- Hm. – com um esforço gigante, eu afastei meu rosto do dele. – É melhor a gente ir pra outro lugar, meu pai vai chegar daqui a pouco.

Com um grunhido, Percy saiu de cima de mim e quase caiu do sofá. Eu me sentei, dando risada e ajeitando a blusa – que misteriosamente tinha se levantado um pouco.Caham. Percy riu também.

- Vem – ele chamou. – Vamos lá pra casa, lá eu explico tudo.

- Tá, só um minuto – pedi, correndo até a cozinha e escrevendo um bilhete, avisando que tinha saído. Colei na geladeira e peguei um casaco e meu celular. – Pronto.

Eu me senti meio envergonhada, de uma hora pra outra. Mas, quando estávamos caminhando, Percy viu que eu estava com frio (mesmo com o casaco gigante que eu tinha pegado) e colocou um braço no meu ombro, me puxando pra perto dele. Isso levou embora todo o desconforto.

Em pouco tempo, estávamos acomodados no sofá da casa dele.

- Pode começar a se explicar – ordenei, fazendo cara de brava.

- Ok. É o seguinte – ele se endireitou no sofá. – Eu saí do hospital e vim pra casa. Depois eu tive que viajar com a minha mãe. E só voltei ontem. É isso.

- Só? – ergui as sobrancelhas.

- Sim. – ele deu meu sorriso preferido.

- Nem liga pra avisar, seu chato. Pra onde você viajou?

- Pra uma cidade perto daqui, visitar minha avó. Desculpe por não avisar – ele fez uma careta de desculpas, e eu não consegui esconder o riso.

Eu estava gargalhando quando a mãe dele entrou na casa.

- Oi, querido. Olá – ela sorriu pra mim. Ela se parecia com ele, tinha os mesmos olhos verdes.

- Oi Sra. Jackson – eu sorri de volta.

- Mãe, essa é Annabeth – disse Percy.

Eu comecei a me levantar pra cumprimentá-la ou coisa assim, mas ela disse:

- Ah sim. A tal da Annabeth. Não se incomode de levantar. – e saiu da sala, tão do nada como tinha aparecido.

- Você falou de mim pra ela? – sussurrei.

Ele deu de ombros e pareceu envergonhado.

- Ah, você é muito fofo, sabia? – eu ri, apertando as bochechas dele. Ele se aproximou de mim e me deu um beijinho rápido. Deixei um sorriso escapar.

Então, a expressão dele mudou.

- Tem mais uma coisa. – ele parecia triste e preocupado.

- O quê? – franzi a testa e segurei a mão dele. Eu o ajudaria passar por qualquer coisa que fosse. Nada nos separaria de novo.

Percy suspirou fundo e cravou os olhos nos meus.

- Eu e minha mãe... Nós nos mudamos de Nova York faz pouco tempo, e agora a gente vai ter que se mudar de novo.

É, talvez eu esteja errada.

- Por quê? – quis saber.

- Ela vai se casar – ele revirou os olhos, parecendo nada feliz com aquilo. – O cara mora em Washington, é pra lá que nós vamos.

- Quando? – eu mal me sentia falando.

- Semana que vem – Percy mordeu o lábio inferior e desviou o olhar do meu.

Assenti lentamente, olhando pras nossas mãos juntas.

- Annabeth... – ele tentou tocar no meu rosto, mas eu me afastei.

Então eu explodi. Comecei a chorar desesperadamente, cobrindo o rosto com as mãos. Queria que um buraco no chão me engolisse. Ou que um carro me atropelasse, pelo menos dessa vez, de verdade. Minha cabeça girava tanto que eu me senti tonta. Um cantinho da minha consciência falou que eu devia me sentir constrangida de chorar assim na frente do Percy, mas eu mal notei esse pensamento.

- Ei – disse ele, me puxando pra perto dele e me abraçando. Eu afundei o rosto no seu ombro, me sentindo um pouco mais calma, mas não parei de chorar. – Calma. Nós vamos dar um jeito.

- Não tem jeito – eu falei, com um bolo na garganta. – Nunca dá certo pra mim. Nada.

- Não diz isso – ele ergueu meu rosto, me fazendo olhar pra ele. – Você é a pessoa mais esperta que eu conheço. Tudo tem um jeito pra você.

Meus olhos se encheram mais ainda de lágrimas.

- Queria que você estivesse certo.

Eu deixei a casa dele em estado de choque. Mal consegui andar de volta pra minha casa.

Quando entrei, meu pai e Helen me viram. A expressão dele era de total choque. Helen veio correndo me abraçar.

- Annie, querida, o que aconteceu? – ela perguntou baixinho, me guiando para a sala. Eles pareciam estar me esperando.

Funguei, e falei rápido.

- Percy vai se mudar semana que vem.

- Quem é Percy? – perguntou meu pai. Lembrei-me que não tinha comentado nada sobre Percy com ele.

- Ahn, um amigo. – dei de ombros.

Ele suspirou.

- Pra onde ele vai?

- Pra Washington.

Meu pai trocou um olhar estranho com Helen. Ele parecia esperançoso. Como assim?

- Ei – falei, me sentando no sofá. – O que está acontecendo aqui?

- Annabeth. Sei pai tomou uma decisão.

Olhei pra Helen, sem entender nada.

- Que decisão?

- Se você quiser, pode morar com sua mãe.

Abri a boca, mas não falei nada.

Minha mãe mora em Washington! – esse pensamento explodiu na minha cabeça.

- Ah – arfei. – Ah meu Deus. É claro que eu quero ir morar com ela!

- Bem, você parecia tão triste aqui... Achei que podia ser bom pra você. Ela pensa a mesma coisa. – meu pai falou. Ele pareceu meio triste, e eu me comovi com a tristeza dele.

- Ah, pai – pulei do sofá e o abracei. – Eu vou sentir saudade. Prometo que venho aqui sempre que puder. E que vou ligar uma vez por semana.

Ele sorriu, e eu me senti melhor. Soltei os braços dele, e Helen me sufocou num abraço.

- Eu também vou sentir saudade – ela disse, com a voz embargada.

- Ei – eu ri. – Deixa pra chorar no dia da mudança.

Fim ;)