POV. Nicole

Era setembro e conforme o tempo passava, ficava cada vez mais próxima de Pietro. Jogávamos videogame, contávamos piadas e zoávamos um da cara do outro. Apesar dele ser extremamente irritante, era legal passar um tempo com ele.

As aulas continuavam a mesma chatice de sempre e até os intervalos, fins de semana e tempos livres pareciam os mesmos. A vida começava a cair numa rotina chata até que certo dia a diretora interrompeu as aulas para dar um anúncio importante no auditório.

– Caros alunos, o colégio fará seu aniversário de duas décadas em poucas semanas e é com grande prazer que vos anuncio o primeiro baile do colégio! - começou um burburinho entre todos. As meninas se animavam e começavam a falar de vestidos e coisas de menina, os meninos reclamavam sobre o provável traje que seriam obrigados a usar. - Silêncio, por favor! Como já devem ter imaginado, o traje será formal e se preferirem pode vir acompanhados de alguém. Amanhã vocês estarão livres de suas obrigações estudantis para poderem comprar seus trajes e se prepararem. Agora podem voltar a suas salas de aula.

Dirigimo-nos à sala do 1º ano enquanto ouvíamos Isa tagarelar sobre os vestidos que estava planejando para nós usarmos. Os meninos só bocejavam e reviravam os olhos, assim como eu.

– É o seguinte: amanhã a gente vai acordar cedo. Bem cedo. - ela olhou pra mim ao dizer essa última frase, eu só revirei os olhos e continuei andando. - nós meninas vamos então olhar algumas lojas que conheço. Se não encontrarmos nada, vamos até a cidade vizinha. Meninos, vocês vem com a gente até a primeira loja, lá terá todas as roupas que precisam. Depois da primeira loja nos separamos então e nos encontramos na escola no fim da tarde.

– Isa, são só... vestidos. - Alice estava um pouquinho espantada com a empolgação da amiga

– Você não viu o planejamento para achar "o vestido perfeito" para nossa formatura do 9º ano... - Bianca revirou os olhos

– Caladas. Eu planejo tudo aqui. Vocês seguem o planejamento - Isa respondeu autoritária levantando levemente o queixo e apontando o indicador em nossa direção, como se nos desse uma bronca.

– Tá, tá, tá, chega de falar de vestidos e vamos entrar logo na sala que o professor já retomou a matéria. - Pietro disse empurrando todos pra dentro da sala. Como se ele fosse um exemplo de aluno... Só queria voltar pra sala porque seu PSP estava lá em sua carteira.

No dia seguinte, seguimos exatamente com o planejamento de Isabella. Não eram nem 15h e eu já estava exausta mas conseguimos "o vestido perfeito" para Alice e para Bianca. Eu já estava fazendo um esforço tremendo para andar e Isa ainda queria que eu experimentasse todos os vestidos das lojas. Mereço.

Até ela acabou achando um vestido que gostasse antes de mim. Eu simplesmente odiava o fato de ter que usar um vestido, ainda mais se este fosse cheio de brilhos e tule. Mas elas entendem? Claro que não.

– Nunca mais quero ver tule, lantejoulas, glitter ou a cor rosa na minha vida, entenderam? - eu disse ao entrar na última loja de todas da lista

Observei com cara de nojo os vestidos rosas cheios de brilho ou renda e tentei dar meia-volta mas Bianca e Isa me seguraram pelos braços e me arrastaram para ver mais vestidos.

– Alice, me salva! Pelo amor de Deus! - gritei desesperada e só recebi um riso como resposta. - Você vai morrer, ok? - disse com um sorriso inocente

Já havia experimentado cerca de dez vestidos e já não aguentava mais quando avistei O vestido nos braços de Alice.

– Alice. Me. Dá. Esse. Vestido. - eu estendi os braços como um bebê que quer colo e ela o entregou.

Coloquei-o em frente ao meu corpo e olhei no espelho. Era lindo: azul petróleo com estampa de zebra, a saia tinha uma espécie de babado e uma faixa preta com um laço marcando a cintura tornava-o perfeito. Corri para o provador e minutos depois estávamos no caixa pagando.

