Nemesis X: A Guerra Secreta escrita por Goldfield


Capítulo 4
Capítulo 3




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Capítulo 3

 

A primeira batalha.

 

Quatro helicópteros Black Hawk percorriam os céus da Califórnia, não muito longe da metrópole de São Francisco. Transportavam um esquadrão do Departamento de Perigo Biológico dividido em quatro equipes menores de seis indivíduos, cada uma dentro de uma aeronave. A primeira era comandada por Chris Redfield, tendo como segundo oficial o capitão Rod Renneger, mais quatro soldados. O segundo time tinha Ark Thompson como comandante único de cinco combatentes. No terceiro helicóptero, a equipe encontrava-se chefiada pela brava e ágil Jill Valentine. A segunda no comando era Rebecca Chambers, também médica do esquadrão. Acompanhava-as um enfermeiro e três soldados. Por fim, Kevin Ryman liderava o quarto grupo, do qual também era chefe único de cinco homens.

Seguiam rumo à base militar nos arredores de San Jose que aparentemente estava sob domínio de Josh Burke. Era uma tarde de sol escaldante, e o aquecimento global colaborava para deixar a temperatura ainda mais alta. Todos usavam trajes leves e traziam cantis de água na cintura, porém mesmo assim suavam. A bordo do primeiro helicóptero, Chris deu as instruções finais para seus comandados, depois de ser informado pelo piloto que já estavam se aproximando do destino:

         Lembrem-se: de início, esta missão é uma abordagem pacífica. Usaremos a força apenas se formos recebidos de maneira hostil. Dêem prioridade à busca de documentos e indícios que possam eventualmente ligar o local à organização de Burke. Seremos inseridos perto da pista de pouso e extraídos no estacionamento da base, assim que a inspeção for concluída!

         E, caso existam armas bio-orgânicas no lugar, o que faremos se acabarmos infectados? – questionou uma soldado de bela aparência, porém de cabelo curto e porte masculino.

Redfield apanhou uma maleta cinza pressurizada que estava sobre um assento vago da aeronave, abriu-a e exibiu seu conteúdo, seis frascos de uma substância esverdeada mantidos a baixa temperatura, aos demais combatentes. Então explicou:

         Há um kit destes com cada grupo. Trata-se de um antivírus produzido pela doutora Chambers, havendo uma dose para cada um de nós. Em caso de infecção, injetem o líquido em suas correntes sangüíneas e estarão a salvo!

         Por que não fazemos isso agora para já ficarmos seguros? – indagou um militar jovem de rosto sardento.

         Trata-se de um antivírus, não uma vacina! – esclareceu Chris, fechando novamente a maleta. – Será eficaz apenas se o vírus já houver penetrado no corpo. Caso contrário, um dos efeitos colaterais poderia causar a destruição das hemácias, ou seja, a morte!

Todos assentiram, ao mesmo tempo em que o Black Hawk, seguido pelos outros três, começava a diminuir a altitude. A grande base militar estava logo à frente. As armas foram pegas e engatilhadas, as hélices das aeronaves levantando poeira conforme chegavam perto do solo. Era hora da ação.

O pouso foi efetuado no local previsto, próximo à pista onde volta e meia circulavam aviões. Os quatro times deixaram os helicópteros quase simultaneamente, seus integrantes tomando posição defensiva enquanto não recebiam ordem de avançar. Pelo rádio, Leon, da sala de estratégia em Washington, contatou o cunhado:

         Chris, está me ouvindo?

         Perfeitamente, Leon, pode falar! – replicou Redfield, agachado sobre a areia.

         Estamos monitorando vocês por GPS. Comunique-me se necessário. Câmbio, desligo!

Chris levantou-se, fez um gesto com a mão e todos seguiram em frente. Prosseguiram junto a uma fileira de hangares fechados, o metal do qual eram feitos dilatando-se sob o sol. Até então não haviam notado presença humana na base a não ser a deles. Não muito longe, um conjunto de pequenos prédios se destacava em meio a uma extensa cerca de ferro. Provavelmente encontrariam o que buscavam ali.

