Yakusoku escrita por teffy-chan, Shiroyuki


Capítulo 27
Capítulo 27 - Anata ga mawaru


Notas iniciais do capítulo

Anata ga Mawaru - SCANDAL
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Tadase sentia-se extremamente embaraçado e nervoso nesse momento, e mesmo que estivesse no escuro do seu quarto, iluminado apenas pela luz da luminária da sua escrivaninha, ele ainda temia que alguém o visse fazendo aquilo. Sentado encolhido na cadeira em frente à mesa, ele estava vestindo apenas seu pijama azul. Seu rosto estava furiosamente ruborizado, e ele parecia paralisado, apertando na mão uma caneta e encarando com constrangimento o pedaço de papel a sua frente, como se o fato de olhá-lo por tanto tempo fosse fazer palavras surgirem magicamente ali. Kiseki ressonava audivelmente em seu ovo, e Tadase agradecia intimamente que ele tivesse um sono tão pesado, afinal, se visse o que seu dono pretendia fazer, ficaria furioso, bradando coisas como “Isso não é digno de um rei!”.

Mordeu os lábios, fechando os olhos com força e deixando a caneta cair de sua mão, recolheu as pernas e as abraçou, escondendo o rosto corado entre os braços.

— Como eu pensava! Não vou conseguir fazer isso! – ele sussurrou, exasperado, sentindo-se patético.

Desde que ocorreu o incidente com o Batsu tama, Tadase pensou muito em seus sentimentos. Cada vez que ele via Nagihiko, mesmo de longe, seu coração parecia que iria explodir. Ele queria estar mais perto daquele garoto, e às vezes, apenas poder conversar com ele já não era o bastante. Tadase queria tocá-lo, queria ser tocado, como aconteceu naquele dia. Queria poder sentir os lábios dele roçando nos seus, novamente. Queria tocar aqueles cabelos tão macios e perfumados, e acariciar aquela pele de seda. Queria poder dizer que Nagihiko pertencia somente a ele, e a ninguém mais. Eram todos desejos egoístas, de um reizinho mimado, mas Tadase já não podia mais se conter. Os sentimentos simplesmente transbordavam, e mais de uma vez ele se surpreendeu quase deixando as palavras que pesavam em seu coração escaparem.

Depois da conversa que teve com o Batsu Tama que possuiu Nagihiko, Tadase percebeu que não podia mais esconder o que sentia, mesmo que parecesse errado, afinal, fora ele mesmo quem disse ao ovo do coração daquele menino que tanto sofria que o fato de serem os dois do mesmo gênero não importava, quando os sentimentos fossem considerados. Enquanto Nagihiko não soubesse o que Tadase sentia por ele, ele nunca poderia saber quais eram os reais sentimentos do valete. Tadase estava decidido a saber isso. Ele queria saber se tinha reais chances de concretizar o seu amor, antes que fosse tarde demais, e não iria se arrepender.

Para fazer isso, Tadase pensou em se confessar diretamente, mas essa ideia foi logo descartada. Não conseguiria fazer nada além de corar, gaguejar e fazer um papel patético, ele se conhecia bem. Seria impossível dizer algo coerente quando estivesse com aqueles olhos lindos, de ouro líquido, sobre ele. Usar o Chara Change então, estava completamente fora de questão, pois desse modo, ele apenas seria rude, berrando seus sentimentos de forma imperativa e acabaria por forçar Nagihiko a fazer coisas constrangedoras, e trabalhar para ele. Não, isso seria desastroso! Tadase precisava ser sincero, e de forma que não houvesse chances de dar tudo errado. Foi quando a maravilhosa ideia surgiu em sua cabeça. Uma carta! Ele poderia dizer tudo o que sentia a Nagihiko, sinceramente, e sem rodeios. Seria muito simples, e então, ele saberia como o valete se sentia sem precisar falar com ele diretamente, era a saída perfeita.

Dessa forma, agora estava Tadase, sentado há meia hora na frente do papel de carta que ele escolheu cuidadosamente na loja, todo lilás e decorado com galhos de sakuras ao redor. Não havia escrito nada. Cada vez que ele segurava a caneta e encarava o papel, a memória do sorriso de Nagihiko, do seu olhar tão calmo e bondoso, do seu cheiro de cerejeira voltava a sua mente, e ele mal conseguia focar seu pensamento nas palavras.

Ergueu a cabeça, ainda com o corpo contraído sobre a cadeira giratória, e olhou novamente para o papel, que parecia ser uma reprodução exata de Nagihiko, em todos os seus detalhes. Sentou-se ereto, e segurou a caneta com dedos firmes, respirando fundo. Deixou que, calmamente, todos os seus sentimentos fluíssem, um de cada vez, para a ponta dos seus dedos, e aos poucos, as palavras foram se formando. Aquilo que Tadase sentia por Nagihiko era apenas tão natural, fácil, correto... que não haviam motivos para se preocupar antecipadamente. Era, na verdade, muito mais simples passar seus pensamentos para o papel do que ele supôs, e nem mesmo aquele constrangimento de antes ele conseguia sentir. Tudo o que tinha a fazer era sentir... e apenas deixar tudo correr no seu próprio curso.





Mais uma vez, Nagihiko chegou à escola, sentindo-se mais como um velho cansado a ponto de se aposentar do que o jovem cheio de energia que ele deveria ser. Ao seu lado, Rythm também voava baixo e devagar, acompanhando o passo vagaroso do dono, confirmando que talvez a culpa dessa falta de entusiasmo se devesse à segunda-feira em si, e não aos problemas usuais do valete.

Ainda no mesmo ritmo desacelerado, ele adentrou a escola, passando reto pelos corredores e chegando até seu armário. Colocou a combinação do cadeado, e abriu a porta, vendo um envelope lilás rodopiar pelo ar até atingir o chão, sem fazer nenhum ruído. Suspirou, cansado, juntando o leve pedaço de papel. Mais uma vez... será que essas garotas nunca desistiam? O que ele teria que fazer para que elas percebessem de uma vez por todas que não tinham a menor chance? Talvez devesse dizer a elas que já tinha alguém que gostasse... embora isso fosse criar problemas para ele mais tarde, afinal, como ele explicaria isso à Tadase?

Seriamente tentando a gritar no corredor que preferia meninos (embora fosse, mais especificadamente, um único menino em especial), ele abriu o envelope, sentindo uma agradável fragrância de morangos atingir seus sentidos. O cheiro era familiar, e Nagihiko surpreendeu-se cheirando o papel antes que pudesse se impedir. Talvez aquela carta ele guardasse, afinal, lembrava muito Tadase, ainda que ele se amaldiçoasse internamente por sequer cogitar a possibilidade daquela carta de amor ter sido escrita pelo Rei. Que ideia sem cabimento. Nagihiko deveria colocar seus pés no chão de uma vez, e parar de sonhar.

Pegou os livros de que precisava no armário e se dirigiu à sala de aula, sentando no seu lugar ao lado da janela. Havia apenas algumas poucas meninas ali, cochichando enquanto olhavam para Nagihiko. Ele ouviu claramente o que elas falavam, afinal, nenhuma delas parecia preocupada em ser sutil.

— Olha só, o Nagihiko-sama chegou cedo... – uma delas cochichou, agitando os cabelos castanhos amarrados em rabo de cavalo.

— Será que ele veio mais cedo para ver o Tadase-sama? Eu não duvido... – outra, de cabelos ruivos, adicionou, com maldade na voz.

— Ah, a Yamada-san da 4-C me contou que o Kitamura-kun viu os dois se agarrando no Royal Garden! O Fujisaki-sama forçou o Hotori-sama a fazer coisas muito constrangedoras, mas ele parecia estar gostando, foi o que eu ouvi... – outra, de cabelos negros, dizia com assombro.

— A Yamada também me contou que falaram pra ela que na verdade esse não é o Nagihiko-sama, mas a própria Nadeshiko-sama, que voltou da Europa e está disfarçada como o irmão! – a de cabelos atados voltou a dizer.

— Então o Fujisaki-sama na verdade é uma garota? – a morena quase caiu da mesa onde estava sentada – Ah, é por isso que dizem que ele andava fazendo coisas indecorosas com o Hotori-sama nos chuveiros do vestiário!

