Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 35
Capítulo 35 - Kimi + Boku = Love


Notas iniciais do capítulo

Kimi + Boku = Love
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Nagihiko tomou fôlego e apertou a campainha. Logo de manhã, acompanhado por Rythm e por Temari, que estava quietinha dentro do seu ovo na mochila do garoto, ia saindo de casa para o primeiro dia de aula do semestre. No caminho, o valete imaginou que seria bom ser o primeiro a ver Tadase tão cedo, e com esse pensamento agitando-se em sua mente, ele mudou o rumo e foi na direção da casa do Rei, para ir com ele para a escola. Rythm resmungou alguma coisa sobre “casal meloso” e segurou uma risada debochada, mas o acompanhou fielmente. Nagihiko não havia falado nada para Tadase, pensou em fazer uma surpresa, mas agora que parava para pensar no assunto, isso podia ser imprudente da sua parte. Talvez ele já tivesse ido antes, afinal. Ele não teve muito tempo para pensar nisso, pois logo a mãe de Tadase abriu a porta, e se surpreendeu ao ver o garoto esperando ali na frente.

— Ah, Fujisaki-san... – a mulher sorriu, apressando-se para abrir o portão para ele – Tadase não disse que você viria, aconteceu alguma coisa?

— Bem, não, mas... eu estava passando por perto, e pensei que talvez pudesse ir com o Hotori-kun para a escola... – Nagihiko disse, um pouco incerto. A mulher sorriu, prestativa, dando passagem para o valete entrar em casa – Shitsureishimasu – Nagihiko disse, parando logo na entrada para não ter que tirar os sapatos.

— Ele deve estar terminando de se arrumar agora, eu vou apressá-lo. Fique à vontade – a Sra. Hotori sorriu para ele, e se afastou para dentro da casa. Nagihiko ficou alguns segundos vendo a mulher se afastar. Ela realmente adorava os Fujisaki – tanto Nagihiko quanto a sua “irmã”, e sempre os tratou com muito afeto, apreciando a amizade dele com Hotori. Mas... será que ela sorriria dessa forma se soubesse o tipo de relação que Nagihiko mantinha com o seu precioso filho?

Afastando esses pensamentos, Nagihiko viu Tadase aparecer apressado pelo corredor, patinando apenas de meia pelo piso de madeira, quase escorregando direto para o chão, trazendo de arrasto a pasta e a capa de guardião.

— O-ohayo, F-fujisaki-kun! Desculpe a demora, eu não sabia que viria, se eu soubesse teria me arrumado mais cedo.

— Muito bem, valete! – Kiseki bradava logo atrás dele – É um súdito fiel, vindo até aqui para cortejar seu Rei, e ampará-lo no caminho para a escola – ele discursou brevemente, com um semblante altivo, e Rythm riu alto, ao ouvir a palavra “cortejar”.

— Está tudo bem – Nagihiko sorriu para Tadase, ao vê-lo se aproximar e ir direto colocar os sapatos, apressadamente – Não precisa se afobar... – ele murmurou, tranquilamente, sem conseguir se conter e acariciando levemente os cabelos do loiro, que estavam no alcance da sua mão agora, com ele curvado para por os sapatos – Nós temos tempo.

Tadase paralisou, apreciando o toque cálido do valete, e então ergueu a cabeça, com um sorriso doce formando-se nos lábios. Nagihiko sorriu também, lutando contra a vontade súbita de abraçar e beijar Tadase ali mesmo

— É melhor irmos logo... – pronunciou, sentindo a presença quase esmagadora da mãe de Tadase rondando o lugar. Os dois saíram, logo depois de Tadase se despedir da mãe, e então andaram lentamente pela rua, sentindo o frescor da manhã na pele – Eu não vi o Hotosaki, ele está bem?

— Ah, sim, ele está muito bem. Deve estar dormindo a essa hora, ele gosta muito de dormir. – Tadase contou, alegremente, e Nagi riu – Por falar nisso, está perto do dia dele tomar as vacinas... você... você gostaria de ir comigo, Fujisaki-kun? N-neste fim de semana, eu marquei com o veterinário, achei que talvez nós pudéssemos passear no parque com ele depois disso... m-mas se estiver ocupado, não tem problema, sabe...