         Está pensando o mesmo que eu? – inquiriu o capitão Renneger, próximo a Chris.

         Sim... Vamos naquela direção! Talvez fosse melhor se um dos grupos permanecesse aqui para...

Súbito, foi ouvido um disparo alto que ecoou por vários metros. Provavelmente um rifle. Um dos soldados do grupo de Ark caiu num piscar de olhos, sua cabeça, atingida em cheio pela bala de grosso calibre, transformada numa massa vermelha arrebentada esguichando sangue ao redor, manchando a porta de um dos hangares.

         Franco-atirador! – gritou Thompson, enquanto todos se dispersavam.

Só então os invasores perceberam uma torre de guarda não muito distante, perto do portão que levava ao complexo de construções. A luz do sol era refletida pela luneta do rifle, revelando que o inimigo estava mesmo no topo da guarita, e preparava-se para fazer novas vítimas. Chris, eterno atirador de elite do S.T.A.R.S., trazia uma arma semelhante presa às costas e podia muito bem dar cabo dele, porém necessitava de um local seguro o suficiente para se posicionar. Logo avistou uma pilha de caixas ali perto. Teria de ser lá.

         Rod, cubra-me! – exclamou Redfield, já correndo até o local.

O capitão e os outros soldados da equipe assim o fizeram, respondendo ao fogo do franco-atirador enquanto acompanhavam Chris até o flanco. O grupo de Jill e Rebecca, por sua vez, buscara refúgio atrás de um hangar, e os destacamentos de Ark e Kevin, espalhados, disparavam contra o traiçoeiro vigia de diferentes pontos da pista.

Ao atingir a proteção das caixas metálicas, quentes como brasa devido ao sol, o marido de Jill abaixou-se e apanhou o rifle. Depois de segundos pensando no melhor posicionamento, Renneger e seus combatentes também se defendendo atrás do obstáculo, Chris deitou a arma num vão entre dois dos recipientes. Olhando pela luneta, enquadrou o atirador na torre perfeitamente na mira. Beleza!

Apertou o gatilho, a bala se deslocando por vários metros até penetrar em cheio na testa do inimigo. O cadáver, desequilibrado, pareceu dançar brevemente antes de despencar da guarita, caindo feito um saco de batatas sobre a areia. O perigo fora extinto temporariamente. Entretanto, haviam tido uma baixa e deveriam prosseguir com maior cautela, pois os ocupantes da base não desejavam acolher a visita.

As equipes se reagruparam parcialmente e continuaram, separadas umas das outras por uma certa distância. Sem demais problemas, adentraram a área dos pequenos prédios, dirigindo-se até a entrada do que se encontrava mais próximo. Mal sabiam que, naquele exato momento, um dos comandantes das instalações fazia uma ligação desesperada...

 

Burke andava junto com Alfa por um corredor pouco iluminado e de teto recortado, como se algo houvesse desabado sobre o local há certo tempo, quando o celular de Josh tocou. Ele interrompeu a marcha e, observado pelo superior, atendeu o aparelho:

         Sim? (...) Entendo, entendo, fique calmo... (...) Faça conforme treinamos, pode soltá-los, eles darão conta do recado. (...) OK, contate-me de novo caso haja mais algum imprevisto. Desligo.

O antigo Vincent Goldman guardou o telefone e, antes de voltar a caminhar, foi interpelado por Alfa:

         Algo errado?

         Pelo contrário, senhor. Creio que nossos opositores tenham mordido uma de nossas iscas...

 

A primeira construção era uma espécie de alojamento de tropas. Logo depois da entrada, dois guardas tentaram reagir contra os intrusos sacando pistolas, porém foram rapidamente imobilizados com tiros nos joelhos. Os integrantes mais experientes do esquadrão no fundo estranhavam aquilo tudo. A base estava muito mal guarnecida, e de alguma forma acreditavam que o acesso a ela fora facilitado. Todavia, tinham de chegar ao fundo daquilo, mesmo correndo incontáveis riscos.

