Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 29
Capítulo 29 - Colors


Notas iniciais do capítulo

Colors - Flow
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O dia estava quente e sufocante, sem nenhum sinal de nuvens no céu, com as cigarras cantando ritmadas, anunciando o início do verão. Já era final de julho, faltava menos de uma semana para o início das férias de verão, e todos os estudantes contavam os dias restantes nos dedos, ansiosamente.

Três semanas se passaram desde o aniversário de Nagihiko. Os dias apenas se arrastaram, normais, monótonos, com as pequenas peculiaridades já familiares às vidas dos guardiões. Apesar das esperanças tremulantes que todos intimamente guardavam dentro de si, nada mudara significantemente.

Dentro da sala de aula, o ambiente estava mais maçante e cáustico do que nunca. Além de calor, o prenúncio das férias eliminava qualquer resquício de vontade de prestar atenção nas palavras do professor, que nesse momento, insistia em falar com as paredes. Mesmo a única chance de Nikaido-sensei ter algum espectador, que era Hotori Tadase, não estava dando a mínima atenção para ele. Com a cabeça apoiada na mão, e o braço nos cotovelos sobre a mesa, ele estava desde o início das aulas da manhã, com os pensamentos e os olhares fixos no mesmo ponto, que não tinha nenhuma ligação com a aula.

Seu olhar distraído mirava Nagihiko, na classe diagonal à sua. Sentado ali, Tadase tinha uma visão privilegiada do valete. Já estava o observando daquela forma há tanto tempo, mais precisamente desde o festival escolar – ou talvez desde antes disso e ele mesmo não percebera – que já era capaz de prever quais seriam os movimentos que ele realizaria antes de acontecer. Sabia que ele olharia pela janela, e então suspiraria pesadamente. Logo depois, fecharia os olhos por alguns momentos, deixando que o sol tocasse sua pele. Ele ia pegar sua caneta, mas não escreveria nada. Rabiscaria o canto do caderno, e então voltaria a olhar para fora, girando a caneta entre os dedos angulosos. Tadase sabia de tudo isso, já decorara até os mínimos detalhes das ações de Nagihiko, e não importava o quanto o olhasse, jamais se cansava.

Com a atenção redobrada, muito maior do que a que costumava delegar ao professor, ele analisava com cuidado o semblante de Nagihiko, que agora olhava pela janela. Observou com cuidado os cabelos púrpuros que caiam macios e luminosos delineando suas costas, e que, Tadase reparava, estavam ligeiramente mais largas do que estavam quando ele voltou da Europa. Isso provocava em Tadase uma incômoda sensação de que Nagihiko se distanciaria, cresceria, e ele acabaria ficando para trás. Apenas esse pensamento já era angustiante a ponto de fazer doer o pequeno coração do Rei.

Ele estava ali, tão perto que poderia tocá-lo se somente esticasse o braço, e ao mesmo tempo, longe o suficiente para que Tadase sentisse falta do seu toque. Se fechasse os olhos, ele conseguia ver com clareza todas as memórias que construíra com Nagihiko, em todos aqueles anos. As mais recentes, em especial, se revelavam com especial nitidez. Era inteiramente claro para ele, agora, o que os seus sentimentos significavam de verdade. Ele sempre foi apaixonado por Fujisaki Nagihiko, não havia mais nenhum resquício de confusão. E essa constatação gritava em sua mente, expandindo pelos cantos, e lutando para escapar e se tornar real. O que Tadase mais queria, agora, era poder se declarar para ele. Verbalizar seus sentimentos. Estar ciente dos pensamentos de Nagihiko sobre o assunto, e poder saber se tinha alguma chance real de concretizar o seu amor. A carta não havia dado certo, e agora Tadase percebia que não havia outra maneira de se confessar de forma completa e verdadeira que não fosse pessoalmente, encarando Nagihiko diretamente nos olhos, e ouvindo a voz dele dizer – segundo o que Tadase supunha – que eles deveriam ser apenas amigos. Não importava qual seria a resposta, Tadase só queria colocar para fora aqueles sentimentos sufocantes, e talvez assim, eles se aplacassem. Isso não poderia se estender muito mais tempo, ele sentia que não conseguiria suportar nem mais um dia perto de Nagihiko sem deixar escapar o que realmente sentia. Inesperadamente determinado, Tadase decidiu. Isso não se prolongaria mais. Ele se confessaria hoje!

