Durante o tempo em que se seguiu, não apenas Utau e Yaya, mas agora também Rima e até mesmo Tsukasa pareciam desconfiar cada vez mais sobre a estranha mudança que parecia ter ocorrido no comportamento de Nagihiko e Tadase. Se comparado ao Valete, o Rei era realmente um péssimo ator, e sempre que era abordado sobre o assunto, só conseguia gaguejar e corar furiosamente, e no máximo, negar as suspeitas ou se fingir de desentendido. No entanto, Nagihiko também parecia estar tendo suas próprias dificuldades, só que era pra esconder a presença de Temari. Claro que estava mais do que feliz por sua primeira Chara estar de volta, mas se alguma outra pessoa à visse, automaticamente perguntaria por Nadeshiko, e aí sim seu segredo iria pro espaço de uma vez.

No entanto, todas essas preocupações e segredos foram postos de lado no último dia de viagem, quando Tsukasa insistiu para que todos participassem de um evento que estava acontecendo na praia.

– O que?! Um Festival??
– Isso mesmo - o Diretor confirmou sorridente - Soube que haverá um Festival aqui na praia mesmo essa noite. Como só vamos partir de noite, acredito que podemos apreciar pelo menos o início do Festival, já que ele começará ao pôr-do-sol, o que acham?
– Parece uma boa idéia, faz tempo que não vou a um Festival! - Kukai exclamou, rapidamente se empolgando
– E eu então... nem lembro quando foi a última vez que fui à um Festival - Ikuto comentou, forçando a memória, sem sucesso - Suponho que vai ser bom reviver esses momentos nostálgicos... certo, baixinha? - ele pssou deliberadamente um braço ao redor do pescoço de Rima, fazendo a garota se engasgar com o chá que estava a meio caminho de beber
– P-Por que você... p-pergunta logo pra mim?! - Rima tossiu nervosa, tanto por ter se engasgado quanto pelo repentino abraço do neko
– Eu soube que vai ter uma barraca especial só com chás exóticos, Rima-chan... - Nagi comentou como quem não quer nada
– Eu vou!!! - a Rainha gritou antes que pudesse se conter
– Legal, então vamos todos! Vocês devem ficar tão gracinhas em yukatas! O Tadase eu já sei que fica super kawaii, mas o Nagi-kun deve ficar muito fofo também! - Utau empolgou-se rapidamente, atirando um braço ao redor do pescoço de cada um e abraçando os dois garotos por trás
– Arigatou, Tsukiyomi-san... aposto que aquele seu querido surfista também te achará uma graça de yukata - alfinetou Nagihiko
– Que.... q-q-q-que raios você está dizendo Nagi-kun??? - a garota os soltou mais que depressa, como se eles dessem choque, recuando vários passos assustada - E-Eu não... isto é... a-aquilo foi... n-não foi nada, foi só um infeliz acidente, ouviu bem??
– Ehh... pois você está muito nervosa por causa de algo que foi supostamente um acidente - o Valete insistiu
– Do que está falando, Fujisaki-kun? Que surfista é esse? - Tadase perguntou curioso
– Ah, não soube? É que a Tsukiyomi-san esbarrou outro dia com um surfista que com certeza é o amor da vida del...
– Nem mais uma palavra ou te arrebento, seu moleque metido a detetive!!! - Utau tampou a boca de Nagihiko com as mãos antes que ele terminassea frase, impedindo o garoto de falar
– Ahh mas a Yaya soube dessa história também! - a Às intrometeu-se - Depois daquilo a Yaya até foi perguntar o nome daquele cara, pra ficar bem informada... você tem bom gosto mesmo, hein Utau-chan?!
– V-Você... p-p-pe-perguntou o nome dele?! - Utau falou com voz rouca, e agora por algum motivo sentindo-se uma tola por não ter lembrado de perguntar o nome do rapaz também
– Ehh então quer dizer que a minha irmãzinha arranjou um novo paquera, é? - Ikuto perguntou, sorrindo como o Gato de Cheshire - Bom saber... depois quero conhecer esse cara também
– Pra quê?! Não me diga que logo você vai querer dar uma de irmão super-protetor?! - Kairi indagou incrédulo
– Até parece... quero é zuar os dois mesmo - Ikuto confessou na maior cara de pau
– Ahh como é lindo o amor na flor da juventude... sinto que a Utau-chan deixará o ramo da espionagem logo logo - Tsukasa comentou sonhador, imaginando se teria que arranjar uma nova parceira para obter informações sobre Tadase e Nagi
– Por favor, o senhor também não, Tsukasa-san!! - a cantora exclamou exausta, pela primeira vez sentindo na pele a tortura que era ser interrogada, que ela sempre impunha à Nagihiko - O-Olhem aqui, nós estamos fugindo do assunto! Se vamos mesmo à esse Festival, então precisaremos de yukatas, não é?? Eu não sei vocês, mas eu não trouxe nenhuma, então teremos que no mínimo sair pra fazer compras! - ela desconversou, tentando desesperadamente mudar o rumo da conversa
– Ahh sim, bem lembrado! Bem, eu imaginei que vocês não tinham trazido yukatas, então tomei a liberdade de providenciar algumas - o Diretor colocou uma enorme bolsa de compras em uma das camas, e outra bolsa idêntica em outra cama - Escolham à vontade, e espero que estejam do tamanho certo
– Sugoi... arigatou, Tsukasa-san! E desculpe por te dar todo esse trabalho - Tadase falou, enquanto examinava a sacola de compras com yukatas masculinas
– Ah, tudo bem, não se preocupem. Considerem um presente - ele sorriu gentilmente como sempre fazia - Bem, vou deixar vocês à vontade para escolherem as roupas com calma, então com licença - ele saiu do quarto, fechando a porta atrás de si
– Tsukasa-san tem mesmo bom gosto... olha só pra isso, tem uma mais linda do que a outra! - Amu exclamou, erguendo uma yukata vermelha com flores para examiná-la melhor, e Nagihiko deu uma olhada com o canto dos olhos também. Há um ano atrás, ele estaria ali, ao lado das outras meninas, escolhendo yukatas femininas junto com elas. Era incrível como sua vida tinha mudado tanto em apenas um ano. Não apenas conseguiu se libertar da farsa que foi obrigado a viver a vida toda, como também teve seus sentimentos correspondidos pela pessoa que mas amava no mundo inteiro. Tudo ainda parecia um lindo e doce sonho do qual ele não queria ter que acordar jamais
– Fujisaki-kun - a voz suave de Tadase o despertou de seus pensamentos - Vamos, temos que voltar pro nosso quarto. As meninas querem experimentar as yukatas, e nós temos que escolher as nossas também
– Ah... certo, tudo bem - ele viu os demais garotos já à porta e os seguiu, voltando para seu próprio quarto, com Tadase em seu encalço.

