Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 28
Capítulo 28 - Anata No Birthday


Notas iniciais do capítulo

Anata No Birthday - Kikuko Inoue
http://letras.mus.br/ah-megamissama-oh-my-goddess/226273/#traducao



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Era noite de festa na casa dos Fujisaki. Hoje era um dia especial, pois o único filho do casal Fujisaki estava ficando um ano mais velho. Nagihiko estava agora parado de pé diante de uma mesa grande, com todo o tipo de doces e guloseimas espalhadas em sua superfície lisa, com todos os seus amigos e parentes rodeando-o, batendo palmas e comemorando com ele. No centro da mesa, estava um enorme bolo, decorando com glacê branco e cheio de morangos vermelho-vivo em cima, com os dizeres "Happy Birthday" escritos com chocolate no meio. Nagihiko deveria estar mais do que feliz por estar tendo uma festa tão bonita, ao lado das pessoas que mais lhe queriam bem, no entanto, sentia-se bastante triste, e até solitário. A pessoa que mais queria ver não estava lá. A única pessoa de quem realmente precisava não estava ao lado dele. Hotori Tadase tão tinha ido à festa.


Alheia ao fato da depressão do jovem rapaz, sua mãe mandou que Nagihiko assoprasse as velas e fizesse um pedido, e assim o Valete o fez. Fechou os olhos e assoprou as velas, todas de uma só vez, desanimado, desejando que a pessoa que mais amava pudesse estar ali ao seu lado para comemorar com ele, ainda que soubesse que simples velinhas de aniversário não seriam capazes de atender à esse desejo impossível. E no entanto, para a surpresa do garoto, no instante em que ele assoprou as velas, o bolo meio que explodiu, soltando fumaça e tudo, e de dentro dele saiu um menino de cabelos loiros, olhos escarlate e estatura baixa, com o sorriso mais doce do que qualquer bolo de aniversário do mundo em seu rosto infantil. Hotori Tadase acabara de sair de dentro do bolo, agora em pedaços, com grossas fitas vermelhas de presente enroladas e amarradas em seus braços, pernas, e próximo à cintura, de modo que cobrisse sua masculinidade. Também havia um vistoso laço amarrado atrás. Por algum motivo, ele não usava peça de roupa nenhuma, apenas essas fitas de presente cobrindo seu diminuto corpo. Todos se calaram diante do choque, os olhos pregados no "menino-bolo/presente", até que Tadase falou:


– Feliz aniversário, Fujisaki-kun! Sabe, eu passei muito tempo pensando em qual seria o melhor presente para dar pra você... fiquei tão feliz quando você me presenteou com o Hotosaki que queria te dar um presente à altura, mas não conseguia pensar em nada. Então me veio a brilhante idéia de "me dar" de presente pra você! Hoje eu sou seu presente, e também seu bolo de aniversário... por favor, me coma, Fujisaki-kun.


Nagihiko estava prestes a ter uma síncope. Ele podia jurar que enfartaria jovem demais à qualquer momento. Imaginou por um instante que Tadase não fazia a menor idéia do real efeito que seus atos ou suas palavras lhe causavam, e não pôde evitar de sentir um estranho calor espalhando-se por todo seu corpo, o coração acelerando perigosamente, enquanto seu rosto ficava irremediavelmente rubro. E de repente, lembrou-se de que os dois garotos não estavam sozinhos. Seus amigos haviam presenciado a cena também, e até mesmo seus pais. Virou-se para trás em câmera lenta, sentindo-se um protagonista de filme de terror, que estava se virando para dar de cara com um encontro inevitável com a morte, e teve um grande choque ao constatar que nenhum deles parecia estar surpreso, assustado, com medo, ou sequer reprovar a cena tremendamente embaraçosa diante de seus olhos. Viu Utau e Yaya comentando que todos já sabiam sobre a surpresa, e Kukai confirmando a história, dizendo que foi uma grande idéia. Poderia jurar que ouviu até mesmo sua mãe comentando que sentia-se extremamente feliz que seu filho tivesse encontrado uma pessoa tão amável e bondosa como Tadase para estar ao seu lado, com um sorriso que Nagihiko raramente via no rosto dela, e seu pai confirmando o comentário da esposa, e arescentando que os dois tinham muita sorte em ter conhecido a pessoa amada ainda tão jovens.


Nagihiko piscou várias vezes, olhando para todos os lados, atordoado. Aquilo não podia ser verdade. Que nenhuma de suas amigas se importasse com isso ainda vai, mas seus amigos homens, como Kukai e Kairi jamais agiriam tão naturalmente diante desse fato, como estavam fazendo agora. Seus pais então, jamais aceitariam que seu único filho tivesse um relacionamento desse tipo tão facilmente, sua mãe principalmente! E o mais importante... por mais ingênuo e influenciável que Tadase fosse, sabia que o loiro jamais faria uma tolice constrangedora tão grande, à ponto de sair de dentro de um bolo, com seu diminuto e delicado corpo exposto, enrolado em apenas fitas de presente, muito menos que "se daria" de presente assim para Nagihiko, dizendo coisas tão comprometedoras... não, aquilo não podia estar acontecendo, não podia ser verdade... aquilo só podia ser...


– TRRRIIIIIIMMMMMMMM!!!!!!!!!!


– Um sonho - Nagihiko concluiu, sentando-se bruscamente em sua cama ao ouvir o som estridente do despertador acordando-o para a dura realidade. Coçou a cabeça, bagunçando ainda mais os longos cabelos, agora despenteados, e forçando-se a normalizar a própria respiração, que neste momento se encontrava descompassada por conta do sono agitado. Seu corpo inteiro suava muito, e seu rosto ardia como se estivesse em chamas, tudo por causa daquele terrível sonho que, pensando bem, nem foi tão terrível assim, mas só em pensar que ele jamais se tornaria realidade, fazia Nagihiko sentir uma dor e uma tristeza tão grandes que aniversariante nenhum deveria jamais sentir.
– Waahhhh... ohayou Nagi! Feliz aniversário! - Rhythm cumprimentou ao sair de seu Shugo Tama, animado demais para alguém que acabou de acordar
– Ohayou... obrigado, Rhythm - Nagihiko respondeu sem emoção, torcendo para que o Chara acreditasse que seu desânimo se devia ao fato de ainda estar sonolento. Ele afagou a cabeça do pequeno Chara com a ponta dos dedos ao cumprimentá-lo, e em seguida fez o mesmo com um ovo florido cor-de-rosa em cima da cômoda, ao lado de um porta-retrato que exibia uma foto da versão criança de Tadase e de si mesmo - Ohayou Temari - ele murmurou para o ovo rosa, como fazia todas as manhãs
– Eh? Que cara é essa? Você parece deprimido demais para alguém que está fazendo aniversário hoje, Nagi! - Rhythm exclamou, percebendo o desânimo do dono
– Não é nada, só estou com sono - o garoto mentiu, enquanto arrumava seu futón
– Com sono? Mesmo? Mas seu rosto está todo vermelho, e você está suando tanto, e... ahh! - uma idéia formou-se na mente do pequenino, como se uma lâmpada se acendesse sob sua cabeça - Não vai me dizer que teve algum sonho "especial" com o Tadase, e agora está assim porque está se sentindo culpado? É isso??
– Você é esperto mesmo, hein, Rhythm... esperto até demais - Nagi comentou, sabendo que não conseguiria enganar seu próprio Chara por muito mais tempo. Já havia se tornado um hábito ele sonhar praticamente toda noite com Tadase, então não havia como negar - Foi um sonho bom até demais... droga, e eles estão se tornando cada vez mais indecentes. Preciso dar um jeito nesses sonhos antes que fique fora de controle
– Hahahahaha!! Ora, vamos, não fique assim, Nagi! Foi só um sonho afinal, e sonhos não machucam ninguém! Hoje é um dia de festa, então, ao menos hoje, quero ver você comemorar o dia todo e não ficar deprimido nem uma vez sequer, ouviu?! - o Chara exclamou com um grande sorriso, despreocupado demais, como sempre - Temari também não iria gostar de te ver deprimido no seu aniversário. Então tente sorrir mais e se divertir, ao menos hoje. Faça isso por ela - ele acrescentou, estranhamente mais sério
– Rhythm... - Nagihiko o encarou por alguns segundos, com uma admiração que raramente sentia pelo seu impulsivo e despreocupado Shugo Chara - Você tem razão. Hoje é um dia pra se comemorar afinal, e não pra ficar deprimido, não é? - ele se deu por vencido, deixando escapar um sorriso
– É isso aí, assim que se fala! Vamos comemorar o dia inteiro, e noite àdentro também yay!!





