Inside Blue Eyes. escrita por PrefiraTestralios


Capítulo 9
A carta esquecida.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/197895/chapter/9


De um jeito meio doido, acabei achando o caminho para a sala de história da magia. Ninguém, nem mesmo o fantasma-professor, pareceu perceber meu atraso. Sentei-me ao lado de Henry, que estava com tanto sono que mal me notou.

Jamais gostei da matéria na Beauxbatons, e era impossível gostar em Hogwarts. O professor praticamente cantava uma canção de ninar ao invés de ensinar. Me dava sono ou me deixava entediada. Era uma armadilha, em geral. Ou eu começava a pensar no que estaria aprontando se estivesse com Alison, ou meu estômago começava a revirar, enquanto pensava que Dafne estava por aí, disfarçada, talvez até mais bem disfarçada do que eu. E eu tinha que estar preparada caso ela me encontrasse antes. Mas para estar preparada, precisava de um lugar para tentar preparar o veneno. Precisava daquela sala. Aquilo parecia a resposta às minhas preces, mas como ia saber se mais alguém podia vê-la? Eu nem sequer sabia o nome da sala, como pesquisaria na biblioteca? A menos, é claro, que eu conseguisse dar um jeito de perguntar à minha biblioteca móvel Hermione Granger. Claro, eu teria que editar. Diria que estava pensando num banheiro, ou no meu quarto em Paris, ou outra coisa. Ela devia saber o que era aquilo.

Olhei para Henry, do meu lado, com a cabeça apoiada na mão esquerda, parecendo uma criança às dez e meia da noite. Olhei para o resto da turma, e não estavam muito diferentes dele. Algo impediu minha mente de viajar desta vez: minha coruja, com a resposta de Alison, provavelmente.

“Querida Alyssa,

Não interessa como eu estou, se ainda estou com o idiota do Mason,ou como os meninos estão. O que interessa é saber se você realmente está bem, e que eu quero um relatório completo. Depois que receber o seu, enviarei o meu.

Au revoir, Alison.”


Típico. A coruja já levava dias para trazer as respostas e ela desperdiça. Eu considerava o correio como confiável, mas sinceramente, eu não queria ser sincera com Alison. Eu estava me sentindo: eufórica, pela sala secreta; no caminho certo, por ter avançado em poções; com medo, por saber que Dafne estava disfarçada por aí; culpada, por estar me afeiçoando a Henry e isso é só o começo. Eu teria que editar tudo, não precisava de mais alguém preocupado comigo. Fechei a carta e guardei na minha bolsa. Tentei me situar na aula, mas era impossível prestar atenção na guerra dos duendes.

É melhor usar um babador.


Escrevi para Henry, na esperança que ele acordasse e me fizesse companhia.

E eu achando que sabia disfarçar o sono.

Se você sabe disfarçar, então não quero nem ver quem não sabe.

Engraçadinha. Senti sua falta na aula de feitiços. O que houve com você?

Nada demais. Eu estava muito atrasada e resolvi não interromper.

Atrasada... ou tinha coisa melhor pra fazer?


Olhei para ele, com a cara mais inocente e descarada que consegui. Claro que ele tinha me visto com Draco Malfoy.

Não me julgue. Nós só conversamos.

Estou surpreso que ainda não tenha caído no charme dele. É um namorador em série.

Imaginei. Relaxa, não sou tão fácil de ser seduzida.

Ele virou e me lançou um olhar penetrante, do tipo que faria garotas normais suspirarem. Só então foi que reparei realmente em Henry. Os olhos e a cor dos cabelos combinavam. Ele tinha cílios espessos e o aspecto desleixado do penteado o deixava sexy. Isso, é claro, sem mencionar o sorriso branco e maravilhoso. No entanto, tudo que fiz foi rir.

É o melhor que pode fazer?

É o que tem pra hoje, princesa.

Como já disse, não sou facilmente seduzida, princeso.

xx

Querida Alison,

É claro que está tudo bem aqui.

Não acredito que você desperdiçou a chance de me escrever, a coruja já leva dias para

Está tudo ótimo, na verdade. Estou me adaptando à Hogwarts e


Suspirei alto, como de costume, e tentei relaxar meu músculos tensos na poltrona da sala comunal. Ah, quem eu estava tentando enganar? Apenas a única pessoa no mundo que me conhecia tão bem quanto eu mesma. Claro que ela não ia acreditar numa palavra que eu escrevesse, e com razão. Tentei de novo, dessa vez, realmente desabafando.