— É claro que eu vou, Hotori-kun! – Nagihiko respondeu, vendo o semblante do menor se iluminar com apenas aquelas palavras, e então assentir, com entusiasmo. – E nós até já tínhamos combinado isso antes, lembra-se? – ele falou, e Tadase concordou. Eles caminharam mais alguns metros, sem saber ao certo o que dizer um para o outro depois daquilo. Sem saber, os dois pensavam ao mesmo tempo no quanto seria bom se pudessem dar as mãos para caminhar até a escola.

— E-eu senti muito a sua falta... desde que chegamos de viagem... – Tadase confessou, com a voz mal passando de um sussurro, depois dos minutos de silêncio. Nagihiko sentiu seu coração martelar audivelmente com somente algumas palavras.

— Mas... nós chegamos faz apenas dois dias... – falou, sentindo-se vagamente patético por não saber reagir direito em um momento como esse.

— É que... e-eu acho que me acostumei... a d-dormir ao seu l-lado... – Tadase disse rapidamente, cerrando os olhos com força por conta da vergonha. Nagihiko ofegou, lembrando-se de que ele também teve dificuldades para pegar no sono depois de voltar para casa.

— Hotori-kun... – murmurou, e olhou para todos os lados, apreensivamente. A rua estava completamente deserta, e não haveria possibilidade de qualquer pessoa conhecida passar por ali, então... delicadamente, Nagihiko segurou com o dedo o queixo de Tadase, levantando-o até que ele o olhasse nos olhos. Aproximou-se um passo, e então inclinou o próprio rosto e acariciou a bochecha de Tadase, levando os lábios entreabertos na direção dos dele, que já estavam esperando pelo tão desejado toque.

— Fujisaki! Hotori! O que estão fazendo aqui!? – eles ouviram um chamado ao longe, e se afastaram instintivamente, com o coração acelerando pela adrenalina de quase serem pegos no flagra. Tadase parecia que estava prestes a entrar em pânico. Quem se aproximava era o escandaloso Kukai, que sorria tolamente, alheio à cena que estava a segundos de presenciar.

— Souma-kun – Nagihiko sorriu com educada surpresa, embora uma singela veia latejasse em sua testa – Por que está vindo por esse caminho? Sua escola não é na direção oposta?

— Esse é um atalho. – Kukai respondeu, recomeçando a andar e sendo seguido pelos outros dois.  – O que vocês estavam fazendo parados aqui? – ele indagou, arqueando uma sobrancelha, enquanto se aproximava. Tadase ofegou, corando irremediavelmente, e seria óbvio demais para qualquer um, mas por sorte, Kukai não era exatamente a mente mais brilhante de todas.

— Hotori-kun estava com um cisco no olho, eu estava o ajudando. – Nagihiko disse naturalmente, e Kukai assentiu, sem achar nada estranho. Tadase soltou o ar, aliviado. A atuação de Nagihiko era tão convincente que até mesmo ele teve dificuldades de discernir a verdade.

— E então... a viagem foi muito legal, nee? – Kukai comentou, despreocupadamente colocando a pasta escolar para trás, pelos ombros – A gente devia fazer outra no inverno, ia ser demais!

— Concordo... – Tadase suspirou, sonhador, e Nagihiko riu.

— Ué, cadê o Rythm e o Kiseki? – Daichi indagou, olhando para os lados. Nagi e Tadase fizeram o mesmo, sem ver sinal dos Charas. Deveriam ter ido embora quando viram o clima esquentar entre os donos, na certa.

— Foram na frente. É melhor irmos também – Nagihiko disse, e eles se apressaram. Depois de algumas quadras, Kukai virou a esquina para o lado da sua escola, dizendo que mais tarde os visitaria para tomar o chá, e poucos minutos depois, Tadase e Nagihiko também chegaram.

Como sempre a entrada dos dois guardiões causou uma comoção geral em todas as alunas. Porém, dessa vez, elas pareceram ainda mais agitadas com a chegada deles. Reunidas em pequenas rodas de conversa, elas cochichavam, olhando de maneira que pretendia ser discreta para os dois, e então voltando a comentar.

— Será que aconteceu alguma coisa? Estão todos olhando para nós, Fujisaki-kun... – Tadase disse, preocupado.

— Elas já fazem isso todos os dias... mas parece que essas garotas estão mais estranhas que o normal... – Nagihiko respondeu, sem entender.

— Ah, finalmente vocês dois chegaram! – eles viram Yaya aparecer correndo, muito inquieta – E vocês vieram juntos .... ah, isso não vem ao caso agora! Nagi e Tadase, vocês tem que ver isso!!! Rápido!!! – ela segurou os braços dos dois, e os rebocou na direção da entrada da escola, com uma força inesperada.