Tentando afastar a sensação dolorosa, Tadase viu os olhos cor de mel de Nagihiko perdidos e vazios, refletindo a luz forte do Sol, e desejou ardentemente poder saber quais eram os pensamentos que passavam pela sua cabeça naquele momento. Será que havia algum poder de Chara Change que pudesse realizar essa façanha? Ele se certificaria de perguntar a Kiseki mais tarde. Continuou obstinado em sua observação, muito motivado em gravar na memória cada mínimo detalhe das feições dele, cada pequena mudança de expressão, cada pormenor da sua aparência, e estava tão imerso na atividade, que não percebeu a aproximação e os chamados de Amu, ao seu lado.

— Ei, Tadase-kun! Tadase-kuuun!!! – ela desistiu de chamar e não ser atendida, então cutucou o garoto no braço – Em que planeta você está? – ela indagou, estupefata, quando ele finalmente virou os olhos na sua direção, completamente aparvalhado.

— Me desculpe, Hinamori-san, eu estava distraído. Você disse alguma coisa? – ele disse, preocupado que ela pudesse perceber o alvo da sua distração.

— Sim! Nossa próxima aula é artes, você não vai vir? – Amu replicou, indicando o resto da sala, que se dirigia em pequenos grupos para fora. Só então Tadase percebeu que Nagihiko também se encaminhava lentamente para o lado de fora, e se levantou rapidamente, querendo alcançá-lo.

Amu permaneceu por poucos segundos no mesmo lugar, vendo o loiro correr na direção de Nagihiko, chamando-o, e então sorrindo brilhantemente. Os dois começaram a conversar animadamente, caminhando lado a lado para o ateliê de artes do prédio. Amu os seguiu, um pouco afastada e absolutamente intrigada. Encarou Tadase, que sorria de uma maneira que ela nunca havia visto antes, para Nagihiko, que parecia cuidadosamente interessado nas palavras dele, fitando-o com uma surpreendente e evidente afeição transbordando em cada pequena ação sua. Ela instigou-se com aquela cena. A maneira que ambos se olhavam… eram como um casal de namorados!

Essa a única comparação que Amu conseguia fazer, enquanto andava lentamente na direção da sala de artes, analisando o comportamento dos dois amigos. Será que havia alguma hipótese daquela constatação tão repentina e tresloucada estar correta? Ela viu os dois adentrarem juntos na sala da direita, ainda entretidos um com o outro, e sentarem-se lado a lado a frente dos cavaletes que já estavam usando desde o início do semestre, e imediatamente, lembrou-se de Nadeshiko, com toda a sua aparência e personalidade perfeitas, e do quanto ela parecia adequar-se a Tadase. Os dois, em seus postos de Rei e Rainha, se completavam, de uma maneira que ela nunca conseguiria. Desde que os conhecera, a única coisa que Amu pensou, fora que fazia um belo casal. Quando Tadase disse que já gostava de alguém, logo que se conheceram, e ela se declarou pela primeira vez, a sua primeira suposição for de que esta seria a Rainha, Nadeshiko. E mesmo depois de essa história ter sido esclarecida, ela continuava tendo a impressão de que Naddy era muito mais apropriada para alguém como Tadase. E ali estava Nagihiko, com o mesmo rosto e a mesma áurea de tranquilidade e impecabilidade que irradiava a antiga Rainha, e estando ao lado de Tadase, a sensação ainda era a mesma. Como poderia? Nagihiko era um garoto!

— Amu-chan! – ela sentiu um pequeno puxão na manga do seu casaco. Estava tão imersa em pensamentos que não havia reparado em Rima, que andava ao seu lado – Você não deve se preocupar com eles. Não há nada que você possa fazer.

— Do que você está falando, Rima-chan? – ela indagou de volta, confusa com o rumo dos próprios pensamentos, e se direcionando ao seu cavalete, que ficava ao lado do de Tadase.