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Nagihiko passou o resto da manhã ajudando seus pais e os empregados da casa com a decoração da festa que teriam mais tarde para celebrar seu aniversário. Sua mãe insistiu que o aniversariante não deveria ajudar com essas coisas, que ele deveria apenas relaxar e deixar tudo com ela, já que precisaria estar bem descansado para a festa, mas o garoto insistiu em pelo menos ajudar com a comida. Ficava bastante relaxado quando cozinhava, e era exatamente disso que precisava naquele momento, relaxar. Aquele sonho estranho não saía de sua cabeça, e sempre que a visão de Tadase saindo de dentro do bolo enrolado em fitas de presente lhe vinha à mente, sentia seu rosto afoguear-se como se estivesse em chamas, enquanto o coração acelerava perigosamente. Sabia perfeitamente que algo assim jamais poderia acontecer. Tadase sair de dentro de um bolo praticamente como veio ao mundo era algo tão inconcebível quanto seus pais aceitarem uma relação amorosa entre o pequeno loiro com seu único filho. Mas Nagihiko realmente não precisava se preocupar com isso, afinal, antes de se preocupar com a reação de seus pais, Nagihiko sabia mais do que ninguém que seria impossível também o próprio Tadase aceitar sentimentos tão sujos e distorcidos vindo dele. Nagihiko sacudiu a cabeça com força, tentando não pensar naquele fato incontestável, ao menos por hoje. Rhythm tinha razão afinal, não se faz aniversário todo dia, e hoje era um dia de festa, então, ao menos por hoje, Nagihiko tentaria sorrir e se divertir o máximo que pudesse. A dolorosa massa de culpa que já estava acostumado a sentir por ter se apaixoando pelo seu melhor amigo não lhe permitiria jamais fazer isso por si mesmo, mas ele tentaria fazê-lo ao menos por Temari, e pelo próprio Tadase, já que não queria preocupar o jovem Rei com seus problemas sem solução.


Pouco depois do almoço, todo o belo e vasto jardim já estava todo decorado, com balões coloridos, fitas e serpentinas. Não era necessária muitas decorações há mais realmente, já que o jardim era exuberante por si só, e considerando o dia ensolarado que se fazia, a noite seria ainda mais bela. Uma enorme mesa fora colocada na varanda, com todo o tipo de comida e guloseimas, uma mais saborosa do que a outra, e com um grande bolo decorado com morangos no centro da mesma, lembrando terrivelmente o sonho de Nagihiko. Luzes foram penduradas nas cerejeiras, agora com todas as suas belas flores abertas, fazendo com que uma verdadeira chuva de pétalas rosadas caísse por todo o vasto jardim.


Pela primeira vez, Nagihiko sorriu sinceramente ao admirar essa cena. Era a primeira vez que se lembrava em sua curta vida de estar comemorando um aniversário realmente seu, e não de Nadeshiko. Como vivera a maior parte da vida fingindo ser uma garota, suas festas de aniversário naturalmente possuiam uma decoração feminina, mas não havia nada parecido com isso dessa vez. Não haviam os balões em forma de corações brilhantes cor-de-rosa, ou faixas decoradas com flores e letras purpurinadas acima da mesa do bolo, que por sinal, possuia um glacê azul-claro, com leves tons de branco dessa vez, e não rosa e branco como costumava ser nos anos anteriores. Para aliviar esse fato, seus pais costumavam fazer uma pequena comemoração e lhe dar presentes para meninos depois da exuberante festa que Nadeshiko ganhava todos os anos, mas nunca parecia ser o suficiente. Essa era realmente a primeira vez de que se lembrava de que ele, Fujisaki Nagihiko, um garoto, teria uma festa com uma decoração e comemoração adequadas para o rapaz que realmente era.


Ainda estava perdido em pensamentos, admirando a bela decoração diante de seus olhos, quando ouviu a campainha tocar. Imediatamente sentiu o sorriso em seu rosto se alargar, e correu até o portão principal para atender os convidados. Assim que o abriu, deu de cara com seus amigos de Seiyo, bem com os Ex-Guardiões, e até mesmo Ikuto e Utau, que vinham mais atrás. Aparentemente vieram todos juntos em bando. Yaya, que era quem estava mais à frente, usava um colorido chapéu de festa, com um pequeno pompom cor-de-rosa no topo, aparentemente sem sentir vergonha nenhuma de sair na rua com aquela coisa na cabeça. Ela deu um pulo assim que o garoto abriu a porta, e depositou um chapéu idêntico na cabeça do aniversariante, exceto que o pompom no topo era roxo, e que ficou meio torto devido à diferença de altura entre os dois. Depois de ajeitar o chapéu, Nagihiko reparou que ela carregava outros chapéus de aniversário nos braços, provavelmente para os outros convidados.


– Feliz aniversário, Nagi! - a ruiva exclamou, mais sorridente do que nunca. Os demais gritaram "Parabéns!" logo em seguida, todos ao mesmo tempo
– Obrigado, pessoal. Entrem, está tudo pronto - o Valete sorriu, afastando-se para dar espaço para os amigos adentrarem a casa. Yaya foi a primeira, é claro, e deu um giro, querendo admirar cada detalhe da decoração do jardim ao mesmo tempo. Em seguida, voltou para junto do grupo, aos pulos, começando a distribuir o resto dos chapéus de festa para os outros. Viu os Charas dos amigos se juntarem à Rhythm, que sobrevoava o jardim ali perto, enquanto Pepe tentava forçar os demais a usarem também minúsculos chapéus de aniversário, e desaparecendo em seguida pelo imenso jardim. Quando voltou a encarar cada um dos amigos, notou que não estava encontrando Tadase entre eles, e por um instante fugaz, temeu a possibilidade do loiro ter realmente se escondido dentro do bolo enquanto ele não estava olhando, quando viu Utau ainda próxima ao portão, puxando o jovem Rei para dentro pelo braço.


– Vamos, entre logo, Tadase! Está com vergonha de quê,hein?! - a cantora exclamava, tentando inutilmente segurar uma risada. Ela finalmente conseguiu obrigar o loiro a entrar na casa, puxando o menino pelo braço com as duas mãos. Nagihiko notou que ele estava muito corado, e parecia estar terrivelmente nervoso e apreensivo com alguma coisa, embora não se soubesse exatamente com o quê
– Etto... f-feliz aniversário, Fujisaki-kun. E-Eu lhe desejo felicidades - o Rei murmurou, num tom quase inaudível. Nagihiko conjecturou se ele ainda estaria tenso pelo mesmo motivo desconhecido de quando estava no dia em que os dois foram sozinhos ao parque de diversões
– Arigatou, Hotori-kun. Espero... que se divirta na festa hoje - Nagihiko sorriu, meio sem saber o que dizer
– Quem tem que se divertir hoje é você, o aniversário é seu afinal! - Yaya se intrometeu na conversa, escandalosa como sempre - Se bem que eu acho que o Tadase seria o único capaz de fazer o Nagi "se divertir" de verdade né.... huhuhuhuhu... - seu rosto infantil foi tomado por um estranho sorriso pervertido que não ficava nada bem em uma menina tão nova quanto ela
– E não é só isso! - Amu pronunciou-se, sem sequer fazer idéia do rumo que os pensamentos da Às tomavam - Hoje também é aniversário da Nadeshiko, certo? Puxa, queria que ela estivesse aqui pra comemorar com a gente, sinto tanta falta dela!
– Nadeshiko, Nadeshiko... acho que já ouvi esse nome... - Ikuto comentou, pensativo - Que estranho, não sou de me esquecer de uma garota, ainda mais se for bonita... quem era essa mesmo??
– E-Ela é... minha irmã gêmea. Está vivendo no exterior agora - Nagihiko respondeu, um tanto incomodado por terem se lembrado desse fato
– Ahh sim, você disse uma vez que tinha uma irmã, né! - o neko exclamou, dando um soco na palma da outra mão em sinal de compreensão - Gostaria de conhecê-la um dia, aposto que é bonitinha...
– Duvido muito que isso vá acontecer algum dia. Esqueça a Nadeshiko pro seu próprio bem! - Nagihiko exclamou de volta, virando o rosto, entre irritado e constrangido
– Waaahhh!! Que fofo, o Nagi tem ciúmes da Naddy!! - Yaya exclamou aos pulos
– Kawaii!! - Utau acrescentou, abraçando o aniversariante
– Vamos, vamos, deixem a Fujisaki-san pra lá e vamos continuar com a festa! - Tadase falou, visivelmente incomodado com a cena. Sabia muito bem que Utau era carinhosa com todo mundo, mas ainda lhe incomodava vê-la abraçando a pessoa que ele amava assim tão intimamente, sem falar na repentina onda de raiva que lhe invadiu quando Ikuto começou a paquerar o outro lado de Nagihiko, ainda que indiretamente. Não esperava por isso, mas, no fim das contas, a verdade é que ele sentia ciúmes dos dois, tanto de Nagihiko quanto de Nadeshiko
– Isso aí, o Tadase tem razão! - Kukai apoiou, com empolgação excessiva, também querendo ajudar o Valete a sair daquela situação - Vamos aos presentes, aos presentes!