Chegaram ao corredor da entrada, e ambos paralisaram frente aquela imagem. Tadase fitou Nagihiko, apreensivo, e ele apenas não tinha nada que pudesse ser dito naquele momento. Na frente deles, preso ao quadro de avisos, estava uma foto dos dois, iluminados pela luz de uma fogueira à noite, dançando juntos a sua volta. Era uma das fotos do Festival escolar, e estava intitulado como “Amor proibido entre os guardiões”, com uma enorme matéria que narrava a tal história. Nagihiko passou os olhos rapidamente pelas letras, e notou que era um resumo de todos os boatos da escola, feito pelo clube de jornalismo. Com exageros fantasiosos, contava que Nagihiko estava disputando o amor de Tadase com a irmã, seduzindo-o sempre que tinha a chance, e o ingênuo Tadase estava sendo levado por sua lábia.

— Yaya... o que foi que você fez? – Nagihiko sibilou, ameaçadoramente.

— Não foi a Yaya!!! – ela se defendeu, prontamente – E... p-para de olhar assim pra Yaya... parece a Naddy no Chara Change... k-kowaaii!! – a Ás tremeu, e então saiu correndo pelo lado oposto, amedrontada.

— O que faremos agora, Fujisaki-kun? – Tadase murmurou, assim que ela sumiu ao longe.

— Bem, enquanto forem somente boatos, não temos com o que se preocupar... mas se isso se espalhar, pode ser ruim...  – Nagihiko olhou ao redor, vendo que ainda havia garotas vigiando-os sem nenhuma cerimônia.

— Fujisaki-kun... – Tadase sussurrou, levando a mão junto ao peito, tremendo ligeiramente, enquanto levantava os olhos terrivelmente suplicantes na direção do valete. Nagihiko engoliu em seco, sentindo seu coração dar um loop inteiro, remexendo-se no peito, com aquela imagem. – S-se eu ficar mal falado... e com uma reputação ruim, depois disso... se isso acontecer você se casa comigo, Fujisaki-kun? – ele sussurrou, inclinando a cabeça como um cachorrinho perdido e com fome. Nagihiko quase caiu no chão, paralisado e em choque. Tadase tinha alguma noção do que estava falando? Ao julgar pelo seu biquinho de indignação somado aos olhos inocentes, estava claro que não.

 — Melhor irmos para a sala... – Nagihiko respondeu, ciente dos ouvidos atentos ao redor deles. Elas teriam ouvido a ultima frase de Tadase? – E... eu faria isso mesmo que você não me pedisse – ele disse rapidamente, e Tadase sorriu timidamente, com o rosto corado denunciando seu constrangimento.

— Espere um pouco – Tadase pediu, e então arrancou o cartaz do painel, dobrando-o cuidadosamente – E-eu... q-quero guardar essa foto... – ele explicou, em voz baixa, de modo que só Nagihiko ouvisse.

Depois de chegarem à sala de aula, onde Rima já estava os esperando com muitos comentários a fazer sobre a atitude do clube de jornalismo, Amu chegou, parecendo absolutamente irritada pelo fato de ter sido barrada logo na entrada por calouras ávidas por informações de primeira mão. Logo o professor chegou, e então a aula iniciou, embora nenhum dos estudantes estivesse realmente preocupado com isso, afinal, cuidar da vida alheia era certamente muito mais interessante.

Depois de quase meia hora de aula, Nagihiko estava prestes a pegar no sono, escorando-se na classe (de uma maneira que Nadeshiko jamais deixaria acontecer) quando sentiu algo o cutucar no braço. Olhou de esguelha, e viu a face de Tadase aflita, tentando chamar sua atenção com uma lapiseira. Assim que ele atendeu, Tadase discretamente entregou a ele um pedaço dobrado de papel, e então voltou a olhar para o professor como se nada tivesse acontecido, demonstrando um pouco de culpa por estar agindo com má conduta durante a aula.

“Fujisaki-kun... acho que durante o intervalo vou conversar com Tsukasa-san sobre aquela edição do jornal da escola. Não podem simplesmente criar boatos a nosso respeito dessa maneira, embora... – e aqui a letra dele parecia tremida – ...não sejam completamente boatos...”.