— Não é nada. Se você ainda não conseguiu entender tudo sozinha, não vou ser eu a traumatizar a sua cabecinha de vento. Só deixa para lá – Rima sibilou, tomando seu lugar no outro lado de Amu, e preparando seus materiais de desenho.

Estavam assim os quatro guardiões enfileirados horizontalmente lado a lado, em frente aos seus respectivos quadros, nos quais estavam trabalhando desde o início do ano. Amu olhou novamente para a sua pintura, sabendo perfeitamente que Miki teria uma síncope se visse aquele desastre que ela chamava de “pintura abstrata”, mas que nada mais era do que manchas de tinta aleatoriamente colocadas.

Deu uma olhada para os amigos, pensando que assim, talvez, se sentisse melhor. A de Rima, na qual ela dava os últimos retoques agora, retratava a figura de um arlequim fazendo bala-balance. Nada mais do que o esperado.

Olhou a de Tadase, sabendo que embora ele não fosse um grande artista, tinha muita técnica, já que sempre prestava muita atenção nos ensinamentos da professora de artes. A pintura dele a deixou surpresa. Retratava uma alameda com sakuras em toda a sua extensão, dos dois lados, simetricamente colocadas. No centro havia uma estrada de tijolos, e em um dos cantos, mais abaixo, havia uma figura, na qual o loiro dava suaves pinceladas agora. Amu se aproximou, tentando ver melhor. A pessoa que Tadase pintava era aparentemente uma mulher de costas com longos cabelos escuros e lisos, e vestia um kimono rosa, delicado e elegante. Ela nunca havia visto Tadase se dedicar tanto em uma tarefa como essa… ele estava concentrado, segurando pincel com firmeza, e encarando a pintura com tanto furor e determinação que Amu se sentiu invasiva, observando-o daquela forma.

Discretamente, ela resolveu espiar a de Nagihiko. Ele havia pintado um galho com pequenas flores brancas, folhas cheias e verdes, e alguns morangos, vermelhos e redondos. Achou curiosa a escolha de elementos do valete. Ele não parecia do tipo artístico, ou que gostasse da natureza, mas sendo criado com Nadeshiko, devia ter recebido muitos estímulos a essa aptidão.

Suspirando, a coringa resolveu voltar para a sua mancha. Talvez ainda desse tempo, antes do início das férias, de retocar aquilo e deixar minimamente apresentável. Depois de algum tempo, o sinal para o intervalo soou, e lentamente, os alunos se movimentaram, guardando os materiais e se colocando para fora. Tadase correu para acompanhar Nagihiko, de volta para a sala de aula.

— Ano… Fujisaki-kun… – ele chamou timidamente, hesitando em tocar o braço do garoto para segurá-lo. Nagihiko virou-se na mesma hora, sorrindo prestativamente, e disfarçando o fato do seu coração sempre disparar quando Tadase dizia seu nome, daquela forma – Eu… eu posso falar com você agora? T-tem algo q-que eu p-preciso… contar… - ele foi baixando a voz à medida que ia falando, até que se tornou um leve sussurro, que apenas Nagihiko seria capaz de ouvir. Seus olhos também baixaram, encarando o chão com seu rosto queimando em brasas.

— Claro, Hotori-kun, pode falar... – Nagihiko disse, preocupando-se, mas foram interrompidos por um barulho alto e arrastado, que sobressaltou o loiro. Nagihiko corou instantaneamente, colocando as mãos sobre a barriga.

— Ah, você está com fome! – Tadase exclamou, e Nagihiko corou ainda mais – Vamos almoçar então! – ele puxou Nagihiko para dentro da sala, ainda trêmulo pelo que estava prestes a fazer.

Nagihiko sentou em seu lugar, puxando seu obento, e o abrindo. Enquanto isso, Tadase puxava sua cadeira, e sentava-se ao seu lado, como fazia todos os dias. Olhou ao redor, procurando por Amu e Rima que sempre almoçavam com eles, mas elas ainda não haviam aparecido, e deveriam estar comprando comida lá em baixo... Yaya, que às vezes invadia a sala para almoçar ali, também não apareceu.

— Foi você que fez? - Tadase indagou, abrindo a sua caixinha, e sentindo o cheiro da comida do amigo, que era absolutamente familiar.