— Sim, afinal, se fossem dois garotos não havia como pudessem fazer... – a ruiva disse, como se entendesse muito do assunto.

— Não há mesmo como fazerem??? – a garota do rabo de cavalos indagou em voz mais baixa.

— Eu acho que não... – a ruiva corou, baixando o olhar. As três olharam ao mesmo tempo para Nagihiko, e então deixaram escapar um gritinho esfuziante.

Nagihiko apenas suspirou, derrotado. Não sabia mais o que fazer para conter esses boatos horríveis. Estavam ficando cada vez mais descontrolados, e com tantos detalhes que chegavam a ser absurdos. Era incrível o quando essas garotas podiam ser criativas.

Será que a carta havia sido escrita por uma delas? Não importava realmente. Mesmo sendo meninas, e bonitas para os parâmetros dos garotos em geral, nenhuma delas conseguia sequer chegar aos pés de Tadase, então Nagihiko nem mesmo perdeu tempo analisando-as. Sem falar que, com o entusiasmo que falavam mal da vida alheia, suas personalidades não deveriam ser das mais interessantes. Tadase conseguia ser milhares de vezes mais agradável sem fazer nenhum esforço, apenas agindo naturalmente.

Mais uma vez, e pensando em Tadase, Nagihiko abriu o envelope, aspirando aquele cheiro e sentindo-se imediatamente bem. Puxou a carta, desdobrando-a atenciosamente. Quem quer que tenha escrito aquela declaração, havia sido muito cuidadoso, e colocado seus sentimentos com muita gentileza e amor ali. Não era como as outras cartas que Nagihiko já tinha recebido, todas parecendo impulsivas e exageradas. A pessoa que a escrevera não devia ser como aquelas garotas escandalosas ali. Ele tinha isso em mente, enquanto se preparava para como iria fazer para rejeitá-la mais tarde, afinal, não passava pela sua cabeça a ideia de aceitar sair com uma garota, não importando quem ela fosse. Lentamente, seus olhos percorreram as palavras ali expostas.

“Fujisaki Nagihiko-kun;

Sei que pode parecer repentino, você com toda a certeza ficará assustado, e que é egoísta da minha parte simplesmente jogar o que eu sinto para você, se nem mesmo ter coragem de dizer isso frente a frente, porém eu já guardei isso por tempo demais dentro de mim, e não sei como posso aguentar passar mais um único dia ao seu lado sem saber o que pensa a respeito do amor que sinto por você. Há muito tempo que eu o observo, e sei que já não sou mais capaz de conter esses sentimentos que transbordam do meu coração, que se acelera perigosamente alto sempre que coloco meus olhos em você. Está tão fora de controle que mais de uma vez, eu me surpreendi sussurrando que o amava sem que você percebesse, e por sorte, ninguém mais notou o meu descuido. Isso é apenas uma pequena parte das inúmeras coisas sem sentido que eu já fiz, e peço desculpas por todas elas, devido a minha falta de experiência e de conhecimento para lidar com tantas emoções confusas e descontroladas.

Faz pouco tempo desde que eu percebi finalmente que as coisas estranhas que eu vinha sentido eram de fato o sentimento de amor. Eu fiquei assustado, obviamente, por que como bem sabe, esse tipo de relação não é bem aceita, mas conversei com uma pessoa que me entendia, e ela me encorajou, dizendo que quando os sentimentos são levados em conta, nada mais deve importar. Poucos dias atrás eu tive outra conversa, dessa vez com uma alma atormentada, e as palavras que disse a ela vem me perseguindo desde então, o que me fez tomar a decisão de expor finalmente meu amor à você, mesmo que queira me rejeitar ou então, como acho que acontecerá, nunca mais queria dirigir a palavra a mim.

Eu estou preparado para isso. Sei que será difícil de acreditar, e que nossa relação nunca mais será a mesma depois de que eu me revelar, mas eu sentia meu coração cada vez mais pesado, e sempre que via o seu rosto, iluminado em um sorriso ou envolto em sombras de tristeza, um pouco desse sentimento vazava, querendo a todo custo alcançá-lo. Eu quero cuidar de você, quero tirar a tristeza que vejo nos seus olhos, enxugar suas lágrimas e dizer que tudo ficará bem. Eu quero estar perto de você, seja para vê-lo sorrir ou para consolar você nos momentos difíceis. E, acima de tudo, eu quero que você olhe para mim, somente para mim, e desejo que diga que o que eu sinto não é em vão, e que pode ser retribuído. Tudo isso são sonhos distantes de uma criança egoísta, você pode perceber, mas sãos os meus sonhos mais belos e mais felizes.

Tudo o que eu quero é que você saiba do amor que sinto por você, mesmo que não seja capaz de sentir o mesmo por mim. Por favor, não se sinta culpado por não poder fazê-lo. Eu nunca fui capaz de realmente acreditar que pudesse. Apenas que você saiba sobre eles, já tira um enorme peso do meu coração. Como eu sei que o quanto você é gentil e bondoso, provavelmente não ficará com raiva. Se esse for o caso, eu me afastarei de bom grado. Se for da sua vontade que continuemos amigos, assim será e eu nunca mais tocarei nesse assunto. No entanto, eu imploro, não sinta pena de mim. Não há motivos para isso, pois você me ensinou o que era amar, e graças a você, eu tenho o mais belo dos sentimentos em mim.

Tudo o que posso dizer agora é: Obrigado.”

Quando terminou de ler, Nagihiko tinha seus olhos marejados, e sentia seu coração terrivelmente apertado. Procurou por todos os lados da carta e do envelope pelo nome daquela garota, mas não havia nada além de manchas redondas, que pareciam com lágrimas derramadas e secas. Ele nunca pensou que alguém pudesse nutrir sentimentos tão genuínos por uma pessoa como ele, e agora, sentia uma enorme e dolorosa culpa em si. Como iria encará-la, e dizer que não podia aceitar seus sentimentos por que já estava apaixonado por outro? Antes, fazer isso parecia muito fácil, mas agora, com todos aqueles sentimentos tão lindos revelados, ele sentia que essa era uma árdua tarefa que, no entanto, deveria ser cumprida o quanto antes. Era errado deixar uma garota tão gentil como aquela ter ilusões. Ela deveria direcionar seus sentimentos a alguém que os merecesse, e não a uma pessoa tão errada quando Nagihiko.

Enquanto estava perdido em pensamentos, olhando pela janela, o restante dos alunos já havia chegado, e logo, o professor também. Nagihiko voltou a guardar a carta em sua pasta, e olhou ao redor, percebendo que Tadase não estava na classe ao lado. Onde ele estaria?





Durante a hora do almoço, Nagihiko, Yaya, Rima e Amu dirigiam-se ao Royal Garden. Eles tinham muitos relatórios sobre o festival escolar para terminar, e mais um planejamento detalhado para o festival do ano seguinte, já que eles estariam formados, e Yaya praticamente implorou que deixasse ao menos isso pronto para ela. Havia ainda os relatos de batsu tamas, que pareciam bastante intensos naquela área. Por causa disso, eles se retiraram antes dos últimos períodos, para adiantar o trabalho e poder ir para casa no horário normal.

Chegando ao Royal Garden, viram Tadase já na mesa, afundado em pilhas e pilhas de papel, com uma xícara de chá ao seu lado e um semblante distraído olhando para a mesma.

— Ué, o Tadase já está aqui? – Yaya bradou, dirigindo-se até a mesa.

— Que tipo de pessoa mata aula para trabalhar? – Rima indagou retoricamente, tomando o seu lugar na mesa.

— Por que você não foi há aula hoje, Tadase-kun? – Amu perguntou, preocupada, também sentando-se na mesa. Ela já conseguia falar normalmente com Tadase agora, e parecia que todo o incidente do aniversário havia sido superado, graças à ajuda de Kairi, era o que todos supunham.