Enfim no colégio, deixamos as compras em nossos quartos e voltamos ao pátio onde os meninos deveriam estar nos esperando. Vazio.

– Onde eles estão? - Isa choramingou. Ela não gostava muito quando as coisas não ocorriam conforme o planejado.

Sentamos num banco e esperamos, esperamos e esperamos. Cerca de 15 minutos tinham se passado quando vimos eles chegarem e.... POR QUE PIETRO ESTÁ SEGURANDO AQUELAS FLORES?

– Nicole... podemos conversar? - ele disse envergonhado.

– Não, nem vem. - eu gritei assustada e tentei correr. Novamente minha queridas amigas fizeram o favor de me impedir. Qualquer dia vou matá-las lenta e dolorosamente.

– Nicole, são só flores! Você está com medo de flores? - Bianca riu tentando fingir uma cara de indignada.

– Não, claro que não... Estou com medo do que vem depois de receber aquelas flores. Agora me deixem passar. - sussurrei para elas falhando em mais uma tentativa de fuga. Obrigada amigas, também amo vocês.

– Vai lá. É só meu primo. - Bianca pediu

– Não. Ele tem flores. Ele quer alguma coisa. - eu disse com simplicidade.

– Nicole, você está com medo? Medo do amor? - Alice finalmente falou cruzando os braços

Pietro pigarreou, fazendo-me virar para encará-lo. Ele permaneceu no mesmo lugar que eu o havia deixado, ainda com o buquê de flores nas mãos.

– Podemos conversar? - ele insistiu

Bianca chutou minha canela. Olhei para ela e pude ler em seus lábios "vai logo" seguido de um aceno de cabeça na direção dele. Respirei fundo e contei até três mentalmente. Não podia mais negar, estava com medo do que poderia estar sentindo por ele e estava com medo dos sentimentos dele por mim. Não quero magoar ninguém, sabe...

– Ok, por que não? - e segui-o para um canto mais afastado de todos. Minha cabeça estava a mil, minhas pernas tremiam, minha garganta estava seca e olha que ele ainda nem tinha dito nada.

– Nick, olha... não sei bem como começar a dizer isso.... - ele não parava de passar a mão no cabelo indicando que estava nervoso - Tó, pra você - ele me estendeu as flores, mais vermelho que um pimentão e eu não devia estar muito melhor.

– O-obrigada. - tem como virar um avestruz? Seria bem útil ser um avestruz numa hora dessas - Mas... sobre o que você queria falar?

– Bom, a diretora disse que podíamos levar um acompanhante pro baile e eu pensei... eu pensei... se você queria ir comigo. - ok, agora eu viro um avestruz...... Por que não virei um avestruz? Quero explicações, mundo.

– Ah, pode ser... - por que eu mal conseguia formar frases inteiras perto do cara que por acaso é o mesmo idiota que tenho que aturar todo dia? É só o Pietro, gente. O que está havendo comigo?

Consegui abrir um sorriso, ele retribuiu e passou a mão no cabelo novamente antes de continuar.

– Tá, então... até lá - e acenou ainda muito nervoso. Não pude deixar de rir.

– Ô coisa, a gente vai se ver todos os dias antes desse maldito baile. Relaxa. - eu disse rindo mas não consegui acreditar em minhas próprias palavras. Eu estava pedindo para ele relaxar sendo que eu estava em uma situação muito pior.

– Ah é. Então até mais tarde no LoL. - ele riu, acenou e virou-se para ir embora. Eu fiquei parada ali por mais um tempo, sentindo o perfume das flores em meus braços e tentando voltar a pensar.

Como ele queria que eu continuasse jogando League of Legends e convivendo normalmente com ele depois daquele convite? Bom, evitá-lo eu não vou, portanto, o melhor mesmo é continuar a fazer o que fazíamos antes, como se nada tivesse acontecido. Oh Deus, desejem-me sorte porque vou precisar.