Nemesis X: A Guerra Secreta escrita por Goldfield


Capítulo 3
Capítulo 2




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Capítulo 2

 

O inimigo prepara seu exército.

 

Leon estava novamente debruçado sobre o mapa digital dos EUA, a diferença era que a representação cartográfica era agora cercada por seus amigos e recém-nomeados colegas do Departamento de Perigo Biológico. Kennedy explicou a eles o mesmo relatado por Bruce McGivern anteriormente, adicionando:

         Planejamos invadir a base dentro de alguns dias. Será enviada uma equipe de aproximadamente trinta homens, e a reação dos guardas muito provavelmente será hostil. É vital que vocês integrem essa força-tarefa. Acredito que terão de lidar apenas com inimigos humanos, porém não podemos correr o risco de enviar somente homens despreparados em relação a um eventual confronto com armas bio-orgânicas. Eles precisarão de guias!

         Nós tomaremos parte na missão! – assentiu Chris, convicto, em seguida fitando seus companheiros. – Vocês também aceitam?

Todos os outros concordaram. Era necessário atacar Burke antes que ele tivesse tempo de se mobilizar ainda mais. Vidas estavam em jogo, milhões delas. Os antigos adversários da Umbrella novamente se uniam contra um mal residente no coração de homens cruéis e gananciosos.

 

Imóvel, ele contemplava as câmaras.

Fora difícil transportá-las até ali. Diversos aviões de carga C-130 e helicópteros potentes precisaram ser empregados. Dentro de aproximadamente um mês, todavia, Burke já havia praticamente transferido toda a base secreta do coronel Vladimir no Cáucaso para seu centro de operações. Ele felizmente tinha homens competentes sob seu comando, e boa parte deles obedecia às suas ordens sem questionamentos. Era tudo que desejava.

Nisso, sua paz foi perturbada pela chegada de seu braço-direito Hunk. Com o som das botas ecoando pela passarela metálica, o soldado caminhou até o chefe e informou, após permanecer parado por alguns segundos esperando que ele voltasse a cabeça para si:

         Senhor, recebemos um e-mail de Oxford. O avião trazendo-o vai decolar dentro de algumas horas!

         Obrigado – respondeu Josh inexpressivo, tornando a olhar para os T-00 em hibernação. – Prepare alguns homens para que possam acompanhar-nos até o aeroporto assim que o jato chegar. Você sabe que o senhor Alfa odeia atrasos.

         Entendido! – replicou Hunk, retirando-se.

“Senhor Alfa”. No fundo Burke achava aquele codinome um tanto ridículo. Porém era útil para manter o anonimato de seu superior. Talvez ele fosse um dos poucos seres no planeta Terra que atualmente conheciam sua verdadeira identidade. Se algum dia o nome real de Alfa viesse à tona, as conseqüências certamente seriam bombásticas. Por isso mesmo todo cuidado era pouco.

A atenção de Josh voltou a se focar apenas nos mutantes sob sua guarda. Através deles Alfa comporia sua própria sinfonia da destruição. Quando o momento de soltá-los chegasse, eles seriam irrefreáveis. Já podia ver as metrópoles do globo se rendendo uma a uma àquelas tropas, os grandes líderes mundiais implorando clemência trancados em seus preciosos abrigos, sendo que nem dentro dos quais estariam seguros... Sim, o grande dia se avizinhava... E Burke achava-se praticamente pronto.

 

Carlos Oliveira e Ada Wong já conversavam há quase uma hora caminhando pela vila de pescadores. O brasileiro ouvira tudo que a espiã dissera com espanto e atenção, concluindo que durante o período em que estivera isolado do mundo haviam acontecido mais coisas do que jamais poderia ter imaginado, e agora ela abrira espaço para perguntas. Os dois pararam sob a agradável sombra de uma grande árvore e, depois de pensar durante alguns instantes, o indígena indagou à mulher, que endireitava o chapéu:

         Quem é o sujeito por trás desse exército de Tyrants que você mencionou?

         O nome dele é Vincent Goldman, antigo funcionário da Umbrella responsável pelo complexo da empresa na Ilha Sheena, costa da Grã-Bretanha – respondeu Ada, abanando-se discretamente com um leque adornado. – Em novembro de 1998 o lugar foi varrido pelo T-Virus, sendo que foi o próprio Vincent quem deflagrou a infecção. Mas ele sobreviveu, trocou de identidade e, agora chamado Josh Burke, planeja reerguer a Umbrella usando quaisquer meios.

