Panem, O Décimo Quinto Jogos Vorazes escrita por Alberto Tavares


Capítulo 4
Fogo


Notas iniciais do capítulo

Esse é de longe o meu capítulo favorito!!! Está incrível, tenho que admitir. Cheio de "calor", se assim posso dizer ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/197944/chapter/4

Acordo com entusiasmo, tenho todo o plano na cabeça para mostrar aos Idealizadores, tudo o que preciso para mostra para eles o que eu aprendi durante estes dois dias. Sem contar na grande idéia que Marco me deu. Estrategista, penso.

 Tomo um café da manhã reforçado, com ovos fritos e leite. Catem conversa comigo sobre as técnicas de sobrevivência, me ensina alguns assobios que são muito parecidos com os assobios dos tordos. Lembro das histórias que meu pai contava para mim sobre os gaios tagarelas, dou um risinho e tento dar o assobio, que não sai perfeitamente como o de Catem.

Marco nos pega desprevenidos antes que rumássemos para a apresentação aos Idealizadores, nos deseja boa sorte e vamos embora quando ele nos solta.

Não temos que esperar tanto, Mikla é o primeiro que entra pela porta, já que é do Distrito 1, ele me dá um sorriso e depois some para lá da porta. Quando a tributo feminina do 1 entra, vejo que ao entrar, o tributo não pode sair de novo, afinal, é proibido contar à qualquer pessoa o que você fez lá dentro, é um segredo que somente você e os Idealizadores podem saber. Obviamente que eu não vou obedecer esta regra, vou contar para meu mentor Marco tudo o que eu fiz lá dentro, ele é estrategista e vai saber o que responder. Confio o bastante em Maestria para contar a ela também. Mas será que devo contar para Catem?

Os Jogos Vorazes nos fazem perder a confiança em até os nossos melhores amigos.

Cada tributo tem quinze minutos para se apresentar aos Idealizadores, então, meia hora depois, o garoto do Distrito 2 se põe na frente da porta assim que ele é chamado.

Depois dele, a garota do 2 também entra, e meu coração começa a palpitar mais rápido. Só quinze minutos e eu estarei lá dentro. Minhas mãos estão suadas, mas logo o suor vai embora graças à roupa de Maestria. Dez minutos. Aperto meu pescoço, que parece estar fechando aos poucos e tapando a entrada de ar aos meus pulmões. Cinco minutos. Catem segura minha mão e meus olhos estão vidrados na porta, nunca o tempo correu tão devagar quanto naquele momento. Quatro minutos. Uma gota de suor escorre sobre meu queixo, que automaticamente some quando encosta-se ao tecido do macacão. Três minutos. Não consigo parar de engolir minha saliva, estou com muita sede, muita sede mesmo. Dois minutos. Jarl e Elena estão me olhando e parecem estar conversando, mas não os escuto. Um minuto. Catem me abraça e me levanto impaciente, ouço meu nome ser chamado e sou surpreendido.

Catem me da um beijo, longo e molhado, ela está chorando, os tributos aplaudem quando nos afastamos, ela manda um aceno e eu não sei o que fazer, dou as costas sem prestar muita atenção nos tributos, que estão rindo, e entro no grande ginásio muito parecido com o centro de treinamento.

Vários Idealizadores estão lá dentro, depois de receber o beijo e entrar pela porta, meu corpo começa a ficar mais calmo ao decorrer do tempo, todos os jurados estão olhando para mim, com alguns pratos de doces e vinhos espalhados sobre a mesa deles. O Idealizador do meio, com um nariz adunco e cabelo laranja penteado totalmente para cima, é o que mais me parece prestar atenção. Reconheço-o, é o que estava conversando com outro Idealizador sobre mim e Catem, decido me mexer e parar de fita-los antes que meu tempo acabe.

O chão é brilhante e liso, mas a sola da minha bota impede que eu escorregue por acaso, vejo meu reflexo no chão e vejo que estou com uma cara mais confiante do que eu imaginava. Mas estou tremendo, muito nervoso por dentro.

Abro a boca e deixo o ar entrar, meu queixo treme um pouco antes deu voltar a fechá-la.

Pego um arco de prata e faço esforço para parar de tremer. Tenho que impressioná-los, penso. Mas como?