Utau finalmente largou o aniversariante, e juntou-se aos outros, formando uma espécie de semi-círculo embaralhado em torno do Valete. A primeira a se adiantar foi Amu, entregando uma sacola de alguma loja de DVDs que lembrava muito os tipos de animes suspeitos que Utau e Yaya costumavam assistir. Por um instante fugaz, Nagihiko chegou a pensar na possibilidade das duas terem arrastado Amu para esse "antro de perdição", do mesmo jeito que estavam fazendo com Rima, porém, assim que abriu a sacola entregue pela amiga, viu que ela continha vários DVDs intitulados "Slam Dunk", todos com dois ou mais garotos trajando uniformes de basquete e arremessando uma bola na cesta.


– É um anime sobre basquete - a Coringa disse o óbvio - Eu não sei muito bem o que dar de presente pra um garoto, mas como você gosta de basquete, eu pensei...
– Entendi. Arigatou Amu-chan, adorei o presente - Nagihiko sorriu, mais por alívio pelos DVDs não possuírem conteúdo suspeito do que qualquer outra coisa. Assim que colocou a sacola com DVDs em uma mesa vazia próxima, viu Kairi se adiantar
– Feliz aniversário, senpai - ele disse educadamente, entregando um embrulho retangular, embrulhado em papel azul-escuro. Era meio pesado também, o que fez Nagihiko supor que era uma caixa com algum conteúdo indefinido dentro, ou um livro. Acertou em cheio ao desembrulhar o presente ver um grosso de livro de cerca de trezentas páginas intitulado "Ritmo e Dança". Nagihiko sorriu, percebendo que, curiosamente, o título daquele livro lembrava seus dois Charas - Como você faz parte de uma família tradicional que lida com dança japonesa, acredito que essa foi a melhor opção de presente - o garoto de óculos acrescentou
– Foi mesmo uma ótima escolha. Obrigado, Sanjou-kun - Nagihiko agradeceu, sorrindo
– Minha vez, minha vez! - Yaya se adiantou aos pulos, empurrando o Ex-Valete para o lado, enquanto Nagihiko depositava o livro ao lado do presente de Amu - Aqui está, meus parabéns, Nagi! - a ruiva exclamou, lhe entregando uma caixa estranhamente familiar. Nagihiko a abriu, sentindo um mal-pressentimento quanto ao presente de Yaya, quando suas suspeitas se confirmaram: O presente da Às consistia em uma roupa de maid, nekomimi, algemas e chicote.


Utau caiu na gargalhada assim que viu aquilo, juntando-se à Às, que não conseguia parar de rir. Rima corou furiosamente, os olhos pregados no presente do amigo, e Amu soltou uma exclamação, entre envergonhada e confusa. Depois de alguns segundos de choque, Kukai riu também, embora estivesse visivelmente embaraçado, e Kairi nem sequer conseguiu corar de tão chocado que estava; aparentemente não conseguia conceber a idéia de um garoto sendo presenteado com algo como aquilo. Depois de alguns segundos examinando o conteúdo da caixa e imaginando pra que raios servia aquilo, Tadase também corou furiosamente, com pensamentos tão insanos que ele podia jurar que tinha chegado à conclusão errada. Ikuto teve uma séria crise de riso, e Nagihiko corou tanto que parecia que sua cabeça estava prestes a explodir a qualquer instante. Tentou gaguejar alguma coisa, sem sucesso, incapaz de falar o que quer que fosse naquela situação. Depois de gastar vários segundos respirando fundo, numa tentativa de recuperar a fala, ele gritou:


– M-M-Mas o que raios é isso Yaya-chan??!!! Não! Melhor nem responder!! O que te deu na cabeça pra dar uma coisa dessas de presente, hein, sua pirralha precoce?!! Já sei o que vou te dar no seu aniversário, um cérebro novo, pra ver se assim você coloca algum juízo nessa sua cabeça ruiva, que parece estar cheia de besteiras!!!
– Ahh! Espera um minuto! - Ikuto exclamou, assim que se recuperou de sua crise de riso, antes que Yaya pudesse responder - Estou reconhecendo esse chicote... esse é o presente que eu te dei no Natal, sua tampinha cara-de-pau! - o neko falou, fazendo Nagihiko finalmente se lembrar aonde já tinha visto aquela caixa antes
– Isso, o próprio! - Yaya confirmou, sem vergonha alguma - Não leve pro lado pessoal, Ikuto, a Yaya adorou o presente, mas acho que o Nagi faria melhor utilidade de algo assim do que eu, sabe... principalmente se ele usar isso com uma outra certa pessoa - ela olhou descaradamente para Tadase
– Ahh entendi... é, talvez você tenha razão afinal - Ikuto acabou concordando, voltando a exibir seu costumeiro sorriso pervertido
– Francamente, vocês não têm jeito mesmo, viu... acho que já sei que presente dar pro Ikuto também, um pouco de vergonha na cara! - Nagihiko exclamou, ainda terrivelmente embaraçado, enquanto depositava o estranho kit dado por Yaya ao lado dos presentes de Amu e Kairi
– Ora, vamos, esqueça isso! Foi só uma brincadeira afinal, não se aborreça com coisas pequenas, e lembre-se de que hoje é um dia de festa! - Kukai exclamou, tentando acalmar os ânimos - Aqui, pra você! Feliz aniversário, Fujisaki! - ele lhe estendeu um embrulho grande e redondo, deixando óbvio o que deveria ter ali dentro. Assim que Nagihiko rasgou o papel de presente, deparou-se com uma bola de basquete novinha em folha - Uma bola de basquete! Assim você poderá treinar arremessos sempre que quiser, e não apenas durante os treinos do time da escola!
– Incrível, eu estava precisando mesmo! Arigatou, Souma-kun! - Nagihiko agradeceu, radiante, e Tadase sentiu um desconforto no estôamgo ao ver outra pessoa que não fosse ele provocar um sorriso tão bonito no rosto do Valete
– E tem outra coisa - Kukai falou, baixando a voz, de modo que apenas Nagi ouvisse - Isso também é pra você - ele lhe estendeu uma pequena caixa, que Nagihiko abriu rapidamente, retirando um frasco com óleo para massagem de dentro da mesma
– Óleo pra massagem? - Nagihiko indagou, erguendo uma sombrancelha, e encarando-o sem entender
– É, pois é... a verdade é que a Yaya me mandou comprar alguma coisa que aproximasse mais você do Tadase, sabe - Kukai confessou, coçando a cabeça e rindo sem graça - Mas eu realmente não sabia o que comprar, e isso foi o melhor em que pude pensar... achei que talvez você pudesse usar isso durante as tarefas especiais do Valete, sabe? Aposto que Sua Majestade adoraria a idéia! - o mais velho explicou rindo, embora ainda estivesse visivelmente constrangido com a idéia, fazendo Nagihiko corar furiosamente ao ter uma imagem mental de si mesmo fazendo muito mais do que apenas massagens em Tadase. Se não estivesse tão embaraçado e sem fala, Nagihiko poderia jurar que deria dado um soco em Kukai ali mesmo por lhe dar um presente com tanto duplo-sentido quanto esse. Como se não bastasse ele ter que aguentar as piadinhas e indiretas de Yaya e Utau, agora teria que aturar as brincadeiras sem graça de Kukai também?! Isso já era demais!
– Aqui está. Meus parabéns - Rima falou simplesmente ao se aproximar, despertando o atual Valete de seus pensamentos, e quase sem ser notada devido tanto ao seu silêncio quanto ao seu diminuto tamanho. Nagihiko pegou o presente que ela lhe estendia, uma caixa grande, retangular, e um tanto pesada para alguém do tamanho dela carregar por aí. Assim que retirou o papel de presente, Nagihiko viu que seu presente consistia em um conjunto de chá completo, com xícaras, pires, um bule e açucareiro - É pra você nunca sentir sede. Aliás, que tal estrear seu presente agora e preparar um chá pra gente, hein?
– Ahn... - Nagihiko murmurou indefinido, sem saber o que dizer naquela situação, sentindo uma gota escorrer pelo canto da cabeça - Talvez mais tarde. De qualquer forma, obrigado, Rima-chan... eu acho
– Ok, ok, minha vez! - Ikuto exclamou, adiantando-se, e passando deliberadamente um braço ao redor do pescoço de Rima, usando mais a menina como apoio do que abraçando-a - Aqui está, rapaz. Faça bom uso - ele estendeu uma caixa com uma estampa muito conhecida para o Valete, com uma falsa expressão solene no rosto. Nagihiko pegou a caixa que o neko lhe estendia, um tanto receoso, e a reconheceu na hora: a caixa era da mesma loja na qual Yaya adquirira a fantasia de maid com a qual lhe presenteara. Assim que retirou a tampa da caixa, as piores suspeitas de Nagi se confirmaram: Dentro dela, havia uma blusa sem mangas estilo sailor fuku, de barriga de fora e com o decote muito maior do realmente deveria ser, um lenço roxo, provavelmente para amarrar no decote dando um laço, uma gargantilha vermelha com uma estrelinha dourada enfeitando-a, e uma micro-saia pregueada vermelho-berrante, que mal chegava a um palmo, sendo muito mais curta do que realmente deveria ser. Tambem haviam luvas brancas, com alguns detalhes em vermelho, um par de sapatos de salto-alto vermelhos, brincos com formato de estrela e uma tiara dourada com uma pedra rubra enfeitando-a.


