Nemesis X: A Guerra Secreta escrita por Goldfield
Capítulo 9
O último complexo.
O grupo invasor proveniente do metrô, com os trajes de proteção em frangalhos e corpos ainda sujos de gosma, era escoltado por quatro guardas pelos corredores do complexo subterrâneo. Conforme andavam, os recém-chegados notavam o contraste entre cada ambiente. Enquanto alguns eram rústicos, sombrios e estreitos, revestidos de pedra e parecendo estarem a ponto de desabar, outros eram modernos, metálicos e sofisticados, com boas iluminação e limpeza. Aquele curioso e escondido local servia de atual residência ao homem que capturara os intrusos. E agora eles teriam uma conversa com ele...
Os soldados deixaram os prisioneiros diante de uma porta dupla de madeira, que diferenciava muito do aspecto cinza e tecnológico do corredor em que se localizava. Krauser tomou frente, girando uma das maçanetas douradas. Abrindo caminho, ele e seus companheiros se depararam com uma aconchegante e ricamente decorada sala de comando. Via-se tapetes persas no chão e um lustre prateado no teto, várias estantes de livros, uma lareira acesa, animais empalhados aqui e ali e, atrás de uma mesa de mogno, Josh Burke encontrava-se sentado com os braços cruzados e face enigmática.
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Assim o fizeram, admirando o cômodo calados conforme se posicionavam diante do móvel. Carlos, depois de notar o emblema vermelho e branco da Umbrella no chão parcialmente oculto sob um dos tapetes, foi o primeiro a se manifestar:
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Era amargamente irônico o grupo ter sido livrado da morte certa graças a aquele canalha. Ele desejava que o encontrassem, afinal de contas, e isso não era bom. Aproximando-se da mesa e debruçando-se sobre ela, Wong fitou fundo os olhos de Josh e perguntou, voz cheia de astúcia:
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Os quatro guardas entraram na sala, fazendo gestos com as armas para que os prisioneiros voltassem com eles ao corredor. Antes de sair, Wong virou-se uma última vez para Burke e disse, sem ter se abalado em nada com aquela conversa:
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Em seguida saíram e Josh ficou sozinho na sala, rindo enquanto olhava para o visor de um pequeno dispositivo eletrônico sobre a mesa. O trem de emergência já estava chegando ao complexo, e ele queria estar lá para recepcionar seu ocupante...
Trancafiada em sua cela gelada e monótona, Sherry Birkin ficou surpresa quando Hunk chegou ao setor com os novos quatro prisioneiros. A promotora conhecia dois deles muito bem: cruzara com a figura de Ada Wong algumas vezes durante o desastre em Raccoon e quando fora seqüestrada por Wesker em 2004, e Carlos Oliveira fora justamente um dos heróis que a haviam salvado do crápula. Já o outro homem moreno e o loiro ela nunca vira na vida, mal sabendo que Coen e Krauser eram os responsáveis pelo atentado que sofrera em Washington algum tempo antes.
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Sherry suspirou, sentando-se encolhida no chão. Sempre que ouvia falar daquele maldito vírus, não conseguia ver a si mesma senão como uma cobaia utilizada friamente pelos pais. Ela em seguida respondeu:
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Wong viu que devia certas explicações à jovem, mesmo sendo vagas, já que não poderia revelar toda a história. Talvez fosse uma tarefa difícil, pois ela não sabia qual o nível de conhecimento de Sherry quanto àquilo tudo. Encostando-se às grades que compunham a divisória com a cela vizinha, a espiã limpou a garganta e então começou a falar...
Hunk deixou às pressas a área de detenção porque sua presença era necessária em outra parte do complexo: o trem subterrâneo vindo da saída de emergência nas montanhas Arklay estava a instantes de chegar. No setor de desembarque, Burke, o “Sr. Morte” e mais cinco guardas estavam de armas em punho esperando a aparição de Leon.