Nagihiko leu rapidamente, e se apressou em respondê-lo, sorrindo um pouco com a hesitação do garoto.

“Tudo bem, eu vou com você.”

Após isso, Nagihiko rasgou o bilhete em centenas de pequenos pedaços, para não haver possibilidade de serem reunidos novamente, e jogou-os no lixo. A aula pareceu passar ainda mais lentamente, enquanto esperavam, e então finalmente era a hora do intervalo.

Os dois se levantaram ao mesmo tempo, encaminhando-se para fora da sala. Amu e Rima, que iam se juntar a eles para o almoço, apenas ficaram piscando atônitas, sendo deixadas para trás. Eles caminhavam rumo ao escritório de Tsukasa, sem conseguir deixar de ouvir os indisfarçáveis comentários das alunas.

— Essas meninas não cansam nunca? – Nagihiko resmungou consigo mesmo, enquanto subiam as escadas – Seria muito ruim se a verdade sobre a Nadeshiko fosse exposta assim. – ele disse, baixando o tom de voz e se aproximando de Tadase para que ninguém os ouvisse – Mas... eu não me importo tanto assim com estarem cogitando a possibilidade de sermos um casal... – ele confessou, corando ligeiramente – Você se importa?

Tadase enrubesceu até as orelhas, ouvindo as palavras de Nagi. Esfregou as mãos nervosamente, fitando os próprios pés.

— Eu t-também não me importo... na verdade até fico um pouco feliz, imaginando como seria se todos soubessem mesmo s-sobre nós... – ele disse, sussurrando, e Nagi sorriu infimamente, sentindo seu coração se aquecer – Como hoje, quando estávamos vindo para a escola... e-eu gostaria de poder t-ter s-segurado s-s-sua m-mã-mão... no caminho...

— Algum dia nós vamos poder fazer isso, Hotori-kun, prometo. – ele disse, e Tadase assentiu, sorrindo também.

— Olha ali! São eles!! – eles ouviram um grito feminino, e então ergueram os olhos, alarmados. A garota que gritou era pequena e magra, com cabelos castanhos compridos amarrados em um rabo de cavalo, e óculos de armação fina emoldurando os olhos afiados e especulativos. Ao lado dela, outra garota, de aparência mais tranquila, alta com cabelos curtos e acinzentados e nenhuma expressão no rosto pálido, segurava uma câmera fotográfica. Com o grito da menor, ela colocou a câmera a postos, focando nos dois garotos – Por favor, deem uma entrevista para o jornal da escola! – ela berrou, com um bloco de notas e uma caneta nas mãos.

— Vamos, corre, Tadase! – Nagi empurrou Tadase na direção oposta, fazendo-o começar a correr pelo corredor.

— Mas por que? Elas só querem uma entrevista – ele respondeu, ingenuamente, mas ainda assim correndo. Nagihiko balançou a cabeça, com vontade de segurar a mão de Tadase para rebocá-lo e assim irem mais rápido, ou mesmo pegá-lo no colo, mas isso apenas alimentaria a imaginação da repórter que os seguia de perto. Eles foram na direção do térreo, correndo a toda a velocidade, e aos poucos deixando as duas garotas do clube de jornalismo para trás, mas elas não desistiam, e continuavam a persegui-los. Nagihiko correu na direção da cantina, onde uma massa de gente faminta se embolava em algo que pretendia ser uma fila para garantir seu almoço. Eles se infiltraram na fila, e só então Nagihiko segurou a mão de Tadase, para não perde-lo entre a multidão, e depois de atravessá-la, com dificuldade, recomeçaram a correr.

Nagihiko logo desviou a rota para a cozinha da escola, e depois de passarem por ela, entraram em um pequeno corredor afastado, que era usado somente pelos funcionários. Nagihiko entrou no armário de produtos de limpeza, e fechou a porta, trancando-a por dentro, só então conseguindo respirar aliviado.

— N-nós conseguimos despistá-las? – Tadase indagou, ofegante, tentando recuperar o fôlego.

— Acho que sim...

— Eeeei, você viu os guardiões por aqui, Tia da Cantina? – eles ouviram a irritante voz da jornalista ecoando até o espaço pequeno, vinda da cozinha.

