Panem, O Décimo Quinto Jogos Vorazes escrita por Alberto Tavares


Capítulo 5
Gelo


Notas iniciais do capítulo

Meu Deus!!! Fiquei tão empolgado com tudo, a ideia da roupa vinha me corroendo a muito tempo, tive vários modelos, mas esse foi o que mais gostei!!! Espero que gostem também *--*



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As carruagens já estavam posicionadas, minhas mãos e todo o meu rosto estavam ensopados de suor. Os cavalos negros eram musculosos e muito bem domesticados, pareciam seres humanos de verdade, exceto pelas ferraduras e a calda peluda. A nossa carruagem era a terceira, vejo que os estilistas e seus tributos estavam terminando as preparações das roupas. Alguns dos tributos pareciam às maiores aberrações do universo, como os dois bem atrás da carruagem do Distrito 3, que se vestiam de vacas brancas manchadas de negro. Uma carruagem logo atrás, os dois tributos do Distrito 4 estavam usando roupas semelhantes a que Catem e eu estávamos usando, só que eram feitas de pedras preciosas, azuis e verdes, que cobriam toda a roupa, o que dava uma aparência de escamas.

Nossas roupas ainda não estavam finalizadas, pelo que Maestria e Jared tinham dito. Éramos os maiores deslocados dentre todos os tributos. Nosso macacão branco, que vinha dos pulsos até os calcanhares e cobria todo o pescoço, não tinha absolutamente nada de especial. Ele era apenas branco, sem nem um detalhe, usávamos sapatos brancos também, sem cadarço e luvas brancas. As únicas coisas distintas daquele macacão eram as linhas em auto-relevo que pareciam tubos transparentes percorrendo os cantos dos nossos corpos, como as costelas, braços, pernas e dos dois lados do pescoço e um pedaço de metal curvado que cobriam os nossos ombros.

Maestria fez um bom trabalho com meu braço direito. Ela simplesmente trocou a prótese mecânica de Catem, que era um cinza escuro metálico pouco polido e coberto de arranhões e rangidos, por uma prótese que era muito similar com o meu outro braço, o bom. Era tão perfeita e simétrica que eu não conseguia me acostumar com o seu peso leve, mas era como se eu pudesse sentir os ossos por dentro da pele e da carne, sentindo o coração pulsando no pulso coberto pelo macacão e a luva branca.

– Já vai começar o desfile – disse Catem eufórica, olhando para todos os lados, procurando, em algum lugar, os nossos estilistas atrasados.

Quando finalmente aparecem, estão arrastando uma caixa de papelão de grande tamanho, não sei o que tem ali dentro, mas uma frase passa pela minha mente tão rápida quanto um raio.

– Desculpem a demora – diz Jared. – Foi um pouco difícil trazer essa caixa de lá do Centro de Transformação até aqui.

– Vamos, o desfile vai dar inicio logo – diz Maestria abrindo a caixa.

Tiro as minhas conclusões quando ela retira o enorme pedaço de metal de dentro da caixa, todo coberto de tinta branca brilhosa.

– Você tinha dito algo com… com… turbinas – digo por fim.

Sim, eram turbinas.

Turbinas tão enormes que os dois precisam carregá-las até próximo de nós para, enfim, eu descobrir para o que prestava a peça de metal nos ombros.

A turbina encaixou como um imã poderoso, minha estilista prende dois ganchos em cada ombro para que se assegurasse que a turbina não caísse, Jared fazia o mesmo com Catem.

– Serão os mais incríveis de todos – dizia Maestria, baixinho e aos risos.

Quando Catem dirigiu o olhar para mim e eu para ela, vemos duas criaturas brancas com uma turbina em cada ombro, as caras dos outros tributos e dos outros estilistas são de pura inveja, seguro o riso por meio segundo, até que não consigo contê-lo.

– Qual é a graça? – pergunta Maestria.

– Os tributos, e estilistas, estão todos boquiabertos – digo.

– Pena deles que não tiveram idéias melhores. Fala sério, duas vacas sendo puxadas por dois cavalos? – perguntou Maestria sarcástica.

Riu novamente.

Eles tiram mais coisas da caixa, primeiro uma peça de metal feita do mesmo material dos tubos que rodeiam nossa roupa, tinha a forma de um numero três. Maestria e Jared plugam o “três” bem no centro de nossos peitos, depois fazem sinal para que virássemos e apertam algum botão que eu não tinha reparado antes.

