazer, e seria isso o que ele faria.

 Por isso, tão logo viu o homem - Alexander Donovan - se separar do grupo com quem aparentemente trocava histórias engraçadíssimas, Mello se desencostou da parede e, de forma extremamente natural, continuou a andar na mesma direção. Ao notar a quantidade de copos seguidos, do que parecia ser uísque sem gelo, que Alexander esteve tomando durante toda a hora anterior, chegou à conclusão óbvia de qual seria o melhor lugar para encontrá-lo desacompanhado.

 Pelo ponto onde estava parado antes, Mello alcançou o banheiro antes que do outro sequer chegar perto. Ser visto não era uma preocupação, porque certamente o homem iria até o banheiro que, apesar de ainda ser no primeiro andar, não tinha sido liberado aos convidados. Como dono da casa e anfitrião daquela festa, não seria estranho que Alexander preferisse utilizar um local privado. Foi o que Mello pensou, e acertou.

 O homem entrou assoviando uma melodia animada e perdida em sua memória, parando quase imediatamente ao ver pelo enorme espelho que não era o único lá. Começou a dizer um bem-humorado "Desculpe, mas este aqui é exclusivo", mas um pano sendo bruscamente enfiado em sua boca seguido de uma fita adesiva sendo colada e quase fundida à pele, de tão forte, o interromperam.

 Talvez, apenas talvez, se o choque não tivesse sido tão grande, se tivesse sido mais rápido em assimilar o fato de estar sendo atacado em seu próprio banheiro por um de seus convidados - ou assim pensava ele -, ele poderia ter reagido a tempo. Tinha o físico bem treinado e seus músculos eram visivelmente mais numerosos do que os de seu agressor, e mesmo doses e mais doses de álcool acumulados em seu organismo não podiam eliminar completamente essa vantagem. Poderia ter imobilizado aquela pessoa, poderia ter arrancado os obstáculos da boca - arrancando metade da pele, mas isso era o de menos - e gritado por ajuda.

 Poderia, mas não o fez.

 A surpresa o imobilizou por preciosos segundos, segundos mais do que suficientes para Mello impedir qualquer chance da situação sair do seu controle. Deu uma forte joelhada no estômago do outro, e sem desperdiçar nem um instante, em um único puxão fez a capa negra - que o anfitrião como complemento por cima do terno risca de giz feito sob medida - soltar-se dos pontos qua a mantinham no lugar. E enquanto o homem engasgava e quase sufocava por conta da joelhada, o loiro posicionou a capa recém-arrancada na sua frente, como uma espécie de escudo, e concluiu o serviço.

 Tudo o que Alexander pôde sentir foi os ombros sendo puxados para trás quando perdeu o tecido preso à eles, e apenas a dor inicial, talvez intensificada pelo medo e consciência de que morreria bem ali, do impacto da bala entrando em contato com sua testa.

 Mello deixou o corpo do homem cair livre e pesadamente no azulejo e jogou o tecido agora manchado sobre ele, ocultando ao menos os olhos semi-abertos e o ferimento. Tudo como o planejado. Nem mesmo uma mísera gota de sangue respingou na sua roupa, e nenhum barulho desncessário foi feito. 

 Saiu de perto do corpo antes que o líquido vermelho escorrendo do ferimento sujasse suas botas - a última coisa que precisava nesse ponto era deixar pegadas - e fechou a porta ao sair.

 Primeira etapa: concluída.


~x~

 De volta ao salão, Mello buscou com os olhos o alvos restante. Era agora que o verdadeiro desafio começava. Se quisesse que aquilo desse certo sem comprometê-lo, teria que matar a mulher antes que qualquer um notasse a estranha ausência do Senhor Donovan, mas por mais que pensasse, não conseguia pensar em um meio fora de suspeitas de se aproximar dela.

 ...

 - O senhor se importa?

 Uma voz firme e de entonação baixa e sedutora bem ao seu lado surpreendeu o loiro, que por pouco não refreou o instinto e tirou a arma escondida na parte de trás da roupa. E ficou ainda mais surpreso ao reconhecer aquela mulher que lhe dirigia um olhar cheio de indisfarçável interesse por trás da máscara dourada. Victoria Messy, seu último alvo.

 Parece que a chance surgiu mais rápido e fácil do que esperava.

 Mello sorriu, "Claro que não", e pegou na mão que a mulher discretamente lhe oferecia. Os dois se dirigiram ao centro do salão, e ao som da música que se iniciava, dançaram.

 O loiro não gostava de dançar, e nem saberia como fazer aquilo se não tivesse sido obrigado a aprender quando pequeno, mas gostando ou não, não mudava que ele era muito bom no ato. Movimentava-se em harmonia com Victoria, que apesar de biologicamente já ser considerada parte da "meia-idade", ainda mantinha uma aparência invejavelmente jovem. Era bonita, mas não estonteante o bastante para prender os olhos e desejos de toda a população masculina do recinto. "Ainda bem", pensava Mello. Seria bem mais trabalhoso diblar algum admirador ciumento, se fosse o caso.

