Nemesis X: A Guerra Secreta escrita por Goldfield


Capítulo 9
Capítulo 8




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Capítulo 8

 

Terra de ninguém.

 

Uma estrada asfaltada deserta. De ambos os lados, apenas árvores, arbustos e cactos carbonizados. A terra, combinando com o sol do entardecer, ganhava um perturbador tom laranja-avermelhado.

Um veículo motorizado solitário, semelhante a um carro-forte, avançava um tanto lento pelo caminho. Em seu interior, protegidos pela couraça anti-radioativa do transporte, quatro indivíduos, três homens e uma mulher, observavam o trajeto como civis visitando um campo de batalha depois de uma sangrenta guerra.

         Eu não acredito que estou voltando para cá após tantos anos... – murmurou Carlos Oliveira, no banco de trás junto com Ada Wong.

         Relaxe, garoto... – riu Jack Krauser, num dos assentos da frente ao lado de Billy Coen, que dirigia o veículo. – Não espera encontrar ainda algum zumbi perambulando pelas ruínas, espera?

O sarcasmo constante do loiro já estava irritando o brasileiro. Mas ele e Ada teriam de agüentá-lo. Fora graças aos passes que ele conseguira que o grupo pudera penetrar na área restrita. Krauser também providenciara aquele furgão protegido e os trajes anti-radioativos que vestiriam quando explorassem o local a pé. Apesar de inconveniente, o brutamontes mutante mostrava-se bastante útil.

         Raccoon City era uma cidade industrial de porte médio com aproximadamente cem mil habitantes... – murmurou Coen. – Como esperam encontrar a entrada para o suposto laboratório subterrâneo?

         A Umbrella tinha seus caprichos... – sorriu Ada. – Acredite, não será difícil.

Billy assentiu, olhos fixos na estrada. Nisso, passaram por um outdoor parcialmente queimado com os dizeres “Bem-vindo a Raccoon City”. Eles não poderiam ser mais bem recepcionados...

 

Um homem usando traje protetor contra radiação amarelo caminhava lentamente pela área relativamente conservada da floresta de Raccoon. Transpondo troncos de árvores caídas, cruzando arbustos espessos, deparando-se aqui e ali com o esqueleto de algum animal aniquilado, o personagem, tendo em mãos um medidor de radiação, parava por demorados segundos junto a qualquer coisa que parecesse suspeita. No horizonte, o sol se escondia atrás das montanhas Arklay, já encerrando seu turno diário.

Num dado momento, o indivíduo atingiu uma clareira. Percorrendo-a, logo se viu de frente para o que considerava um verdadeiro marco histórico: os escombros da antes imponente Mansão Lord Spencer. A residência onde tivera palco o início do fim para a Umbrella.

Como o aparelho que media os níveis radioativos registrava uma quase total ausência de perigo naquele local, o homem resolveu retirar a parte superior do traje para contemplar melhor o que restara da propriedade. Com a cabeça agora exposta, Leon S. Kennedy fitou o amálgama de paredes e teto carbonizados com firme emoção.  Ali seus amigos haviam tido o primeiro contato com as aberrações criadas por cientistas totalmente desprovidos de ética. Ali a luta contra a Umbrella e seus atos cruéis também começara.

Imerso em tais pensamentos, Leon foi surpreendido por um inesperado som gutural. Mais precisamente um rosnado. Logo ele transformou-se em vários, vindos de todas as direções. O agente do governo olhou ao seu redor, coração disparado. Estava cercado por quatro cães dobermann sem pele, cegos e com diversos órgãos internos à mostra, suas carnes possuindo grotesco tom esverdeado. Kennedy engoliu seco. Ainda havia moradores naquele local.

 

O veículo guiado por Billy Coen percorria as ruas centrais da antiga Raccoon. O asfalto destas parecia arder, apesar do sol estar prestes a se pôr. Por toda parte as construções arruinadas e os carros retorcidos afugentavam possíveis forasteiros. Era um cenário terrível de se ver. Pessoas inocentes morreram ali devido à ganância dos homens por trás da Umbrella. E agora o último esconderijo de um de seus ex-integrantes remanescentes muito provavelmente se encontrava embaixo daquelas ruas mortas.

         Muito bem, Ada, onde vamos procurar primeiro? – inquiriu Krauser.

         Pare aqui mesmo... – murmurou a espiã. – Estou com um palpite muito forte...