Os quartos e salas do prédio foram revistados. Nada útil. Provavelmente só encontrariam documentos ou provas incriminadoras se examinassem o alojamento do comandante, isso se já não tivessem sido destruídos. Infelizmente, o cômodo não se encontrava ali, e os invasores precisariam procurar nas demais dependências do lugar. Havia algo estranho, no entanto. Enquanto vasculhavam o interior daquele bloco, ouviram um som que se assemelhava ao de grandes e pesadas portas automáticas se abrindo, e vinha do prédio principal, a poucos metros de onde estavam. Jill foi a primeira a se manifestar:

         O que foi isso?

         Nós podemos ir checar! – sugeriu Kevin, botando mais balas na submetralhadora H&K que carregava. – Vocês, averigúem as redondezas e fiquem alertas! Algo me diz que ainda não enfrentamos os verdadeiros defensores desta base...

Chris concordou, e o grupo de Ryman partiu rumo à construção central das instalações. Enquanto também se dirigiam para fora, as outras equipes passaram pelos dois vigias incapacitados, percebendo que eles tremiam de aparente medo. Intrigado, Ark aproximou-se da dupla e indagou:

         Que há?

         Eles foram soltos, pensei que o major nunca teria coragem de fazer isso, mas teve! – disse um dos guardas, suando frio.

         Quem foi solto? – perguntou um confuso capitão Renneger, voz preocupada.

Redfield e os demais veteranos anti-Umbrella, porém, já haviam entendido. A situação ficava mais complicada a cada instante. Nervoso, Chris lembrou-se da última vez que enfrentara os mutantes oriundos da contaminação pelo T-Virus, na Sibéria meses antes. É... Aquilo realmente cheirava à merda.

 

Krauser estava atento. Desde que o vigia de sua cela viera lhe aplicar a dose semanal do soro que o impedia de utilizar suas habilidades sobre-humanas, o pobre guarda ficava mais agitado a cada segundo transcorrido. Algo ocorria na superfície, e talvez fosse a tão aguardada chance de Jack finalmente escapar daquela fétida prisão e vingar-se do asqueroso Josh Burke, traidor da FPA. Conteve um sorriso. Tinha consigo que em pouquíssimo tempo estaria fora dali.

 

Kevin e seus homens adentraram os escuros corredores do prédio central, contrastando com a tarde clara de céu azul lá fora. Seus passos eram lentos e cautelosos, suas armas em punho estavam prontas para vomitar fogo na direção de qualquer coisa que apresentasse comportamento hostil. Todavia, o silêncio era completo, e ali dentro, assim como em maior parte da base, não parecia haver vida alguma.

De repente, um grito desesperado. E não vinha de longe.

         Que foi isso? – aturdiu-se um dos soldados.

         É um aviso... – murmurou Ryman, apertando os olhos para conseguir enxergar melhor adiante.

Os momentos seguintes foram uma sinistra confusão de barulhos e odores: a audível respiração dos intrusos se misturava a uma outra desconhecida, bizarra e fraca, assemelhando-se a um longo e baixo gemido agonizante. O cheiro de suor e a sensação abafada uniram-se a um aroma de morte e calafrios, e quando a equipe pensou em recuar, era tarde demais...

Uma espécie de língua vermelha, gosmenta e comprida, parecendo mais uma cobra, enrolou-se ao redor da arma de um dos soldados, puxando-a violentamente para cima. Apavorado, ele soltou-a e viu-se indefeso perante o que quer que fosse aquela criatura, berrando para os companheiros:

         Cuidado!