As luzes frontais do trem logo iluminaram o túnel, o chão tremendo devido ao peso do veículo. O monstro de ferro surgiu pelos trilhos e foi desacelerando até parar por completo diante dos sete anfitriões. Sorrindo, Josh assumiu a liderança e entrou na locomotiva. Os outros o acompanharam, enquanto exclamava:
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Com uma pistola Colt calibre 45 na mão direita, Burke subiu pelos degraus que precediam a cabine de controle. Antes de entrar pela porta, olhou através da pequena janela que ela possuía. Não viu ninguém do outro lado. Intrigado, avançou bruscamente junto com os soldados. Realmente não havia pessoa alguma ali dentro.
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A inteligência de Leon superou a de Burke. Assim que ativou os controles do trem debaixo dos escombros da mansão, o agente percebeu que todo o resto do procedimento era automático, inclusive a parada no destino. Ou seja, ele não precisaria operar mais nada manualmente. Pouco antes de o comboio chegar às instalações, o marido de Claire subiu para o teto do trem, procedimento que já havia feito antes em Raccoon City, 1998, e ali permaneceu deitado sem que ninguém o percebesse. Quando Josh e seus comandados entraram na locomotiva caçando-o, Kennedy tratou de saltar rapidamente para a plataforma e desapareceu num piscar de olhos por um duto de ventilação. O treinamento especial que recebera do governo auxiliou-o nessa tarefa.
Esgueirando-se agora pelo verdadeiro labirinto de caminhos, Leon perguntava-se onde poderia encontrar a esposa. O complexo parecia ser bastante amplo, e talvez levasse tempo para explorá-lo sem ser descoberto. A guarda de Burke estaria em alerta máximo à sua procura, e ele teria de redobrar os cuidados.
Depois de alguns minutos se locomovendo pelos dutos mal-cheirosos, o secretário chegou a uma sala que aparentemente estava livre de presença humana. Mesmo temendo ser descoberto, removeu silenciosamente a grade que tampava o final do duto e saiu.
A abertura ficava acima de uma porta. Leon pendurou-se na borda e desceu, caindo de pé sobre uma passarela de metal. Por sorte não havia mesmo nenhuma pessoa à vista. O local era grande e um pouco escuro, sendo que a principal fonte de luz provinha... Não, não era possível!
Metros abaixo de seus pés, o agente governamental viu uma série de câmaras enfileiradas e iluminadas, sendo que cada uma delas continha em hibernação um T-00, o mesmo mutante de sobretudo verde que ele e Claire haviam enfrentado em Raccoon. Havia centenas deles ali, confinados até que a mente insana de Burke resolvesse colocá-los em ação. Leon gelou. Finalmente compreendeu a guerra secreta que seus inimigos vinham preparando.
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Ele e seus aliados certamente não tinham muito tempo. Era preciso deter Burke imediatamente. Mas antes precisava encontrar Claire. A essa altura já poderia até estar morta...
Na área de detenção do complexo, os prisioneiros circulavam impacientes. Ada já havia contado a Sherry o motivo de estar ali com os três homens, omitindo determinadas partes, e agora a promotora suspirava desanimada. Estavam mesmo enrascados. Billy perguntou a Jack:
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O loiro musculoso grunhiu irritado, sentando-se de cócoras num dos cantos da cela. Permaneceram silenciosos, tentando esboçar um plano ao menos razoável em suas mentes cansadas e sob pressão do instinto de sobrevivência.
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A porta da sala de controle se abriu, Alfa girando sobre sua cadeira para poder olhar o recém-chegado. Era Burke, um tanto afoito. Coçando o queixo, o loiro de cabelos compridos ouviu seu comandado perguntar:
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Alfa abriu um sorriso maligno e astuto. Muitas vezes sua perspicácia sutil e velada assustava até Burke. Depois de dar mais um giro sobre o assento e assim vistoriar rapidamente os monitores das câmeras de segurança, o comandante voltou a fitar seu braço-direito e disse-lhe sem se abalar:
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Transcorreram alguns segundos de silêncio antes de Josh se manifestar:
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Burke se retirou a passos rápidos. Voltando-se para as telas, Alfa fechou os olhos e pôde visualizar o caos que se espalharia pelo mundo dentro de vinte e quatro horas. Seu triunfo, sua concórdia.
Um bar nos subúrbios de Washington, nove da noite.