Tadase tremeu, encolhendo-se, e Nagihiko segurou sua mão, transmitindo confiança com aquele toque. O valete estava seguro em sua posição de afastar Tadase daquelas bisbilhoteiras. Não importando o quão convincente fosse a atuação dele em negar os fatos, bastaria uma única palavra para que Tadase reagisse, corando furiosamente, gaguejando e se atrapalhando todo para pensar em algo. Ele não sabia mentir, e aquela garota conseguiria usar essa inabilidade ao seu favor com maestria, Nagihiko tinha certeza.

— Eles devem ter ido para o Royal Garden! – ouviram novamente a voz dela, dessa vez se afastando, e então respiraram aliviados.

— E agora, Fujisaki-kun? – Tadase indagou, sussurrando, enquanto se aproximava mais de Nagihiko naquele espaço que já não era dos mais arejados ou espaçosos. Estavam cercados por prateleiras de produtos, objetos, vassouras, panos, baldes e outras coisas usadas na manutenção da escola. O espaço que tinham para ficar não eram maior que um metro quadrado, de modo que, inevitavelmente, eles estavam muito perto um do outro.

— Eu não sei... – Nagihiko ponderou por alguns segundos antes de responder, afagando a mão de Tadase que mantinha segura entre a sua – Se sairmos agora, ela vai nos ver... e com certeza estará nos esperando quando as aulas terminarem... Acho que deveríamos esperar um pouco... e assim que terminar o intervalo, nos refugiaremos na sala do Tsukasa-san, e ele vai poder pará-las, de algum modo.

— É um bom plano, Fujisaki-kun. Ainda fala bastante para o fim do intervalo, então teremos que esperar... – Tadase sorriu, e mesmo no escuro, Nagihiko sentiu-se imediatamente mais leve apenas com isso.

Ele sentou no chão, de costas para a porta, que era o único espaço disponível naquela saleta, e Tadase o acompanhou, acomodando-se bem ao seu lado, com suas pernas se encostando devido ao aperto do cômodo. O loiro sentiu-se imediatamente agitado com a situação, percebendo só então que ele estava completamente sozinho, sem nenhum dos amigos ou dos Shugo Chara por perto, no escuro, em um espaço apertado, com o seu namorado... – e com essa palavra ecoando em sua mente, ele escondeu o rosto imediatamente entre os joelhos flexionados, sentindo-se uma pessoa imoral por quase pensar besteiras naquelas circunstâncias.

O que ele não sabia, era que Nagihiko também estava agitado com a ocasião em que se encontravam. Embora aparentasse calma e tranquilidade, por dentro ele estava em completa desordem, prestes a entrar em ebulição. Definitivamente ele não queria assustar Tadase, nem ser muito importuno, no entanto, o que mais queria agora era abraçar o seu pequeno rei, e sentir o calor da pele dele irradiar sobre a sua. Já estavam se completando três dias inteiros que ele não tinha a oportunidade de ficar sozinho com ele! Nagihiko sentia tanta falta que a dor era quase física. Será que era o sinal de que talvez estivesse ficando viciado? Não importava, Nagihiko cansou da abstinência, ela durou tempo demais. Tudo o que ele queria era Tadase... e aos poucos, sua razão dava lugar a essa vontade incontrolável, e então, ele não tinha mais controle sobre suas ações. Não havia motivos para se controlar, ele lembrou, afinal ele já conhecia os sentimentos de Tadase...

Movendo-se vagarosamente, Nagihiko passou o braço ao redor do corpo de Tadase, que estava encolhido e tentava, a sua própria maneira, controlar os impulsos indecorosos que seu corpo insistia em fazer presentes. Ele sobressaltou, ao sentir Nagihiko abraçá-lo e então trazê-lo para perto, colocando-o no espaço do piso entre suas pernas. Tadase não recusou, e passou também os braços finos ao redor da cintura do valete, afundando o rosto em seu peito.

— Hmm... Hotori-kun – Nagihiko suspirou, apertando o abraço apenas para garantir que ele não fosse evaporar de repente. Tadase corou, sentindo seu corpo todo reagir ao ouvir seu nome sendo pronunciado por aquela voz rouca e envolvente. – Eu senti saudades de você durante esse fim de semana. Parecia que não ia acabar nunca...

— Eu também – Tadase confessou, em voz baixa – Nunca senti tanta vontade de ter aulas novamente...

Nagihiko riu da declaração tímida do rei, afagando suas costas lentamente, e acariciou o topo da cabeça loira com o rosto, sentindo o aroma de morangos que ele tanto amava espalhando-se pelos seus sentidos.