Assim que deu-se conta do conteúdo da caixa, Nagihiko deixou-a cair como se esta desse choque, permitindo que os demais vissem seu conteúdo. Rima e Amu coraram furiosamente ao verem aquilo, embora esta última não tenha compreendido por completo o sentido de dar um presente daqueles a um garoto; Yaya e Utau caíram na gargalhada assim que viram o mais novo presente do Valete, chegando a chorar e a se dobrarem ao meio de tanto que riam; Kukai corou terrivelmente ao ver aquilo, à ponto de seu rosto ficar mais vermelho do que seus cabelos ruivos, e tentou por tudo no mundo não criar nenhuma imagem mental da versão feminina do Valete vestindo aquilo, ou sobre pra quê servia aquela roupa, se é que aquele mini-traje podia ser chamado de roupa; Kairi realmente não compreendeu o porquê de se dar um presente daqueles à um rapaz, então limitou-se a não fazer nenhum comentário; Ikuto ainda sorria, entre triunfante e convencido, como se tivesse acabado de lhe dar o melhor presente do universo; Tadase mirava a caixa com os olhos fixos em seu conteúdo, sem piscar uma única vez, com as idéias e imagens mais abissais que já teve em toda sua curta vida passando pela sua cabeça. Tentou por tudo no mundo não imaginar Nagihiko vestindo aquilo, embora uma parte dele realmente quisesse ver isso. E, pra piorar, ele desenterrou de algum lugar no fundo de suas memórias, a lembrança de uma Sailor Moon que se parecia ligeiramente com Nagi, o que inevitavelmente aumentou ainda mais o desejo do Rei de ver Nagihiko vestindo aquilo. E depois de vários segundos, nos quais Nagihiko realmente achou que teria uma síncope, um infarto, uma parada cerebral, ou qualquer coisa parecida, ele finalmente recuperou a fala, e tudo o que conseguiu dizer foi:


– M-Mas que raio de presente é esse, seu gato de rua pervertido???!! Não está pensando que eu vou vestir uma coisa dessas, está??
– Sabe o que é, é que desde que vi você vestido de menina durante aquele Festival da sua escola que eu percebi que você fica realmente incrível em roupas femininas! - Ikuto explicou, como se aquilo fosse um excelente motivo para presentear um garoto com uma roupa estilo sailor fuku - Então achei que essa roupa de Sailor Moon ficaria perfeita em você! E você até se parece um pouco com uma delas, se me lembro bem, tinha uma que se vestia toda de vermelho, e tinha um cabelo escuro e comprido... então, essa roupa é perfeita pra você! - o neko exclamou, gesticulando excessivamente para demonstrar o que queria dizer, com mais empolgação do que o necessário
– Ahh é verdade! Também pensei a mesma coisa quando vi essa fantasia! - Tadase deixou escapar, percebendo tarde demais o que havia dito, e cobrindo a boca com as mãos em seguida. Nagihiko olhou incrédulo para o loiro, entre envergonhado e chocado, sem conseguir acreditar que tais pensamentos pudessem se passar pela mente supostamente inocente de seu amado Rei. Inconscientemente, colocou as mãos ao redor do corpo, de forma protetora, revivendo um antigo hábito de Nadeshiko
– H-Ho-Hotori-kun, você... e-está dizendo que... q-que me imaginou vestindo... aquilo? - Nagihiko perguntou, encarando Tadase com o rosto terrivelmente corado, apontando um dedo para a fantasia dada por Ikuto
– O que?! Não! Q-Quero dizer...! - o Rei atrapalhou-se com as palavras, tentando pensar em uma forma de consertar a situação - E-Eu, bem... é que essa fantasia realmente se parece com as roupas usadas no anime... e você até que lembra um pouco... u-uma das personagens, então... b-bem, foi sem querer, quando vi, já tinha pensado - Tadase murmurou, o mais coerente possível, seu rosto tão ou mais enrubescido do que o do Valete - M-Mas eu não pensei nisso... q-querendo te ofender ou lhe faltar com o respeito, nem nada assim, eu juro! Foi sem querer, Fujisaki-kun, de verdade!
– Não... t-tudo bem, não se preocupe - Nagihiko murmurou em resposta, fazendo o possível para convencer a si mesmo de que Tadase realmente não seria capaz de pensar em algo assim por maldade, e que havia sido só uma coincidência
– Tá vendo só?! Até o Tadase concorda, então isso prova que o que eu disse antes é verdade! - Ikuto intrometeu-se - Porque, cá entre nós, você já tem essa carinha de menina, e com esse cabelo longo ainda por cima... fica igualzinho àquela Sailor! - ele concluiu, mexendo e apalpando os cabelos compridos do Valete enquanto explicava o porquê de ter escolhido aquela fantasia para ele, ainda segurando as longas madeixas entre seus dedos mesmo depois de concluir a explicação, o que fez com que Tadase se movesse involuntáriamente, como se quisesse socá-lo. Quem ele pensava que era pra mexer nos preciosos cabelos de Nagihiko assim?! Ikuto podia até ser seu irmão de consideração, ou o que quer que fosse, mas isso não lhe dava o direito de ter toda essa liberdade, não com Nagihiko! Aquele garoto precioso era só dele, e Tadase não estava disposto a dividí-lo com mais ninguém, nem um fio de cabelo dele sequer!