Assim que chegaram lá, tanto Ikuto quanto Kukai escolheram a primeira yukata que parecia ser do seu tamanho e começaram a se despir sem fazer cerimônia e, mais uma vez, Nagihiko, Tadase e Kairi se entreolharam, visivelmente perturbados. Tadase e Kairi eram tímidos, e não se achavam confortáveis para despir-se na frente dos amigos. Mesmo que fizessem isso no vestiário da escola, era diferente quando estavam sozinhos em um quarto, ainda mais com alguém como Ikuto, de quem nunca sabiam o que esperar. Já Nagihiko, depois de tantos anos como Nadeshiko, desenvolveu certa reserva quanto a se trocar na frente dos outros, algo inconsciente. Quando os dois garotos mais velhos saíram do quarto, dizendo que iriam ver se alguma das meninas já tinha terminado (no caso de Ikuto, ele provavelmente tentaria espiá-las), Kairi optou por trocar de roupa no banheiro, pegando a yukata mais próxima, e sem se importar muito com a cor ou o modelo. Poucos minutos depois, ele também terminou e saiu do quarto, deixando o Rei e o atual Valete sozinhos, em um incômodo e constrangedor silêncio. Embora já tivessem se trocado juntos outras vezes antes, essa era a primeira vez que o fariam depois de conhecerem os sentimentos que um nutria pelo outro. O fato de ambos serem garotos de repente parecia não importar mais, e agora tanto Tadase quanto Nagihiko sentiam uma estranha mistura de constrangimento por serem vistos sem roupa enquanto se trocavam, e uma curiosa vontade de ver o outro se trocando.