Imediatamente, todos os tubos e o número acenderam em uma chuva de luz azul, estávamos brilhando intensamente como duas lâmpadas tecnológicas, escuto o barulho da hélice girando e estremeço. Percebo que é o mesmo barulho calmo e silencioso de aerodeslizador, pois nada me assusta mais do que o barulho do aerodeslizador.

Mas tinha algo de diferente naquelas turbinas. Algo que fez todos os meu pelos arrepiarem-se e todos os tributos começarem a discutir com seus estilistas. As turbinas estavam lançando jatos de fogo azul, da mesma cor da iluminação das nossas roupas.

Não levantei vôo como imaginei que faria se as turbinas fossem ligadas, mas era como se tivesse feito. Pois o vento que roçava em meu cabelo era tão gelado e delicioso que não queria acreditar que ainda estava com os pés no chão.

– Estão deslumbrantes – entoa Jared.

– Estamos supimpas – Catem da um gritinho e me abraça, depois abraça Jared e Maestria, faço o mesmo. Eles fizeram um ótimo trabalho.

– Só falta mais um detalhe – diz minha estilista esgueirando os braços para dentro da caixa.

Vejo sua mão mecânica tirar de dentro da caixa um grande e branco capacete futurista, com o visor negro em forma de raio, com detalhes azuis fosforescentes. Coloco-o em minha cabeça e Catem faz o mesmo. Estamos até parecido com os Pacificadores que rodeiam o Distrito 3, mas estamos mais belos, mais azuis, mais brilhantes.

– Isso não é fogo de verdade – diz Maestria para nós.

– É gelo – Jared estava entusiasmado, seus lábios eram da cor dos de Maestria, azul no superior e branco no inferior. – Gelo em forma de fogo, muito raro. Usado pelos mais ricos residentes da Capital.

Isso explica o vento gelado e gostoso que emanava das chamas.

– Gelo – eu digo.

Primeiro um turbilhão de chamas aos Idealizadores, agora uma turbina de gelo para Alfena Snow, a apresentadora que faz as entrevistas aos tributos todos os anos após o desfile, irmã do Presidente Snow. Estão querendo nos transformar em elementos, penso.

– Boa sorte – Maestria diz antes da carruagem do Distrito 1 começar a andar.

Minutos depois, somos engolidos por um aglomerado de pessoas com roupas estranhas, perucas estranhas, tons de peles estranhos gritando aos tributos, aplaudindo com fervura a todos nós. Vejo no telão ao longe dois garotos vestidos de branco com iluminações em tubos azuis aparecendo ao vivo para toda Panem. Somos nós, todos estão gritando para nós, os nossos rostos estão estampados no grande telão. Ou melhor, nossos capacetes.

Catem segura minha mão e começamos a acenar a todos os cidadãos, retribuir beijos para todos que mandavam a nós. Não consigo mais escutar nada alguns minutos depois, o barulho e tão forte que perco a noção completa do que está acontecendo. Dou uma espiada para as carruagens logo atrás, não consigo ver as mais longínquas como as do Distrito 10, Distrito 11 e Distrito 12. Mas dá para ver que todas elas já estão na grande rua. Estamos agora passando pelo Círculo da Cidade, o centro da Capital, onde se encontram os maiores e mais importantes prédios da cidade, como o Centro de Treinamento e a mansão do Presidente Snow.

Depois de um grande percurso, chegamos até Alfena Snow, dando palmas para todos nós, seu sorriso carnudo e bonito se desfaz quando da os olhos para os tributos vestidos de vaca, fazendo um sorriso amarelo e terrivelmente forçado.

– Sejam bem vindos, caros amigos, sejam bem vindos. – Disse a mulher com uma longa trança preta de um lado e cinza do outro, vestida com um vestido marrom simples e saltos cobertos de jóias preciosas. Uma rosa branca tinha sido posta perto da orelha.

Saímos das carruagens e nos sentamos na fileira onde os tributos são instalados para depois serem entrevistados. Sou o sexto que será entrevistado. Catem e eu retiramos nossos capacetes para podermos enxergar direito.

Ela faz brincadeiras conosco, falando sobre mais um ano de muito show e luzes, Alfena da uma piscadela para mim e Catem e depois chama a garota do Distrito 1 para ser entrevistada.

Não estou nem ligando para o que eles dizem, presto atenção apenas quando ela vai perguntando um por um qual é a sua estratégia para os Jogos. A maioria diz a mesma coisa só que em palavras diferentes, mas tinham os mesmos significados: vou vencer, nem que precise arrancar a cabeça do tributo do meu Distrito.

Quando chega a vez de Catem, Alfena a beija como cumprimento e se senta ao lado dela, a turbina ainda está girando e lançando gelo, por um segundo Alfena está calada, sem saber o que falar.