— Sim, eu sinto falta de cozinhar às vezes, então faço meus almoços... – Nagihiko respondeu – E o seu? – indagou, mais para puxar assunto, pois já sabia a resposta.

— Minha mãe... Ela se esforça, mas você sabe como é a comida dela, não é...? – Tadase riu sem graça, sentindo-se culpado por falar aquelas coisas da comida da sua mãe. Nagihiko nada disse, para não ser indelicado – Ah, eu sinto saudades da comida da Fujisaki-san... – Tadase suspirou, sabendo que ainda havia alunos presentes, e não queria cometer nenhum descuido agora – Lembra-se, que… ela… fazia os obentos para levarmos nas viagens de turma… e também quando nós fazíamos piqueniques no quintal da sua casa… era muito divertido...!

— Era sim... – Nagihiko riu, compartilhando a mesma lembrança de Tadase – Bem... você sabe que eu não posso comer muito, afinal, querendo ou não, eu ainda... sou um Fujisaki e tenho os meus deveres. Não posso deixar Nadeshiko, engordar. Então... se você quiser, eu posso te dar um pouco – ele hesitou, pegando um tamago-yaki no hashi e o erguendo no ar.

Tadase, com os olhos brilhando, foi mais rápido, e assim que Nagihiko aproximou o hashi para colocar no seu pote, ele o abocanhou. Nagihiko paralisou, chocado, e Tadase, com seu rosto irremediavelmente ruborizado, puxou a omelete e terminou de comer.

— Sua comida continua ótima como sempre, Fujisaki-kun! – Tadase disse, animado.

— Obrigado - o valete recolheu-se, entre perplexo e amedrontado, sem saber o que pensar. Continuou a comer, assim como Tadase, como se nada tivesse acontecido.

— Waaaa!!! Você viu aquilo? – uma das garotas que almoçava na sala bradou, indignada. Nagihiko engoliu em seco. Sabia que isso aconteceria.

— Ele deu comida na boca do Tadase-sama!!!

— Como um casal de namorados! – elas cochichavam em bandos, todas ao mesmo tempo.

Tadase também ouviu os comentários, e enquanto comia, sorriu minimamente. Ingênuo, ele se sentia secretamente feliz com a comparação que faziam, e não notava o tom maldoso na voz das garotas que falavam. Nagihiko, por outro lado, sabia que nada de bom poderia vir disso, e pensou rapidamente em algo que desviasse a atenção do ocorrido de poucos segundos.

— Ettoo.. Hotori-kun, o que você iria me falar antes, no corredor? – perguntou. Tadase lembrou-se da sua decisão de contar tudo a Nagihiko o quanto antes, e corou furiosamente, ante a perspectiva. Apesar disso, ele sentia os olhares lancinantes que estavam fixos na direção de ambos os guardiões, e seria desastroso confessar-se na frente de tantas pessoas, guiado pelo impulso. Ele mordeu os lábios, nervoso, e prendeu o olhar na comida, tentando não parecer embaraçado ou perturbado de forma alguma.

— N-não é nada, Fujisaki-kun... Eu... falo depois da aula, é melhor.

Nagihiko assentiu, achando que Tadase parecia muito alterado. Na verdade, já vinha notando isso há algum tempo... durante o passeio deles no parque, no seu aniversário, e até mesmo antes, naquele incidente no estúdio de dança. E mesmo assim, Nagihiko não conseguia entender qual o motivo teria desencadeado essa mudança tão aparente em Tadase. Ele andava tão nervoso, sempre corava e gaguejava muito quando ia conversar com Nagihiko, e mesmo assim, parecia que estava sempre querendo ficar próximo, tocando-o e chamando sua atenção sempre que tinha a chance. Esses sintomas... se não fosse de Tadase que estivesse falando, a primeira coisa que iria supor era que ele estava... apaixonado! Era exatamente assim que os garotos que gostavam de Nadeshiko costumavam agir quando estavam por perto. Mais uma vez, aquela ideia desvairada de que Tadase estivesse gostando da sua parte feminina voltou a surgir. Se fosse assim... seria um tanto deprimente, e até mesmo cômico, mas havia uma parte de Nagihiko – a parte feminina, provavelmente – que não podia deixar de se sentir feliz com aquela perspectiva.