         Como ele descobriu que os monstros estavam dentro de uma base secreta na Rússia? Como o desgraçado conseguiu obter essa informação?

         Não sabemos. Goldman, ou Burke, tem amigos e homens leais a si espalhados por todo o planeta. Não me admiraria se houvesse algum camponês neste povoado trabalhando para ele. Com essa ajuda, acredito que não tenha sido difícil precisar a localização das câmaras com os Tyrants.

Carlos mostrava-se atordoado. Sentou-se em cima das espessas raízes da árvore e passou as mãos sobre a face, esfregando os olhos. O pesadelo estava voltando e lograra persegui-lo até ali, em plena selva amazônica, onde julgara nunca mais ouvir falar de Umbrella ou zumbis. Enganara-se.

         O que esse maluco pretende fazer com os mutantes? Vai simplesmente iniciar uma guerra mundial?

         Impossível afirmar algo com certeza. Ele pode fazer chantagem com qualquer governo da Terra, ou começar demonstrando sua força ao atacar alguma grande cidade com os T-00. O passado de Goldman mostra que ele é imprevisível. Cabe a nós agora nos prepararmos para o pior, ficando vigilantes para agirmos no momento certo.

         E por que veio me procurar? Há pessoas lá fora que podem ajudar vocês muito mais do que eu! E além disso, a quem você está servindo agora, Ada?

Wong pareceu relutante em responder, mas o fez:

         Estou servindo a alguém que pode nos auxiliar a deter esse louco, senhor Oliveira... E eu preciso de sua ajuda!

Ela em seguida estendeu uma das mãos para o brasileiro, inquirindo:

         Posso contar com ela?

O ex-mercenário hesitou. Ada estaria representando os mocinhos ou os bandidos? Será que tudo que ela contara era mesmo verdade? Lembrando-se do passado, Carlos levou em conta que, apesar de ter trabalhado para Wesker nos tempos anti-Umbrella, ela nunca pareceu a ninguém uma pessoa má. Fazia o que fazia sempre em nome de um bem maior no final. Wong já fora sim uma mercenária, porém Oliveira também. Ele se identificava com a bela espiã nesse e em outros aspectos.

Com um meio sorriso projetado no rosto, o indígena se ergueu e apertou a mão de Ada. Sim, ela poderia contar com sua ajuda no que fosse necessário. Seria uma maneira de voltar a lutar por algo justo e, além disso, redimir-se perante os amigos que abandonara desde 2004.

 

Kevin Ryman sentou-se sobre sua cama no apartamento em que vivia em Washington. Esvaziando os bolsos, colocou sua recém-adquirida carteira do Departamento de Perigo Biológico e uma pistola calibre 45 sobre o colchão, em seguida tirando as botas e esticando as pernas. Quem diria que um antigo policial de Raccoon City aspirante ao S.T.A.R.S. estaria atualmente, depois de ter escapado da mortal epidemia na cidade há mais de dez anos, trabalhando diretamente para uma importante agência governamental. Ele riu das ironias do destino.

As mesmas ironias que haviam influenciado tanto a sina dos sobreviventes da tragédia do T-Virus... As memórias vieram tão nítidas que Kevin pensou estar vendo um filme...

 

A traseira do furgão azul rompera violentamente pelos portões de ferro no pátio frontal do Departamento de Polícia de Raccoon, o tão falado R.P.D., que acabara sucumbindo às hordas de mortos-vivos como todo o resto. Diante do prédio, alguns bravos cidadãos lutavam por suas vidas: Kevin Ryman, policial, que repelia um grupo de zumbis a tiros de espingarda, Alyssa Ashcroft, repórter que aprendera a manusear uma arma de fogo há poucas horas e agora a usava para derrubar os agressores sedentos de sangue fresco, e por fim David King, encanador ferido que pelejava contra os seres reanimados quebrando seus ossos a golpes de uma barra de ferro.

Súbito, as portas de trás do furgão foram abertas por dentro, e a policial Rita, loira de cabelo curto que deixara o interior da delegacia há algum tempo através de uma passagem secreta para buscar ajuda no lado de fora, gritou para os sofridos sobreviventes:

         Venham, rápido!

Havia mais alguém vivo. Cruzando bravamente a porta de entrada do R.P.D., o oficial Marvin Branagh, que também sangrava, saiu mancando do prédio na esperança de conseguir alcançar o veículo. Disparando com sua pistola, auxiliava os demais a manterem os zumbis afastados o suficiente para que pudessem subir no furgão. Todavia, depois de efetuar mais alguns tiros, o último a chegar viu-se totalmente bloqueado pelos mortos-vivos e para piorar, o motorista do transporte salvador, Henry, um gordinho de óculos e quepe, começou a ficar severamente alarmado com algumas mãos podres que tentavam agarrar sua cabeça pela janela.