– Ué, você está bem, Tadase?? - Kukai o despertou de seus pensamentos homicidas ao reparar na estranha expressão facial que o loiro exibia - Está com uma cara tão estranha... tá passando mal? Não me diga que está com dor de barriga?!
– Quê?! - só então Tadase se deu conta de que deveria estar realmente fazendo uma cara medonha - Ah... n-não é nada, não se preocupe, Souma-kun
– Tem certeza? Você estava com uma cara tão esquisita...
– Ihh, não esquenta não, Kukai, aposto que o problema do Tadase é outra coisa, não tem nada a ver com doença! - Utau exclamou, lançando um olhar sugestivo ao Rei
– Bom, agradeço o presente, embora eu nunca vá usar - Nagihiko disse por fim, recolhendo a caixa do chão e tirando os próprios cabelos das mãos de Ikuto, jogando-os para trás de novo com um balançar de cabeça um tanto sedutor, que fez Tadase quase babar, hipnotizado diante daquela visão tão atrativa - E outra coisa, desde quando você entende de Sailor Moon, hein Ikuto?? Não me diga que você assistia isso?!
– A Utau adorava esse anime quando era pequena, então me forçava a assistir junto - Ikuto contou, de cara amarrada - Ahh, e devo dizer que o Tadase também gostava de assistir isso, viu?!
– Ah, é verdade, eu lembro disso! - Utau exclamou, rapidamente se empolgando, e fazendo com que o Rei corasse até a raíz dos cabelos com a repentina ressurreição dessa memória de infância - Ele tinha até uma Sailor preferida, era... como era mesmo o nome... ah sim, era a Sailor Marte!
– Ahh é verdade! Aquela de roupa vermelha né? - Ikuto exclamou - Olhando bem, ela realmente se parece um pouco com você - o neko comentou, analisando Nagihiko de cima a baixo, como se fosse um especialista no assunto - É, acho que escolhi a fantasia perfeita então! Hahahahahaha!
– Não posso opinar, já que nunca assisti isso - Nagihiko mentiu de cara amarrada. Na verdade também já tinha visto esse anime, afinal, era um anime shoujo e, na época em que era exibido na TV ele ainda era Nadeshiko, então era quase uma obrigação assistir Sailor Moon
– Bem, depois dessa discussão, não sei se você vai gostar, mas aqui está meu presente! Sei que já te dei aqueles ingressos antes, mas... uma estrela da música como eu não podia chegar no aniversário dos outros de mãos abanando né?! Então, feliz aniversário, Nagi-kun! - Utau exclamou, estendendo um embrulho com uma das mãos e o abraçando com o braço livre. Nagihiko rapidamente se soltou do abraço, e segurou o presente que a garota lhe estendia, desembrulhando-o com certo receio. E mais uma vez, suas piores suspeitas se confirmaram: O presente de Utau consistia também em uma espécie de kit, que vinha com uma capa, chapéu de policial, uma máscara chamativa e uma arma de mentira.


E mais uma vez, os demais tiveram reações exageradas: Yaya caiu na gargalhada assim que viu aquilo, e Ikuto juntou-se à ela logo depois; Rima e Amu coraram furiosamente, com os olhos pregados no presente do amigo; Depois de alguns segundos de choque, Kukai riu também, embora estivesse visivelmente embaraçado, e Kairi enrubesceu até a raíz dos cabelos, forçando-se a não imaginar pra quê raios servia aquilo; Depois de alguns segundos examinando o conteúdo da caixa e imaginando pra que servia aquilo, Tadase também corou furiosamente, com pensamentos tão indecoros que ele chegou a duvidar que aquele estranho kit realmente servisse para aquilo que ele estava imaginando; Utau ainda sorria triunfante, aparentemente por presentear o garoto com algo que ela considerava ser melhor do que o presente do irmão. E Nagihiko corou violentamente, a ponto de sair fumaça de suas orelhas. Tentou dizer alguma coisa, sem sucesso, incapaz de falar o que quer que fosse naquela situação. Depois de gastar vários segundos respirando fundo, numa tentativa de normalizar seus batimentos cardíacos e recuperar a fala, ele gritou:


– M-Mas o que raios é essa coisa, Tsukiyomi Utau-san??!
– Bom, quando eu comprei, o vendedor me disse que era um kit de policial - Utau falou com uma calma impressionante - Você sabe, pode colocar tanto a capa e o chapéu - ela explicou, tirando o chapéu de policial da caixa e o colocando no topo da cabeça de Nagihiko, lhe dando um ar incrivelmente sexy - Como também pode ser o bandido, e usar essa máscara, e a arma de brinquedo...
– Eu não vou usar nada disso, tá louca, mulher?! Eu nem entrei no ginánio ainda!!! - ele gritou, visivelmente embaraçado, corando até a raíz dos cabelos, enquanto arrancava o chapéu de policial da cabeça, para a tristeza de Tadase, que por algum motivo inexplicável tinha adorado vê-lo assim
– Ah, isso não importa, você pode guardar pra quando tiver idade pra usar! - a loira exclamou, visivelmente animada com a idéia
– Ahh já sei! Você pode combinar os dois presentes, olha só! - Ikuto aproximou-se, e pegou a tiara dourada que vinha com a fantasia de Sailor que ele mesmo deu ao Valete, encaixando-a na testa do mesmo, e segurando a arma de mentira que veio no presente de Utau - Imagina, você se veste de Sailor, aponta a arma para... "Você-Sabe-Quem" e diz... peraí, como era mesmo...? - ele fez uma pausa, forçando a memória - Ah, sim! "Renda-se aos meus desejos, ou vou castigar você em nome da Lua!" - Ikuto imitou a pose que a Sailor Moon fazia ao dizer essa frase no anime, apontando a falsa arma deliberadamente para Tadase, e caindo na gargalhada logo em seguida. Os demais também começaram a rir da imitação barata de Ikuto, gargalhando tanto que nenhum deles se ligou que o neko havia apontado para Tadase
– Ah, mas espera aí! Isso quem falava era a Sailor Moon, a Sailor Marte dizia outra coisa! - Utau exclamou ao se recuperar da sua crise de riso - Como era mesmo que ela fazia...? Ah, é! "Entregue-se ao meu amor, ou irei punir você em nome de Marte!" E o ataque era "Fogo de Marte, Acende!" - ela também apontou descaradamente para Tadase, mas os outros riam tanto da imitação parca dos Tsukiyomi que não prestaram atenção à esse fato
– "Fogo de Marte, Acende!" né... aposto que esse "fogo" deles já está aceso há tempos, Utau-chan! - Yaya exclamou, gargalhando mais ainda em seguida. Aparentemente tinha sido a única que tinha realmente entendido a piada de duplo-sentido
– Vamos, vamos, parem com isso, estão deixando o Fujisaki-kun constrangido! - Tadase exclamou, e os dois irmãos finalmente forçaram-se a parar com as piadas, enquanto Nagi retirava a tiara de Sailor da própria testa. O Rei também havia notado que tanto Ikuto quanto Utau apontaram para ele ao parodiar as Sailors, embora não entendesse muito bem o porquê. Ele se adiantou, entre ansioso e temeroso, até que parou na frente de Nagihiko e falou - Ano Fujisaki-kun... i-isso é pra você. Meus parabéns - ele estendeu um embrulho quadrado, cerrando os olhos, o rosto irremediavelmente corado. Depois de sentir seu coração dar uma cambalhota, Nagihiko se adiantou, e retirou cuidadosamente o papel lilás decorado com pétalas de cerejeira, revelando uma caixa de madeira, do tamanho de uma caixinha de música, recoberta com verniz e toda ornamentada, nova demais para ter saído de algum estoque de loja, e com um inconfundível cheiro de morangos - E-Eu fiz isso... durante as últimas cinco aulas de trabalhos manuais - o loiro contou, um tanto atrapalhado - É pra você guardar algo que seja importante ou precioso pra você. S-Sabe, eu fiquei... tão feliz quando você me deu o Hotosaki no meu aniversário que... q-queria te dar algo que você realmente gostasse também, e que fosse importante pra você, mas... n-não sabia que presente dar, então... r-resolvi dar alguma coisa que eu mesmo fiz. E-Então, bem... err...
– Não precisava se preocupar tanto, Hotori-kun, qualquer presente estaria bom, porque foi você quem me deu. Obrigado, eu realmente adorei o presente - Nagihiko sorriu ternamente, e Tadase o encarou radiante, com um lindo sorriso espalhando-se pelo seu rosto. Aquele sorriso era tudo de que Nagihiko precisava, não havia presente melhor do que ver Tadase sorrindo para ele
– Francamente, você não precisava ter ficado esse tempão, todo nervoso, só por causa disso, Tadase! - Yaya intrometeu-se - Se não sabia que presente dar, então era só você se enrolar em uma fita de cetim bem bonita e "se dar" de presente pro Nagi! Aposto que ele iria adorar!
– Isso, isso! Ou então se esconder dentro do bolo e gritar "Surpresa!", saindo de dentro dele na hora que o Nagi-kun aparecesse! - Utau completou, caindo na gargalhada logo em seguida, sendo acompanhada pela Às. Nagihiko quase vomitou o próprio coração, tamanho foi o susto ao ouvir as duas pronunciarem os fatos que aconteceram em seu sonho. Então a imaginação dele andava tão fértil que estava à altura de ser comparada com as mentes distorcidas de Yaya e Utau?! Ele realmente precisava fazer alguma coisa pra dar um jeito nisso o quanto antes.