Logo depois que os ânimos na sala se acalmaram, e as garotas finalmente se cansaram de comentar o acontecido, Rima e Amu, acompanhadas pela inquieta e descarada Yaya, voltaram da cantina e se juntaram aos dois para almoçar. Assim sendo, o horário do almoço terminou e a aula recomeçou, ainda mais monótona que no primeiro período. Dessa vez, Tadase se esforçou em manter os olhos no professor, embora sua mente estivesse viajando, pensando em inúmeras maneiras de dizer à Nagihiko o que queria.

Fantasiou tantas situações diversas, com seu coração agitando-se mais à medida que o tempo passava, que quando reparou, a aula já estava no fim. Ele olhou surpreso ao redor, vendo todos guardarem seus materiais. Não estava se reconhecendo. Desde quando ele era aquela pessoa relapsa que ficava imaginando cenas que nunca aconteceriam durante a aula, e não prestava atenção em nada?

— Vamos para o Royal Garden, Tadase-kun? – Amu indagou, e ele se arrumou rapidamente para segui-la.

— Eu trouxe de casa um pacote de chá de pêssego para fazer hoje – Nagihiko contou, e os olhos de Rima brilharam.

Eles continuaram andando, e enquanto desciam as escadas, encontraram Yaya, e seguiram direto para o Royal Garden. Tadase ficou mais atrás, agitando as mãos nervosamente. Uma ou duas vezes, abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu. Seu coração batia tão alto que ele nem conseguia ouvir seus pensamentos. Estavam nesse momento atravessando o pátio da escola, com as garotas bem mais a frente, conversando entusiasmadas, e Tadase conseguiu se mexer minimamente, tão tremulo que até um simples passo tornava-se complicado. Hesitante, ele segurou a manga do casaco de Nagihiko, fazendo-o parar e virar-se para trás. Tadase fechou os olhos, com o rosto em vermelho vivo, e segurou a barra do paletó com a mão livre, com os joelhos chocando-se, estremecendo. Era agora!

— F-f-fuji-s-saki-k-k-kun, e-eu q-queria dizer q-que...

— Hotori-sama! E-eu finalmente consegui encontrá-lo! – Tadase ouviu o chamado ao longe, interrompendo o seu momento importante, e pela primeira vez em toda a sua vida, desejou que alguém sumisse.

Levantou os olhos, visivelmente transtornado, e nem mesmo conseguiu forçar um sorriso para receber a caloura que o chamara. Ele a reconheceu como sendo uma das garotas que ofertara seu chocolate a ele, e justamente aquela que fizera perguntas sobre Nadeshiko, e que ele não soubera como responder. Agora, ele tinha uma resposta sobre aquilo para ela e, no entanto, parecia que todos conspiravam contra ele, e não o deixavam dizer.

— Posso ajudar? – Nagihiko indagou, quando viu que Tadase não diria nada. Ele ainda estava segurando o tecido da manga do seu paletó com muita força.

— E-eu.. com o Hotori-sama... tem algo que eu quero entregar. – ela balbuciou, vacilando o olhar entre Nagihiko e Tadase, e curvou-se atrapalhadamente, estendendo à Tadase um envelope de papel cor-de-rosa, que os dois imediatamente reconheceram como sendo uma carta de amor.

Tadase fitou a garota por alguns instantes, processando a informação, e lentamente, soltou Nagihiko para pegar a carta. Assim que segurou a carta, a garota saiu correndo, sem dar a ele nem mesmo a chance de dizer algo.

— Ela está... se confessando para mim – Tadase disse baixinho, depois de abrir e ler a carta rapidamente.

Intimamente, e sentindo-se a pessoa mais egoísta do mundo, ele desejou que Nagihiko ficasse com ciúmes. Fantasiando mais uma vez, ele imaginou que Nagihiko arrancaria a carta das suas mãos, irritado, e então selaria seus lábios com um beijo, dizendo que ele não deveria olhar para ninguém mais além dele. Mas a realidade bateu a sua porta, e ele viu Nagihiko reiniciar sua caminhada até o Royal Garden, sem nada dizer. Ele tinha um semblante calmo e relaxado, mas por dentro, estava quase explodindo de irritação. Sabia que não tinha direito, mas nesse instante, tudo o que o valete conseguia sentir era puro e simples ciúme.