— E-eu tinha que entregar ao Tsukasa-san um relatório financeiro do Festival... por isso achei melhor adiantar o trabalho – Tadase explicou, mantendo os olhos pregados nos papéis. Nagihiko notou que ele parecia um pouco perturbado, e nem mesmo olhou na direção, mas havia tanto trabalho a ser feito que ele nem mesmo teve a chance de se ater a esse detalhe, e analisar melhor o estado do loiro. Sentou-se em seu lugar, e começou a fazer suas tarefas, como todo mundo.

Já era final da tarde quando finalmente encerraram. Depois de tomar rapidamente o chá, todos começaram a se dispersar, dizendo que tinham compromissos ou outras coisas, e logo, em uma maravilhosa obra do acaso (ou ao fato de Yaya ficar berrando e empurrando todos os outros para fora) só restaram Nagihiko e Tadase no Royal Garden.

— Eu tenho que fazer uma coisa, já vou indo, está bem Hotori-kun? Você precisa de ajuda para fechar o Royal Garden? – Nagihiko disse, depois de alguns segundos do constrangedor silêncio que se seguiu após a saída de todos.

— E-eu estou bem... mas... você já vai? – Tadase conseguiu se forçar a perguntar, sentindo o nó subir a sua garganta novamente. Seu coração acelerou imediatamente. Ele havia ficado o dia inteiro na expectativa de ouvir a resposta de Nagihiko à sua carta, e mal conseguiu se concentrar no seu trabalho. De fato, até a hora em que todos chegaram ao royal Garden, ele não tinha feito nada. Era vergonhoso admitir, mas ele até mesmo havia matado aula para não ter que escarar Nagihiko diretamente, e no entanto... ele havia agido normalmente durante toda a tarde, e não havia esboçado nenhuma relação à confissão de Tadase. Ele também tinha em mente o fato de Nagihiko ser um ator perfeito, e isso o preocupava. Repentinamente, ao ver os olhos do valete repousarem nele, sentiu suas mãos suando e seu corpo trêmulo mal se aguentava em pé. Não estava arrependido por escrever aquela carta, porém, já não sabia bem se queria saber o resultado da sua ação.

— Sim... tem algo que eu... preciso fazer... embora nem saiba bem como vou fazer – Nagi murmurou, para si mesmo, inconscientemente puxando a carta do seu bolso e a apertando nas mãos.

Tadase arquejou, levando as mãos ao peito, ao ver aquela carta nas mãos do valete. Paralisou de tanto nervosismo, e mal conseguia se lembrar de como se respira. Tudo do que tinha consciência era do semblante sério do garoto da sua frente.

— E... v-você decidiu o que vai fazer? – Tadase indagou finalmente, com a voz falhada e embargada, por impulso aproximando-se novamente de Nagihiko.

— Ah... bem... eu estava pensando sobre isso... e decidi que devo dar logo uma resposta.. – Nagihiko olhou novamente para a carta, achando que Tadase havia entendido rapidamente o que estava acontecendo, afinal, ele mesmo recebia diariamente dezenas desse tipo de cartas. Olhou novamente para o rosto de Tadase, surpreendendo-se. Ele parecia... ansioso. E, ao mesmo tempo, muito adorável, com aquele olhar suplicante no rosto corado. Nagihiko sentiu algo agitar-se em seu peito, ao ver o semblante de Tadase, e do mesmo modo, a dor lancinante que sempre o acompanhava – Esses sentimentos... – Nagihiko sussurrou sem perceber, voltando o olhar para a carta – eles são tão... bonitos... e sofridos... eu... não quero magoar a pessoa que a escreveu...

— Mesmo? – Tadase agitou-se, esperançoso.

— Sim... essa pessoa foi tão gentil e amável nessa carta... eram palavras tão bonitas, que foram capazes de me deixar emocionado. Por isso... eu penso que devo procurá-la e esclarecer tudo pessoalmente.

— Você... pensa em aceitá-lo? – Tadase juntou as mãos com expectativa, aproximando-se mais um passo, e com os olhos úmidos e brilhantes – Mesmo que... m-mesmo que sejam d-d-dois ga-garotos?

— Garotos? – Nagihiko assombrou-se – Você sabe quem me enviou essa carta? – ele indagou, olhando diretamente para Tadase, exasperado.

— O q-que? – Tadase piscou, atônito. Em um ato impulsivo e desesperado, ele arrancou a carta da mão de Nagihiko, e a abriu, amassando-a parcialmente, com as mãos trêmulas e imprecisas. Vasculhou todos os cantos daquele pedaço de papel, ansioso, procurando por algo que não estava lá. A sua assinatura! Onde estava? – N-não está a-assinada...

— Claro que não, Hotori-kun, é uma carta anônima... – Nagihiko afirmou, sem entender o motivo da alteração do Rei.

Tadase olhava da carta para o rosto confuso do valete, e de volta para a carta. Como ele podia ter sido tão estúpido a ponto de esquecer de colocar seu nome ali? Isso seria algum sinal do universo, alertando-o de que estava cometendo um erro... ou era apenas uma piada muito cruel, e nesse momento, havia alguém rindo e se divertindo da sua falta de atenção. Ele estava tão nervoso por estar fazendo isso... até chegou na escola mais cedo, para não correr o risco de ser visto, e passou o dia com borboletas desvairadas dançando no seu estômago, imaginando como Nagihiko encararia os seus sentimentos, e como seria se ele realmente os aceitasse... ficou tão absorto nas suas fantasias que passou a manhã inteira sem fazer nada no Royal Garden. E agora, mal podia acreditar que cometeu um erro tão inacreditável e imperdoável como esse. Como podia existir uma pessoa tão idiota quanto ele...?

Assustado, ele não ousou olhar novamente nos olhos de Nagihiko. Abraçou a carta com força, amassando-a, e se esforçando para manter sua mente em branco, ele saiu correndo, cambaleante e desajeitado, na direção da saída. Nagihiko absorveu a informação em alguns segundos, e quando finalmente se mexeu e saiu atrás dele, Tadase já havia sumido de vista. Na porta do Royal Garden, ele olhou para todos os lados, procurando pelo loiro, e preocupado com o motivo dele agir tão estranhamente o dia inteiro.

— Eeei, Nagi! – ele ouviu uma voz familiar, chamá-lo ao lado. Não conseguiu esboçar nenhuma reação ao ver Utau, de pé ao seu lado e sem apresentar nenhuma mudança por estar invadindo uma escola elementar em plena luz do dia, com óculos escuros e um grande moleton preto, cujo capuz escondia suas marias-chiquinhas loiras – O que aconteceu aqui?

— Eu... não faço ideia... Eu nem fiz nada, mas ele parece estranho o dia inteiro. Eu não sei o que pensar... estou preocupado... – Nagihiko balbuciou indistintamente, ainda percorrendo com os olhos toda a extensão do pátio do colégio.

— Aqui! – ela estendeu dois pequenos papéis coloridos na direção do valete, que a encarou com desconfiança – Esses iam ser o seu presente de aniversário, mas parece que alguma coisa mais urgente aconteceu entre vocês, então acho que não tem problema você usar antes...

Nagihiko pegou os papéis, e os leu rapidamente. Eram ingressos livres, para passar o dia inteiro no parque da cidade. Olhou novamente para a cantora, sem saber o que pensar.

— P-por que?

— Bem... parece que alguma coisa aconteceu... e o Tadase adora parques! Se você levá-lo, poderão conversar com calma, e ainda se divertir juntos... e talvez, se divertir mais do que você pensa... – Utau sorriu sugestivamente, e Nagihiko corou. – Bem, apenas faça o que tem que fazer, anda logo, garoto! – ela empurrou Nagihiko – o Tadase foi naquela direção!

— T-tudo bem... – Nagihiko andou um ou dois passos, hesitante – Obrigado, Tsukiyomi-san... – ele sorriu na direção dela, e então, uma dúvida se fez presente, e ele não pode se conter – Ano... o que você está fazendo aqui mesmo?

— Tenho uma encomenda da Yaya-chan e da Rima-chan – ela mostrou uma sacola azul e transparente, onde Nagihiko pode identificar diversos mangás e DVD’s de conteúdo duvidoso – Parece que elas não estão aqui, eu vou ter que mandar uma mensagem... – ela murmurou para si mesma, puxando o celular.