         Ah! – berrou, apavorado.

Aos trancos e barrancos, Kevin, Alyssa e David conseguiram entrar no veículo, acomodando-se exaustos na traseira. Porém não existia muita esperança para Branagh. Recuando aos poucos de volta para dentro do hall da delegacia, ele exclamou para Rita:

         Vão!

         Nunca, não vou deixar você para trás! – protestou a policial, desesperada, no fundo sabendo que não havia outra opção para o infeliz colega.

         Vão embora logo!

Henry não tolerou mais a insensatez de permanecer parado com o furgão enquanto os mortos-vivos o cercavam e pisou fortemente no acelerador. O veículo fez uma curva fechada derrapando pela rua em frente ao R.P.D., a Oak, afastando-se velozmente do prédio. Inconformada, Rita, de pé junto às portas traseiras abertas, gritou com todas as forças, tendo um dos braços esticados na direção do amigo que falhara em resgatar daquele pesadelo:

         Marvin!

Puseram-se a caminho para fora da cidade. Apesar de as Forças Armadas terem bloqueado as saídas, havia boatos de uma estrada que se encontrava livre. Inconsolável, Rita sentou-se aos prantos, lamentando o triste destino de Branagh, que realmente não teria outra chance de deixar Raccoon. Consternado, Kevin envolveu as costas da moça com um dos braços, procurando tranqüilizá-la. Compreendia a dor que ela sentia. Haviam escapado, porém, e um dia os responsáveis por aquele desastre pagariam por tudo... Ah, se pagariam!

 

Enfim, lembranças... Mas que o impulsionariam na nova guerra que se iniciava.

 

Você já pensou em acordar numa certa manhã e, ao descer as escadas para tomar café... Encontrar toda a sua família transformada em zumbis, com seu filho mais velho devorando a garotinha caçula? Já pensou em tentar sair aos berros pela rua em busca de ajuda, e encontrar apenas mais mortos ambulantes famintos por carne viva?

O poder torna nós seres humanos capazes de cometer as mais vis atrocidades, senhorita Wong. O homem, na busca por glória e riqueza, acaba deflagrando sua própria destruição. Eu já fui assim, e devido a minhas ações toda uma cidade foi varrida do mapa após sua população ter sido infectada por um vírus mutante. Meus pecados, minhas faltas. Se nosso novo inimigo não for detido a tempo, ele levará a cabo coisas muito piores.

“Obediência gera disciplina, disciplina gera unidade, unidade gera poder, poder é vida...”. E também a chave para o fim. Nunca se esqueça disso.

 

De seu velho amigo e mentor,

 

S.

 

Leon levou Chris até uma das salas do Departamento de Perigo Biológico que estava, assim como boa parte das demais, ainda em fase de acabamento. Sentado sobre um confortável sofá, encontraram nela um homem loiro de farda militar, queixo quadrado e porte atlético. Ele levantou-se para cumprimentar os recém-chegados, ao mesmo tempo em que Kennedy fazia as devidas apresentações:

         Chris, esse é o capitão Rod Renneger, dos Boinas-Verdes. Veterano do Afeganistão e Iraque. Ele e seus homens estão trabalhando diretamente conosco aqui no Departamento.

         Prazer! – saudou Redfield, apertando uma das mãos do soldado.

         Igualmente.

         Renneger será o segundo homem no comando durante a operação em San Jose depois de amanhã – explicou Leon. – Como líder da equipe, caberá a você instruir o esquadrão do capitão em caso de hostilidade não-humana!

         Espere um pouco, eu, líder da equipe? – surpreendeu-se Redfield. – E quanto a você, Leon?

         Eu infelizmente não posso mais deixar a capital tão facilmente... – murmurou Kennedy, que realmente se desapontava com esse aspecto de seu novo e importante cargo. – Não participarei diretamente da missão, porém manterei contato constante com todos vocês por rádio!

         Entendido, cara, sem problema!

Redfield voltou a fitar Rod e falou, confiante:

         Acho que seremos bons parceiros, capitão!

O militar sorriu. Ele achava o mesmo.

 

Era uma tarde de sol quente e calor dignamente desértico. A pequena e discreta pisa de pouso com um velho hangar e uma fina torre de controle praticamente não se destacava em meio à planície vazia localizada em algum ponto do sudoeste dos EUA. Junto a ela, ao lado de um jipe estacionado, Josh Burke e Hunk, acompanhados de alguns guardas, aguardavam a chegada de um vôo vindo da Europa.