Depois que a crise de riso das duas cesou, os demais começaram a espalhar-se pelo jardim em pequenos grupos, cada um conversando sobre uma coisa diferente, e Nagihiko aproveitou para levar seus presentes para o quarto e escondê-los bem antes que seus pais vissem alguma daquelas fantasias suspeitas que o filho ganhou. Tadase o acompanhou, com a desculpa de que aquilo era muita coisa para Nagihiko carregar sozinho de uma só vez, e levou os presentes mais leves até o quarto do Valete, seguindo-o. Depois de depositar os presentes normais sobre a cama e esconder muito bem os presentes suspeitos no fundo do armário, Tadase falou:


– Já faz algum tempo que eu não venho aqui. Mesmo tendo te visitado com frequência nos últimos meses, eu... realmente quase nunca entrei no seu quarto - o Rei comentou, aparentemente lembrando-se de algo constrangedor - Porque... bom, você sabe... antes... q-quando éramos crianças, aqui era... bem... e-era o quarto de uma garota - ele concluiu num tom quase inaudível
– Ah, sim... agora que você falou, é verdade - Nagihiko concordou, lembrando-se de que o loiro evitava ao máximo entrar em seu quarto quando ele era Nadeshiko, mesmo sabendo da verdade
– Fujisaki-kun - ele chamou - Você realmente... g-gostou do presente? - o loiro perguntou inseguro - E-Eu pensei em várias coisas que pudesse te dar... pensei em comprar um animal também, mas, seus pais são tão rígidos que achei que poderia te causar problemas... a-além do mais, a caixa não está assim tão bem feita, provavelmente seria melhor se eu tivesse comprado em uma loja, então...
– Hotori-kun - Nagi interrompeu o gaguejar do Rei - Já disse que adorei o presente, e isso porque foi você quem fez, isso o torna muito mais especial do que se você tivesse comprado em uma loja. É perfeito, eu já sei até o que vou guardar aqui
– V-Verdade? - Tadase indagou surpreso - O que?
– Hi-mi-tsu - o maior sussurrou, colocando um dedo em seus lábios e lhe dando uma piscadela, fazendo o loiro tornar a enrubescer, mas finalmente se conformar.


Nagihiko teve a idéia assim que viu a caixa. Há tempos procurava por um bom lugar em que pudesse guardar todos os presentes e recordações que tinha de Tadase, que foi juntando desde que o conhecera, e que estavam espalhados pelo seu quarto. Desde fotos dele, que adquiriu durante os muitos Festivais Escolares, Natais e aniversários que comemoraram juntos, as luvas roxas que ele ganhou no último Natal do Rei e que guardava com tanto carinho, e até mesmo alguns carrinhos velhos, alguns quebrados e faltando rodas, que Tadase costumava lhe trazer quando eram pequenos. E que lugar melhor pra guardar tudo aquilo do que uma caixa feita pelo próprio Tadase? Era simplesmente perfeito!


– Fujisaki-kun - ele tornou a chamar, parecendo novamente ansioso - Eu.... na verdade, eu... t-tenho outra coisa pra te dar. Sabe... a-assim como a Hinamori-san comentou antes, hoje é... b-bem, hoje não é apenas o seu aniversário, é também... o aniversário da Fujisaki Nadeshiko-san. Então eu... bem... sei que ela não está aqui agora, mas, de certa forma, é aniversário dela também, então... e-eu queria te dar isso... pra que você pudesse... hãn... "entregar à ela" - Tadase retirou do bolso uma pequena caixinha de uns dez cm, que Nagihiko abriu, surpreso mas com cuidado, revelando um lindo enfeite de cabelo lilás em forma de borboleta - E-Eu pretendia dar um presente... "pra ela" também, antes mesmo da Hinamori-san falar alguma coisa, já que faço isso todos os anos afinal, mas... depois de ver o modo como você agiu quando recebeu os presentes da Yuiki-san e do Ikuto-niisan, eu acho... q-que talvez não tenha sido uma boa idéia afinal, né? Isso é... um presente de menina no fim das contas, assim como aquelas roupas... q-que eu não entendi bem pra que servem, mas que eram definitivamente femininas, então... depois de finalmente se ver livre pra assumir sua verdadeira forma, talvez você realmente não queira receber um presente de menina afinal, não é...?
– Não diga besteiras, Hotori-kun! - Nagi exclamou ao ver que Tadase estava prestes a reassumir aquela familiar expressão de filhote kawaii que fez besteira e não sabe como consertar - Eu... a Nadeshiko... ficará muito feliz com seu pesente, tenho certeza de que ela vai adorar. E eu também... fico feliz que você tenha pensado em nós dois. Obrigado
– Verdade? - Tadase perguntou, um tanto inseguro - Mas é... um presente de menina afinal... e quando você ganhou aquelas f-fantasias e vestidos, você...
– Aquelas roupas são realmente femininas, mas não foi por isso que me zanguei - Nagi o interrompeu - Foi porque... b-bem, a verdade é que eles quiseram fazer uma brincadeira de mau-gosto... só estavam tirando sarro da minha cara com aqueles presentes de duplo-sentido, entende? Mas sei que você comprou esse enfeite de cabelo de coração, então... fico feliz com isso. Sei que a Nadeshiko vai amar quando vê-lo
– S-Sério mesmo?
– Claro que sim! Obrigada por ter se lembrado de mim também... Hotori Tadase-kun - Nagi curvou-se e sussurrou no ouvido do menor com sua voz feminina, fazendo o rosto de Tadase afoguear-se ainda mais.


Uma onda de sentimentos misturados invadiu o frágil coração do Rei, que não se aguentou e acabou cedendo ao impulso, atirando seus braços ao redor do pescoço de Nagi, envolvendo-o em um apertado abraço. Aspirou aquele cheiro de cerejeiras que tanto amava, aproveitando para deslizar os dedos em suas madeixas escuras. Nagihiko arfou, surpreso diante da ação do Rei, o rosto enrubescendo rapidamente, mas o abraçou de volta, fingindo acreditar na desculpa esfarrapada de que seria muita indelicadeza de sua parte se não o fizesse. Nenhum dos dois queriam se separar mas, inevitavelmente, tiveram que fazê-lo. Logo que o soltou do abraço, Tadase reparou em um ovo rosa decorado com flores em cima da cômoda do maior, que só tinha visto agora.