— Ah, tá... entendi... – ele disse, não querendo se aprofundar nos assuntos das suas amigas, e começou a caminhar na direção indicada pela loira.

Correu pelo caminho do pátio, observando atentamente o seu redor. Estava quase indo procurar dentro do prédio da escola, quando percebeu uma cabeça loira familiar escondida entre as árvores do bosque próximo, agachada entre alguns arbustos. Aproximou-se cautelosamente, com receio de que ele fosse escapar novamente e observou a figura encolhida, abraçada ao pedaço de papel lilás e mordendo os lábios enquanto segurava com todas as suas forças uma inevitável crise de choro.

— F-fujisaki-k-kun... – Tadase soluçou com a voz embargada, sem deixar, no entanto, que as lágrimas que ardiam em seus olhos descessem. Apertou com as mãos pequeninas, a carta, e sentiu-se a pessoa mais estúpida de todo o universo. Aquilo era castigo, por ele ser tão errado, com toda a certeza.

— Hotori-kun, eu estou aqui – Nagihiko disse, com a voz alta e clara, sobressaltando o menino, que deu pulou como uma lebre assustada, e se pôs de pé, escondendo a carta atrás do corpo e engolindo o choro, com seus lábios trêmulos e os olhos úmidos. – Vamos, diga para mim o que houve, e talvez eu possa ajudá-lo... eu posso ver que você está passando por alguma dificuldade... é algo com a Amu-chan de novo ou... dessa vez é outra pessoa...? – Nagihiko indagou, e embora aquelas palavras lhe causassem náuseas e um desconforto indescritível, ele se forçou a sorrir prestativamente.

— N-não tem nada a ver com nenhuma garota, na verdade – Tadase fungou, aproximando-se receosamente um ou dois passos de Nagihiko – E-eu só.. eu só... – ele corou, vendo os olhos dourados de Nagihiko pregados nele, e então sua mente parou de funcionar imediatamente – Ah... – suspirou, derrotado, fechando os olhos com pesar – Eu sou um grande idiota, medroso e fraco, que só sabe se esconder atrás de soluções fáceis. – disse de uma só vez, com a voz falhando – Eu... nunca vou mudar. Nunca poderei ser o Rei do meu próprio mundo... eu sou tão fraco... errado… eu demoro para entender as coisas e sempre me atrapalho todo para fazer o que quero, não faço nada certo, e nunca nada sai como planejei… eu devia apenas... desistir...

— Não! Pare de falar essas coisas Hotori-kun!! – Nagihiko se apressou em dizer, puxando Tadase pelo braço e deixando que ele apoiasse a cabeça em seu peito – Se você continuar falando essas coisas, o Kiseki vai acabar ganhando um X, você quer que isso aconteça? A última coisa que eu quero fazer hoje é ligar para a Amu pedindo para ela vir até aqui purificar o seu tamago! Por favor, Hotori-kun... não fale essas coisas, eu não gosto de vê-lo desse jeito... – acariciou os cabelos macios de Tadase, sentindo o corpo diminuto dele tremer entrando em contato com o seu, e tentando ao máximo não se aproximar ainda mais dele, não circundar seus braços ao seu redor, não trazê-lo para mais perto. Se fizesse isso... não tinha certeza de que conseguiria soltá-lo depois – Olha só... eu sei que todos aqui... que eu... gosto muito desse seu “eu” que se enrola para fazer as coisas, que esquece, que demora para entender... isso tudo é muito fofo! Você não precisa fazer tudo certo para agradar as pessoas, nem ser sempre perfeito. Eu gosto de você do jeito que você é. Não há nada de errado com você, Hotori-kun. Você tem o coração mais lindo e gentil que eu já conheci, e é a pessoa que eu mais quero que seja feliz. Está sempre querendo cuidar de todos, e ás vezes até mesmo esquece-se de si mesmo. Você... não precisa mudar em nada, Hotori-kun. Apenas me deixe cuidar desse seu eu imperfeito, que para mim, sempre foi perfeito.

— Fujisaki-kun... – Tadase sussurrou, incrédulo, levantando a cabeça para enxergar os olhos de Nagihiko, que estava fixos nos dele. Os dois se encararam em silêncio por poucos segundos, e então, Nagihiko sorriu tranquilizador.

— Aqui – ele mostrou dois pequenos pedaços de papel – Ingressos para o parque. Vamos comigo. Você vai se divertir, vai esquecer os seus problemas, e então, poderá pensar com clareza no que deve fazer. Você precisa disso.

— E-eu... m-mas... – Tadase hesitou.

— Nós vamos para casa, e eu passo para te pegar daqui... duas horas. Não aceito não como resposta. – e dizendo isso, Nagihiko deu as costas à Tadase, deixando para trás um rei confuso e sem palavras, com o coração rápido e agitado como um colibri. Talvez... aquela fosse uma segunda chance, para ele finalmente declarar o que sentia ao seu amigo. Se fosse esse o caso, Tadase teria que correr, para tomar um banho e se arrumar antes que Nagihiko passasse para pegá-lo. Foi então, que uma constatação soou como um alarme dentro da mente de Tadase. Aquilo era como um encontro.





Depois de passar em casa, tomar banho, e passar mais tempo que um garoto normal, e que muitas garotas, escolhendo a roupa perfeita, Nagihiko saiu de casa, na direção da casa de Hotori Tadase. Deixou Rythm em casa, afinal, não queria entrar no Chara Change involuntariamente enquanto estivesse sozinho com Tadase, de maneira alguma. Sozinho com Tadase... de alguma forma, isso parecia melhor do que se permitia imaginar.

Andava apressado pela rua, sem prestar atenção alguma no caminho, embora seus pés o levassem exatamente onde ele queria ir. Estava tão imerso em seus pensamentos que nem percebeu quando algumas garotas da sua escola o viram e começaram novamente a cochichar. Quase pisou em um gatinho que passava na rua, tal era a sua distração. Recebeu uma ou duas mensagens provocativas de Yaya, mas não teve paciência para lê-las. Apenas olhava para frente, impetuosamente, querendo atingir seu objetivo ao mesmo tempo em que se segurava para não sair correndo pelo lado oposto.

Na hora de se vestir, e depois de experimentar centenas de combinações diferentes, ele optou por uma calça jeans – já que não queria passar por constrangimentos que envolvessem suas pernas novamente – e uma camiseta branca com estampa, com um blazer simples e cinza escuro por cima. Passou perfume, e colocou seus tênis favoritos, aquele par de all stars surrados e antigos, torcendo para que eles lhe dessem sorte. Passou a maior parte do tempo penteando os cabelos macios, olhando-os no espelho e se esforçando para que não houvesse um único fio fora do lugar. Enquanto fazia isso, sentiu que sua mãe o observava, com um sorriso contido nos lábios. Foi quando ela perguntou “está se arrumando para um encontro?” que a ficha finalmente caiu. Ele estava indo buscar Tadase para um encontro. Não havia como duvidar, negar, nem fugir dessa verdade.

Quando finalmente chegou à frente da enorme casa dos Hotori, sentiu todos os seus temores esvaírem-se em questão de segundos, após respirar bem fundo. Com a coragem e a confiança que só possuía quando estava no Chara Change, ele apertou a campainha. Antes mesmo de tocar o botão, o portão se abriu, revelando um nervoso e inquieto Tadase, que o saudou com o semblante corado e mais irresistível do mundo. Parecia que ele estava ali, atrás do portão, apenas esperando que Nagihiko aparecesse. Atrás dele, Hotosaki se agitava, latindo, querendo escapar.

— Você está pronto, Hotori-kun? – indagou, sem nada melhor a dizer que passasse pela sua cabeça.

— Sim, eu já estou... nós podemos ir... – ele disse, abrindo mais ainda o portão, o que fez com que Hotosaki conseguisse atingir seu objetivo, e saltar para fora, com seu rabo abanando animadamente, pulando de um lado para o outro nas pernas de Nagihiko.