No entanto, de alguma forma, eles conseguiram manter a sanidade que lhes restava, e decidiram que seria melhor para ambos se trocarem de costas um para o outro. Tadase não se importou muito com o modelo da roupa e escolheu uma yukata azul apenas porque parecia ser a menor, e então virou-se de costas para o Valete, que fez o mesmo. Ainda com o coração batendo descontroladamente, e sentindo o rosto afoguear-se cada vez mais, , Tadase inspirou fundo para tomar coragem e começou a se despir, trocando suas roupas comuns pela yukata e vestindo-a o mais rapidamente que suas mãos trêmulas permitiam, ainda que o simples pensamento de que Nagihiko estava fazendo o mesmo bem atrás dele não ajudasse muito. Mesmo depois de terminar de se trocar, ou pelo menos quase isso, Nagihiko falou que ainda não estava pronto, de modo que o Rei teve que aguardar de costas para ele. Depois de vários minutos, ele indagou:

– Você já terminou, Fujisaki-kun? - Tadase perguntou pela terceira vez, de costas para o maior, que parecia demorar tanto para se arrumar quanto uma menina demoraria
– Quase, já estou acabando - Nagi repetiu a mesma frase que respondera das três últimas vezes em que essa pergunta foi feita
– Céus, às vezes você parece mesmo uma garota, demorando tanto desse jeito só pra trocar de roupa - o loiro deixou escapar
– Gomen nee... é um hábito que herdei da Nadeshiko - o Valete respondeu, rindo sem graça - Nee, não consigo decidir se prendo o cabelo numa trança ou se deixo assim mesmo, o que você acha?
– Deixe assim, ele fica mais bonito solto
– Mesmo? Mas eu já ando assim normalmente, queria fazer alguma coisa diferente... - Nagihiko remexeu as pontas do próprio cabelo incerto, quando sentiu uma pequenina mão tomar-lhe as mechas de cabelo timidamente, que ele segurava por trás, puxando-as para si, e arfou de surpresa. Sentiu a respiração cálida de Tadase batendo ems eu pescoço, agora parcialmente descoberto pelos cabelos, fazendo-o corar
– Deixe seu cabelo assim, por favor - Tadase pediu num fio de voz, levando as mechas de cabelo do Valete até o rosto e aspirando seu cheiro - Eu gosto... d-de poder acariciar seus cabelos assim, quando não tem ninguém olhando... se eles estiverem presos... e-eu não vou poder fazer isso
– H-Hai, hai, já entendi, não precisa fazer essa cara - o Valete puxou as mechas de cabelo de volta, envergonhado, e surpreso em saber que havia outra parte do seu corpo que Tadase gostava além de suas pernas - Vou deixar ele solto, está bem?
– Hai! Arigatou, Fujisaki-kun! - o Rei agradeceu, sorrindo brilhantemente, e Nagihiko virou-se de frente para ele à tempo de ver o lindo sorriso que o loiro exibia. Logo depois, reparou também que Tadase ainda segurava firmemente a parte inferior da yukata, ainda desamarrada, com uma das mãos - Hotori-kun, você falou tanto de mim, mas ainda não se vestiu??
– Ahh... i-isso é... - Tadase desviou os olhos para o lado, corando - Bem... n-na verdade, eu não consigo amarrar sozinho... e estava esperando que você pudesse me ajudar
– A-Ajudar?! - Nagihiko gaguejou, corando também. Seus olhos fixaram-se na cintura do Rei, onde faltava ele amarrar a faixa da yukata, e forçou-se a não permitir que seus olhos se desviassem mais para baixo - Ano... t-tem certeza de que é uma boa idéia pedir isso pra mim? Quero dizer, eu... bem... e-eu posso acabar tendo pensamentos estranhos fazendo isso, e... ahh droga, você está querendo me provocar, não está, Hotori-kun??
– O quê?! Não é verdade, eu quero ajuda mesmo! - Tadase garantiu, sem entender o que o maior queria dizer - Ou por acaso você... p-prefere que eu peça isso pra outra pessoa?
– Não!! - Nagihiko gritou, antes que pudesse parar pra pensar - Eu... q-quero dizer... não me agrada a idéia de ter... outra pessoa te t-tocando... etto... ahh, está bem, eu faço isso!

