Panem, O Décimo Quinto Jogos Vorazes escrita por Alberto Tavares


Capítulo 8
Predador


Notas iniciais do capítulo

Fiquei tão empolgado depois de ir assistir Jogos Vorazes na estreia hoje que não tive como não postar mais um capítulo pra quem estiver lendo *------* aproveitem!!!



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Se eu não tivesse numa situação de crise, talvez eu pudesse soltar um risinho e fazer um comentário cômico da minha própria desgraça com aquele tanque de água de milhares de litros que inundou a arena. Então era para isso que todos aqueles buraquinhos no chão serviam, para infestar toda a arena com água. Pergunto-me como eles conseguiram ter essa idéia em tão pouco tempo, sendo que a entrevista com Alfena foi ontem à noite.

Não estou acostumado a nadar no Distrito 3, nunca fui tão familiarizado com a água, me dou conta de que não sei nadar logo quando a grande pressão de água subiu pelas minhas pernas e cobriu todo o meu corpo em apenas três segundos. Como não sei nadar, não posso subir até a superfície que está a uns seis metros de distância do chão. E ainda com um braço a menos, isso será mais do que um desafio. Dou por mim forçando para acreditar que os Idealizadores dos Jogos não armaram a conversa de deixar o meu braço de lado para morrer afogado logo no primeiro dia.

Penso em como os tributos do Distrito 4 devem estar. Eles são praticamente peixes, já que vivem da pesca para a Capital. Devem estar se glorificando nadando como se fosse à coisa mais natural do mundo.

Prendo a respiração o máximo que eu posso, quarenta segundos são suficientes para que todo o meu fôlego se esgote de imediato. Não sei se ouvi direito, mas acho que ouvi um tiro de canhão em algum lugar.

Quando o ar escapa dos meus lábios em formas de bolhas dançarinas, sinto meu corpo bambolear e caio de joelhos no asfalto da rua, tão lentamente quanto a mais poderosa câmera lenta. Mas sou erguido por uma força maior do que qualquer outra por dois braços poderosos que agarram minha cintura e meu braço. Não sei quem é, pois meus olhos estão fechados. Minha mente está girando e ficando vazia. Meus ouvidos estão surdos. Meu pulmão está sem ar. Quando tento lutar por oxigênio, meu corpo vence a batalha logo de cara, e eu desmaio de imediato.

Sinto a água saindo para fora da minha boca e começo a tossir. O sol machuca meus olhos, sinto que meu nariz estava sendo apertado com força um segundo atrás, e golfadas de ar estavam sendo levadas ao meu pulmão. Não consigo abrir meus olhos, apenas fico lá, deitado, imóvel, procurando ar para respirar.

– Ele está vivo? – pergunta uma voz. A voz de Mihairl.

– Está – responde outra voz, a voz de um garoto. Não a reconheço, mas ele está tão próximo de mim que consigo sentir o cheiro do seu hálito.

Quando abro meus olhos, vejo que o sol ainda está no topo, então devo ter ficado desacordado por pouco tempo. O garoto de cabelos dourados com rosto reto e olhos azuis está com a cabeça deitada no meu peito, automaticamente jogo-o para longe e fico de pé ainda um pouco tonto graças à grande quantidade de água.

– Quem é você – digo apontando o katar para ele, mesmo não sabendo onde foi que o peguei.

– Calma. – diz o garoto se levantando também, com os braços estendidos pra cima como se estivesse se rendendo. Eu reconheço o rosto dele, é o tributo do Distrito 7. O bonitinho de dezoito anos com cabelos rebeldes que tenho quase certeza que já tem patrocinadores desde antes de iniciarmos os Jogos. – Meu nome é Gullar Gull.

– Sou Edric Craster – digo a ele. – O que estava fazendo… comigo.

Ele hesita com medo deu atacá-lo se a resposta for o que eu acho que é.

– Estava… bem – abaixo o katar para que ele não tenha receio de eu acabar me descontrolando. – Estava fazendo você voltar a respirar.

Faço cara de nojo e cuspo minha saliva no chão. Ele estava fazendo respiração boca-boca em mim! Que horror. Pelo menos eu estou vivo. Mas porque ele fez isso? Será mais um truque?

Ainda estou olhando para o chão onde cuspi a saliva. Ele é Inclinado e vermelho, sem nenhum furo. Então percebo que não estamos no chão.