Minha mente trabalha rapidamente. Agarro três flechas da aljava presa ao chão e caminho sem demonstrar nervosismo até uma árvore artificial. Arranco um galho com folhas presas nele e vejo a cara de confuso dos Idealizadores. Tenho todo o plano na cabeça, digo a mim mesmo. Está tudo sobre controle.

Vou até o centro do ginásio e lá eu arranco todas as folhas do galho que arranquei. Amasso as folhas em meus dedos e deixo o líquido vermelho escorrer entre meus dedos, do mesmo jeito que Marco disse que aconteceria. O líquido é estranho, não é nem grudento e nem espesso, é muito semelhante com a água, mas, pelo o que Marco me disse, ele tem propriedades muito curiosas.

Faço o liquido cobrir as pontas das três flechas de prata que eu escolhi, e vou até a parede de alpinismo, prendo as flechas na boca e o arco sobre o pescoço e começo a escalar. É tão fácil quanto respirar.

Em poucos segundos estou no ponto mais alto, os Idealizadores estão tão parecendo formigas daquele ângulo tão longínquo. É tudo ou nada, reflito.

As palavras de Marco vêm à minha cabeça novamente.

– Esprema as folhas com força – ele tinha dito. – Depois disso, as molhe em flechas, você disse que sabe atirar flechas, certo?

– Aprendi um pouco – admito. – E escalar é uma especialidade que eu desconhecia até pouco tempo.

– Certo, Escale o mais alto possível…

– E daí? – pergunto ficando nervoso.

– Pegue o arco e as flechas, encaixe, puxe e solte – ele disse.

– Se vou escalar, como espera que eu me segure sem nenhuma segurança e atire duas das três flechas de uma vez?

Ele olhou para mim, sorriu e Catem e eu percebemos no mesmo momento o que ele queria que eu fizesse.

– Não se segure.

Foi o que fiz.

Fechei os olhos e me soltei. A queda era muito alta. Encaixar, puxar e soltar, pensei. Encaixar, puxar e soltar.

Quando disparei as duas flechas de uma só vez, abri meus olhos e vi que o chão ainda era uma queda livre mortalmente longe, mas os olhos dos Idealizadores mostravam preocupação. O do meio se levantou e eu soltei um sorriso com a terceira flecha ainda presa à minha boca. Mas ele e os outros Idealizadores não sorriram.

As flechas alcançaram a velocidade que Marco esperava, e como ele disse, o líquido vermelho explodiu em chamas violentas e vermelhas por toda a parte. Ela não queimam, e a fumaça é tão espessa que dará a impressão de vôo quando você chegar ao chão. As palavras de Marco eram sinceras e corretas.

As chamas subiram tão depressa quando as flechas caíram, abri os braços e as pernas para as chamas que me engoliam, quando adentrei ao fogo, nada era visível além da grande quantidade de labaredas, os Idealizadores gritavam do outro lado das chamas. A fumaça me pegou como se eu tivesse caído no meu colchão de plumas que dormi esta noite.

Encaixei a terceira flecha no arco, puxei a linha e soltei. O zunido foi interrompido depois da outra explosão de chamas que agora ocorria no teto, as chamas do chão foram levadas juntas com a última flecha como se fossem uma espécie de imã, e juntas elas dançavam no teto do ginásio.

Os Idealizadores estão todos de pé, vendo minha posição triunfal, o arco apontado para cima, onde eu tinha acertado a flecha e de joelhos sem nenhuma ferida.

– Poucos sabem que as folhas das árvores artificiais têm a capacidade de explodir ao atingir a velocidade do som – tinha dito Marco a mim. – Nem os Idealizadores devem saber.

E não sabiam. Estavam todos calados, com seus olhos arregalados em direção a mim, se perguntando como eu saí vivo depois da ter me jogado em uma pira flamejante.

O do meio começa com a salva de palmas, não esperava isso. Dou um sorriso e só depois me dou conta de que todos eles estão aplaudindo, é como ser a estrela de um grande show.

Meu tempo acaba e eu vou esperar do lado de fora.

Tereso está do lado de foram, junto com Maestria e o estilista de Catem, Jared.

– Como foi? – pergunta Maestria.