Allie,

"Eu estou bem". Digo isso sempre que me perguntam pela manhã, no café. E todos acreditam. Disse isso durante quase dois anos e todos acreditaram. Acho que na verdade, não queriam uma resposta verdadeira. Poucas pessoas se dignaram a me "pressionar" o suficiente para me fazer desabafar algumas vezes. Aaron, Courtney, Maurice, Pierre, Madeline, Rachelle... e você. Vocês são os melhores amigos que eu poderia arrumar nessa vida. No momento mais escuro, vocês atravessaram a muralha que coloquei entre eu e as pessoas e acenderam uma vela. Em um "tudo vai ficar bem", ou um "eu estou com você, estamos todos com você", nas farras na torre, à noite, nos abraços inesperados no corredor. Tudo isso foi importante demais pra mim e nenhum de vocês algum dia vai ter ideia do que é ficar sem isso. Todos os dias, quando acordo, me lembro que Danny não está me esperando em casa. Me lembro que nunca mais vou receber uma carta dele, me lembro que ele nunca vai me ver formada, tentando uma carreira no ministério da magia. Faz tanto tempo e ainda é tão doloroso. Sinto como se meu coração estivesse exposto e por isso, todos os dias, me obrigo a erguer uma camada enorme de gelo em volta dele. Porque só assim conseguirei que ficar sem vocês, sem meu "remédio", valha o esforço. Se eu quebrar, se eu ceder, terá sido em vão. Será só questão de tempo até que deixe uma mecha castanha se misturar às negras, ou então que a cicatriz escape e alguém comece a fazer perguntas. É por isso que todos os dias, quando acordo de manhã e lembro que Danny está morto, lembro que estou longe das únicas pessoas no mundo que se importaram comigo um dia e lembro porque estou aqui me mantenho forte, firme e segura. E se um dia eu nunca voltar (vamos admitir que isso é uma hipótese), quero que diga à todos o quanto me fizeram feliz. E quero que você nunca se esqueça que é a melhor amiga que alguém um dia, no mundo todo, poderá ter.

Eu sinto sua falta.

Dobrei o pergaminho e o coloquei de lado, no braço da poltrona. Então escrevi outra carta, dessa vez, com o relatório que ela pedira sem a depressão como acompanhante.

Querida Alison,

Sua idiota, sabe o quanto essa coruja demora pra trazer respostas? Está tudo caminhando. Pra frente, claro. Encontrei uma garota ótima em poções e ela está me ajudando. Ainda não é fácil, mas estou aprendendo aos poucos a arte do preparo. Principalmente, procuro aprender mais sobre um certo tipo de poções. Sabe, o tipo que mata. Eu sei, eu continuo irônica. É uma coisa que não consigo mudar com o disfarce porque faz parte de mim. Não tem muito para falar. Não encontrei ninguém conhecido, se é que me entende. Na verdade, até que encontrei. Sobre isso, diga à Brianna que logo logo sua decepção amorosa durante o torneio tribruxo estará vingada. Não está perfeito, claro. Meu maior erro tem nome: Henrique Richter. Ele é um amor. Você no meu lugar já teria se apaixonado por ele. Ele consegue ser engraçado, doce e espontâneo ao mesmo tempo. Às vezes me pego contando a ele algumas de nossas travessuras de criança, ou então comento algo sobre Daniel ou então deixo o receio de lado e acabo falando sobre Beauxbatons com tanto entusiasmo que, sinceramente, não sei como ainda me aguenta. Eu ouço também, claro, mas ter uma espécie de ombro amigo no meio de tanta confusão é reconfortante. Tomo todo cuidado do mundo para não mencionar que meu irmão está morto e que não sou Alyssa Rockfellery, claro, mas isso é irrelevante.

Pronto, aí está meu relatório. Agora quero uma versão detalhada de como você e Mason terminaram, quero saber como estão todos (isso inclui a nossa corja, a escola, os professores, o grupo de dança, o time, tudo). Não me esconda nada e não precisa se preocupar com o correio, é perfeitamente seguro.

Com amor (e saudade), sua melhor amiga.


Coloquei a carta num envelope, escrevi o nome inteiro de Alison e fui ao corujal. Procurei minha coruja de pêlos cor de creme Winry e a despachei rumo à Europa. Somente quando voltei à sala comunal, que estava vazia a não ser por Henry sentado em uma das mesas estudando, foi que percebi. A primeira carta, alí, na poltrona onde eu estivera sentada há poucos minutos. Alí, há alguns centímetros do curioso e às vezes inconveniente Henry.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Poxa já tava desanimando, uma semana e quase ninguém tinha lido '-' Enfim, estou demorando pra postar porque caso ainda não tenha mencionado, faço curso técnico à noite e à tarde divido meu tempo entre cuidar da minha irmã menor (o que dá um trabalhão, pode crer) e fazer os trabalhos e tarefas do curso. Maaaaas não se iludam, posso demorar séculos pra escrever, mas nunca vou abandonar a fic hehe. Nâo vão se livrar de mim tão cedo u.u Kisses, aproveitem o capítulo :)