– Puxa vida – diz ela. – É a coisa mais incrível que já vi em toda a minha vida, quem são os estilistas deste ano para o Distrito 3?

– Jared e Maestria, são os melhores – diz Catem sorrindo. – Isso aqui atrás não é fogo, mas sim…

– Gelo – Alfena completa, com uma cara de espanto.

Catem olha para mim e trocamos sorrisos, Alfena não passa aquele gesto despercebido.

– Seu namorado? – ela pergunta.

Catem está corada, e aposto que eu também. Não me atrevo a olhar para o telão, sei que ele está mostrando a minha cara vermelha, mas também não abaixo os olhos, para que não mostre aos outros tributos que sou tão fraco ao ponto de ficar todo vermelho com um simples comentário de duas palavras.

– Não – diz Catem.

– É mentira – grita Elena para Alfena. – Eles se beijaram no Centro de Treinamento.

– Vejo que foram dedurados pela garota do 8 – Alfena não era tão bonita assim, depois de nos provocar.

– Só foi um beijo – diz Catem tão vermelha que nem os azuis das luzes possam disfarçá-la.

– Meu irmão, Coriolanus, deve achar vocês uma graça – diz ela rindo de nós.

Catem não fala nada.

– Mas então, quais as suas estratégias para sobreviver aos Jogos Vorazes querida Catem? – ela pergunta.

– Sobreviver – responde Catem rápido demais, como se ela tivesse decorado o que fosse dizer. – Essa é a minha estratégia.

Alfena franze o cenho com um olhar de afeto.

– Você crê em deuses Catem? – pergunta Alfena.

Aquela pergunta era tão imprevisível quanto qualquer uma que ela pudesse fazer.

– Só existe um deus, Alfena Snow – diz Catem a ela.

– E qual seria esse? – ela pergunta.

– A morte – Catem parece estar um pouco mais confiante, sua resposta rápida e de olhar sério deu aos tributos uma dor nas pernas que os fizeram trocar de posição no mesmo instante. – E só há uma coisa para dizer a morte. Hoje não!

Ela tem uma saraivada de aplausos e assobios, o tempo da entrevista esgotou, Alfena e os tributos estavam surpreendidos, e quando digo os tributos, incluo a mim mesmo.

– Não consigo acreditar que isso seja mesmo uma turbina de verdade – diz Alfena quando eu tomo o lugar de Catem Milani.

– Maestria e Jared são estilistas incríveis, e Maestria é do Distrito 3, sabe construir esses tipos de coisas incríveis. – Digo tentando parecer mais confiante do que Catem.

– Mas o publico quer saber de sua boca, Edric Craster, como foi o beijo? – a sua pergunta me cai como um soco metálico.

– Foi… - procuro a palavra certa. – Molhado.

Estou de novo vermelho, dessa vez estou olhando para mim no telão. Arrisco um sorriso para Alfena.

– Como se sente em estar dentro dos Jogos Vorazes?

– Confiante – digo tentando parecer mesmo que estou tão confiante quanto Catem. – Afinal, só um sai.

– Só um sai – repete ela tentando-me fazer soltar o que ela está querendo ouvir.

– Só um – digo forçando a platéia ficar calada e prendendo o fôlego.

Só então que Alfena Snow Pergunta:

– E que vai ser esse um?

– Só vamos descobrir no final – digo.

– Quais são suas estratégias? – ela pergunta.

– Sou um bom caçador – minto novamente, o que faz Elena, Jarl e Mikla se mexerem. – Me camuflo muito bem. Mas a sede é um defeito que não consigo reparar, sempre estou com a maior sede do mundo.

– Não deveria dizer isso, os Idealizadores podem retirar toda a água da arena.

– E se fizerem? – rebato tentando me controlar, ela está começando a me irritar. – Não é da minha conta o que acontece naquela sala onde os Idealizadores controlam a arena.  Estou pouco me linchando se eles vão ou não retirar a água da arena. A decisão é deles e não minha.

Levanto-me, todos estão de olho em mim. Vejo seus olhos me seguindo quando vou embora de passos largos e me jogo na cadeira ao lado de Catem. Alfena não sabe o que fazer por um pequeno momento, até que chama o tributo seguinte.

Agora sei o que me reserva na arena.

Cavei minha própria cova.

Insultei os Idealizadores.

Vou estar morto no primeiro dia.


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Notas finais do capítulo

O que acharam??? Bom, legal, incrível, majestoso, ruim, péssimo? Digam pra mim!!! Façam um review, eu suplico!!



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