– Estamos no telhado de uma casa – diz Mihairl.

– E porque raios… – minha voz falha quando vejo que a água ainda não baixou. Estamos seguros naquele telhado. Mas por quanto tempo? – Onde estão as nossas coisas? – pergunto, agora que vi que não estou com o arco e a mochila. Apenas o odre e a aljava, mas nenhuma flecha estava lá.

– Estão ali – diz Mihairl.

Ela aponta para um canto do telhado onde as mochilas foram postas para secar com aquele sol de rachar. A carne também foi posta pra secar, já que está toda ensopada. O arco também está lá com algumas flechas. Só consigo contar três. Três!

– Onde estão as outras flechas? – minha pergunta é respondida antes mesmo de um deles falar.

– Só conseguimos achar essas três – diz Gullar Gull. – As outras estão lá embaixo em algum lugar.

Dou uma olhada para a água, acho que está abaixando. Deve estar. Torço para que esteja. Para pegar todas as outras doze flechas que foram perdidas.

– Quantos morreram com essa surpresa? – pergunto.

– Ouvimos apenas um tiro – diz Mihairl.

– Acho que estamos com sorte – digo. O que é verdade. – Mas vem cá, Gullar Gull. Você é aliado da gente agora?

– Ele salvou sua vida – Mihairl protesta. – É claro que somos aliados.

– Desculpe por… você sabe – Gullar Gull diz.

– Tudo bem, tenho uma dívida com você, Gullar Gull. – Aquilo sai mais ridículo do que eu imaginava. Ele me deu um beijo da vida e eu estou querendo retribuir? Na verdade, estou feliz por ele ter me salvado, mas não acredito que Gullar Gull e Mihairl tenham se tornados aliados agora. Devem ter feito igual à Mikla, Elena e Jarl.

– Estou bem – diz Gullar Gull.

Olho ao redor. A arena se transformou num mar enorme, a água está em todas as partes, mas não sei se ela é boa para beber, pois os resquícios de água que ficaram em minha boca não são de água natural ou salgada, mas sim amarga, ao ponto de deixar minha língua seca e dormente. Fico pensando… será que deixaria meu coração dormente se aquela água acabasse virando sangue dentro de mim?

Não posso responder no momento. Então lembro:

– Onde está o guaxinim que abateu, Mihairl? – pergunto a ela.

– Ficou lá em baixo, perdido com as flechas – ela responde um pouco irritada.

– Podemos abater outro quando a água abaixar – digo.

– Se ela abaixar – diz Gullar Gull.

Aquele pensamento me faz pensar se a água vai ou não voltar ao seu estado normal, debaixo da arena, onde eu ficaria feliz que estivesse. Antes que eu possa perceber, a água começa a baixar tão rápido do que quando chegou, em poucos segundos o chão está de novo à vista e seco. Só um pouco úmido.

Antes que Gullar Gull ou Mihairl façam, pego o as minhas coisas, a mochila e o arco presos ao mesmo ombro, com o odre e a aljava de três flechas presas ao cinto. Mihairl pega a sua mochila e a carne e então vejo que Gullar Gull não tem nada para carregar. Vamo-nos pendurando até chegar ao chão cheio de furinhos, com o barulho sibilante e com bolhas ainda agitado lá em baixo, mas agora eu o conheço. É água corrente.

Assim que desço avisto algumas flechas aqui e ali, um tempo depois eu tenho treze flechas na aljava e ainda procuro as outras duas. Gullar Gull nem se atreve a perguntar o que eu quero com um arco e flecha, se tenho apenas um braço.

Quando finalmente acho as outras duas flechas – quebradas ao meio por causa da pressão da água – guardo-as na mochila com a intenção de não deixar vestígios para trás. O dia já está quase acabando e estou com muita vontade de ver quem foram os mortos. Catem não, por favor, ela não.

– Espero que não nos matem tão cedo – diz Gullar Gull.

Ignoro o comentário dele. Não estou mesmo afim de que a Capital me mate cedo, vou resistir até que Catem seja a última na arena.

– Estão sentindo esse cheiro? – pergunta Mihairl.

