Panem, O Décimo Quinto Jogos Vorazes escrita por Alberto Tavares


Capítulo 6
Jogos


Notas iniciais do capítulo

Finalmente chegou a hora!!! *------* Enfim os Jogos começam!!! Estou muito feliz com esse resultado.



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Avisto Marco sentado numa das cadeiras da mesa da sala de jantar do andar do Distrito 3 do Centro de Treinamento. Não avisto nenhum sinal de Catem, Tereso, Jared ou Maestria. Apenas Marco ali sentado com um Avox agachado no chão.

Vejo que alguma coisa está acontecendo de diferente, vejo que Marco está cabisbaixo, apertando os fios de cabelo prestes a arrancar um bom tufo deles. Um líquido vermelho está pingando no chão, junto a uma poça vermelha e vários cacos de vidro.

– Marco? – chamo.

Ele levanta a cabeça e o vejo com o rosto rosado e as pálpebras pesadas.

– Houve algum problema? – minha voz sai como um sussurro.

– Nada demais – ele diz e depois pigarreia. – Só estou um pouco nervoso com os Jogos. – Ele admite. Afinal, todos nós estamos, certo?

– Você está bêbado? – pergunto fazendo soar tão ridículo quanto imaginei que a pergunta seria. O Avox termina de limpar o chão e vai embora.

– Só bebi um pouco de vinho, só isso. – Ele da um sorriso pra mim e depois começa a gargalhar.

– Qual é a graça? – pergunto.

– Me lembrei de uma coisa – ele diz.

– Que coisa? – aquele papo com o bêbado estava me deixando nervoso.

– Depois que as entrevistas acabaram agora a pouco – ele começa –, fui alertado de cuidar do meu tributo com a língua afiada.

– O que quer dizer?

– Os Idealizadores dos Jogos não gostaram muito do modo como você os difamou. Nem o Presidente Snow gostou de como você tratou a irmã dele.

– O que eles disseram? – pergunto nervoso.

– Disseram que as ordens das apresentações vão mudar a partir da próxima seção dos Jogos Vorazes – ele diz.

– Como assim?

– Digamos que o passeio das carruagens vai ser a primeira coisa que vai acontecer quando os tributos chegarem à Capital. E depois vão ser os dois dias de treinamento e o dia de apresentação aos Idealizadores dos Jogos e depois a entrevista.

– Puxa… tudo isso por minha causa? – pergunto.

– Exatamente – diz Marco. – Vamos, não fique com essa cara, você foi ótimo difamando os Idealizadores dos jogos, eles vão pensar duas vezes na próxima vez que se meterem com um carrancudo igual a você.

– Mas então eles vão, com certeza, tirar a água da arena – digo com uma comichão na nuca.

– Não são loucos. Se fizerem os tributos vão morrer muito rápido, e não vai ser muito legal os Jogos serem tão rápidos, não é mesmo?

Reflito um pouco sobre as palavras dele. Será que vou ter a água garantida na arena? Espero que sim.

– Onde está a Catem? – pergunto.

– Não faço idéia, ela passou aqui antes de você chegar e eu acabar derrubando o resto da minha taça de vinho no chão.

– Ela disse para onde ia?

– Não.

Minha fome passa logo de cara.

– Logo, logo ela vai estar aqui. Vamos assistir a reprise daqui a pouco. No mínimo deve estar com Tereso ou Jared.

Não consigo ficar parado nem por um instante. Não sei se fui mau em dizer tudo aquilo sobre os Idealizadores, mas era toda a verdade que eu poderia contar. E aquela Alfena estava me dando nos nervos. Paro para pensar em meu pai em casa, o que será que ele está pensando sobre mim? Será que a Senhora Cashmere está junto com ele na sala de casa? Tyson deve estar bem, pelo menos é o que eu espero. Lembro do abraço que meu amigo me deu dentro do Edifício da Justiça, há quanto tempo foi isso? Cinco talvez seis dias. Não consigo me lembrar direito, o tempo corre muito devagar quando você se dá conta de que entrou nos Jogos Vorazes. É tudo muito intenso. Amanhã estarei na arena e nem posso imaginar ter o país inteiro contra mim. Mas ainda tenho aquela minha nota doze. Talvez ainda consiga patrocinadores com um pouco de astúcia até posso sobreviver a dois dias. Mas não vai passar disso. Vou ficar dois dias vivos e vai ser apenas isso.

Me pego pensando sobre a arena e me faço perguntas que não poderão ser respondidas até que chegue o momento, como: Como será a arena? Terão animais selvagens suficientes para uma refeição? Terá rochas? Talvez seja uma floresta cheia de árvores com grandes animais ferozes. Será que vão colocar bestantes na arena?

Estou em dúvida de árvores e deserto.

Que outra oportunidade de retirar a água se não com as areias do deserto?

A arena vai me pegar desprevenido em vários momentos, mas será que vou resistir até estes dois dias? Será que Catem verá meu rosto ao céu quando os tributos mortos forem anunciados ao cair da noite?

Não sei ao certo a resposta de todas essas perguntas, só sei que não quero ficar por muito tempo pensando nesses tipos de coisa que vão me corroer aos poucos até ter todos os meus membros arrancados por Mikla ou Elena.