Coen obedeceu, freando o furgão. Estavam no meio de um cruzamento. Numa das esquinas, uma placa de metal tombada e deformada indicava a proximidade do extinto R.P.D., seu suntuoso prédio feito em pedaços pela explosão nuclear. Os quatro ocupantes vestiram os trajes protetores e saíram do veículo a passos lentos, olhando tudo que os cercava. A alguns metros de distância, um amontoado de ruínas ostentava a placa “Loja de Armas Kendo”. Para Ada e Carlos era uma experiência ímpar visitar Raccoon após a total devastação causada pelo míssil.

         O impacto da bomba ocorreu na área do zoológico, não muito distante daqui... – disse Krauser, examinando um medidor de radiação que segurava. – Por isso os níveis radioativos estão consideravelmente altos. Não tirem essas vestes protetoras sob hipótese alguma!

Todos concordaram, apesar de Oliveira desejar do fundo de sua alma ver Jack derreter sobre o asfalto fritando como um porco no rolete. Devagar, o grupo começou a circular pelos arredores, atentos a qualquer evidência de uma passagem para o subterrâneo. Ada, que se lembrava vagamente daquela vizinhança quando nela estivera em 1998, após alguns minutos encontrou uma escada que levava a uma antiga estação de metrô, e a passagem aparentemente não desabara. Satisfeita com o achado, acenou para os companheiros, que se aproximaram cautelosamente. O que não sabiam era que olhos ameaçadores atentavam para todos os movimentos que executavam, aguardando o momento perfeito para o ataque...

 

Leon se lembrava daqueles monstros. Cerberus, os cães mutantes criados pela Umbrella. Porém algo os tornava ainda mais incomuns, como se estivessem mais fortes e agressivos que o normal. Bem devagar, evitando de todo modo efetuar movimentos bruscos, o agente levou uma das mãos até a cintura, sacando sua pistola... As aberrações continuavam rosnando, lançando ao chão espessas quantidades de saliva... Kennedy ergueu a arma lentamente na direção de uma delas, à sua frente, dedo pronto no gatilho...

Foi quando o primeiro cachorro investiu pela direita do encurralado ex-policial. Este se virou velozmente, mirando a ainda mais rápida criatura. Disparou. A bala atingiu o pescoço do dobermann, lançando-o temporariamente para trás num ganido.

O barulho do tiro despertou os outros três. Leon tinha de se mover sem demora, ou seria abocanhado por seus agressores. Todavia, aquele incômodo traje protetor reduzia drasticamente sua mobilidade. Precisava se livrar dele e ao mesmo tempo buscar uma boa posição para eliminar os cães em segurança.

O marido de Claire rolou na direção que estava livre. Um dos cães saltou sobre si, suas patas traseiras chegando a tocar as costas do federal. Em seguida este se voltou para as armas biológicas e pressionou o gatilho duas, três vezes. Um dos animais, vencido, caiu inerte numa poça de seu próprio sangue. O primeiro que atacara Leon tomou impulso e tentou pular em cima do pescoço da presa, porém foi atingido por uma bala entre os olhos mortos.

Os dois restantes, rosnando, passaram a circundar Kennedy, que, fazendo o mínimo possível de som, começou a retirar a roupa protetora. Em seguida, vestindo agora apenas camisa e calças, apontou de novo sua pistola para um dos monstros. Dois tiros rápidos bastaram para mutilar ainda mais o corpo podre da bizarrice. Já o último cão avançava correndo rumo a Leon, dentes prontos para rasgar sua pele. Assim que o mutante impeliu-se para cima, o agente abaixou-se agilmente, fazendo com que a fera errasse o ataque e aterrissasse pouco à frente do herói. Fazendo uso dessa vantagem, ele acertou-lhe duas balas pelas costas, tirando-o de ação para sempre.

Fitando os cadáveres dos cachorros e depois os restos da mansão, Leon suspirou de alívio e cansaço. Estava suado. Logo após recarregar a arma, o agente do governo procurou pelo medidor de radiação em seu cinto, porém ele não mais se encontrava nele. Olhando ao redor, encontrou o frágil aparelho eletrônico espatifado em meio à relva, totalmente inutilizável. Para piorar, seu comunicador também parecia não mais funcionar.

         Ótimo! – resmungou, enxugando a testa.

Já era noite. Achando-se com sorte por estar numa área livre de perigo radioativo, mas sem a menor idéia de para onde seguir, Kennedy sentou-se junto ao portão da destruída propriedade de Spencer e coçou um dos joelhos. Pensou em Claire. Poderia até morrer de câncer naquele lugar, porém a encontraria antes!