Nagihiko ajoelhou-se de frente para o Rei, circundando a cintura dele com a faixa, e fazendo de tudo para concentrar-se apenas em sua tarefa de ajudar Tadase e não pensar em outra coisa. Ainda com o rosto em chamas, tentou acabar com aquilo o mais rápido possível, embora suas mãos tremessem tanto que ele se atrapalhava mais e mais. Alguns minutos depois, ele finalmente terminou de amarrar a yukata, e levantou-se, ficando de frente para o Rei.

– Prontinho, Majestade - ele fingiu uma revêrencia
– A-Arigatou - Tadase sorriu timidamente, corando - Eu realmente... n-não sou muito bom esse tipo de roupas
– Ela não é tão diferente de uma yukata feminina... no modo de vestir, pelo menos - Nagihiko explicou - Essa é... na verdade é a primeira vez que eu me visto assim... uma yukata masculina, quero dizer. Não me lembro de já ter vestido uma antes
– Ah... agora que você falou, tem razão - Tadase concordou, reparando melhor nesse fato - Você... isto é, a Fujisaki-san ficava muito bem com uma yukata feminina... mas... a-acho que... q-que prefiro... v-ver você assim afinal - ele falou tão baixo que Nagi teve que se aproximar mais para ouvir - E a Utau-chan tinha razão no que disse antes... você... f-ficou mesmo muito... m-muito l-l-li-lindo de yukata.... m-muito mesmo - ele concluiu num fio de voz, seu rosto tão vermelho que parecia que ia sair fumaça de suas orelhas a qualquer momento
– Ahn... a-arigatou, Hotori-kun - Nagi agradeceu sem graça, e surpreso com o elogio - você também ficou muito bonito... está uma gracinha assim - ele sorriu gentilmente, e quando Tadase forçou-se a erguer a cabeça para encará-lo melhor, sentiu o Valete deslizar suavemente os dedos pelo seu rosto, acariciando a face corada do Rei. Tadase já não se importava mais com o quanto seu rosto estava vermelho, ou com a gigantesca vergonha que sentia, só o que queria nesse momento era continuar sentindo os carinhos de Nagihiko para sempre, e fechou os olhos para apreciar melhor aquela doce sensação de ser tocado pela pessoa amada. Sentiu a outra mão de Nagi envolver firmemente suas costas, enquanto que a primeira ainda afagava sua bochecha corada, até que sentiu aquele adocicado cheiro de cerejeiras se aproximando cada vez mais dele, e seu coração deu um violento salto quando Nagihiko tocou seus lábios entreabertos com os seus próprios. Saboreou o máximo que pôde daquela maravilhosa sensação de ter os lábios de Nagihiko tocando os seus, com tanto carinho, tanta ternura, que Tadase não se importaria de ficar assim pra sempre. Atirou seus braços ao redor do pescoço do Valete, e o sentiu deslizar as mãos pelo seu corpo, até envolver sua cintura. Nagihiko apertou o abraço, colando ainda mais seus corpos, enquanto provava mais uma vez daqueles lábios tão doces e tentadores que ele desejara há tanto tempo. Queria ter podido aprofundar o beijo, e ficar assim por mais tempo, no entanto, sabia que, se demorassem mais, poderiam desconfiar, então logo foi obrigado a se separar de Tadase. Encerrou o beijo à contragosto e se afastou alguns passos, com as mãos ainda apoiadas na cintura do menor.

– Precisamos ir logo... se demorarmos mais, os outros podem suspeitar - ele disse, com os olhos ainda fechados, tentando apreciar a sensação de ter Tadase tão perto de si por mais tempo
– Sim... t-tem razão, vamos - o loiro respondeu, um tanto ofegante, seguindo o maior para fora do quarto.