— Eu posso ler? – Nagihiko indagou, depois de alguns segundos, e Tadase entregou a carta a ele, um pouco frustrado com a falta de reação. Nagihiko a leu brevemente, e era em suma bem simples e direta – É, bem... você pensa em aceita-la? – disse, demonstrando muito mais insegurança do que deveria na voz.

— De maneira nenhuma – Tadase disse, decididamente – Esse tipo de carta, eu recebo muitas. Elas são de alguma forma... superficiais. Eu não estou rebaixando os sentimentos dessas garotas que se confessam, mas... o que elas sentem... não é real. Elas não se apaixonaram por mim. Se apaixonaram pelo Trono do Rei. É apenas admiração, e não amor.

Nagihiko se surpreendeu com a maturidade que Tadase dispunha para lidar com esse assunto. Sempre imaginou que ele fosse ingênuo a ponto de não saber distinguir os diferentes sentimentos que eram diariamente jogados para ele, mas agora, vendo-o dizer aquelas palavras, percebeu que não se tratava mais do garotinho tímido que subira ao posto de guardião, e que tremia cada vez que ia fazer um discurso. Ele havia, de inúmeras formas diferentes, crescido. E Nagihiko queria se esforçar para continuar acompanhando-o. Repentinamente inseguro, ele imaginou se seria com essa mesma impassibilidade que Tadase trataria os seus sentimentos, caso se confessasse.

— É diferente... – Nagihiko analisou as palavras da carta, querendo tirar os pensamentos titubeantes da mente – Daquela carta que eu recebi. Aquela era diferente. Os sentimentos... eram reais, eu pude perceber. Ela realmente... me amava... – ele divagou, sem notar o quanto Tadase estava embaraçado, com o rosto atingindo um tom escarlate similar aos seus olhos.

— E essa carta... você aceitaria? – Tadase indagou fracamente, e Nagihiko ponderou por alguns minutos. Sendo que não havia chance de Tadase o retribuir, Nagihiko até mesmo pensou em conhecer melhor aquela garota, de sentimentos tão puros e bonitos, mas não havia possibilidade de garota alguma ocupar o lugar de Tadase em seu coração, não importando o quanto ele se esforçasse para isso. Seria injusto com ela, no fim das contas.

— Eu...

— Eeeei!!! O que estão fazendo??? Andem logo e entrem!!! – Yaya gritava da porta do Royal Garden, há apenas alguns metros de distância dos dois garotos – Tem pilhas enormes de papel para assinar, e a Rima-tan quer chá!!!

— É melhor irmos – Nagihiko disse, e ambos seguiram até o lugar, para cumprir suas tarefas de guardiões.

Depois de algum tempo, um pouco antes de o sol se por, eles finalmente encerraram o expediente. Yaya ia arrastar Rima com ela para fazer compras e as duas correram para fora na velocidade da luz (ou melhor, Yaya correu, e Rima foi arrastada).

— Você vai para casa comigo hoje, Fujisaki-kun? – Tadase indagou, segurando sua pasta debilmente nas mãos agitadas.

— Sinto muito, tenho treino de basquete agora. – ele respondeu, pesaroso.

— Aah... e você se incomodaria... se eu fosse assisti-lo? – Tadase perguntou, censurando-se internamente por ser tão impulsivo.

— O que? Claro que não!!! Você pode ir me ver sempre que quiser!! – Nagihiko exclamou apressadamente, sentindo uma onda de felicidade o invadir com o pedido do loiro.

— Ah, então eu irei com você! – Tadase sorriu abertamente, levantando o rosto iluminado para o valete – E você, Hinamori-san... – ele perguntou hesitante, reparando na garota que os observava em silêncio - Quer ir comigo ver Fujisaki-kun jogar?

— Eu não posso, tenho que chegar cedo em casa hoje... – ela desculpou-se, já se preparando para sair correndo na direção oposta – Bom treino para você Nagihiko-kun, e com licença! – ela acenou, começando a correr para a saída e deixando os dois garotos a sós.