— Eu gosto do seu cheiro... – Nagihiko disse sem pensar, talvez motivado pela falta de iluminação, que deixava o ambiente um tanto etéreo, quase como em um sonho – É doce, ameno, agradável... exatamente como você...

Tadase levantou a cabeça, surpreso, e com o rosto absolutamente ruborizado visível até no escuro. Nagihiko não pensou duas vezes em aproveitar a oportunidade para roubar um beijo. Segurou o rosto do menor com uma das mãos e então o trouxe para mais perto, pressionando com seus lábios os dele, por apenas alguns segundos. Afastou-se ligeiramente, permanecendo com o rosto a centímetros de distância. Tadase permaneceu com os olhos fechados, esperando por mais, e assim que viu Nagihiko encerrar o breve toque, ergueu o tronco, apoiado nos joelhos, e segurou o paletó do uniforme dele com os dedos trêmulos.

— Você é cruel, Fujisaki-kun! – ele resmungou, abrindo apenas um pouco dos escarlates olhos chorosos para ele. Estavam com os rostos bem próximos um do outro, e se apenas se inclinasse alguns poucos centímetros, o tocaria. Nagihiko riu do protesto do loiro, achando que ele ficava absolutamente fofo irritado daquela forma.

Acariciou a bochecha esquerda, suavemente, inclinando-a então na sua direção. Tadase fechou novamente os olhos, esquecendo-se da irritação momentânea, e Nagihiko depositou um singelo beijo bem na ponta do nariz delicado do loiro. Sentiu-o espantar-se com o gesto, que não era exatamente o que esperava, e então, sorrindo para si mesmo, desceu os lábios, até finalmente tocarem o alvo inicial. Tadase retribuiu ao gesto, com timidez, entrelaçando os braços ao redor do pescoço de Nagihiko, sentindo a textura macia dos cabelos deles em suas mãos. Circundando a cintura fina de Tadase com as mãos, Nagihiko o trouxe mais para perto, até que ele sentasse novamente no chão, e então aprofundou o toque, ternamente, pedindo passagem com a língua, que o loiro atendeu prontamente.

Após alguns minutos assim, os dois se afastaram. Tadase deixou seu peso ceder, apoiando-se no corpo do maior, e deitou a cabeça em seus ombros, suspirando com um sorriso. Nagihiko tocou-o com a testa, cerrando os olhos, e Tadase o abraçou com mais força, sentindo-se completamente seguro e confortável naqueles braços.

— Fujisaki-kun... – Tadase disse, bem baixo, levantando os olhos carmim para ele – Como vamos fugir daquelas garotas do clube de jornalismo? Elas vão... tentar de novo amanhã... Quem sabe não devemos ir logo até elas e dizer que não temos nada um com o outro? – ele sugeriu – Tenho certeza de que fugir só aumentará a suspeita...

— Bem, você tem razão, Hotori-kun... mas... – ele falou, lentamente, afagando a bochecha corada dele com o polegar. Baixou o tom de voz, inclinando a cabeça até quase tocar seus narizes – Você tem certeza de que consegue negar o que sente por mim? – ele se permitiu ser um pouco convencido, e vendo a reação surpresa e envergonhada de Tadase, deixou-se levar – Você consegue dizer que não me ama, Hotori-kun?

— E-eu... n-não consigo... – Tadase respondeu, balbuciando, e fechando os olhos vagarosamente, enquanto impelia-se para cima, tentando alcançar Nagihiko, que sorriu, selando seus lábios com os dele novamente, com um beijo inicialmente calmo, que se tornava mais ávido e urgente a cada segundo.

O valete desceu uma das mãos pela linha da cintura de Tadase, sentindo-o arrepiar-se com seu toque, e o enlaçou, aproximando-o ate que se apoiasse em sua perna direita. Ele arquejou, ao sentir a língua de Nagihiko explorando mais fundo em sua boca, e seus pensamentos gradualmente se tornavam mais indistintos à medida que ele o tocava.

Estavam dessa maneira, quando o familiar sinal que indicava o encerramento do intervalo soou, ecoando pelas paredes rudimentares do armário de limpeza e sobressaltando os dois garotos, que se afastaram, embora relutantes, alguns poucos centímetros, apenas para respirar.

— Temos que ir – ele disse, dando um pequeno selinho em Tadase antes de se erguer, e ajuda-lo a se levantar também. Tadase concordou, inteiramente inebriado pela presença do valete, incapaz de articular uma única palavra.