Quando chegaram no hall de entrada, os outros já os esperavam lá e, depois de driblar as perguntas insistentes de Yaya e Utau sobre o motivo para toda essa demora, outra notícia arrasadora caiu sobre eles: Descobriramm que Yaya tinha inscrito absolutamente todos os garotos em um concurso de beleza feminino que aconteceria durante o Festival com a desculpa esfarrapada de que, com mais gente participando, maior era a chance de vencer. Depois de muitos protestos, reclamações, xingamentos, ameaças, e até algumas tentativas de fugas, a Às, com alguma ajuda de Utau e Rima, conseguiu convencer os garotos com o argumento de que, se algum deles ganhasse, levaria o prêmio de 200 mil yenes, e combinaram que se alguém do grupo fosse o vencedor, dividiria o prêmio com os demais, assim todos sairiam ganhando. Como o concurso aconteceria ao pôr-do-sol, não tiveram muito tempo para apreciar o Festival, e todos foram obrigados a ir direto para o camarim improvisado que os organizadores do concurso montaram. Felizmente lá havia uma variedade enorme de yukatas femininas para eles usarem durante o concurso, de modo que só precisaram encontrar alguma que coubesse neles e se trocar. Como o camarim era dividido em pequenas cabines com cortinas, como nos provadores de lojas, não tiveram tanto problema na hora de se trocar, e como as meninas Guardiãs também participariam, elas puderam ajudar os garotos com as yukatas. Depois de muito esforço, eles finalmente se trocaram: Kukai e Ikuto vestiam yukatas amarela e rosa-choque respectivamente, ambas decoradas com estrelinhas, mas que definitivamente não tinha ficado bem neles. Utau inventou de colocar um laço espalhafatoso na cabeça de ambos e passar uma maquiagem pesada, numa tentativa de deixá-los mas femininos, mas só conseguiu deixar ainda mais evidente que eles não passavam de dois travecos. Amu tratou de cuidar do visual de kairi, e parecia surpreendentemente empolgada com isso: Obrigou o garoto a vestir uma yukata branca com estampa de rosas vermelhas, prendendo dois rabinhos do cabelo dele, um em cada lado, o que acabou sendo uma boa idéia. Se conseguisse disfarçar a voz, ele se passaria tranquilamente por uma garota. Depois de considerar a idéia se deveria ou não voltar a ser Nadeshiko, o Valete resolveu optar por simplesmente trançar seus cabelos, já que seria muito arriscado aparecer como Nadeshiko na frente de todos. Já ia começar a prender seus cabelos quando ouviu Tadase chamar:

– Ano... F-Fujisaki-kun... etto... s-será que você pode... m-me ajudar com isso? Essa parece... a-ainda mais difícil de se vestir - ele falou timidamente, e quando Nagi se virou, viu que ele ainda não tinha amarrado a yukata rosa claro com estampa de borboletas que usava
– Ah, sim... roupas femininas geralmente são mais complicadas mesmo - Nagihiko concordou, sentindo uma certa nostalgia em ter que vestir essas coisas novamente - Tudo bem, eu amarro pra você - ele se abaixou novamente e começou a passar a faixa ao redor da cintura do Rei
– Nessas horas até que é bom... v-você ter tanta experiência com essas coisas de menina - Tadase comentou, rindo sem graça - Depois... d-depois eu posso... trançar seus cabelos pra retribuir o favor... s-se você quiser, é claro - ele acrescentou, reparando que o maior já tinha vestido uma yukata lilás com estampa de sakuras, e não tinha no que ele ajudar com a vestimenta do Valete
– É claro... eu vou adorar, Hotori-kun - Nagihiko sorriu, levantando-se após terminar a tarefa. Em seguida sentou-se na cadeira mais próxima, deixando que Tadase trançasse seus cabelos. Nagi ainda se sentia meio receoso de que alguém os visse assim tão próximos, haviam outras pessoas no vestiário afinal, mas se ambos estavam se passando por duas meninas não deveria haver problema. Assim que o maior se sentou, Tadase puxou os cabelos do Valete para a frente, dividindo-os em três mechas iguais, e começou à trançá-los. Assim, tão perto dele, podia sentir claramente o doce cheiro de cerejeiras que Nagihiko exalava, lembrando muito o perfume de uma garota, deixando o loiro um tanto inebriado. Com aquela roupa então, Nagihiko parecia inteiramente com uma menina, o que causava uma enorme ansiedade em Tadase. Há muito ansiava em poder mexer nos longos cabelos do Valete, em poder tocar aquelas madeixas macias e cheirosas, tê-las em suas mãos... e agora finalmente estava podendo realizar esse desejo, que finalmente Tadase podia compreender sua origem: Todas essas sensações, essas vontades inexplicáveis que sentia há tanto tempo, eram provocadas unicamente pelo amor que sempre sentiu por Nagihiko. Agora parecia ser uma coisa tão óbvia que Tadase se surpreendia consigo mesmo por ter demorado tanto tempo para perceber. Quando chegou ao final, amarrou a ponta da trança com uma fita branca, com certa dificuldade, visto que não tinha prática em fazer essas coisas, e assim que terminou, ouviu um gritinho histérico em sua direção. Tadase chegou a pensar que era Yaya ou Utau observando-os secretamente, mas eram as mesmas garotas de ontem, que tinham pedido informação para Nagihiko no hotel.