 

Carlos, Jack e Billy caminhavam cautelosos até a entrada encontrada por Ada, quando ouviram um estridente e inumano grito. Em alerta, os integrantes do grupo sacaram as armas que traziam presas às costas: o brasileiro apanhou um fuzil M4A1, Krauser uma espingarda calibre 12 personalizada com mira laser, Coen uma submetralhadora Uzi e Wong uma arrojada besta metálica carregada de flechas explosivas. Os quatro humanos olharam em volta. O autor do aterrorizante som não estava à vista.

         O que... Quem? – balbuciou Oliveira, confuso.

         Não deveria haver nada vivo na superfície... – murmurou Jack. – A não ser que...

O movimento do agressor foi deveras rápido. Uma figura verde corcunda saltou de trás de uma parede destroçada, movendo-se como um raio na direção dos forasteiros. Todos ali conheciam a forma e a aparência daquela criatura, e somando-se ainda seus característicos movimentos, era evidente que se tratava de um Hunter... Todavia, conforme o monstro se aproximou mais aos berros, puderam perceber significantes diferenças...

Havia grossas veias e artérias bem visíveis sob a pele escamada do mutante, como se fossem arrebentar a qualquer momento jorrando sangue. Por todo o corpo da arma biológica via-se também protuberâncias em tonalidades roxas e amarelas, como se fossem bolhas, caroços ou qualquer coisa parecida, algumas enormes. Para completar o bizarro quadro, uma viscosa baba escorria em litros da boca sedenta da aberração, que exibia fileiras de dentes extremamente afiados.

         A radiação fez com que sofressem novas mutações... – concluiu Ada.

Mas os homens do time não esperaram explicações: abriram fogo rapidamente, retalhando o Hunter com as balas antes que ele chegasse perto demais. O ser contaminado emitiu ruídos agonizantes e depois tombou banhado por seu próprio sangue esverdeado.

         Não estamos sozinhos aqui, de qualquer forma! – riu Billy.

         Não mesmo! – exclamou Carlos, apontando para algumas ruínas do outro lado da rua.

Mais Hunters surgiam pela área, vindos de restos de construções, carcaças de veículos e becos obscuros. Dezenas. De alguma forma, Ada percebeu que eles pareciam organizados entre si, como se houvessem desenvolvido algum tipo aprimorado de inteligência. O grupo humano se desesperou. Seria impossível resistir a todos eles.

         E agora? – quis saber Krauser.

         Vamos descer, rápido! – respondeu a mulher, já descendo pelos degraus rachados da escada que levava à estação de metrô.

Com um coro de berros os monstros partiram para o ataque, e ao mesmo tempo os três combatentes seguiram a espiã rumo ao subsolo, disparando com as armas para manter os inimigos afastados. Num dado momento um Hunter se adiantou e saltou para decapitar Oliveira, porém Billy o salvou com uma rajada rápida da Uzi, fazendo a criatura rolar morta pelos degraus. Jack quase tropeçou no cadáver, voltando-se a todo instante para trás com o intuito de desferir mais alguns tiros contra os répteis mutantes.

Logo atingiram o primeiro piso da estação, o ambiente estando razoavelmente conservado. Alguns poucos Hunters os seguiram até ali, porém logo foram aniquilados pelas flechas de Ada. Em seguida mais nenhum desceu. Dada a aparente inteligência desenvolvida daquelas criaturas, tal comportamento encheu Wong de temores. Talvez houvesse ali algo de que os caçadores da superfície tinham medo e não ousavam enfrentar...

A passos lentos, observando atentamente o local, a equipe atravessou um antigo portão retorcido. A escuridão fez com que acendessem lanternas, os lânguidos feixes de luz pairando sobre diversos pontos do cenário. Ainda havia alguns objetos como maletas, bolsas e celulares jogados pelo chão, demonstrando o desespero das pessoas ali presentes quando do ataque dos zumbis. Os últimos resquícios da vida antes levada pela extinta população de Raccoon City.

         Se lá em cima era um cemitério, aqui embaixo é uma tumba... – disse Carlos, sentindo calafrios.

         Creio que o que procuramos está por aqui, examinem tudo! – Ada estava convicta.

Dois lances de escada distintos levavam até a antiga área de embarque um andar abaixo. Um par de portas escondia os banheiros, e um outro, corredores estreitos que levavam às salas de controle e administração. A lanterna de Krauser focou um corpo carbonizado junto a uma parede. Virando-se para Oliveira, Wong perguntou a ele:

         Você já esteve aqui, não? Lembro-me de ter lido um relatório alguns anos atrás sobre seus passos em Raccoon durante a epidemia...

         Quem escreveu isso se enganou! Eu nunca estive no metrô durante aqueles eventos! Talvez você tenha lido algum resumo distorcido elaborado pelo governo...*

Ada sorriu por um instante e então prosseguiu com sua busca.