Não era apenas um ser, mas dois ou três caçando em conjunto presos ao teto. Outro combatente, sem saber como reagir, não se abaixou a tempo como alguns colegas próximos, e acabou decapitado pelas grandes e afiadas garras de um dos monstros. A escuridão limitava em muito a visibilidade, mas Kevin já identificara aqueles mutantes sanguinários... Durante o incidente em Raccoon City, alguns policiais sobreviventes os haviam batizado como “Lickers”.

Disparos rápidos iluminaram o corredor, uma das criaturas recebendo as balas em seu corpo sem pele, porém elas não foram suficientes para detê-la. Caindo de quatro sobre o chão, a aberração humanóide contraiu as pernas e deu um longo salto em cima de outro soldado, fazendo seu cadáver em trapos sobre uma crescente poça de sangue com as lâminas de suas mãos que um dia foram unhas. Duas baixas, e os tiros prosseguiam. Um dos monstros parou de se mover, esturricado de barriga para cima como um anfíbio ou réptil que agoniza. Os outros dois Lickers partiram no encalço dos quatro indivíduos ainda vivos, os quais recuavam apressadamente pelo corredor.

         Eles têm o cérebro exposto, atirem no cérebro! – instruía Ryman.

Fizeram uma curva e, antes de contorná-la, um dos soldados ficou um pouco atrás dos companheiros, esticando um dos braços para apontar sua pistola Desert Eagle na direção das bizarrices. Foi sua perdição: uma delas lançou sua longa língua contra o humano, envolvendo o membro deste que segurava a arma. Sentindo muita dor devido à pressão exercida, ele forcejou para efetuar um ou dois tiros que erraram o alvo, e depois procurou impelir o corpo no sentido contrário para que o mutante o soltasse. Entretanto, a força aplicada pelo Licker era tão grande que o “cabo de guerra” resultou na extração completa do braço, que recuou preso pela língua nojenta rumo ao caçador como se fosse um ioiô. Gritando intensamente, o ombro mutilado sangrando aos borbotões, a infeliz vítima desmaiou devido ao choque e serviu de banquete para a dupla de monstros, enquanto os demais membros do grupo, sem opção, corriam deixando o amigo para trás...

Eles agora eram apenas três. Fugindo aterrorizados, talvez exceto por Kevin, que já esperava algo assim, a equipe deixou o prédio por onde entrara, deparando-se com o destacamento de Jill Valentine. Esta compreendeu o que acontecia só de fitar as faces dos atacados, e tomou logo uma atitude: apanhando uma granada do cinto, arrancou o pino e a jogou dentro da construção. Os soldados recuaram e, na explosão que se seguiu, os gemidos inumanos vindos do interior sombrio deram a entender que os dois Lickers remanescentes haviam sido aniquilados.

         Acabou? – perguntou Rebecca, assustada.

Errado. Olhando para cima, avistaram mais uma daquelas criaturas descendo pela parede externa do prédio, garras cravadas no concreto. Apontaram suas armas para cima e começaram a disparar, o monstro desviando agilmente dos projéteis e saltando para o solo, caindo desafiadoramente diante deles.

Não sairiam dali tão facilmente.

 

O guarda da cela foi ficando mais e mais nervoso. Olhava apreensivo para os lados, esperando o pior. Até que, sem perceber, foi recuando lentamente de costas até o cárcere, como se encurralado por um mal que não podia ver... E dois fortes e musculosos braços agarraram seu pescoço. Num movimento veloz e infalível, torceram-no de forma letal, o cadáver do distraído vigia caindo sentado junto às grades.

         Agora vamos ver o que você tem para mim... – murmurou Krauser, revistando o uniforme do morto em busca da chave da cela.

 

Nisso, o grupo de Chris e Rod entrava numa construção perto dali, e aparentemente se tratava de uma garagem anexa a uma oficina mecânica. Não havia nenhum veículo estacionado ali, porém manchas de graxa no chão e ferramentas jogadas pelo lugar mostravam que houvera atividade ali muito recentemente. Ou alguns guardas fugiram nos meios de transporte, ou estes simplesmente haviam sido deslocados para o estacionamento.