O ambiente é dominado por fumantes e alcoólatras, além de alguns grupos de freqüentadores a jogar cartas nas mesas. Algumas garçonetes trajando pouca roupa zanzam para lá e para cá com bandejas contendo bebidas e petiscos, sendo quase sempre bolinadas pelos fregueses, sem que no entanto se incomodem muito com isso, dando risadinhas de vergonha. Junto ao balcão, segurando uma garrafa de cerveja já quase vazia, um homem se encontra imerso em seus pensamentos. Trata-se de Kevin Ryman, que praticamente todas as noites podia ser encontrado naquele estabelecimento que de certa forma fazia-o lembrar do extinto J’s Bar de Raccoon City.
Um tanto bêbado, o ex-policial passa a ouvir uma agradável música de Chuck Berry tocada por um rádio perto de si. Ela o faz relaxar um pouco, porém é incapaz de apagar suas sangrentas recordações, visões de um passado terrível. Sente-se em plena fossa, quando de súbito seu olfato percebe um suave perfume, coisa difícil de se encontrar naquele local que mais parecia um chiqueiro. Ele olha para sua esquerda e, surpreso, vê Rebecca Chambers sentada logo ao lado, usando uma blusa verde e tendo bonitos brincos nas orelhas.
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Kevin sorriu e então indagou:
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O colega de Rebecca arregalou os olhos, porém acabou dando uma gostosa risada, sendo acompanhado pela jovem. Como era bom abandonar um pouco o mundo de constante apreensão no qual viviam!
Leon conseguira passar várias horas escondido dentro de um dos banheiros do complexo, mais precisamente dentro de um dos cubículos contendo vaso sanitário. Os guardas eram no mínimo incompetentes para não o terem procurado ali.
Ainda sentado sobre o chão frio, o agente ouviu a porta da sala se abrir. Parecia que alguém finalmente viera averiguar o local. Kennedy pendurou-se na entrada do cubículo e olhou para fora por cima dela. Para sua grande surpresa, era o próprio Burke quem acabara de entrar. Silencioso, o federal percebeu que o inimigo estava visualmente atordoado e exausto. Ele caminhou até uma das pias, ligou a torneira e jogou uma bela quantidade de água gelada no rosto. Estava passando por um dia de cão, Leon presumiu.
No entanto, o marido de Claire não estava em melhor condição, dados todos os contratempos que tivera de contornar até aquele momento. Assim seus dedos oscilaram, seu corpo perdeu o equilíbrio e acabou largando a superfície à qual se agarrava, caindo sentado para trás e batendo dolorosamente as costas na porcelana do vaso.
Kennedy nem sequer gemeu, porém sua queda causou certo barulho. Atento a isso, Josh abriu um malévolo sorriso e sacou sua pistola Colt bem devagar. Após tanta procura, o invasor aparentemente pousava justamente em suas mãos, e poderia dar cabo dele definitivamente. Como o destino era irônico!
Cauteloso e satisfeito, Burke abriu num chute a porta do cubículo de onde vieram os sons provocados pelo erro de Leon. Deparou-se com ele ainda caído, prestes a sacar sua arma, mas não tivera tempo. Rindo, o terrorista biológico apontou a pistola para a testa do agente. Seu fim havia chegado.
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Um tiro, e o ombro esquerdo de Josh foi tingido de vermelho. Tombou segurando a área ferida, enquanto novos passos eram ouvidos por Leon. Enquanto se levantava, mais um disparo foi feito, a bala se alojando agora num dos joelhos de Burke. Gemendo mais devido ao inconformismo do que à dor, constatou que não podia mais se levantar para correr, e seus olhos, assim como os de Leon, fitaram o misterioso atirador: Ark Thompson, vestindo uniforme tático e tendo na mão direita uma pistola japonesa da Segunda Guerra Mundial cujo cano ainda fumegava. Ele se aproximou mais do oponente caído, mirando em sua cabeça.