Catem aparece logo. Assim como eu, trocamos de roupa e estamos vestindo roupas normais para pessoas normais. Talvez não tão normais assim, afinal, quem seria tão normal de insultar a sua única esperança de vida? Quem seria esse ser em sã consciência?

Tereso surge com roupas brancas e um cabelo tão azul que me dá enjôo. Aquela mistura de cores é como se fosse algo que ele tivesse tentando copiar das roupas que usamos hoje.

Depois que Maestria e Jared chegam, sentamos no sofá da sala de estar para assistir a reprise das entrevistas.

Lá estamos nós, com aquela roupa majestosa. Maestria dá um riso e aperta a mão de Jared quando aparecemos com aquelas turbinas e todo aquele brilho azul intenso. Sinto-me um pouco estranho a me ver mandando beijos e acenando para o público, é uma pena que não estejam vendo os meus sorrisos dentro daquele capacete, mas me sinto feliz que não tenham mostrado. Não conseguiria suportar tal coisa.

O hino da Capital termina e a tela fica escura. Ficamos em silêncio por um tempo.

Amanhã vamos ser acordados bem sedo para irmos à arena. Os Jogos vão ter inicio às dez horas, mas não sei o quanto vai demorar até que cheguemos à arena.

Marco e Tereso não vão com agente, pois vão ficar aqui na procura de alguns patrocínios. Quem sabe tenho a sorte grande e um dono de um restaurante na Capital não queira se candidatar a meu patrocínio e eu acabe recebendo algumas porções de espaguete quando o sol estiver em seu pico. Mas a sorte será grande se um dono de farmácia se candidatar ao patrocínio, e assim vou ter alguns remédios para usar dentro da arena caso eu me machuque. Maestria e Jared é que vão nos levar até a arena deste ano.

Escuto o soluçar de Tereso, há algo de errado. Quando me viro para ele, vejo que está chorando e borrando sua espessa maquiagem.

– Qual é o problema? – pergunto.

– Eu… é que eu… bem… – Tereso se levanta e vai de encontro a mim e Catem.

– Estou muito feliz que tive vocês como meus tributos este ano. Vou sentir muito a saudades de vocês – ele completa.

Ele nos abraça e sinto a primeira pequena pontada de afeto por Tereso, não conseguia imaginar que um dia seria abraçado por ele.

– Também vamos – diz Catem para animá-lo.

Ele se vira e vai embora, nos deixando apenas com nossos estilistas e nosso mentor.

– Acho que encontrei os melhores tributos este ano – diz o estrategista.

– Finalmente vai começar, não é? – digo nervoso.

– Vai – Marco vêm até nós e puxa uma poltrona para perto, com o olhar bem em nossos olhos. Sãos os olhos do meu pai que eu vejo vindo daquele homem. Mas um olhar triste e com algum tipo de segredo muito ruim. – Tenho que contar uma coisa pra vocês, Edric.

Catem começa a se levantar.

– Não, não é particular, Catem – ele diz antes que ela se vá – Na verdade, é que os Idealizadores decidiram não deixar você usar a sua prótese mecânica.

– O QUÊ? – Catem e eu dissemos em uníssono.

– Não podem fazer isso – digo estressado.

– Eles podem – Marco me atinge como se uma pedra de um bom tamanho tivesse sido jogada de uma catapulta bem na minha frente. – Não só podem como já decretaram que a prótese deve ser deixada junto a mim e Tereso.

– Nem a prótese que Maestria fez pra mim eu posso usar? – pergunto. Ter um braço a menos vai ser mais uma das distrações que eu vou ter naquela maldita arena.

– Infelizmente não. – Aquelas palavras são as ultimas que eu possa escutar dele.

Despeço-me de Marco e vou direto para meu quarto.

Tomo um longo banho de água quente com sabão com cheiro de diferentes tipos de frutos doces. Procuro alguns sinais de câmeras em algum lugar do banheiro e quando percebo que não há nenhuma em nenhuma parte, começo a chorar.

As lágrimas descem rápido com a ajuda dos pingos do chuveiro. Meus dentes serrados estão quase se quebrando em mil e um pedaços. Os meus olhos não conseguem se fechar e não sinto os fios de cabelo que arranco do meu couro cabeludo. Estou de joelhos, com os olhos fixos nos ladrilhos do piso. Meus pensamentos correm entre a minha família e meus amigos. Penso em como vou fazer para manter Catem viva até que minha vida seja tirada, como vou protegê-la no meio de tantas outras pessoas, e algumas tão poderosas quanto quaisquer outras. Repouso a minha testa no chão ainda com as mãos presas em meu cabelo, deixando que as lágrimas escorram no sentido inverso, passando pelas minhas sobrancelhas e se unindo com a água que caia.

Meus soluços são altos e não ligo se algum Avox do outro lado possa escutá-los, não estou ligando.

– Eu, eu, eu… - digo em voz alta soluçando. – Eu n-não vou d-desistir. Não, não, não v-vou.