         Parece quieto e vazio... – murmurou a soldado masculinizada de antes, examinando o ambiente com seu rifle erguido.

Avançaram por mais pouco tempo, até ouvirem estranhos passos. Pareciam mais estalos do que qualquer outra coisa. Atentos, inspecionaram ao redor com as armas. Nada viram, ao menos ainda...

Havia uma porta de metal fechada a ser averiguada. Renneger pediu com um gesto que alguém o fizesse, e a jovem militar de cabelo curto acatou a ordem, aproximando-se da entrada. Ela tocou a maçaneta gelada e enferrujada, girando-a com perceptível hesitação. A porta abriu-se devagar, revelando um novo corredor. A combatente nada viu nele, e fez um sinal de positivo com a mão para os companheiros...

Não contou, no entanto, que a pouca luminosidade da oficina contribuísse para ocultar uma criatura nas sombras. Fazendo uso de seus fortes músculos, deu um colossal salto para frente, efetuando um rasante pela passagem com as afiadas garras da mão na direção da mulher... Ela mal pôde ver o que a atingira, e todos ouviram o som de carne e ossos sendo cortados.

O Licker terminou seu vôo metros depois da porta e da soldado. Esta, imóvel, tivera, assim como seus colegas logo notaram, o corpo partido em dois. Tudo acima do ventre despencou sobre o chão, uma expressão vazia no rosto moribundo enquanto uma fonte de líquido vermelho era expelida verticalmente. A cintura e pernas permaneceram de pé alguns segundos mais, para em seguida também tombarem sobre o piso já encharcado de sangue.

Uma morte fria e horripilante. Fitando fixamente o monstro, que já se preparava para outro bote, Chris percebeu que aquelas criaturas estavam muito mais fortes e agressivas do que o normal. Com certeza, não era simplesmente o T-Virus que corria em suas veias mutantes...

         Fogo! – exclamou, não desejando ter de assistir a mais cenas grotescas.

As armas cuspiram dezenas de balas sobre o Licker, que agonizava junto a uma parede da garagem antes de ter conseguido prosseguir com sua chacina. O grupo ofegou, pego de surpresa por aquele ataque traiçoeiro. O jovem sardento que antes indagara a respeito do antivírus olhava com horror para os restos da moça rasgada ao meio. E, assim como outros ali, finalmente entendeu a que os veteranos se referiam quando falavam de armas bio-orgânicas. Elas eram infernais.

 

Krauser, livre, corria pelos estreitos e úmidos corredores do subsolo da base, procurando agitado a saída para a superfície. Ouvira dois guardas conversando uma vez, e um deles explicara que aquele complexo de detenção abaixo da terra fora construído baseado num antigo forte mexicano que existira ali. Levando em conta que ele acrescentara que prisioneiros da guerra contra os EUA eram encarcerados e torturados naquelas galerias, Jack entendeu a razão do local constituir um verdadeiro labirinto.

Depois de muito andar, avistou uma escada e começou a vencer rapidamente os degraus. O caminho ascendente provavelmente levava ao interior de um dos prédios das instalações, e ele ainda teria de liberar passagem até o lado de fora. Acreditava que não teria maiores contratempos, mesmo assim.

 

O grupo de Chris se dividira em dois. Enquanto ele e mais um soldado averiguavam um corredor adjacente ao qual saíra o Licker que eliminara a mulher da equipe, Renneger e outros dois homens entravam numa sala que merecia ser investigada. Em seu interior encontraram vários armários, alguns aparentemente abertos às pressas pelos guardas. O lugar à primeira vista se encontrava vazio, até que ouviram um gemido no teto. Não conseguiram reagir a tempo...