— Olá, Hotosaki-chan! – Nagihiko se agachou, acarinhando a cabeça do cachorro, que fechou os olhos, apreciando o toque do garoto – Como você está? Está fazendo muita bagunça? O Hotori-kun me contou o que você fez com os vasos de planta, hein? Que feio! – ele censurou, vendo o cão se encolher, entendendo suas palavras, e então ganir arrependido, como se tivesse pedindo desculpas – Está certo, está perdoado, mas eu não quero saber de confusões a partir de agora, viu?

Hotosaki latiu em resposta, com ânimo renovado, e deu uma grande lambida na bochecha de Nagihiko, que riu alto, quase caindo sentado.

— Vamos lá, Hotosaki – Tadase disse – Entre, eu tenho que ir agora! – Hotosaki fez o que o loiro ordenou, e se encaminhou para dentro, vendo seu dono fechar o portão, com um semblante suplicante de dar dó, pedindo silenciosamente que o levassem junto.

— Ele cresceu bastante não é? Não está dando problemas demais pra você, Hotori-kun? – Nagihiko se ergueu, e os dois garotos começaram a caminhar.

— Claro que não! – Tadase replicou – Eu nem consigo me imaginar sem o Hotosaki agora, eu o amo muito – e dizendo essas palavras, corou ligeiramente.

— Eu fico feliz que tenha gostado do meu presente... – Nagihiko sorriu sem jeito, tentando não se sentir perturbado por ouvir aquelas palavras com a voz de Tadase tocando seus ouvidos. Olhou de soslaio para o loiro, encabulado e notou, rapidamente, que ele também havia se preocupado com sua vestimenta, usando uma camisa azul-claro, aberta sobre a camisa branca, e uma bermuda, todas peças que Nagihiko nunca havia visto antes no Rei. Não pode deixar de se sentir minimamente feliz com o fato de Tadase ter se disposto a colocar roupas novas para encontrar com ele, mas também pode perceber que o rosto dele continuava ainda tão preocupado quanto estava na escola – Nós podemos... sair um dia desses, para levá-lo para passear em algum lugar, o que acha? Ele pareceu tão triste por não poder vir com a gente... – ele disse, incerto, olhando para o céu ao longe, que se coloria em diferentes tons de vermelho, laranja e cor-de-rosa.

— Ah! Mesmo, Fujisaki-kun? Eu adoraria! – Tadase exclamou, com imediato entusiasmo, sorrindo brilhantemente na direção do garoto. Nagihiko se surpreendeu com aquela reação do amigo, mas retribuiu o sorriso logo depois, satisfeito por ter conseguido provocar um sorriso tão lindo naquele rosto novamente.

Os dois garotos continuaram a caminhar pelas ruas, cada vez mais movimentadas, vendo aos poucos a noite chegar, com suas cores misturadas as do final da tarde, com as nuvens coloridas espaçadas como grandes manchas de tinta, refletindo a luz tênue do sol que se escondia. Não demoraram a chegar ao parque de diversões, que estava parcialmente vazio, se tratando de um início de semana, ainda mais àquela hora, mas funcionando.

Os olhos de Tadase brilharam, refletindo as luzes de neon das decorações e as placas multicoloridas que se espalhavam por todos os lados, e ele sorriu abertamente, sem saber para que lado olhar primeiro. Nagihiko o viu correr na frente, entusiasmado, e então girar novamente para trás, mirando fixamente os seus orbes escarlates na sua direção. Seu coração falhou uma batida, e ele sentiu algo quente espalhando-se por todo o seu ser, ao ver aquele menino tão lindo, sorrindo inocente e alegremente, apenas para ele.

Tadase correu novamente, feliz como uma criança na manhã de Natal, até Nagihiko, e não notou a afeição que transbordava dos olhos dourados diretamente para ele.

— Por onde começamos, Fujisaki-kun? – ele indagou, mal contendo a expectativa na sua voz. Parecia ter esquecido completamente do que quer que estivesse o perturbando, e Nagihiko agradeceu mentalmente à Utau, por poder proporcionar isso à ele.

— Por onde você quiser, Hotori-kun… - Nagihiko sorriu afetuosamente, e Tadase corou, ainda mais animado, com os olhos brilhando intensamente, de alegria. Sem pensar duas vezes, ele tomou a mão de Nagihiko entre a sua, rebocando o maior enquanto corria na frente.

Os dois correram até a montanha russa, e Tadase pulou na frente, deixando Nagihiko sentar ao seu lado. Além deles, só havia mais outras duas garotas, muitas fileiras atrás. Ele nem teve tempo de pensar na mão cálida do loiro na sua, ou na proximidade dos seus corpos naquele carrinho apertado, pois tão logo as travas de segurança baixaram, tudo o que Nagihiko conseguiu fazer foi gritar. Depois de subir, descer, cair, girar, rodopiar e correr, o carrinho da montanha russa finalmente parou.

Tadase pulou para fora, sentindo seu mundo girar, e um desconforto incomum no estômago fez com que ficasse ainda mais fora dos seus sentidos. Cambaleante, ele andou desfocado para fora do brinquedo,e Nagihiko o seguiu.

— Você está bem, Hotori-kun? – Nagihiko indagou, preocupado, vendo Tadase caminhar trançando as pernas na direção oposta, dirigindo-se sem nenhum equilíbrio para trás das máquinas do controle.

— E-eu só estou... meio estranho... – Tadase pronunciou com dificuldade, lembrando-se vagamente que tinha certa fraqueza com velocidade, e de ficar de cabeça para baixo. Lembrar isso só fez com que sua vertigem aumentasse. Nagihiko correu ao seu encontro, e ao mesmo tempo, Tadase girou nos próprios pés, querendo dizer à ele que estava bem.

Os dois se chocaram, desajeitados. Prendeu-se casaco de Nagihiko, completamente tonto, e sentiu as mãos dele segurando-o pela cintura, protetor, ao ver que Tadase perderia o equilíbrio. Desajeitados, ambos foram ao chão. Ele sentiu suas costas baterem na grama que pinicava, e o corpo de Nagihiko acima do seu, perigosamente próximo, com seu peso somando-se ao de Tadase, suavemente. Tadase abriu lentamente seus olhos, vendo o rosto assustado de Nagihiko ainda mais perto do que imaginava, com os olhos dourados e perturbados percorrendo toda a extensão do seu rosto, irremediavelmente ruborizado.

Nagihiko perdeu a razão, mergulhando no mar rubro e gentil que eram os olhos de Tadase. Sentiu a respiração descompassada e quente do menor acariciar sua pele, e ele sentiu o mesmo, respirando o hálito suave de Nagihiko, e se rendendo às emoções que o corpo dele tocando o seu causavam. Como se estivesse flutuando, quase inconsciente, perdido em sensações. Ergueu os braços, querendo alcançar Nagihiko, prestes a entrelaçar os dedos nos fios lisos e macios. Visualizou os lábios cheios, tão delicados e doces, e desejou mais uma vez tocá-los, por tanto tempo quanto fosse possível, e se surpreendeu imaginando como o garoto reagiria caso ele se excedesse e agisse. Tadase estava seguindo essa linha de raciocínio, quando o valete pareceu cair em si, e se pôs de pé num salto, desconcertado, vacilando o olhar entre todos os lados, querendo evitar encarar o loiro. Estendeu a mão para ele, sentindo-o aceitar a ajuda e colocar a mão suavemente na sua, erguendo-se.

— Obrigado, Fujisaki-kun – Tadase sussurrou gentilmente, percebendo que Nagihiko ainda estava seriamente perturbado. Querendo que ele esquecesse o incidente, e os dois pudessem voltar a se divertir, ele se deixou agir por impulso e segurou novamente a mão do garoto, fitando-o diretamente, o que exigia um grande esforço, afinal, aqueles desejos incoerentes continuavam a martelar em sua cabeça – Vamos em outro lugar? O que acha da Casa dos Espelhos? É muito divertido!

— Ok, vamos – Nagihiko se rendeu, incapaz de ficar alterado com Tadase por mais que alguns segundos. Ele imaginou que o loiro não teria sido capaz de perceber as suas reais intenções, quando caíram daquela maneira, mas jamais poderia supor que pudesse ser recíproco.