Não demorou muito para um jato surgir no céu azul. A moderna e cara aeronave desceu até a altura da pista e pousou suavemente, sem nenhum problema. O grupo que esperava o avião se dirigiu até ele, enquanto a porta deste se abria com uma escada para a saída dos ocupantes. Os primeiros a pisarem em terra firme foram dois seguranças de terno e óculos escuros. Atrás deles surgiu um indivíduo forte e imponente, sendo que apenas suas próprias feições já demandavam respeito. Era loiro de cabelos compridos que lhe caíam até os ombros e, apesar da extrema alvura da pele e do corpo musculoso sugerirem uma origem nórdica, não era natural de nenhuma nação escandinava. Parecendo desafiar o intenso calor, usava um grosso sobretudo marrom e espessas botas pretas. Venceu os degraus e abriu caminho entre sua dupla de protetores, caminhando até diante de Burke.

         Seja bem-vindo, senhor Alfa! – saudou o anfitrião.

         Tirando o fato de que a viagem de jipe até seu centro de operações vai levar mais algumas boas horas, agradeço a acolhida, Goldman – respondeu o curioso personagem com uma voz melodiosa, porém extremamente máscula, chamando Josh pelo antigo nome como de costume. – Vamos, quanto mais rápido, melhor!

Avançaram então até o veículo terrestre ali parado, sendo que Hunk bateu continência para Alfa antes de segui-lo. Um dos guardas deu partida no motor e partiram pela planície poeirenta. Burke faria de tudo para que aquela inspeção por parte do superior saísse conforme o planejado. Afinal, seu cargo, e suas ambições, dependiam estritamente disso.

 

Na cela úmida e fria, o prisioneiro segurava as grades que davam para o corredor, cabeça baixa. Estava detido ali há meses, e perdera quase completamente a noção do tempo. Todavia, não passara aquele período em branco: durante cada milésimo de segundo, a cada batida de seu coração, ele arquitetara um plano de fuga. Teria apenas de aguardar o momento certo para pô-lo em prática.

Do lado de fora, um vigia armado com um rifle M16 passava diante do cárcere a aproximadamente cada trinta segundos. O prisioneiro se perguntava se ele não se cansava de andar tanto praticamente sem sair do lugar. Parecia muito responsável em relação ao trabalho, porém.

         Quanto você ganha por isso? – resolveu perguntar.

         Cale a boca, Krauser! – respondeu o guarda asperamente.

Era a réplica que Jack esperava. Um soldado que obedecia cegamente aos superiores e que cumpria as ordens destes sem questionamentos. O pior tipo de inimigo. Mas saberia lidar com ele... Na hora oportuna...

 

Burke e Alfa, de pé na passarela, observavam a infinidade de câmaras na qual eram mantidos os T-00. Durante bons minutos predominou o silêncio, os dois homens admirados com aquele exército formidável sob seu poder, até que o chefe de Josh falou:

         Quando dermos nosso passo decisivo, seremos invencíveis. Todos os países do mundo cairão de joelhos perante nossa legião.

         Se me permite indagar, senhor Alfa, quando daremos esse almejado passo? – Burke, ansioso, queria saber.

         Em breve. Antes ainda há ações menores, porém igualmente importantes, a serem realizadas. Algo que devo fazer pela herança em meu sangue, pelos meus fracassados parentes.

O loiro musculoso apanhou uma nítida fotografia que trazia num bolso do sobretudo. Entregou-a ao leal Josh, explicando-lhe enquanto ele examinava a imagem, mais precisamente a pessoa retratada nela:

         Como eu havia cogitado antes, quero que a traga até mim. Meus homens a levarão até a “Doma”.

         Eu não compreendo esse seu ávido desejo por essa mulher que já causou tantos problemas no passado, senhor...

         Não quero que você compreenda, apenas exijo que me obedeça! – rosnou Alfa, sua voz perdendo o aspecto musical como quando sempre ficava irritado. – Um Tyrant será suficiente para o trabalho. Aja assim que nossos oponentes abrirem uma brecha.

         Acredito que isso ocorrerá muito em breve, senhor... – murmurou Burke, enigmático.

O superior sabia que Josh sabia mais do que si em relação a algo. Porém nada disse. Ele confiava no comandado, e tinha certeza de que era inteligente deixá-lo agir por conta própria de vez em quando. Mas, se algum dia viesse a se amotinar, seria destruído imediatamente.

 

Continua...


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