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Ark grunhiu de raiva, deu um soco na face de Burke e, aproveitando que ele abrira a boca, enfiou o cano da arma dentro dela. Engatilhando-a, disse num tom de voz extremamente sério e ameaçador:
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Pela primeira vez desde que haviam se conhecido, Leon ficou com medo de Thompson. Ele não costumava de modo algum agir assim, estava realmente descontrolado, mesmo a situação sendo extrema. Temendo o que o companheiro pudesse fazer, alertou-o calmamente:
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E, num gesto rápido, agarrou a mão de Thompson que segurava a arma e, usando seus próprios dedos, fez com que os do adversário puxassem o gatilho. A bala saiu pela nuca de Josh. Suicídio indireto. O antigo Vincent Goldman estava finalmente morto, mas justo quando se encontrava prestes a fornecer informações importantes!
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Kennedy concordou movendo a cabeça.
Perto de San Fernando de Apure, Venezuela.
Um e-mail recebido no prédio de comunicações de uma base militar coloca todo os seus funcionários em alerta. O comandante, homem moreno de bigode preto e boné camuflado, ouve um de seus soldados indagar aturdido:
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O comandado se afastou, enquanto seu superior tirava uma folha de coca de um dos bolsos de seu uniforme e, colocando-a dentro da boca, começava a mascá-la. Teria um longo dia pela frente.
Arredores do vilarejo de Karakobis, fronteira entre Botsuana e Namíbia.
O sol se ergue no horizonte, fazendo com que os integrantes de um suposto acampamento da Cruz Vermelha se apressem em seus afazeres. Numa pista de pouso improvisada próxima ao local, um avião de carga C-130 é carregado através de jipes com estranhas cápsulas laranjas maiores que um homem. Observando todo aquele movimento, uma jovem nativa de cabelos castanhos e belo corpo corre até o líder do acampamento e pergunta:
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Boquiaberta, a africana recuou surpresa com aquela postura por parte de seu outrora tão confiável chefe, e decidiu ser melhor não interferir naquela loucura ao menos temporariamente. Todavia, a jovem se aproximou discretamente de uma pilha de caixotes e, no meio deles, encontrou uma espingarda calibre 12 com munição, com as quais se armou e sumiu discretamente atrás de alguns casebres...
Cercanias de Padang, Sumatra, Indonésia.
Em meio a uma rede de instalações escondida no coração da selva, um alarme toca incessantemente para fazer os ocupantes se apressarem, e num dado momento vários cientistas nativos trajando jaleco e óculos de proteção saem por uma porta gesticulando nervosos enquanto orientam os guardas do complexo, que empurram várias pesadas cápsulas laranjas contendo números de série por cima de um arrojado sistema de trilhos provindo do subsolo.
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Os grandes recipientes são então alojados na carreta de caminhões reforçados que, assim que recebessem a ordem, partiriam rumo a um pequeno aeroporto clandestino perto dali. O militar caolho assiste satisfeito ao processo de transporte. Tudo saía conforme o planejado, afinal, e ele seria bem recompensado por isso.
Proximidades de Khabarovsk, Rússia.
Numa base aérea em meio a uma planície coberta de neve, uma série de aviões têm seu interior preenchido também pelas misteriosas cápsulas alaranjadas. Soldados agasalhados executam e coordenam o processo, liderados por um siberiano loiro de barba e cicatriz na testa.
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Todos eram ex-combatentes do Exército Vermelho, ex-agentes da KGB, antigos burocratas da Nomenklatura. Não havia por isso ninguém ali com menos de quarenta anos de idade. Gente desiludida, sem utilidade ao país desde que este se tornara capitalista. Mas agora haviam encontrado um novo empregador, e não tinham nenhuma razão para reclamar do salário gordo que recebiam.
Na sala de estratégia localizada no complexo subterrâneo sob as ruínas de Raccoon City, Alfa, braços cruzados, observava um amplo planisfério digital com vários pontos vermelhos marcados em diferentes partes do globo. Ele estava reunindo suas tropas para atacar, assim como num jogo de tabuleiro. A diferença era que, em seu caso, a vitória seria real e imediata.
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Já podia sentir o gosto da vingança assim como um homem perdido no deserto bebe seu primeiro gole de água após dias com a garganta seca. Eles não iam resistir, apenas sucumbir. Seriam esmagados sem piedade assim como insetos em suas mãos!
Continua...
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