– Vocês... vocês são os garotos que encontramos outro dia na praia, não são? Kyaaa sabia que eram vocês! O que estão fazendo aqui? - a garota ruiva exclamou sorridente, completamente extasiada ao vê-los
– Essa é uma boa pergunta. Isso aqui é um concurso de beleza feminino, o que estão fazendo no camarim? - a outra garota indagou, não tão sorridente assim - Não me digam que estão querendo participar?! Ohh céus, além de terem esse gosto suspeito, ainda por cima são travestis, era só o que faltava!
– Pois é! E eles ficam tão lindinhos usando yukata feminina, não é Haru-chan? - a ruiva exclamou, completamente encantada com os dois - Ahh kawaiii!! Posso tirar uma foto? - ela sacou o celular e começou a fotografá-los sem esperar por resposta
– "Kawaii"? Você enlouqueceu de vez, Ayane-chan?! - Haruka exclamou indignada - Isso é uma fraude, eles são garotos! Se eu disser isso aos jurados esses dois serão desclassificados na hora!
– Ano... Haruka-chan e Ayane-chan, certo? - Nagihiko se pronunciou, e as duas se calaram - Escutem, não estamos participando porque queremos, nossas amigas nos obrigaram. E como vocês mesmas disseram... somos garotos... então não tem nenhuma chance de ganharmos, vocês não precisam se incomodar com a gente. Podem manter segredo sobre isso, onegai?
– Mas é clar...
– É claro que sim!! - Ayane exclamou antes que a amiga terminasse a frase - Não se preocupem, prometo que não vou falar nada, e vou garantir que a Haru-chan também não fale! Apesar de que eu acho que vocês têm boa chance de vencer sim, os dois são tão gracinha...
– Desculpe, mas... não estão chamando vocês no palco? Parece que o concurso já começou - Tadase falou, sem nem sequer encarar as duas nos olhos. Mesmo depois de tudo que o Valete lhe disse ontem, ainda lhe incomodava toda essa atenção que Nagihiko recebia dessas meninas
– Ahh tem razão! Estão te chamando, Haru-chan, vamos depressa! Nós já vamos indo, até logo, viu? - a ruiva exclamou e, ainda sorrindo, empurrou a amiga em direção ao palco, indo junto com ela.

Depois de Ayane e Haruka se apresentaram, foi a vez de Amu e as demais, que se apresentaram uma após a outra por causa da ordem de inscrição. Utau e Rima se saíram razoavelmente bem, e Yaya teria se saído até melhor que elas se não fosse tão escandalosa e começasse a falar de assuntos aleatórios ao invés de apenas responder as perguntas dos juízes. Amu tremia e gaguejava nervosamente à cada pergunta feita, e só pôde respirar normalmente quando a entrevista acabou. Depois dela, foi a vez de Ikuto, Kukai e Kairi respectivamente, sendo que os dois primeiros tentavam responder tudo com um simples "sim" ou "não", tanto por causa do tom de voz masculino que eles não conseguiam disfarçar, quanto por causa da incômoda vergonha que sentiam, sem falar que a altura de ambos não ajudava em nada. Kairi estava tão envergonhado que mal conseguia abrir a boca pra falar, e quando abria, respondia tudo num fio de voz, de modo que ninguém percebeu nada. Depois foi a vez de Nagihiko que, assim que começou a ser entrevistado, inconscientemente deixou sua voz mais feminina, ativando o "efeito colateral" que sempre acontecia quando ele vestia roupas de menina. Como já havia sido entrevistado outras vezes quando era Nadeshiko, não teve nenhuma grande dificuldade. Depois foi a vez de Tadase que, assim como as demais canditadas, recebeu perguntas fáceis, como seu nome e idade, seus gostos pessoais, sonhos para o futuro, do que gostava e do que não gostava. No entanto, sentia tanto constrangimento por estar sendo visto usando roupas femininas em público que respondia às perguntas gaguejando baixinho, e sem perceber, acabou falando num tom de voz mais delicado, de modo que não teve grandes dificuldades em se passar por uma menina também. Depois que as demais candidatas foram julgadas, os juízes chegaram a um resultado e anunciaram a vencedora: De algum modo, e por mais que não quisesse acreditar nisso, a pessoa que ganhou o concurso foi Nagihiko.