Os dois esperaram mais alguns minutos, ouvindo o barulho das pessoas se movendo. Depois que estava tudo calmo novamente, Nagihiko abriu a porta lentamente, espreitando em uma fresta, para só então colocar-se para fora. O corredor estava vazio, e não havia sinais de alunos passando pelo local. O valete abriu mais um pouco da porta, deixando que Tadase também saísse, e então segurou sua mão, discretamente, levando-o consigo para a frente. Os dois andaram cautelosamente pela cozinha, e nenhuma das funcionárias fez qualquer comentário, e depois de saírem, tomando cuidado para não serem vistos, eles subiram as escadas, até o terceiro andar.

Os estudantes estavam todos em aula, e eles tinham o caminho livre até a sala de Tsukasa. Apesar disso, Tadase sentiu seu coração acelerando durante todo o percurso, e só conseguiu respirar quando enfim chegaram em frente ao escritório do diretor, e depois de bater rapidamente, soltando suas mãos, adentraram.

— Ah, o que trás os dois jovens até aqui? Aconteceu alguma coisa? – Tsukasa disse, verdadeiramente surpreso. Estava com um livro em mãos, e uma fumegante xícara de chá repousava sobre a mesa.

— Na verdade sim – Nagihiko foi direto, não dando a Tadase nenhuma chance de se pronunciar. Ele sabia o quanto Tsukasa poderia ser sagaz, e se a intenção era manter segredo, era melhor que ele cuidasse disso pessoalmente, e o quanto antes melhor. – Você viu a edição do jornal da escola de hoje, Diretor?

— Vi sim, aquela era uma bela foto, não era? – Tsukasa sorriu cordialmente, bebendo um gole do chá.

— Não é disso que eu estou falando. Aquilo que aquelas garotas disseram... elas não podem sair inventando coisas a nosso respeito e esperar que fiquemos parados! E ainda mais, colocando o nome da Nadeshiko nessa história, isso pode ser ruim para a minha família, e se alguém descobrir...

— Tem razão, Fujisaki-kun – Tsukasa ergueu-se, circundando a mesa e andando até os dois garotos, com as mãos para trás das costas – Eu irei repreender as garotas do clube de jornalismo, e encerrar essa edição. Pode ser ruim para o seu segredo, eu entendo isso. Mas elas não inventaram inteiramente esses boatos, não é mesmo? – ele indagou, sorrindo perspicazmente.

— Eu não sei do que está falando, Diretor – Nagihiko sustentou o olhar esmiuçador de Tsukasa, com dificuldade, enquanto Tadase se retorcia atrás dele.

— Você vai negar os sentimentos que nutre por Tadase há tantos anos, Fujisaki-kun? – Tsukasa sorriu educadamente, e Nagihiko ofegou, sem palavras. Mesmo que tivesse provocado Tadase antes, no armário, ele também não conseguia negar que o amava, não depois de tudo o que passaram. Era impossível proferir essa mentira, mesmo para um mentiroso experiente como Nagihiko – Aaah, não precisa ficar encabulado... – Tsukasa disse, antes que o valete pudesse proferir a resposta – Eu vi vocês dois dormindo juntos durante a viagem...

— V-você viu? – Nagihiko chocou-se, com os olhos arregalados e o rosto pálido. Tadase, por outro lado, estava prestes a desmaiar de vergonha, com o rosto tão vermelho que poderia explodir a qualquer segundo. Tsukasa alargou um sorriso, satisfeito e amedrontador.

— Eu não vi nada. Quer dizer que aconteceu mesmo? Considerando essa reação, eu devo dizer que perdi uma grande cena de amor, não é? Essa viagem deve ter sido realmente muito especial para ambos... Ah, meu querido sobrinho, você cresceu tão rápido... já está concretizando seu amor, em frente aos meus olhos, e eu nem precisei ajuda-lo! – suspirou, sonhadoramente, enquanto Tadase procurava com os olhos qualquer lugar onde pudesse se esconder e não aparecer nunca mais diante de ninguém. Nagihiko sentiu seu queixo abrir-se, com uma terrível indignação apoderando-se dele. Tsukasa estava apenas sondando-os, jogando verde, e ele caíra perfeitamente no seu embuste, como ele certamente planejara. Não podia se perdoar por esse erro primário, mas agora já estava feito, não havia mais volta.