Depois que me recomponho, saio do banho e deixo que a forte rajada de vento me seque por completo. Visto um grosso pijama de seda e me jogo na cama ainda soluçando, quando escuto o barulho de uma câmera próxima se mexendo, viro meu rosto para ela e me contento em fazer um gesto obsceno com a minha mão boa.

Coloco os cobertores por cima da cabeça e me enfio num sono profundo cheio de pesadelos que não consigo me lembrar quando acordo no dia seguinte.

Maestria aparece com uma muda de roupa para mim antes mesmo do sol raiar. Os meus últimos preparativos serão feitos nas catacumbas que ficam abaixo da arena. Ela me conduz até o telhado, e lá encontro com um aerodeslizador. Não consigo entrar, o meu medo é demais com aquela coisa em movimento. Os meus dedos invisíveis da mão direita começam a se mexer, já que o meu braço mecânico foi deixado no meu quarto quando acordei. Quando tomo coragem e entro no monstruoso veículo, um homem com um casaco branco aparece com uma seringa

– Esse aqui é seu rastreador, Edric. Se você ficar bem imóvel eu o ejetarei de forma rápida e eficiente. – Diz ele como se já fosse uma espécie de lema para todos os tributos que ele leva à arena.

Fico imóvel e ele ejeta o conteúdo metálico da seringa na veia do meu braço esquerdo, a dor é de trazer luzes nos olhos. Agora os Idealizadores sabem a minha posição e vão fazer de tudo para me manter longe de água.

Tomo o café da manhã na presença de uma Maestria calada e sem expressões felizes.

Tento comer o máximo possível antes de ser posto dentro da arena, pois sei que a escassez será muita quando estiver dentro daquele lugar.

Depois de meia hora de viajem, o aerodeslizador aterrissa e Maestria e eu saímos pela escada dentro de um tubo subterrâneo que leva à Sala de Lançamento. Mas entre os tributos ela é chamada de Curral. O lugar em que os animais ficam antes de serem mortos.

Tomo mais um banho e escovo os dentes. Não sei quando vou ter outra oportunidade destas.

Maestria me dá a roupa que os tributos têm que usar, como um uniforme. Todo o ano é um uniforme diferente. O deste ano é o mais comum de todos os tempos. Uma jaqueta de couro marrom, uma camiseta regata bege e calças até acima dos calcanhares da cor de musgo. As botas são de couro macio e a sola é de borracha, bem flexível e boa para correr.

– Tenho permissão de levar alguma coisa do meu distrito para arena, não é mesmo? – pergunto para Maestria.

– Sim – ela diz um pouco incógnita.

– Queria usar meu braço – digo.

– Ele foi confiscado como uma arma perigosa – diz ela. – Os Idealizadores dos Jogos acharam que você teria uma arma forte demais para contra os outros tributos. Um soco daquele braço faria estourar todos os dentes deles.

– Queria estourar os dentes dos Idealizadores – digo.

– Não fale isso, tem câmeras por toda parte.

Não ouso continuar com os insultos, já foram demais.

– A roupa ficou ótima em você – ela diz. – Agora esperamos a convocatória do inicio dos Jogos. Quer comer alguma coisa?

– Não, obrigado, estou sem fome – digo.

Estou muito nervoso, começo a andar de um lado para o outro em ziguezague. Daqui a alguns minutos eu estarei vulnerável num matagal, ou numa floresta, ou num pântano, ou num deserto. Não consigo fazer nada além de me sentar e esperar o chamado.

Meu coração entra em disparada quando uma voz feminina diz para que eu me posicione para o inicio dos Jogos. Aperto as mãos de Maestria com muita força, vejo que ela está quase chorando. Eu não consigo mais chorar. Caminho para cima de um círculo de metal e espero por um tempo.

– Não se esqueça de que sempre estaremos junto com você – diz Maestria soluçando, as lágrimas correm como se elas não tivessem controle. – Aqui.

Ela põe a mão sobre meu peito, nem no local onde fica o coração. Ela se afasta quando um cilindro de vidro começa a se abaixar. Nunca estive tão nervoso na vida, estou tremendo intensamente, meu coração está disparado, um buraco gelado surge por dentro do meu estômago, seguro o café da manhã de hoje para que o mesmo não acabe saindo para fora.

O cilindro começa a subir por uns quinze segundos. Fico numa escuridão total. Em seguida, o círculo de metal me empurra para fora do cilindro, em direção ao ar livre.

Não consigo abrir os olhos. Sinto o vento batendo em minha cara, gelado e muito chamativo.

Ouço a voz de Claudius Templesmith retumbar de todos os lados.

– Senhoras e senhores, está aberta a décima quinta edição dos Jogos Vorazes.

Abro os olhos.

Não é nada do que eu imaginava que seria.

Temos sessenta segundo para iniciar a correria.

Mas correr para onde?

Não vejo nada.

Nem um tributo.

Nem uma Cornucópia.

Só uma cidade comum e vazia, cheia de árvores artificiais, arbustos, prédios e casas.


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Notas finais do capítulo

O que acharam da arena? Digam como resposta por meio de reviews!!! Eu estou muito ansioso para a matança. :D



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