– O Shugo Tama da Temari - ele pronunicou - Nenhum progresso com ela ainda?
– Não, nada - o Valete respondeu, cabisbaixo - Já faz... um ano desde que ela me deixou. Eu realmente sinto falta dela às vezes, ela era uma boa companhia, e excelente conselheira
– Não fale dela como se estivesse morta, um dia Temari voltará, tenho certeza! - Tadase exclamou, desesperado para ver Nagihiko sorrir novamente - Além do mais, não é como se você não tivesse mais um Shugo Chara, você também tem o Rhythm ao seu lado, não tem?
– Bem, sim... adoro o Rhythm, é claro, e fiquei muito contente e empolgado quando ele nasceu, mas... não é a mesma coisa. Temari esteve comigo por tantos anos, e se foi tão de repente... Hotori-kun, imagine se, um dia assim do nada, você desse a luz à um novo Shugo Tama, e naturalmente ficasse feliz e ansioso em saber que tipo de Chara nasceria dele... mas, no mesmo dia, Kiseki voltasse pro ovo, te deixando sem a menor garantia de que vá voltar algum dia. Você fica esperançoso no começo, acreditando que logo ele voltará pra você, mas o tempo vai passando, e nada acontece... como você se sentiria?
– Eu... não faço idéia... não consigo me imaginar sem o Kiseki ao meu lado, isso simplesmente não parece possível - o loiro admitiu, sentindo-se desolado por não saber o que dizer num momento como esse. Ele nem sequer conseguia imaginar como Nagihiko estava se sentindo sobre tudo aquilo, o que o fazia se sentir um completo inútil. Nagihiko o protegeu e cuidou dele tantas vezes, e Tadase nunca conseguia ajudá-lo em nada... queria poder apenas abraçá-lo e tomar toda a dor e tristeza que assolavam o corpo do maior para si, para poder ao menos vê-lo sorrir novamente - Mas eu sei que ela vai voltar. Temari voltará um dia, com certeza. Não sei quando nem como, mas... ela definitivamente voltará, porque... ela é sua Shugo Chara afinal, e ela te ama. Também deve estar sendo doloroso pra ela ficar tanto tempo longe do dono. Mas Temari também deve estar com saudades de você, e querendo te reencontrar logo, então... acho que você precisa resolver logo esse problema que te aflinge tanto, a ponto de ter feito sua Chara voltar pro ovo, pra que ela possa despertar de uma vez. Temari voltou pro ovo por algum motivo, por alguma razão que só você conhece. E pra que ela volte, alguma coisa que apenas você pode fazer precisa ser feita. Quando você o fizer... Temari definitivamente voltará pra você, porque... ela com certeza te ama, Fujisaki-kun - Tadase falou, tentando parecer mais confiante do que realmente se sentia - "Ela te ama, assim como eu... também te amo, Fujisaki-kun"– ele acrescentou apenas em pensamento. Em seguida, deu um segundo abraço em Nagi, na esperança de que aquilo o confortasse ao menos um pouco. Afagou a cabeça do Valete, acariciando gentilmente seus cabelos, querendo fazer tudo que estivesse ao seu alcance para acalentá-lo. O que era uma cena meio estranha de ser, por sinal, se levasse em conta o fato de que Nagi era consideravelmente maior do que Tadase. Nagihiko apoiou a cabeça no ombro do menor, deixando-se ser acalentado por este. Sentiu aquele delicioso cheiro de morangos invadir suas narinas pela segunda vez naquele dia, e o abraçou de volta, sentindo-se inexplicavelmente mais leve, como se Tadase tivesse acabado de retirar um enorme peso de suas costas
– Arigatou, Hotori-kun. De verdade - Nagi agradeceu ao soltá-lo do abraço - Eu estava realmente começando a pensar que ela não voltaria mais... estava mesmo precisando ouvir isso - ele voltou a sorrir, ainda que um tanto melancólico - Agora é melhor voltarmos pra festa antes que venham até aqui nos buscar, vamos!


Nagihiko voltou pro jardim, com Tadase em seu encalço, e viu que os demais já estavam atacando a mesa com as comidas, agora não tão cheia de alimentos assim.


– Ahh finalmente vocês voltaram! - Yaya exclamou ao vê-los - Francamente, vocês passaram tanto tempo sozinhos naquele quarto... com aquelas fantasias tão sugestivas... vocês não estrearam o presente do Nagi antes da hora não né??
– Mais uma palavra e eu juro que farei você se arrepender de ter nascido, Yuiki Yaya-chan - Nagihiko falou ameaçadoramente, e a Às saltou pra trás, assustada, se calando na hora. Em seguida, Nagi reparou que Utau se afastara sorrateiramente e agora dava o play em algum CD trazido por ela - O que está fazendo aí Tsukiyomi-san??
– Ah! Só estava colocando uma música... com meu mais novo sucesso, sabe, aposto que vocês vão adorar! - ela exclamou, dando o play em seguida. Começou a tocar a música Tsuki no Curse¹. Era uma mulher que cantava, mas definitivamente não era Utau. No entanto, tanto a Ex-membro da Easter quanto Yaya começaram a cantar a música junto com a voz no CD, com empolgação excessiva
– Não parece a sua voz na música - Nagi observou
– Ah, é que têm umas músicas de anime misturadas, não liga não! - a loira parou de cantar para respondê-lo, dando de ombros - Agora que tal um joguinho, hein? Eu trouxe um ótimo! - ela tirou sabe-se lá daonde uma roleta e um tapete com várias bolinhas coloridas em azul, verde, amarelo e vermelho
– Twister?!
– Isso mesmo! Todo mundo aqui conhece, certo? - Utau perguntou
– Sim, mas... isso não é meio perigoso?? - Kairi indagou, meio receoso
– Ihh que nada, é divertido! Eu tô dentro! - Ikuto exclamou
– Yaaaay vamos jogar sim, vamos! - exclamou a Às empolgada
– Por mim tudo bem! - Kukai concordou
– É, acho que posso jogar também - concordou Amu
– Vamos jogar, Fujisaki-kun? - Tadase perguntou baixinho, de modo que só o Valete ouvisse
– Acho que o Sanjou-kun tem razão, esse jogo é perigoso, mas.. não posso ir contra a vontade da maioria. Tudo bem, vamos jogar então.


Utau arrumou o tapete colorido e preparou-se para girar a roleta, enquanto a música anterior era substituída por Kimi=Hana², dessa vez cantada por um homem, o que fez as suspeitas de Nagi sobre aquele CD trazido por Utau aumentarem, mas resolveu deixar isso pra lá. A cantora começou a girar a roleta, ordenando que cada jogador colocasse o pé ou a mão em determinada cor.


O jogo prosseguiu, inicialmente sem problemas. Até que, quando estava chegando na metade, aconteceu o que a maioria preveu, e o que Utau provavelmente pretendia desde o início: Devido à suas posições no tapate, Nagihiko estava com o rosto próximo demais ao de Tadase, praticamente em cima dele, o que fazia com que o Rei ficasse cada vez mais corado por causa disso. Aquele delicioso cheiro de cerejeiras, agora tão próximo, parecia deixar Tadase completamente inebriado, fazendo com que o pequeno loiro perdesse completamente o rumo de seus pensamentos, enquanto sentia as longas madeixas do Valete tocarem seu rosto, já que estavam caídas para a frente devido à suas posições. Seus olhos pareciam estar sendo atraídos na direção do rosto de Nagi, agora a apenas alguns centímetros do dele; Ao lado dos dois, Kukai e Yaya estavam bem próximos um do outro também, mas no caso deles, era um pouco diferente: Os dois estavam meio que de frente um para o outro, sendo que apenas a cabeça de Kukai passava por cima do rosto da garota, cada um de seus braços ao lado do corpo dela, de modo que a prendesse ali, impedido Yaya de se levantar mesmo que ela resolvesse desistir do jogo agora. Se estivessem alguns centímetros mais perto, seriam capazes de se beijarem ao "estilo Homem-Aranha"; Curiosamente, o mesmo ocorria com Amu e Kairi que, devido à suas posições no tapete de cores, estavam com seus rostos a milímetros de distância um do outro. Sério, se eles se aproximassem mais um pouco, acabariam se beijando ali mesmo; E até mesmo Rima, que acabou cometendo o terrível erro de jogar Twister usando saia, estava tendo dificuldades por causa de sua posição no tapete colorido, e agora tinha que aturar as cantadas e piadinhas de Ikuto, com medo de que ele realmente estivesse vendo alguma coisa que não devia, enquanto que o neko parecia estar adorando aquilo.
Utau girou a roleta novamente, e mandou Nagihiko colocar a mão direita no vermelho. Se ele fizesse isso, acabaria encostando o rosto no de Tadase e, mesmo que não chegassem a se beijar por acidente por causa disso, Nagihiko temia fazê-lo por não conseguir mais se conter. Estava seriamente considerando a opção de admitir sua derrota e parar de jogar, quando ouviu a música mudar novamente, sendo substituída por uma que ele conhecia dessa vez. Era uma mulher que cantava novamente, embora definitivamente não fosse a voz de Utau. Ele reconheceu aquela música como sendo Spell³, a abertura do anime "Number Six", um anime do qual ele e Tadase se fantasiaram no último Halloween, e só mais tarde o Valete veio a descobrir que se tratava de um anime yaoi, mas que, por algum motivo, acabou assistindo e gostando da história. Ao reconhecer a música, Nagihiko concluiu que as músicas anteriores também deviam pertencer à outros animes yaois que ele não conhecia. Esse pensamento o preocupou tanto que acabou perdendo o equilíbrio e caiu, em cima de Tadase. De alguma forma, sua queda fez com que os demais jogadores caíssem também, uns em cima dos outros, visto que suas mãos e pernas passavam por cima ou por baixo da deles, acabando com o equilíbrio de todos.