Tudo o que eu não quero agora é mais uma distração. Tento sentir o cheiro, é um leve cheiro doce, Gullar Gull se agarra a um poste de luz como se fosse cair, Mihairl tropeça um pouco, mas eu continuo imóvel. Seja o que for que aquele cheiro fez com eles, não estou com a menor vontade de ficar sentido ele, então um segundo depois já estou tapando as narinas com a manga da minha roupa.

– Algum problema? – pergunto.

– Não – Gullar Gull já parece ter voltado ao normal, e Mihairl também está visivelmente renovada.

– O que acha que era? – pergunta minha aliada.

– Não faço a menor idéia – digo.

Caminhamos vagarosamente por um tempo até achar uma casa igual à garagem que estávamos antes, mas desta vez ela tem mais de um cômodo e uma escada para o andar de cima. Mas também não tem nenhum tipo de móvel. Estabelecemos-nos no canto de uma parede, na expectativa de fazer uma fogueira e assar a carne, mas isso poderia chamar a atenção dos outros tributos. Decidimos ficar perto da janela de um dos quartos do andar de cima, onde dava ao telhado, para que se algum tipo de mar não convidado aparecer de penetra na nossa cola enquanto descansamos.

Meu machucado da costela parece ter piorado por causa da água amarga. Sinto a carne abrindo aos poucos, o que me dá náuseas.

– Vamos colher algumas coisas, estou vendo arbustos de amoras ali embaixo – diz Gullar Gull.

– É melhor apenas um ir – diz Mihairl.

– Eu vou – digo. Quero sair dali o mais rápido possível. Mas não sou burro de deixar minhas coisas com eles. Facas, meu arco e minhas flechas, meu katar. Não, não sou louco.

Dou um fora daquele lugar imediatamente. Desço as escadas e então a pior coisa do mundo está presente bem na minha frente.

– Distrito três – diz o garoto de cabelo negro, musculoso e coberto de sangue. Mas o sangue não era dele. – Como vai, Edric Craster?

Mikla Green está olhando pra mim como se fosse me matar a qualquer momento. Não faço nenhum movimento, não quero que ele saiba que eu estou contra ele, talvez eu ainda tenha um pouco de sorte. Afinal, como uns dizem por ai, ela estará sempre ao nosso lado.

– Oi, e aí… Mikla – digo um pouco tenso.

– Lembra do meu nome é? – a jeito como ele falava me dizia que não poderia esperar mais do que a morte para mim daqui a meio segundo.

Não posso falar nada, não consigo, não devo. Mikla parte para cima de mim com uma faca nas mãos, só q a faca está alaranjada e pingando, uma fogueira quase impercebível logo atrás dele me diz todas as coisas que eu possa saber naquele instante. A faca dele está derretendo e está tão quente que vejo a fumaça densa saindo dela.

Seguro a mão dele com meu braço esquerdo, uma gota de lâmina ardente cai na palma da minha mão e o grito de dor surge no mesmo instante, mas ele é parado com os dedos fortes que se prendem na minha garganta. Sinto minha garganta afundando aos poucos, tento gritar á medida que mais gotas da lâmina derretida chegam entre meus dedos, que se trancaram no pulso de Mikla.

A faca vai chegando mais perto de mim, estou perdendo as forças que me restavam. E o corpo molhado de Mikla não está ajudando para que eu o segure por muito tempo. Ele deve ter sido pego na água também.

Meus dedos escorregam e sinto a faca perfurando meu ombro esquerdo. Ela entra por completo na carne, alguns centímetros de perfurar meu coração. Vejo as estrelas passando em meus olhos, é como se estivesse pegando fogo. Sinto a lâmina derretendo dentro da minha carne e o pescoço afundando. Bato com a cabeça na parede enquanto Mikla vai me empurrando. Começo a chorar sem emitir sons, o garoto está dando risos altos e tão abomináveis que tenho medo de olhar em seus olhos.

Os passos vindos da escada assustam meu predador, ele puxa a faca do meu ombro, dá um sorriso para mim, e murmura alguma coisa que não consigo escutar direito. Parece que ele disse algo como: Vejo mais tarde, breve.

Caio no chão quando sinto o ar voltando à mim pela segunda vez hoje, meu ombro em estado deprimente com restos de lâmina queimada me fazem perder a consciência.

E sem lutar, desmaio novamente.


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Notas finais do capítulo

O,O Digam o que acharam nos reviews e recomendem para mais fãs de The Hunger Games !!! (O.O)/



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