A criatura de cérebro exposto e língua comprida saltou para o chão, derrubando de imediato um combatente, perfurando ambas suas pernas com as garras extremamente cortantes. A vítima emitiu um berro de sofrimento, contorcendo-se no piso tentando conter o sangramento com as mãos, e simultaneamente o Licker voltou-se para os outros dois intrusos. Estes responderam disparando as armas, as balas se alojando na massa vermelha que compunha os rígidos músculos do mutante e fazendo espirrar líquido coagulado.

Entretanto, não lograram debilitar o forte oponente, e ele pulou em cima de mais um humano, matando-o instantaneamente assim que as lâminas brancas das mãos atravessaram sua garganta. Restou apenas Rod. O monstro estava demasiado perto do capitão, e conseguiu arranhá-lo no abdômen antes de ser eliminado com alguns tiros na cabeça. O perigo fora extinto, mas Renneger se ferira. Respirando com dificuldade, deixou-se cair sentado ao lado de um armário, rasgando o uniforme para averiguar a gravidade do ataque. As garras do Licker haviam deixado três grossas e rubras marcas sobre sua pele, filetes de sangue saindo pelas aberturas. Aquilo ardia como fogo, porém o militar nem percebeu. Só tinha um temor no momento: estava infectado e tinha de se salvar.

Olhando pela sala, viu que o primeiro soldado a cair e deixado vivo estava carregando a maleta com o antivírus, a qual ele já abrira e acabara de aplicar uma dose em si, em seguida apanhando um kit de primeiros-socorros para enfaixar as pernas. Mordendo os lábios, Rod rastejou até o comandado, esticando o trêmulo braço direito até o recipiente climatizado e agarrando outro frasco. Cada vez mais ofegante e com o tórax tendo espasmos, Renneger preparou uma seringa com a substância e injetou-a numa de suas veias, ficando mais tranqüilo conforme o líquido salvador ganhava seu sangue.

         Essa foi por pouco, não acha, Stuart?

O combatente não respondeu, e então o capitão notou que ele empalidecera de súbito. Abismado, observou-o erguer-se do chão como se não sentisse dor alguma nas pernas, seus olhos assumindo uma uniforme coloração esbranquiçada. E, sem que Rod tivesse tempo de entender o que acontecia para assim esboçar uma reação, Stuart gemeu e caiu sobre o superior, abocanhando-lhe o pescoço com vontade.

 

Chris e o soldado que o acompanhava adentraram o que parecia se tratar de um pequeno escritório. Sobre a mesa havia réplicas de carros famosos em miniatura, alguns bem antigos. Mas o que chamou mesmo a atenção do ex-membro do S.T.A.R.S. foi um papel em cima do móvel que se assemelhava a um relatório ou coisa parecida. Apanhando a folha, leu detalhadamente:

 

Ao quartel-general,

 

Venho por meio deste documento requerer a transferência do prisioneiro J. Krauser para as instalações principais. Mantê-lo nesta base tem sido uma obrigação dispendiosa e arriscada, levando em conta que o indivíduo é de extrema periculosidade, principalmente se o estoque de soro inibidor acabar antes do abastecimento mensal. Acredito que o quartel-general possui melhores condições de encarcerá-lo em real segurança.

 

Atenciosamente,

 

Major Harry Rikkel, Sub-Comandante da Base de Operações de San Jose.

 

Chris guardou o requerimento consigo. Constituía evidência valiosa. E o vil Jack Krauser, sobre o qual haviam sido alertados por Leon, realmente estava sendo mantido preso naquela base. Teria conseguido escapar dos Lickers?

De repente, a porta da sala foi aberta num estrondo. Para a surpresa dos presentes, Renneger e Stuart ganharam o recinto cambaleando, vestes banhadas em sangue. Os olhos sem brilho de ambos não deixavam enganar: não eram mais humanos. O rapaz que acompanhava Chris, coincidentemente o de rosto sardento, deu um passo à frente para abordar os companheiros, mas Redfield o deteve com um dos braços e, apontando sua submetralhadora, abriu fogo contra os recém-chegados.