Depois de vários minutos de choque, e de receber o prêmio, ele e os demais puderam se trocar de novo. Felizmente não encontraram mais Haruka e Ayane, pois seria um problema ter que dar satisfações à elas. E quando as meninas também terminaram de se trocar, encontaram o Valete sentado de cabeça baixa à porta do vestiário, depressivo demais para alguém que acabou de ganhar 200 mil yenes. Tadase tentava animá-lo, sem sucesso algum já que Ikuto fazia piadinhas de mal-gosto e Kukai começava a se juntar à ele. Kairi não escolheu nenhum lado, ainda envergonhado demais por ter se fingido de menina pra fazer qualquer comentário sobre outra pessoa.

– Ora, que cara é essa, Nagi-kun?! Animação, meu jovem, você acabou de vencer o concurso! Aqui, eis seu prêmio! - Utau deu um tapa nas costas do Valete, tentando animá-lo, e estendeu o saco de dinheiro com o prêmio dele
– Ainda não acredito nisso... como fui ganhar essa coisa?! É um concurso feminino! - Nagihiko exclamou, ainda aparvalhado com a própria vitória
– Talvez isso signifique que você leva jeito pra coisa! Quem sabe você não deveria se tornar um okama profissional hahahahaha!! - Ikuto riu da própria piada, sem ter idéia de que Nagihiko praticamente já era um
– Vamos, não fique assim, Fujisaki-kun... i-isso só mosta o quão bom ator você é! Pra ter enganado os juízes, é um feito e tanto! - Tadase exclamou, sorrindo timidamente enquanto tentava animá-lo
– É, devo admitir que ele é um bom ator... mas é meio indignante o fato de ter perdido pra um garoto - Amu comentou
– Ora, isso é o de menos! O importante é que um de nós realmente venceu o concurso, então você vai dividir o prêmio com a gente como combinamos, não vai Nagiiii?? - Yaya começou a sacudí-lo de um lado para o outro, falando com voz melosa
– Façam como quiserem, não me importo - ele respondeu sem dar importância e, antes que Yaya arrebatasse o prêmio todo para ela, Tadase foi milagrosamente mais rápido e começou a dividir o dinheiro igualmente, o que acabou não restando muito pra cada. Depois de cada um pegar sua parte do dinheiro e agradecer, uns mais do que outros, eles se separaram, cada um indo ver uma barraca diferente, pensando aonde deveriam gastar seu dinheiro primeiro. E quando Nagihiko e Tadase pensaram que finalmente poderiam ficar um pouco sozinhos, pensando em qual lugar visitar primeiro, sem se importar realmente com isso, já que só o que queriam era a companhia um do outro, eles avistaram Utau perto da barraca de peixinhos dourados, e se surpreenderam em ver que a garota não estava sozinha.