Súbito, Coen encontrou algo. Abaixando-se junto a um canto, tateou com a mão protegida o que parecia ser um casulo ou algo semelhante, mais ou menos do tamanho de um barril. Com os dedos cheios da gosma branca que abundava no achado, o ex-fugitivo voltou-se para os outros e exclamou:

         Venham ver isto aqui!

Os três chegaram perto, as lanternas iluminando o repugnante envoltório. Havia um buraco na parte superior, indicando que o ser que nele se desenvolvera já havia saído de seu sono. Ada gelou. Havia características de casulos feitos por insetos naquele em questão, o problema é que era centenas de vezes maior. Isso levava a concluir que...

Sem mais nem menos, uma outra fonte de luz surgiu na escuridão, e não se tratava de nenhuma lanterna. Apreensivo, o grupo viu a quantidade de focos aumentar, cores variadas, sempre de dois em dois, evidenciando que na verdade eram olhos... Os soturnamente brilhantes olhos dos atuais moradores da rede de metrô!

         Corram! – Jack deu a ordem.

Os invasores avançaram velozmente rumo a uma das escadas até a área de embarque, a aparência das criaturas que os perseguiam se tornando nítida vez ou outra quando banhadas pela luz: insetos híbridos e enormes, alguns das dimensões de um urso. Seus membros peludos e finos poderiam partir um homem em dois sem dificuldade. O subsolo tornara-se a colônia daqueles monstros, e todos que nela se infiltrassem pagariam o preço.

Depois de vencerem os degraus quase tropeçando ou esbarrando em outros casulos pelo trajeto, os intrusos viram-se apenas com uma opção para prosseguirem, pois um dos sentidos do túnel do metrô fora bloqueado por soterramento. Sem pestanejar, Ada saltou para os trilhos e continuou correndo na direção livre, seguida pelos demais. Os insetos gigantes estavam em seus calcanhares, sendo repelidos por constantes disparos. Encontravam-se talvez em maior número que os Hunters da superfície.

A única luminosidade vinha das lanternas que distinguiam parcamente o que havia diante dos quatro humanos e dos olhos brilhantes das aberrações perseguidoras logo atrás. Passaram por um vagão tombado, um buraco em meio aos trilhos do qual por pouco desviaram... Os insetos andando pelas paredes e pelo teto... Tiros e alguns despencando ao chão tendo espasmos, gosma branca escorrendo de seus cadáveres... E Raccoon City estava mais viva do que haviam imaginado.

De repente, surgiu algo na frente dos sobreviventes, cercando-os e fazendo toda a estrutura do túnel tremer. Os feixes de luz se concentraram no que era uma espécie de mariposa marrom gigantesca, seu enorme corpo obstruindo todo o caminho, substância alva e viscosa lubrificando seus membros ameaçadores. A rainha da colônia. E teriam de encontrar um jeito de passar por ela.

         Foi bom conhecer vocês! – Carlos se desesperou.

         Bem, essa coisa aí é grande, mas com certeza não é blindada! – grunhiu Jack. – Fogo!

As balas começaram a se alojar na couraça do imenso inseto, que investiu sobre os adversários dando um pulo para frente. Estes escaparam correndo para trás, os tiros se alternando entre a rainha e seus soldados. A pressão aumentava, o espaço livre diminuía. Logo seriam massacrados pelas hordas subterrâneas.

         Últimas palavras? – gritou Billy.

         Ainda não acabou! – replicou Ada, cerrando os dentes enquanto distribuía flechas explosivas entre os inimigos.

Houve um estrondo. Totalmente repentino. O túnel tremeu mais, o chão simplesmente começando a se esfarelar, os trilhos se desmanchando e caindo num abismo negro. Os insetos se dispersaram, a rainha sendo empalada por pedaços de ferro que romperam não se sabe de onde. Uma onda de gosma branca. Vestes de proteção sujas, dores. A equipe também despencou, sem ter no que se agarrar. A queda foi curta, os integrantes pousando numa grande pilha de entulho. Rasgos, alguns cortes. Escorregaram pelos escombros em meio à poeira até atingirem uma superfície plana, pedaços do túnel ainda se desprendendo acima de suas confusas e atordoadas cabeças.

Súbito, várias luzes se acenderam seguidamente pelo lugar, fazendo com que apagassem as lanternas. Wong examinou o agora claro ambiente com minúcia: paredes de metal, dimensões de uns trinta metros por quinze, algumas caixas e contêineres aqui e ali... Uma área de carregamento e descarregamento, sem dúvida. Havia encontrado o que buscava.