Os disparos retalharam os corpos dos zumbis, levando-os ao chão entre gemidos e grunhidos. O marido de Jill não podia negar seu assombro. Como eles haviam se tornado mortos-vivos tão rápido? O T-Virus não agia daquela forma! Estavam lidando com algo ainda mais perigoso, e todo tato seria necessário para escaparem vivos e sãos.

 

Krauser perambulava pelos corredores de um dos prédios. Encontrou os restos carbonizados de dois Lickers e corpos mutilados aqui e ali, além de membros arrancados. Realmente houvera uma carnificina na base. Jack estava desarmado, bastante vulnerável por não poder utilizar seus poderes, e se ao menos soubesse onde os homens de Burke haviam escondido sua fiel faca de combate, se sentiria um pouco mais seguro.

Súbito, ouviu vozes não muito longe. Não estava sozinho afinal de contas, havia mais alguém vivo. Seria algum funcionário das instalações ou um invasor? De qualquer modo, Krauser encostou-se a uma parede, cauteloso. Não queria ser descoberto justo agora.

 

Todos os grupos invasores, com seus integrantes remanescentes, se reuniram no pátio externo. Haviam sido reduzidos além da metade. Olhando para os semblantes cansados e amedrontados de seus comandados, Chris contatou Leon em Washington. A chamada foi atendida quase imediatamente:

         Estou ouvindo!

         Encontramos a base infestada de Lickers, eliminamos praticamente todos, mas nossas baixas foram pesadas! – reportou Redfield. – Recolhemos algumas evidências e já estamos dando o fora daqui!

         Entendido. Comunique-se novamente assim que o esquadrão chegar ao ponto de encontro em São Francisco!

Kennedy desligou, mas no mesmo segundo, um misterioso elo de comunicação foi estabelecido com a sala de estratégia dentro do Departamento, utilizando-se de alguma freqüência invadida. Enquanto os operadores tentavam arduamente decifrar de onde vinha a interferência, uma voz sinistra disse:

         Espero que seus colegas sejam rápidos das pernas, senhor Kennedy!

         Quem está falando? – exaltou-se Leon, apertando o fone preso à sua orelha.

         São tão incompetentes que nem reconhecem o homem que caçam quando ele resolve intervir... Bem, se isto é uma guerra, senhor Kennedy, saiba que os peões acabaram de ser sacrificados. Meus cavalos e torres logo estarão prontos para rechaçar, e provavelmente vocês não suportarão o peso de tal ataque.

         Burke? É você?

         Nunca perca uma oportunidade de dizer “eu te amo” a uma pessoa querida, Leon...

O contato foi encerrado antes que a origem do sinal pudesse ser rastreada. Com raiva, o ex-policial de Raccoon City deu um soco numa mesa, então se lembrando da primeira frase do inimigo... Era um aviso para que o esquadrão de Chris se apreçasse! Agitado e tomado de imensa preocupação, Leon voltou a chamar o cunhado, que se dirigia com seus combatentes até os helicópteros aguardando no estacionamento da base.

         Sim? – o atirador de elite atendeu ao chamado.

         Apressem-se! Acabamos de receber ameaças de Burke, e acredito que vocês perecerão nas instalações se não fugirem rápido!

         Uma armadilha? OK, entendi! Estamos indo embora!

Redfield desativou o comunicador e, fazendo um sinal para aqueles que o seguiam, ordenou que dessem passos mais velozes. A ligeira marcha logo chegou aos quatro Black Hawks que pairavam sobre o ponto de extração, os sobreviventes, auxiliando os feridos já devidamente medicados com o antivírus, passando a ocupar o interior das aeronaves. A tarde começava a findar, o céu assumindo tom avermelhado assim como o sangue derramado dos soldados mortos. A pedido de Chris, os helicópteros decolaram sem demora, deixando a macabra base para trás...

E, quando menos esperavam, um estrondo, seguido de uma grande explosão capaz de ser contemplada a quilômetros de distância, anunciavam que tudo ia pelos ares.

 

Continua...


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