– Não sei… foi tão… – procuro a palavra certa para usar. – Quente!

Eles estão curiosos. Dou um sorriso a eles.

– Preciso falar com Marco, onde ele está? – pergunto.

– Ele saiu, deve estar arranjando patrocínio para vocês dois – respondeu Tereso.

– Certo, vou para o meu quarto. Falem para Catem que eu estarei lá… dormindo.

Subo pelo elevador e vou até meu quarto. Me jogo em cima da cama como se fosse um turbilhão de fumaça.

Em meu sonho, estou na arena. Mikla, Elena e Jarl estão apontando suas bestas contra mim e Catem. A arena é uma espécie de pedra negra íngreme, como uma montanha, e da boca da montanha se despeja um líquido vermelho muito familiar, os três tributos na minha frente molham suas flechas no líquido vermelho, escuto o zunir das flechas vindo em nossa direção, na velocidade da luz.

Explosões ocorrem a cada tiro de flechas que eles dão, são tantas flechas e tanto fogo que não consigo enxergar. Catem me agarra e me beija. Desta vez não é molhado, mas muito quente. A minha pele suada com o calor do fogo começa a derreter, mas a roupa de Maestria está sugando toda a umidade, inclusive a minha pele derretida. Pouco a pouco meu corpo começa a se tornar um amontoado de gosma derretida. Antes de tudo ser sugado pela roupa, Catem separa nossos lábios e a vejo pegando fogo, os últimos resquícios de vida se vão quando ela da adeus com um aceno, no qual eu não consigo responder. Idealizadores ficam boquiabertos com minha morte, mas os tributos estão rindo. Boa sorte, digo e eles.

Meu corpo molhado é sugado pela roupa e escuto o barulho do canhão ao longe, o canhão que diz a todos os tributos que uma pessoa está morta. Mas eu ainda não morri, pois estou ouvindo o canhão. Talvez seja para Catem. Não sei dizer se o segundo canhão soa, pois o negro cobre meus olhos logo depois.

Quando acordo, já anoiteceu, uma mulher com roupas de camareira está limpando o chão.

– Por favor – eu digo. – Que horas são?

Ela não me respondeu, apenas olha atentamente para mim, com curiosidade, ouvindo o som da minha voz.

Ela é uma Avox, percebo. Avoxes são as pessoas capturadas pela Capital, eles as fazem como empregados e para que não falem com ninguém, cortam suas línguas, deixando-os mudos para sempre.

Ela vai embora, deve ter uns onze anos. Maldita Capital, eu penso.

Tomo um banho depois de deixar minha prótese mecânica ao lado da cama, quando volto, aperto os três botões para ela voltar a funcionar e vou de encontro com Catem, Marco e Tereso, que já devem estar me esperando.

Eles estão com a TV ligada, esperando que as notas sejam dadas. Catem me conta que ela usou várias técnicas de sobrevivência durante a sua apresentação, inclusive a idéia de Marco com fazer fogo com as pilhas, ela disse que eles estavam muito assustados com alguma coisa, e que demorou mais de quinze minutos para ela entrar. Explico que o plano de Marco deu completamente certo, as explosões e tudo mais, e que deve ter demorado porque eles estavam fazendo as chamas no teto apagarem.

Quando o hino da Capital se inicia, nossas conversas param e tomamos conta de que o programa já iniciou. Mikla recebeu um dez, e a garota do seu distrito recebeu sete. Os dois garotos do 2 receberam oito, me surpreendo ao ver que ganhei a nota doze, a nota máxima, todos aplaudem para mim, como os Idealizadores fizeram. Estou de queixo caído, Catem recebe dez, e assim vai indo num constante números de notas. O garoto de doze anos, Neil Grenth, recebeu seis, Elena recebeu onze e Jarl recebeu três. Fico tão estupefato quando as notas param de ser ditas e o hino da Capital toca novamente, indicando que o programa tinha acabado.

Estou paralisado.

Fui o único que recebeu a nota máxima.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse foi dos bons, espero ter agradado vocês!!! Reviews não machucam, sabiam? Elas não fazem você morrer, fazem-me saber que existe alguém neste mundo que está lendo a minha obra! :D obgado por ler, ok?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Panem, O Décimo Quinto Jogos Vorazes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.