Acompanhou Tadase, que se esforçava muito para parecer inalterado, embora estivesse tão agitado por dentro que poderia explodir a qualquer momento. Sua atuação poderia passar razoavelmente bem para qualquer um, mas alguém do nível de Nagihiko notaria com facilidade a sua miserável tentativa de agir normalmente. Isso, se o mesmo não estivesse igualmente abalado emocionalmente, depois do acidente tão repentino, que poderia ter ocasionado outro muito pior se não tivesse sido contido a tempo.

Ambos adentraram a Casa dos Espelhos, quer era uma construção estranha bem no meio do parque, e que, considerando o movimento atual, deveria estar vazia.

Tadase entrou na frente, mas imediatamente se arrependeu. Deu de cara com a imagem de si mesmo, refletida de uma maneira absurda, em que seu rosto incrivelmente corado e tão obviamente atrapalhado se projetava desproporcional do resto do corpo. Soltou um grito de pavor, por ter sido pego desprevenido com aquela visão, e logo depois, viu a imagem de Nagihiko, igualmente deformada, ao lado da sua. Ele ria descontroladamente.

— Do que está rindo, Fujisaki-kun? – indagou, embaraçado – Eu só me assustei um pouquinho com isso, não estava esperando...

— Eu sei, me desculpe, é que... – ele se recuperou, vendo a figura chorosa de Tadase refletida, com seus grandes olhos vermelhos ainda maiores na imagem – Ah, Hotori-kun, você ficou fofo desse jeito, olhe só! Com esses olhos grandes e tudo mais... – e dizendo isso, voltou a gargalhar.

— Não ria! – Tadase resmungou, dando um tapa nas costas de Nagihiko, tão leve que ele nem chegou a sentir – Você também, ficou muito engraçado! E eu nem estou rindo!

— Por que é um bobo, e ficou com medo! – Nagihiko riu mais um pouco, e Tadase fez um adorável biquinho contrariado – Vamos, acho que o caminho é por aqui – ele disse, andando na frente, e Tadase o seguiu.

Eles andaram pelos corredores de espelhos, vendo suas imagens se encolherem, alongarem, deformarem, engordarem e crescerem, de todos os jeitos possíveis e imagináveis. Até que chegaram no centro do labirinto, em um espaço circular rodeado de espelhos por todos os lados, de uma maneira que se tornava complicado saber qual era o lado certo por onde deveria ir.

Tadase arfou. A sua volta, havia cerca de dez Nagihikos, e ele não sabia qual deles eram simples reflexos e qual era o Nagihiko real. Seu coração se agitou incontrolavelmente enquanto ele reparava nos dez pares de olhos âmbar que o fitavam diretamente, com um sorriso gentil no rosto sereno. Ele analisou o rosto pálido e delicado do seu amigo, que poderia ser facilmente identificado como o de uma garota, e no entanto possuíam um certo brilho que só podia vir de um garoto como ele. Tadase se sentiu trêmulo e ao mesmo tempo, muito convencido, por poder estar dividindo aqueles momentos com a pessoa que amava. Quantas garotas não dariam tudo para ter uma chance de sair com alguém como Nagihiko? Todas elas, com certeza. E, no entanto, ali estava ele, querendo apenas vê-lo sorrir. Tadase não podia mensurar o tamanho da sua sorte. Ele sentia que seu coração havia sido muito esperto na hora de escolher alguém para se apaixonar. Era o coração de um Rei, que não se contentava com nada menos que o melhor.

— Hotori-kun, pare de brincar e venha até aqui! – Nagihiko chamou, e sua voz aveludada ecoou pelo espaço, chegando até os ouvidos de Tadase, que se alarmou. Libertou-se do seu estado de torpor, causado pela observação profunda da imagem refletida de Nagihiko, e olhou ao redor, tentando procurar a direção de onde vinha o som.

— Fujisaki-kun! Eu já estou indo até você – Tadase começou a correr, sem direção definida, e acabou por esbarrar em um dos Nagihikos que o fitavam. Porém, esse não era liso e frio, como a superfície de vidro. Era quente, tenro, e afável. E pareceu chocado com a aproximação repentina do loiro.

Os dois se encararam por poucos segundos, e Nagihiko, no susto do baque, segurou Tadase pelos cotovelos, impedindo-o de cair. Tadase arquejou, impressionado, e ele sentiu seu rosto queimar ao notar, novamente naquele mesmo dia, o quanto seus rostos estavam próximos um do outro. Sem querer deixar a chance escapar, e já sentindo que não poderia mais se segurar por mais nenhum segundo, Tadase ergueu-se nas pontas dos pés, sabendo que as mãos de Nagihiko o sustentariam, e fechou os olhos, esperando que, talvez, por intervenção do destino, Nagihiko resolvesse retribuí-lo naquele momento.

Nagihiko não conseguia conceber aquela cena. Seu cérebro processou tudo em questão de milésimos de segundos, mas a conclusão a que chegou não poderia estar correta, em hipótese alguma. Tadase parecia... esperar por um beijo. Seus olhos estavam cerrados, e ele se mantinha na ponta dos pés. Seus lábios estavam entreabertos, e tremiam ligeiramente, esperançosos, e sua cabeça inclinada para cima, estava estrategicamente alinhada com o rosto de Nagihiko. Tudo o que ele tinha a fazer, era se abaixar alguns poucos centímetros, e então tocaria nos solícitos e convidativos lábios do seu rei. Estava seriamente tentado a esquecer todos os seus limites auto impostos, jogar a consciência para o ar, e se munir de todos os pretextos que podia, que já estavam prestes a convencê-lo, para finalmente fazer aquilo que tinha vontade, quando algumas risadas altas ecoaram distantes, acordando-o.

Mais pessoas entravam, e se faziam ouvir, cada vez mais próximas. Tadase também pareceu perceber, afastando-se um passo, abrindo os olhos, e soltando um suspiro que mais parecia um lamento.

— É melhor irmos – ele disse, contra a vontade, vendo que aos poucos Nagihiko voltava a si. Ele assentiu, perdido, e os dois tomaram a direção oposta, e depois de atravessar mais alguns corredores que distorciam suas formas, chegaram à saída.

Saíram pelo lado oposto, sentindo o ar da noite agradável do verão que se iniciava os saudando. Nenhum dos dois comentou o novo incidente infeliz que ocorrera, supondo que o outro não havia percebido suas intenções escondidas, e eles seguiram, lado a lado, sem rumo definido. Até que Tadase viu ao longe um letreiro, que fez com que uma ideia maquiavélica digna de Yaya surgisse em sua mente sempre tão pura e ingênua.

— Fujisaki-kun, nós podemos ir ali? – ele indicou o lugar, e Nagihiko arqueou as sobrancelhas ao ver para onde ele apontava.

— Tem certeza?

— Sim! Eu quero! – ele exclamou, mais ansioso do que o normal.

— Se você faz questão... – Nagihiko suspirou, e começou a andar na direção do lugar escuro e cheio de figuras assustadoras, onde se lia “Casa Mal-assombrada”. Tadase o seguiu, entusiasmado, e repentinamente, nervoso.

Os dois adentraram o prédio lúgubre, e sendo que não havia fila alguma, continuaram a andar. Assim que entraram, foram recebidos por uma figura sinistra, que sangrava e gemia. Gritos pavorosos se ouviam ao longe, e a silhueta pavorosa parecia querer alcançá-los. Nagihiko não fez nada além de sobressaltar pela aproximação repentina, e logo depois percebeu o porquê de não haver fila. Aqueles robôs animatrônicos necessitavam de alguma manutenção, já que seu nível de desempenho era mais baixo até mesmo que o do Festival Escolar da Seiyo, e não conseguiria assustar nem mesmo uma garotinha indefesa. Mas Tadase não parecia pensar assim.

Ele gritou ao mesmo tempo em que a voz ao fundo, um grito alto e estridente, apavorado. E, sem perder tempo, escondeu-se atrás das costas de Nagihiko, afundando seu rosto no paletó dele, enquanto tremia muito.

— Está tudo bem, Hotori-kun? Você quer voltar? – Nagihiko indagou, sem conseguir acreditar que Tadase fosse capaz de se assustar com um monstro de qualidade tão baixa.