Uma grande porta do lado oposto ao que estavam se abriu, deslizando lentamente com um “hum” mecânico. Dez soldados surgiram correndo pela entrada, usando uniforme tático completo, capacetes negros lhes ocultando as faces e tendo em mãos metralhadoras que logo foram apontadas para os recém-chegados. Estes ainda se recuperavam da queda e não seriam capazes de reagir sem serem fuzilados, portanto entregaram as armas. Com os braços erguidos, viram um homem loiro de roupa cinza surgir entre seus aparentes comandados, mãos unidas atrás da cintura enquanto falava em tom irônico:

         Foi uma chegada inusitada, tenho de confessar.

Ada franziu as sobrancelhas, fitando fixamente o rosto do sujeito e então o reconhecendo quase num murmúrio:

         Burke!

 

Leon, ainda andando pela floresta, começava a ser coberto pela escuridão da noite. Prosseguia sem o traje protetor e com uma lanterna iluminando o trajeto, tomando cuidado para não trombar com troncos e arvoredos. E, conforme averiguava a região, um sorriso surgia no rosto do agente, devido a uma interessante descoberta...

Segundo os antigos arquivos da organização anti-Umbrella da qual fizera parte, as instalações da empresa nos arredores de Raccoon consistiam na Mansão Spencer, cujas ruínas encontrara há pouco, o antigo Centro de Treinamento e o complexo industrial que escondia no subsolo o laboratório de William Birkin. Todavia, havia achado os destroços de um quarto local, aparentemente uma mansão, que não constava em quaisquer registros. Isso o intrigou.

Com cuidado, Kennedy passou a examinar os escombros carbonizados, encontrando vestígios da outrora rica decoração interior da residência: restos de quadros, mobília... Súbito, pisou em falso, despencando para dentro de uma abertura oculta por vigas de madeira que antes compunham o teto. Rolou pelo que aparentemente eram os degraus de uma escada, até atingir um chão de concreto. O ambiente no subsolo foi então iluminado por lâmpadas nas paredes, provavelmente acionadas devido à presença de Leon. O lugar estava visualmente intacto. Era na verdade uma área de embarque onde, estacionado sobre uma rede de trilhos, havia um imponente trem com o símbolo da Umbrella e o número de série "Alexi-5000". Devia estar abandonado ali há anos. A linha férrea seguia por um túnel subterrâneo na direção do antigo setor urbano de Raccoon City.

Leon constatou que o trem era idêntico ao que utilizara em 1998 para escapar da cidade junto com Claire e Sherry. Entrando nele por uma porta, viu que a parte interna também era a mesma e, vencendo a pequena escada que levava à cabine de controle, deparou-se com o mesmo painel repleto de botões e uma alavanca principal. Ainda sabia colocar aquele comboio metálico em movimento.

Determinado a encontrar sua esposa seqüestrada, o Secretário de Perigo Biológico ativou os controles, fazendo com que uma infinidade de pequenas luzes se acendessem por toda a cabine. Instantes depois, o pesado trem avançava túnel adentro, um mapa tridimensional num monitor mostrando o caminho tomado. Dirigia-se finalmente ao coração de tudo...

 

Alfa, um tanto entediado, enrolava os longos fios loiros de seu cabelo com os dedos. Sentado numa cadeira giratória, encontrava-se cercado de monitores ligados, cada qual mostrando uma parte diferente do amplo complexo de pesquisas. Por um momento lembrou-se do infeliz Emanuel Deller, antigo chefe da White Umbrella, que passara seus últimos dias de vida dessa forma na Sibéria. O alvo e forte homem riu. Era de uma linhagem pura e sapientíssima, nunca poderia se comparar a um perdedor como o antigo amigo de Lord Spencer...

Foi então que, observando numa das telas que o antigo trem subterrâneo presente na rota de emergência das montanhas Arklay fora posto em movimento, o superior de Josh Burke começou a cantarolar mentalmente a música que compusera no decorrer dos anos, balada ideal para sua vingança...

 

The naive King came back from hell
With a war plan very hard to tell
He would succeed where, the Queen had failed
His name would now cause every kind of fear
A candy laugh will be a very sad tear
Power he’ll have and power is life!

 

(*) – Crítica ao fato de no jogo “Resident Evil: The Umbrella Chronicles” o cenário referente ao Resident Evil 3 deturpar totalmente a história original, excluindo personagens e mostrando Jill e Carlos em locais onde jamais estiveram em Raccoon, como o metrô.

 

Continua...


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