 A mulher olhava para o homem que a guiava sem qualquer acanhamento. Ele tinha um quê misterioso, e não era por causa da máscara; e aqueles olhos... Nunca vira antes um azul tão belo, tão penetrante, e ao mesmo tempo tão distante quanto o daqueles olhos. No momento não se importava muito em descobrir quem ele era, depois poderia perguntar a Alexander. Tudo o que queria agora era...

 A música chegou ao fim e todos interromperam seus passos, apenas esperando uma nova começar novamente. A mulher estava prestes a dizer algo, quem sabe com um convite subentendido, mas Mello foi mais rápido. Curvou-se e sussurrou ao pé do ouvido dela, poucas e decisivas palavras, antes de se afastar sem olhar para trás. Victoria mordiscou o lábio inferior, satisfeita, observando as costas daquele homem.

 Mello esperou ter certeza de que ninguém estava prestando atenção naquele lado, antes de rápido e silenciosamente subir a escadaria secundária da casa. Alcançou o último quarto do andar e esperou.

 Não foi preciso esperar muito, logo Victoria apareceu. O sorriso dela, revelando os dentes perfeitamente brancos e alinhados, juntamente aos olhos verdes brilhando em luxúria antecipada, mostravam que ele não teria grandes dificuldades.

 Por um breve momento, ao encarar aquele verde, veio à mente de Mello a imagem de outra pessoa de olhos também verdes, junto com a estranha indagação se ele já havia algum dia ostentado um brilho daqueles no olhar, e se alguma vez no futuro poderia vir a ostentar. Foi um instante muito breve, depois do qual Mello se xingou mentalmente por ter permitido. Voltou o foco à mulher.

 Porta trancada, luzes apagadas, situação favorável. Victoria fez menção de retirar a máscara do outro, mas sua mão perdeu o movimento quando Mello a segurou forte e sorriu provocador. Klaus havia lhe ensinado bem mais do que somente manejar uma arma. Os lábios se encontraram, e a despeito da imagem de Mail lampejar uma vez mais na mente do loiro - Que merda era aquela?! -, ele fez bom uso do beijo que gostaria de ter evitado iniciar, distraindo a mulher que suspirava em deleite a cada oportunidade que era dado para o mínimo de ar ser tragado aos pulmões. Mello soltou lentamente a mão que segurava a de Victoria, mantendo a outra na cintura dela, e a levou até a parte de trás de seu cinto, tateando até sua pele entrar em contato com a lâmina fria que procurava.

 O beijo só foi interrompido quando nenhum dos dois conseguia mais mantê-lo. Victoria estava em êxtase, e se não fosse por isso, talvez tivesse percebido a frieza daqueles olhos azuis e percebido que havia algo errado. Ela sorria, e ao sentir a mão que antes estava em sua cintura, agora em seu rosto, próxima à boca agora manchada pelo batom, pensou que viria outro intenso beijo e iriam logo aos finalmentes.

 Isso, claro, até ela sentir a ardência e dor excruciante na barriga, quando a lâmina a transpassou. Foi aí que ela descobriu que aquela mão não estava ali para lhe fazer agrados, e sim para tampar sua boca a fim de evitar qualquer grito de se formar.

 Ela tentou resistir, o máximo que a névoa de dor e o aperto forte daquele homem permitiam, mas o máximo que conseguiu foi soltar uma das mãos e empreender uma vã tentativa de afastar seu ceifador. Fora até bastante, para alguém naquelas condições.

 Mas acontece que aquela tentativa falha, de alguma maneira acabou afrouxando o nó de fita preta que mantinha no lugar a máscara de Mello. Ele soltou a mulher, deixando-a cair encostada na enorme cama de casal, já sabendo que ela não tinha mais forças de formular um grito, quanto mais tentar fugir. Desmanchou por completo o nó para arrumar a máscara no lugar outra vez antes de sair dali, não tinha mais problema nenhum que seu rosto fosse visto por ela.

 O que ele não esperava, porém, era o olhar ainda mais arregalado da mulher, se não chocado e cheio de reconhecimento, dirigido à sua cicatriz agora à amostra, e a única palavra saída sem forças dos lábios vermelhos e levemente inchados.

 - ... K-Ke... Keehl...?

 Mello congelou, mantendo a máscara suspensa no ar a meio caminho de volta ao seu rosto, sem acreditar no que tinha ouvido. Quando se deu conta de que realmente havia ouvido seu nome, seu antigo nome, já era tarde demais. Victoria já havia morrido.


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Notas finais do capítulo

Hm, Mello sedutor xD~ (e pensando no Matt, Hehehe)
E então, o que acharam? :3
Ps: alguém aí quer uma criança de 8 anos? É grátis, ela tem garganta beeeem potente, gosta de doces e quase alcança meus 1,60m ó_ò Entrego hoje mesmo (e lá se vai outro sábado...)