— N-não, eu e-estou bem – Tadase murmurou indistintamente, afastando-se ao mínimo do garoto, e se colocando novamente ao lado dele. Juntos, eles avançaram mais um pouco. Da parede, surgiu um individuo de capa negra, com sangue na boca, que deveria representar um vampiro.

Nagihiko não esboçou nenhuma reação, mas Tadase gritou exageradamente, novamente escondendo o rosto nos ombros do maior, que tentou segurar o riso, temendo ofender o garoto.

— Você está com medo, Hotori-kun? – indagou baixinho, não querendo ofendê-lo.

— Um pouco... – ele murmurou baixo, sem olhar Nagihiko nos olhos. O valete teve vontade de abraçar Tadase, com aquele rosto tão adorável. Mas, ao invés disse, apenas aproximou sua mão da dele, entrelaçando seus dedos com cuidado, temendo que ele fosse se assustar com um ato tão inesperado, mas tudo o que Tadase fez foi segurar a mão de Nagihiko com força, sentindo o calor da pele dele lentamente passasse para a sua.

No escuro, Nagihiko não foi capaz de enxergar, mas agora, Tadase sorria infimamente, com seu rosto corado. De mãos dadas, em meio à escuridão tomada de gelo-seco que impedia sua visão, eles avançaram. A cada aparição, Tadase reagia exageradamente, gritando, tremendo e enfim, agarrando o braço de Nagihiko com força, escondendo seu rosto no peito dele.

O valete, sem saber como reagir ao medo de Tadase, andava devagar e com dificuldade, sendo impedido pelo garoto agarrado ao seu braço e que impedia seu avanço. Sentia as mãos de Tadase apertando seu casaco, com os dedos trêmulos, e a respiração pesada dele tocava-o, mesmo através do tecido. Sentindo que poderia se arrepender disso mais tarde, e simultaneamente sentindo seu coração se apertar ao ver aquele garoto assim, Nagihiko desvencilhou seu braço do aperto de Tadase, e ele assustou-se com o ato, mas logo depois, sentiu o braço dele circundando seus ombros, trazendo-o para perto de si, protetoramente, e Tadase suspirou de alívio, aspirando o perfume agradável de Nagihiko, sentindo a fragrância natural dele misturada ao cheiro de colônia masculina. Seu coração acelerou, quando Nagihiko acariciou seus cabelos, abraçando-o com força.

— Está melhor, Hotori-kun? – perguntou fracamente, sentindo-se repentinamente inseguro.

— Muito melhor agora... – Tadase suspirou, sorrindo, e Nagihiko respirou aliviado, e com o loirinho agarrado em si, continuou a andar em frente. Eles não viram mais nenhum dos monstros amadores no caminho, nem ouviram os gritos sofridos ou a música de terror. Estavam concentrados de mais um no outro para isso.

Nagihiko não viu o sorriso apaixonado de Tadase, que se aconchegou nos braços seguros e quentes dele. Tadase não se importava com sua atuação parca, que no entanto, convenceu o valete perfeitamente, ou com aquela sensação de culpa por estar o enganando. Não se importava também se estivesse parecendo um covarde, medroso, dando ataques de pavor como uma garotinha para aqueles robôs sem graça. Não se importava com nada disso, se pudesse continuar mais um tempo sentindo o corpo de Nagihiko tão perto do seu, sentindo o seu perfume inebriante, e ouvindo o coração dele martelando em seu ouvido, como uma música agitada, e ao mesmo tempo, calmante.

Muito antes do esperado, e contra a vontade dos dois garotos, o fim da casa mal-assombrada chegou. Eles lamentaram, ao mesmo tempo, o fim, e Tadase considerou se fazia sentido ele pedir para ir novamente depois de ter parecido tão assustado o tempo todo.

— Onde você quer ir agora, Hotori-kun? – Tadase ouviu a voz de Nagihiko reverberar através do seu peito, e abriu os olhos, sem conseguir se lembrar exatamente de quando tinha os fechado. Eles já estavam do lado de fora da casa, novamente. Relutante, ele se afastou, sentindo falta do calor de Nagihiko nos seus braços.

— Acho que estou com fome... – ele respondeu, encabulado. Nagihiko o conduziu até a única barraca que estava aberta, e que vendia exclusivamente maçãs-do-amor.

Tadase achou aquilo extremamente adorável, e pediu por uma. Nagihiko fez questão de pagar, não importando o quanto o menor protestasse.

— Isso é bom! – Tadase exclamou, depois de dar uma enorme mordida no doce, ficando com o rosto todo manchado pela calda vermelha – Quer um pedaço? - ele estendeu a maçã na direção do valete, sorrindo afavelmente.

— O-obrigado... – ele não pode deixar de pensar na maçã da Branca de Neve, e na peça da escola, o que fez com que seu rosto corasse rapidamente – Isso... seria... um beijo indireto, não é? – sem que ele desejasse, os seus pensamentos se transformaram em palavras, e Tadase arquejou, ao ouvi-las, com o rosto adquirindo o mesmo tom da maçã. Nagihiko levou a mão à boca, arrependido, amaldiçoando-se por dentro.

— Não tem problema... – Tadase murmurou, desviando o olhar – afinal... nós já fizemos isso antes... duas vezes... – ele disse entredentes, achando que Nagihiko não o ouviria.

Nagihiko não tinha argumentos contra isso, e para mostrar que não estava perturbado com o fato, embora fosse evidente que estivesse, segurou a mão de Tadase entre a sua, trazendo a maçã até a sua boca e dando uma delicada mordida. Afastou-se logo depois, lambendo os lábios. Tadase não pode deixar de apreciar aquela imagem, com a boca entreaberta de admiração.

— Está sujo aqui – ele acrescentou, impulsivamente, passando o polegar na bochecha macia e manchada dele, vendo-o encolher-se e corar até fumaça sair das suas orelhas. Não pode deixar de sorrir, vendo a expressão mais fofa e adorável de todas no rosto daquele garoto. Sem se conter, colocou o dedo na boca, lambendo o doce, e sentindo o gosto de Tadase. Ele arfou, incrédulo, e para disfarçar o embaraço, deu mais uma mordida na maçã, no exato lugar em que Nagihiko havia tocado antes.

Continuou a comer a maçã, em silêncio, até o fim. Fez uma grande sujeira, e terminou com mais doce no rosto do que na boca. Não era possível distinguir se ele havia comido a maçã-do-amor, ou se ela tinha levado a melhor. Ele considerou por alguns segundos a possibilidade de pedir que Nagihiko limpasse suas bochechas novamente, e ficou estranhamente animado com a ideia, mas logo a descartou, correndo até o banheiro mais próximo para se limpar antes que acabasse dizendo alguma besteira.

— Quer ir aonde agora, Hotori-kun? – Nagihiko perguntou atenciosamente, assim que Tadase retornou do banheiro.

— Na roda gigante – ele sussurrou, sem hesitar, dessa vez. Durante o pequeno espaço de tempo que teve para pensar sozinho, enquanto lavava o rosto, ele tomou uma importante decisão, talvez a maior de toda a sua curta vida.

Iria fazer logo de uma vez aquilo que estava planejando durante todo o final de semana. O convite inesperado de Nagihiko havia aberto uma possibilidade nova, depois do fracasso do plano da carta de amor, e ele havia tido uma ideia promissora, ao ler um mangá shoujo na loja de conveniências, há alguns dias.

Ambos andaram até a atração, e não havia fila nenhuma. A roda já estava começando a girar, lentamente, pegando as poucas pessoas que esperavam. Eles andaram até ali, e a roda parou por um momento, com o empregado do parque abrindo a cabine para os dois, que adentraram, em silêncio, e sentaram um de cada lado.

Vagarosamente, a roda continuou girando, aumentando gradualmente a velocidade. A noite já estava alta, e os dois admiraram, sem nada a dizer, a Lua brilhante refletindo nas nuvens magras, com as estrelas reluzentes piscando ao redor. Nagihiko apreciou a paisagem com calma, mas Tadase parecia prestes a ter uma síncope, esfregando as mãos pequenas uma na outra, nervosamente, mordendo os lábios com força, e com os olhos vacilando pelo chão, incapazes de levantar. Seu rosto, então, iria entrar em combustão a qualquer segundo.