– Droga... por que esses peixes... tem que ser tão difíceis... de pegar?! - ela reclamava, tentando inutilmente pegar algum peixinho dourado, mas sempre que se aproximava de um, o papel rasgava
– O que foi, os peixes estão fugindo de você, gatinha? - o surfista no qual ela esbarrou dias atrás aproximou-se sorrateiramente e, antes que ela pudesse dizer alguma coisa, viu-o pegar facilmente um peixinho dourado e entregar para o dono da barraca, para ele colocá-lo num saquinho plástico
– Você... você é aquele surfista desbocado! - Utau apontou acusadoramente para o rapaz
– E você é a cantora mal-humorada, "Rosbife" Utau, não é? - ele rebateu, pegando o saquinho plástico com o peixe que o vendedor lhe estendia, sem alterar seu tom de voz
– Eu já falei que é Ho...
– Hoshina Utau, não é? Eu sei, só estava mexendo com você, gatinha - o garoto a interrompeu, deixando-a sem fala por alguns segundos
– Hunf... q-quem você pensa que é pra me chamar tão intimamente, hein? Tenha mais respeito, eu sou uma estrela da música, ouviu?! - ela virou o rosto, evergonhada
– Você pode até ser uma estrela da música, mas é bem convencida pra alguém que não consegue nem pegar um peixinho dourado
– Não tenho culpa se o papel vive rasgando! - ela rebateu, o rosto vermelho, tanto de raiva quanto de vergonha - Além do mais, mesmo que eu não fosse uma cantora, você nem me conhece direito, não pode me chamar só pelo nome assim, tão intimamente, quando eu... eu nem sequer... sei o seu nome
– Ah, verdade, ainda não me apresentei, não é? Então vamos começar de novo. Eu sou Tachibana Kyouharu, prazer - ele estendeu a mão, sorrindo para ela
– E-Eu sou Hoshina Utau... prazer - ela apertou a mão que o garoto lhe estendia, meio hesistante, e a soltou mais rápido do que gostaria - E? O que está fazendo aqui?
– No momento estou pegando peixes dourados - Kyouharu respondeu simplesmente - Se quiser te ensino um truque pra pegar alguns dos grandes
– Não preciso da ajuda de alguém como você! - ela virou o rosto, fingindo irritação
– Ah, verdade? Já que está assim tão confiante, que tal competir? Quem pegar mais peixes ganha
– Agora você falou minha língua... eu vou deixar esse tanque de água sem peixe nenhum, você vai ver!

Os dois iniciaram uma intensa batalha por peixes dourados e, depois de alguns minutos observando, Nagihiko e Tadase deram meia-volta e se afastaram da barraca de peixes dourados.

– Parece que Utau-chan fez um novo amigo - o Rei comentou
– É sim... e se isso for mais do que amizade, como eu penso que é, ela nunca mais vai poder nos fazer interrogatórios inconvenientes - o Valete respondeu, falando mais consigo mesmo do que com Tadase
– Como assim Fujisaki-kun??
– Ah, nada não, esquece...
– Sei... - Tadase encarou o maior com o canto dos olhos - Por acaso você ainda está chateado por causa daquele concurso?
– Ah, nem me lembre... ainda não acredito que consegui vencer um concurso de beleza feminino.. Amu-chan tinha razão em se zangar comigo, não sei como as outras não se sentiram ofendidas também - Nagihiko comentou, ainda meio irritado com o concurso - Parece que não importa o que eu faça... a Nadeshiko nunca irá embora por completo afinal
– Mas é claro que não, ela faz parte de você! A Fujisaki-san é... um dos lados da pessoa que eu mais... a-amo... e-então é claro que ela nunca sumirá por completo - Tadase concluiu num fio de voz, sentindo seu rosto voltar a esquentar ao admitir isso em voz alta outra vez - M-Mas ainda assim, você deve ter se zangado... depois de tudo, você venceu o concurso, mas teve que dividir o prêmio com os outros... eu achei meio injusto
– Isso não importa, foi o que combinamos antes, não foi? Além do mais, não faz mal ter dividido aquele dinheiro... porque o meu maior prêmio está bem aqui do meu lado - ele encarou Tadase nos olhos, sorrindo docemente, enquanto via o rosto do menor se colorir de um vermelho cada vez mais intenso, e o teria abraçado se não houvessem tantas pessoas em volta. Em lugar disso, falou - Olhe, começou uma chuva de fogos, Hotori-kun - Nagi apontou para o céu, onde começavam a soltar os mais lindos fogos de artifício, que pareciam ser ainda mais belos só pelo fato de estarem sendo vistos enquanto ambos estavam ao lado da pessoa amada. Depois de olhar para os lados e conferir se não tinha muitas pessoas por perto, Nagihiko segurou a mão de Tadase entre a sua, que ofegou, surpreso com o toque, mas entrelaçou seus dedos nos dele, sorrindo timidamente. Ficaram assim, observando os fogos em silêncio por alguns minutos e apreciando mais a companhia um do outro do que os fogos em si, quando ouviram Tsukasa chamando ao longe, dizendo que estava na hora de partirem, e soltaram as mãos mais que rapidamente, indo de encontro ao Diretor, ambos com a certeza de que essa foi sem sombra de dúvidas a melhor viagem de suas vidas.