Ryan só não sabia que apesar do pior, Justin estava em boas mãos.

No cativeiro, Kris ainda pensava no que fazer. Peter voltaria logo. E, quando voltasse, jamais deixaria que ela cuidasse de Justin. Aquele corte poderia infeccionar, ou voltar a sangrar. Ela precisava agir rápido, mas como?! Como ela levaria ele dali??

Ele começa a recuperar os sentidos, sua primeira reação foi levar a mão ao machucado, onde doía. Kristin percebe e o adverte.

- Não se mexe... Fica quietinho... - Ela tira a mão dele.

- Tá tão feio assim?? - Justin perguntou, sem esconder a cara de dor.

- Er... Não! - Kris respondeu rapidamente, no susto. - Não, tá tudo bem, é só você não se mexer muito...

- É... Você mente tão bem quanto eu falo japonês!

- Não sabia que você falava japonês. - Ela esboçou o sorriso.

- E eu não falo.

Ela abaixou a cabeça por dois segundos, voltando a encara-lo. Sentia seu rosto queimar, sem saber ao certo o por quê.

- Você fica linda desse jeito.

- Que jeito?

- Assim vermelhinha...

- Não tô vermelha! - Ela leva as mãos ao rosto, sentindo a temperatura de suas bochechas.

- Tá sim, tá mais vermelha que esse pano aí. - Justin brincou, ela achou graça e riu, ele também tentou rir mas sentiu dor, dando um gemido alto, o que fez Kristin debruçar-se suavemente sobre ele, acalmando-o:

- Shhh, vai passar... Falei pra você não se mexer!

- Tá bom, eu não me mexo... - Justin segurou no rosto dela, trazendo-o para perto do seu e roubando-lhe um beijo lento e molhado.

Ela curtiu os primeiros momentos, ambas as linguas se conheciam suavemente, com desdejo de explorar um pouco mais do outro, mas afastou-se em seguida e Justin não entendeu.

- Que foi??

- Er... Fico com medo de você se mexer demais...

- Esse tipo de movimento só me faz bem... - Justin disse com uma expressão brincalhona. Mas que fez com que ela passasse suavemente a mão sobre o rostinho dele.

- Eu preciso tirar você daqui... - Ela pensou alto demais.

- Por que?

- Por que o que?

- Porque você precisa me tirar daqui...

- Ah... Porque sim, Justin... Porque é tudo culpa minha, porque eu não quero que ele machuque você de novo, porque pode ser perigoso deixar você nesse lugar imundo...

Justin não disse nada continuou olhando-a.

- Você me perdoa?

Ele sorriu, acenando positivamente com a cabeça. Ele a beijou rapidamente nos lábios.

- Você me conquistou, sabia... - Levantou da cama e olhou pela janela, viu que já estava anoitecendo. - Olha Jus... Já tá de noite... Como será que tá o pessoal lá na sua casa?

Justin sorriu, mexendo os ombros, como se não estivesse ligando. Na verdade, sua preocupação com seus pais e seus amigos naquele momento era bem menor que o medo que ele sentia de ficar sem Kristin. Ele acabou pegando no sono. Kris passou mais uma noite acordada velando pelo sono de Justin.

O sol estava nascendo e ela já tinha cochilado duas ou três vezes debruçada na mesa. Olhou no relógio... Seis da manhã... Quando tudo aquilo ia terminar? Ela tinha plena consciência, Justin nunca ia ser dela. Mas se ele saísse daquilo tudo vivo e ileso, ela já se dava por muito feliz. A claridade começava a adentrar a janela e incomodar Justin.

- Mãe... Ah mãe, não quero ir pra escola hoje... - Ele falou, dormindo, chamando atenção de Kris, que se levantou e foi até ele.

- Justin? - Ela coloca a mão sobre o rosto dele, ele estava com um pouco de febre.

- Deixa eu faltar na escola hoje, mãe... Eu não tô legal...

- Jus, acorda...

- Anh?! Ah... Oi, Kris...

- Tá sentindo alguma coisa?

- Só um pouco de frio...

Ela não sabia o que fazer. Naquela casa não havia cobertor e muito menos remédio para febre. Kristin começou a ficar preocupada e resolveu mantê-lo acordado. Deitou-se um pouco sobre ele, para aquece-lo. Puxou conversa:

- Er... Não dorme de novo não...

- Por que?

- Me conta de você... Você tem namorada?

- Não... Você tem?

- Também não tenho... Quantos anos você tem?

- Dezoito! - Justin respondia e Kris notava sua respiração meio ofegante, a voz mole. Definitivamente ele não estava bem.

- Eu tenho dezeseis...

- Só isso?

- Só... Pareço ter mais?

- Não...

Kristin se calou quando viu que ele preferia cochilar do que responder as perguntas dela. Olhava para Justin daquele jeito e sentia muito medo de perde-lo. Ela preferia mil vezes que a polícia a prendesse e jogasse a chave fora a ver Justin tão mal. E o pior era que seus pensamentos a assustavam por terem mudado de direção tão rápido. Num momento ela era a seqüestradora malvada e fria, no momento seguinte não passava de uma menina apaixonada e arrependida.

Quase oito da manhã, a hora passava e ela não sabia como fazer para tirar ele dali. Ouviram batidas na porta.

- Quem é?? - Kristin perguntou, incerta ao ouvir as batidas, sem levantar da cama.

Era Chloe. Ela que não havia participado quase nada daquele seqüestro, era a única mulher além de Kristin na turma, e as duas se entendiam bem nos “assuntos femininos” que pintavam vez ou outra.

- Sou eu, Bitch! Abre aqui pra mim...

- Você veio sozinha?

- Tô sozinha, os meninos nem sabem que eu vim pra cá!

Kristin levanta e finalmente abre a porta. Chloe entra, vê a mesa e vai até lá, colocando algumas sacolas sobre ela.

- Que é isso que você trouxe?

- Comida, achei que você fosse precisar...

- Meu, tu é um anjo!! - Kris grudou no pescoço da amiga. - Onde você esteve esse tempo todo?

- Tive que dar uma sumida... - Ela tirou o boné e o óculos escuro, soltando seus cabelos negros em seguida. - Os caras tavam atrás de mim... O bicho deu uma pegada...

- Nossa!

- Pois é... E aí, cadê o tal do Justin que os meninos tanto falam?