— S-sim, Amakawa-san... – Nagihiko pigarreou, e afirmou, formalmente. Segurou a mão de Tadase, que estava trêmula e gelada, na sua, e então encarou Tsukasa diretamente – Eu amo o seu sobrinho, e nós dois somos um casal agora. Eu prometo que farei tudo o que for possível, e impossível também, para fazê-lo feliz, e espero que você nos aceite, dessa maneira – ele despejou tudo de uma só vez, e Tadase apertou sua mão nervosamente, mordendo os lábios.

— É claro que eu os aceito, Fujisaki-kun, como poderia pensar o contrário? – Tsukasa, ainda sorrindo, envolveu ambos em um abraço inesperado. Tanto Nagihiko quanto Tadase arregalaram os olhos, em choque. Não era exatamente um abraço que eles estavam esperando como reação àquela notícia. – Finalmente, vocês encontraram a felicidade que tanto almejaram, e ninguém tem o direito de dizer que estão errados. Sabem que encontrarão muitas dificuldades – ele os fitou gravemente, apoiando suas mãos no ombro de cada um. Nagihiko aquiesceu, retomando uma postura séria - ...  e nem todos serão receptivos como eu estou sendo agora. Vocês estão prontos para enfrentarem o mundo por causa desse sentimento?

— Sim – Tadase e Nagihiko disseram ao mesmo tempo, com convicção, e Tsukasa assentiu.

— Então eu só posso ficar aqui, torcer por vocês, e deseja-los felicidades – Tsukasa soltou-os, voltando a andar na direção da sua mesa.

— Tsukasa-san... – Nagihiko chamou, sem soltar a mão de Tadase – Será que... você poderia manter isso em segredo, por enquanto?

— Você, melhor do que ninguém, sabe o quanto segredos e mentiras podem ser prejudiciais, Fujisaki-kun – ele respondeu, acomodando-se novamente na cadeira.

— M-mas é q-que... – Tadase se pronunciou, aproximando-se da mesa – N-nós queríamos... aproveitar um pouco desse tempo, antes que todos saibam... q-quero dizer...

— Se você conseguir manter segredo da Yaya e das outras, já está ótimo! – Nagihiko completou, suspirando pesadamente só de pensar na pequena fujoshi e sua gangue.

— Está certo, farei como estão me pedindo – ele tomou seu chá, girando a cadeira para olhar pela janela – Também darei um jeito no jornal da escola. Mas, como bem sabe, segredos não duram para sempre, Fujisaki-kun... então eu sugiro que se apresse e pense em uma maneira de contar a verdade a todos, está certo? Eu não estou dizendo para subir no telhado e gritar aos quatro ventos, para toda a escola... apenas divida sua alegria com seus amigos e com aqueles que se importam com você.

— Está bem, Tsukasa-san – Nagihiko sorriu, tranquilamente, e Tadase, fitando de soslaio, admirou inconscientemente aquele sorriso, com um semblante quase tolo no rosto – Eu irei seguir seu conselho. Muito obrigado.

— Apenas cuide bem do meu sobrinho. Deixo-o com você a partir de agora – Tsukasa articulou, e Nagihiko concordou, enquanto Tadase corava até a raiz dos cabelos – E... juízo, vocês dois. Não se esqueçam de que ainda são crianças!

Ele disse, e foi a vez de Nagihiko corar, enquanto Tadase olhava de um para o outro, sem entender.

— V-v-vamos voltar para a aula, Hotori-kun – Nagihiko disse apressadamente, enrolando a língua para falar, e rebocou Tadase para fora da sala.

— Obrigado, tio... – ele acenou, segundos antes de sair e fechar a porta.

Tsukasa sorriu para seu chá, alegremente, e então suspirou. Seu sobrinho não precisava mais dele afinal. Agora tinha alguém para amar, alguém que o amasse de volta. Tinha alguém que cuidasse dele, não importando quantas dificuldades viessem... e eles enfrentaria e superariam todas elas, juntos, ele tinha certeza.


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Notas finais do capítulo

Aaah~ Shiroyuki desu o/
É tão bom finalmente poder escrever esses capítulos felizes.... embora os problemas deles estejam já começando nee -.-
Bom, o que importa é que eles estão juntos, finalmente~~ oooh~ Shiawasee~ o Poder do Amooor~ Kooore wa koooooi desuu~~~
Te~hee~ Me empolgo... Enfim~ espero que tenham gostado, eee, onegaaai, deixem reviews *u*



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