Nagihiko ficou surpreso ao perceber o quão próximo estava de Tadase. Arrepiou-se por completo ao sentir a respiração descompassada e quente do Rei acariciar sua pele, e ele sentiu o mesmo, respirando o hálito suave de Nagihiko, e se rendendo às emoções que o corpo dele tocando o seu causavam. Sentiu as mechas dos cabelos escuros do Valete, que pendiam para a frente agora por conta de sua posição, roçarem sua face de leve. Os olhos do Rei focalizaram-se nos lábios cheios, tão delicados e macios, e desejou mais uma vez tocá-los com os seus próprios. Tadase já não conseguia mais se aguentar, tamanha era a mistura de emoções dentro de seu pequeno corpo, e decidiu por cerrar os olhos, o rosto irremediavelmente corado e os lábios entreabertos, desejando que, por alguma espécie de milagre, seu desejo fosse concedido e Nagihiko o retribuísse.


Nagihiko não conseguia assimilar aquela cena. Seu cérebro processou os fatos lentamente, porém, a conclusão a que chegou não poderia estar certa, de jeito nenhum. Tadase parecia estar esperando por um beijo. Seus olhos estavam fechados, e os lábios estavam entreabertos. Tudo o que Nagihiko precisava fazer, era se abaixar alguns poucos milímetros, e então tocaria lábios macios daquele garoto que tanto amava. Inevitavelmente, lembrou-se de quando os dois foram ao parque de diversões juntos, e o mesmo ocorreu quando se perderam na Casa dos Espelhos. Naquela ocasião, Tadase parecia ansiar por um beijo dele também, mas Nagihiko não conseguia imaginar qual seria o motivo disso tudo. Nagihiko era um garoto, assim como ele, e Tadase sabia disso melhor do que ninguém. Verdade que Nagihiko possuía um lado feminino, mas Tadase sabia da verdade, então por quê...?


Uma idéia maluca, digna de novela mexicana, lhe veio à mente. Tadase sabia da verdade sobre ele, no entanto, de uns dias pra cá, ele havia mudado seu comportamento para com Nagihiko, e essa era a segunda vez que ele parecia desejar que o Valete o beijasse. Nagihiko era um garoto, o que tornava impossível que Tadase se apaixonasse por ele algum dia, ele sabia muito bem disso. No entanto, Nagi também possuia um lado feminino. E se Tadase, de alguma forma, tivesse desenvolvido uma queda, não por Nagihiko, mas sim por Nadeshiko? Isso até que fazia certo sentido, afinal, quando Tadase o beijou na peça, ele estava vestido como Nadeshiko, e o loiro sempre tratou seu lado menina com tanta delicadeza e respeito, sempre se lembrava dela e falava da falsa garota com carinho e ternura na voz, e até se lembrou dela no aniversário de Nagihiko... ele sempre pareceu cuidar e ajudar a Ex-Rainha, mesmo sabendo que não se tratava de uma garota de verdade. Tadase sabia da verdade, mas ele provavelmente era ingênuo o suficiente para confundir-se e acreditar que possuía sentimentos para com Nadeshiko, ou até gostar dela de verdade. E agora, Tadase poderia estar se confundindo outra vez, do mesmo jeito que aconteceu antes, quando ele pensava estar apaixonado por Amu. Ele poderia achar que gostava de Nadeshiko, e estar confundindo amizade e admiração com o sentimento de amor novamente. Aquela era a explicação mais plausível que Nagihiko conseguia encontrar, mas foi forçado a parar de pensar nisso quando ouviu o barulho de um botão sendo apertado freneticamente perto dali, e começou a reparar nos flashs que vinham em sua direção. Ao olhar mais adiante, viu que Utau estava tirando fotos, não só dele e de Tadase, mas também de todos os outros, que estavam caídos, em posições muito constrangedoras por sinal.


Assim que percebeu que estava sendo fotografado nessa situação comprometedora, o Valete caiu em si, e se pôs de pé num salto, desconcertado, vacilando o olhar entre todos os lados, querendo evitar encarar Tadase. Estendeu a mão para ele, sentindo-o aceitar a ajuda e colocar a mão suavemente na sua, erguendo-se. Aos poucos, os demais imitaram os dois garotos, e levantaram-se também, bastante devagar, e constrangidos demais para fazer qualquer comentário sobre o acontecimento, nem sequer conseguindo encarar uns aos outros.


– Nossa, finalmente, hein?! Pensei que vocês iam passar o resto do dia aí esparramados no chão!! - Utau exclamou aos risos, ainda tirando fotos com um celular na mão direita, enquanto filmava o Rei e o Valete com um celular na esquerda. Ao reparar bem, Nagi notou outros três celulares saindo de dentro da bolsa que a cantora carregava, cada um apontado para uma dupla diferente, aparentemente filmando tudo.


– Tsukiyomi-san... - Nagi chamou, sem saber se começava a dar um sermão na garota, ou se arrebentava a cara dela ali mesmo por ser tão descarada, ponderando se o fato dele agredir uma cantora famosa poderia causar muito estrago em sua vida pessoal. Por fim, tudo o que ele disse foi - Quantos celulares você tem afinal?!
– Todas as estrelas da música devem ter um ou dois celulares a mais, meu jovem! - ela respondeu simplesmente
– Um ou dois tudo bem, mas... você tem cinco!
– Ora, esqueça isso, meu rapaz! - a loira deu de ombros, sorrindo - Ao invés de se preocupar com quantos celulares eu tenho ou deixo de ter... que tal cortarmos logo aquele bolo, hein?!
– Ahh boa idéia! Ele está com uma cara tão boa, Yaya está louca pra provar o bolo do Nagi! - a Às exclamou, tentando fingir que seu acidente constrangedor com Kukai nunca aconteceu
– Certo... vamos cortar o bolo então - Nagi deu-se por vencido, ainda perdido em pensamentos, um mais confuso do que o outro. Ele se aproximou na mesa, ficando no centro, e os outros aproximaram, em volta dele
– Faça um pedido, Fujisaki-kun - Nagi escutou a voz gentil de Tadase próxima à ele. Ele fechou os olhos, logo em seguida tomando fôlego e assoprando as velas, apagando todas de uma só vez, embora tivesse a certeza de que seu desejo dificilmente se realizaria:


"- Eu desejo... poder estar ao lado do Hotori-kun pelo resto da minha vida".





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¹ Tsuki no Curse - Abertura do anime Loveless

² Kimi=Hana - Abertura do anime Junjou Romantica

³ Spell - Abertura do anime Number Six


Todos os três animes citados são animes yaois


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Notas finais do capítulo

Yoo minna! Teffy-chan falando! õ/
Acabei deixando meu vicio recente em Sailor Moon influenciar um pouco nesse capítulo, gomen nee... acredito que todo mundo aqui conheça Sailor Moon pelo menos de nome, mas caso alguém não conheça, a Sailor da qual o Ikuto estava falando, e na qual foi baseada a fantasia que o Nagi ganhou de presente era a Sailor Marte mesmo, caso alguém não conheça, aqui uma foto dela pra vocês terem uma idéia
http://h1.vibeflog.com/2007/06/22/14/18438703.jpg
O próximo capítulo é com a Shiroyuki-chan! Quero só ver o que ela vai aprontar agora! XD
E gente, deixem reviews POR FAVOR, vocês não sabem o bem que isso faz para o pobre coraçãozinho de nós escritoras! É sério, não sumam não, e comentem, nem que seja de vez em quando, onegai!!! *o*
Kissus e sayonara^^