Ela correu até a entrada a toda velocidade. A verdade era que se sentia desconfortável estando perto de Tadase e Nagihiko daquela forma. Eles pareciam estar em outra frequência, outra sintonia... como se pertencessem a outro mundo só deles, e ela fosse a intrusa. Corria tão desabalada que não percebeu quando finalmente chegou até a entrada e se chocou em alguém.

— Hinamori-san! Você está bem? – uma voz indagou, preocupado, e Amu levantou os olhos. Era Kairi, e ele agora segurava com firmeza seus cotovelos, impedindo que ela caísse.

— Eu estou, obrigada – ela murmurou, corando com a proximidade, e se afastando bruscamente – O que... está fazendo aqui? – ela perguntou, muito mais rude do que pretendia, devido ao constrangimento.

— Eu estava passando pela cidade... bem... meus pais estão procurando casas para comprar, e eu vim junto com eles. – ele disse.

— Você vai voltar a morar aqui? – ela indagou, com a voz uma oitava mais alta.

— Talvez, não há nada certo ainda, meu pai pode ser promovido, e então transferindo para a sede, que fica aqui, mas não houve confirmação até agora.

— Nesse caso... você voltaria a estudar em Seiyo? – Amu indagou, sem conseguir deixar de esconder uma pontinha de animação na voz. Ela não era capaz de confirmar se gostava de verdade de Kairi, mas algo nele a fazia se sentir confortável, e ela apreciava a companhia do garoto.

— Se for o caso, sim – ele respondeu, ajeitando os óculos – M-mas... eu vim até aqui para... convidar você para tomar sorvete comigo...

— Eu aceito! – ela respondeu rapidamente, sobressaltando o garoto. Ele a olhou atentamente, tentando ver se sua presilha de cabelo havia se transformado em um coração, mas não havia nem mesmo sinais das Shugo Charas ao redor dela. Na realidade, Amu estava apenas ansiosa para se ver livre daqueles pensamentos perturbadores que a andavam rondando, e Kairi era a companhia perfeita para desanuviar sua mente.

— Então... vamos... – ele titubeou, começando a andar na direção oposta, e Amu o acompanhou. Ao redor, as garotas de Seiyo já comentavam com vigor o fato, e logo, ele correria toda a escola, mas já acostumada com isso, ela nem ligou. Amu andava ao lado de Kairi, o fitando de soslaio, e pensando quando exatamente ela conseguiria gostar dele da maneira que ele merecia – Você está bem, Hinamori-san? – ele perguntou repentinamente, notando os insistentes olhares da rosada.

— Sim! Estou, é claro! – ela se apressou em responder, desviando o olhar para a calçada.

— Pois eu acho que não está. – ele disse, olhando diretamente para frente. Seu rosto estava levemente ruborizado, também – Eu posso sentir... e dizer, que definitivamente, tem algo acontecendo com você, mesmo que não queria me contar.

— Iinchou... – ela soprou o infantil e adequando apelido que Yaya deu ao garoto, e sentiu seu coração vacilar. Seguramente... Kairi era a chance de a coringa dar à sua vida novas cores, e virar a página. Já estava na hora de superar o sentimento unilateral que nutria por Tadase, e dar valor àquilo que realmente importava – Vai... vai ficar tudo bem – ela sussurrou, sorrindo minimamente, e então, num ato impulsivo, tocou com os dedos a mão de Kairi, que pendia ao seu lado, e desajeitadamente, entrelaçou seus dedos nos dele. Timidamente, ele aceitou, mas nenhum dos dois teve coragem para se voltarem a se olhar.

E assim, prosseguiram. Amu gostava do ritmo que as coisas estavam tomando, e da maneira que Kairi a conduzia. Lentamente, sem nenhuma pressa, ela avançaria. Passo por passo, cor por cor, tudo mudaria. E ela seria capaz de novamente se apaixonar, e ver tudo ao seu redor brilhar em cores reluzentes.








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Notas finais do capítulo

Yoo~ Shiroyuki desu~
Tentei postar ontem, mas a minha internet não ajudou em nada -.- Mas agora, aqui vaai~
Eu consegui diminuir o tamanho do capítulo, depois digam o que acharam~
E nãaao se esqueçm dos revieeews, onegaai!!! São muito importantes para nós *u*