O coração do pequeno Rei batia descontroladamente contra o peito, e poderia saltar para fora a qualquer segundo. Ele avaliava intimamente quais seriam as exatas palavras que iria dizer, mas não conseguia se visualizar pronunciando elas da maneira que queria. Ele ia tropeçar em cada sílaba, sua mente ficaria em branco... isso se não desmaiasse por excesso do acumulo de sangue na face, somado ao incontrolável nervosismo, antes. Esperou que a roda gigante atingisse seu ápice, avaliando discretamente a figura de Nagihiko, admirando a vista, com a luz da lua refletindo em sua pele delicada. Ele faria exatamente como no mangá que leu. Falaria tudo quando a roda gigante parasse lá no alto. E, talvez, até repetisse aquelas mesmas palavras, caso não conseguisse pensar em nada melhor.

Enfim, a roda gigante parou, com um pequeno balançar. Nagihiko desviou seu olhar calmo do lado de fora para Tadase, sorrindo gentilmente. Tadase sentiu seu coração se agitar e doer, impaciente, e gemeu baixinho, imaginando como iria fazer agora. Levantou, sentindo a pequena tontura fazendo sua cabeça girar e girar. A roda gigante voltou a andar, e Tadase sentiu o baque, dando mais um passo incerto para frente, cambaleando por causa da inércia. Nagihiko o mirava, sem entender as repentinas atitudes do amigo. Tadase abriu a boca uma, duas, três vezes, sem conseguir dizer nada. Parecia com um peixe, respirando dentro do aquário. Mas o seu oxigênio era Nagihiko. Ele era a única coisa que ele precisava, e nada mais tinha relevância.

— Fujis...sak-ki... ku-kun... – ele balbuciou, como uma criança que aprende as suas primeiras palavras. Nagihiko inclinou a cabeça, confuso, de uma maneira inteiramente atraente, sem entender nada – E-eu t-t-tenho a-algo... a di-dizer... m-muito i-importante... e-eu...

— Diga, Hotori-kun – Nagihiko incentivou, preocupado, vendo o semblante enrubescido do loiro retorcendo-se de ansiedade, enquanto ele virava o rosto, desviando o olhar e tornando a mirar Nagihiko. Suas mãos suavam frio e ele não conseguiria responder nem mesmo qual era o seu próprio nome caso fosse perguntado.

— Eu... e-eu... q-queria... bem... v-você sabe... é meio estranho... você... v-você... e eu... s-sempre... e-eu esta-estava...

— Hotori-kun, fale logo... – Nagihiko levantou, exasperado, começando a se preocupar de verdade com a saúde de Tadase.

— D-desde s-sempre... mesmo a-a-antes... q-quando... e-eu sem-sempre…

— Sim?

— E-e-e-e-e-e-e-e-e-u... eu... g-g-g-g-g-os...g-g-g-go-gos-gos... e-e-eu... a-a-a-m...a-a-a-a-a-a-a-a-a-am...

— O passeio chegou ao fim, espero que tenham gostado, e voltem sempre – Tadase ouviu aquelas palavras ecoando em sua cabeça, tomando o lugar dos pensamentos que havia evaporado por inteiro segundos antes. O empregado que manipulava os controles disse, com um sorriso simpático no rosto, abrindo a porta da cabine.

Tadase estava com seu queixo caído, e se não estivesse bem preso ao rosto, teria se alongado até o chão. Ele não sabia se queria esconder seu rosto em um buraco, como um avestruz, e nunca mais ver a luz do dia, ou se pegava seu cetro de rei, do Chara Change, e batia a cabeça daquele maldito risonho. Nagihiko se adiantou, descendo da cabine, e estendeu a mão para Tadase, ajudando-o a descer. Ainda anestesiado pelo choque dos acontecimentos, tudo o que Tadase pode fazer foi aceitar o auxílio e se retirar ao lado de Nagihiko.

— Onde quer ir agora, Hotori-kun? – ele perguntou, tentando a perguntar o que era que ele ia dizer antes.

— Para casa – foi a única coisa que o atônito Tadase conseguiu pronunciar.

Os dois se encaminharam para a saída, com Nagihiko enfiando as mãos nos bolsos, pensando do que era o que Tadase ia dizer, enquanto este mal conseguia se aguentar em pé, com a indignação fervendo em suas veias. Ele havia passado por um gato preto? Por baixo da escada? Ele quebrou algum espelho por aí? Por que, o tamanho do seu azar só podia ser explicado por alguma coisa sobrenatural, ele tinha certeza disso.

Todas as vezes que tentou se declarar, e sempre que finalmente reunia coragem suficiente para enfim ser sincero com seus sentimentos e os confessar, alguma força maligna agia, impedindo-o. Seria um aviso para que ele parasse de tentar, ou era apenas um teste, para saber se seu amor era mesmo tão grande quanto ele julgara ser.

Sem que nem percebesse o tempo passar, ele já estava na frente da sua casa. Caminho de volta fora surpreendentemente mais curto que o de ida tinha sido.

— Hotori-kun, eu tenho que ir... – Nagihiko disse, se despedindo – Eu... adorei passar esse tempo com você, espero que tenha sido de alguma ajuda...

— Sim, foi... Você sempre é uma companhia agradável, Fujisaki-kun... eu que não devo ter sido tão boa companhia assim... agi estranho o dia inteiro, não foi? Peço desculpas por isso... – Tadase afirmou, sorrindo melancolicamente.

— Não mesmo. Eu gosto de estar com você sempre, Hotori-kun, sabe disso. E eu sei que quando você se sentir pronto, vai me dizer o que tanto o preocupa – Nagihiko sorriu, e Tadase sentiu seu coração martelar, e seu rosto formigar, ao ver aquele sorriso que tanto amava.

— Sim, eu vou, prometo – Tadase retribuiu o sorriso, um pouco mais animado – Aqui... – ele retirou um pedaço de papel amassado do bolso da bermuda, e estendeu à Nagihiko, que se surpreendeu – Me desculpe por toma-lo de você... não tenho justificativa para isso. Mas você deve ficar com ela... a pessoa que escreveu... quer que você fique.

— Você sabe quem foi?

— Sim, eu sei. Ela me disse... que não espera que você retribua, e que não quer que você a procure. Ela vai encontrá-lo, quando estiver pronta, quer dizer pessoalmente o que sente, dessa vez, e até que esse dia chegue, ela pede que você seja paciente – Tadase disse tudo de uma só vez, e Nagihiko pegou a carta, dobrando-a cuidadosamente e a colocando no bolso.

— Eu farei assim Obrigado, Hotori-kun.

— Até amanhã... – Tadase murmurou, dando um último sorriso a Nagihiko e entrando em sua casa.

Nagihiko suspirou, e olhou para a noite brilhante que se estendia. Pegou novamente a carta nas mãos, com uma sensação nostálgica se instalando em seu peito, e passou o caminho todo até em casa lendo novamente aquelas palavras, que poderiam muito bem ter sido escritas por ele mesmo, por que descreviam com surpreendente exatidão, os seus preciosos sentimentos pelo seu melhor amigo.








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Notas finais do capítulo

Nyaan~ finalmente consegui terminar *u* Espero que gostem do capítulo, por que deu maior trabalho. Escrever foi fácil u_u mas parecia que havia um complô contra mim, me impedindo de terminar ToT Sempre que eu tava empolgada, acontecia alguma coisa, e eu tinha que parar ._. Muito cruel isso~ mas eu venci todos os obstaculos, e aqui estou, postando o/
Aah~ por favor, deixem reviews!!! Eu percebo que todos estão sumindo rapidamente... hidooii!! O que está acontecendo? Os capítulos estão grandes demais... a história tá chata... vocês me odeiam... é isso??? *drama mode on*
Onegaai~ não me odeiem... ou ao menos digam o motivo, pra eu tentar melhorar, okee?
O próximo é com você, senpai o/ gambaremasu!
Maatta nee...