Inside Blue Eyes. escrita por PrefiraTestralios


Capítulo 7
Os venenos mais lentos.




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(Flashback)

A delegação de Bauxbatons havia acabado de regressar. Estavam todos chateados por Fleur não ter ganhado, mas também pareciam felizes por ter estado lá. Brianna, a irmã mais velha de Alison, por sua vez, estava em prantos. 

 Aquele loiro idiota. Me seduziu com palavras bonitas e promessas. Ele só queria me exibir para os amigos mais idiotas ainda, ele nem sequer me acha bonita. Claro que não, quem ia achar? Se nem um idiota com um nome estúpido me acha boa o suficiente, porque o Cálice de Fogo acharia? Eu nunca devia ter ido até lá, nunca. Draco Malfoy, um pirralho, idiota. Ele nem me convidou para o baile e foi com uma vadia com cara de buldogue. Ele só queria que eu me entregasse e eu quase fiz isso, dá pra acreditar? Eu não acredito que tive que passar por isso... 

A coitada não parava de chorar. A irmã mais nova, Astoria e todas as amigas de Brianna tentavam consola-la. Diziam que ele era um idiota e que logo ela arrumaria um bom rapaz francês que a levaria a todos os bailes que ela quisesse. 

— Como é que eu decaí tanto? Ele nem é tão bonito assim, aquele filho da mãe. "Você não pode resistir ao meu charme para sempre" foi o que ele disse. Aquele imbecil (...)

— Você é o loiro idiota... — sussurrei, ainda atordoada. Então minhas suspeitas estavam corretas. Ele realmente era o tipo de cara que só quer uma garota pra se exibir. E depois a joga fora, como se fosse descartável. Brianna não era como Alison. Ali teve vários namorados, ficava péssima a cada término mas erguia a cabeça e logo estava de volta à ativa. Brianna, apesar de mais velha, era sensível. O tipo de garota com um coração de porcelana, fácil de quebrar."mantenha a cabeça fria, menina." uma voz dentro da minha cabeça sussurrou "você precisa dele. Depois que achar Dafne, pode se vingar dele também." 

— O que disse? 

— Nada. Eu tenho que ir pra aula.

Passaram-se algumas semanas, e nem sinal de Dafne. Eu não imaginava que fosse fácil, mas não achei que encontrá-la seria o mais difícil. No entanto, estava avançando em poções então investi nas minhas aulas particulares. Hermione era uma diva, sério. Alison ficaria com ciúme se ouvisse isso, mas ela era ótima. Se sentia desconfortável usando meu vira-tempo, então pediu pra que estudássemos quando ela terminasse os deveres dela. Era corrido, eu sabia, mas ela tentava achar uma brecha. Uma vez, chegou com uma cara de mau humor e me mandou aprender com Harry Potter. Eu apenas ri e disse que se ela não pudesse me ensinar, eu continuaria com as notas baixas. Sua exclusividade pareceu animá-la.

— Você está fervendo demais, deixe menos tempo. 

— Ah... eu nunca sei quando tirar. 

— Você está indo bem. TIrou um 90 no seu último trabalho, não foi?

— É... — dei um risinho — graças à você. 

Eu ainda tinha muitas dúvidas se ela era confiável. Mas já estávamos nisso há algum tempo e eu precisava de mais. As notas não eram meu alvo, claro, mas precisava de uma desculpa. 

— Hermione... o que sabe sobre venenos? 

— Sei que um bezoar pode salvar alguém de quase todos... — e continuou falando, por um tempo. Então percebi que na verdade não sabia o que estava procurando. Tentei ignorar a dor e foquei na lembrança da morte do meu irmão. Ele estava de bruços e quando o virei, estava com os olhos abertos, a boca cheia de espuma, o corpo branco. Era só. Nada característico que me fizesse pensar em um dos venenos que Hermione descrevia. Me interessei por um, que segundo ela, matava lentamente. Ia apertando os órgãos até chegar ao coração. 

— E você sabe onde consegui-lo? — não consegui refrear minha ansiedade, ela simplesmente transbordava nas palavras e no olhar.

— Alyssa, o que você está querendo...

— Não, é que... meu irmão. Morreu envenenado e talvez isso seja uma pista. Ainda não descobriram quem foi. — Baixei os olhos. Legal, talvez agora ela achasse que eu era louca. Ou se tocasse que eu só estava aqui pra isso. 

— Eu sinto muito. Realmente não sei o que dizer, Allie... 

— Não tem problema. A maior parte dos discursos no enterro dele era falso então parei de me importar com o que dizem. — dei de ombros. Ela colocou a mão sobre a minha e sorri, realmente grata por ela não fazer mais algum comentário melancólico. 

— Acho que se vendem esse tipo de coisa é na Borgin&Burke, no Beco Diagonal. Não é muito fácil preparar e muito menos se achar pra vender. 

— Ah, tudo bem. Eu estou meio cansada, podemos encerrar por hoje? 

— Claro que sim. Você está indo bem, logo vai me dar aulas ao invés do contrário.

— Eu duvido. — sorri — Boa noite Hermione. Mais uma vez, obrigada. Mesmo.

Fui dormir atordoada. A lembrança da morte dele era tão viva... como se tivesse sido ontem e não há tanto tempo. Contive as lágrimas até chegar no dormitório. Não consegui ser cordial e conversar com as meninas, apenas coloquei meu pijama e me deitei. Não preguei o olho, mas já esperava por isso. Não me fazia bem lembrar a morte do meu irmão, nem a da minha mãe. Ambas me deixavam sem sono e revoltada. O que aconteceu com a minha mãe foi uma fatalidade. Um acidente. Mas Daniel ter morrido me deixava enjoada. Era tão injusto que ele tivesse que morrer. Ele era jovem, cheio de vida, com planos, sonhos e sempre olhando pra um futuro que nunca chegou. Ele ia pedir a garota que gostava em namoro. É tão estúpido que todos os hipócritas que foram ao enterro acreditem no suicídio. Ele nunca seria covarde o suficiente pra tirar a própria vida e nem ao menos tinha um motivo pra isso. Olhei para o relógio e percebi que eram quase duas da manhã. Levantei-me em silêncio, abri o malão e tirei de dentro dele minha caixinha de relíquias, que até agora havia permanecido guardada. Lá estavam as coisas que eu nunca conseguiria me despedir, e também os meus motivos para voltar. O vira-tempo que foi do meu avô, de Danny e agora era meu, a varinha de Danny, que eu escondi para que não fosse enterrada com ele, o endereço de Alison (o que me lembrou que eu não escrevera ainda) e uma foto nossa, numa época em que eu sabia rir de um jeito só meu. Tentei não olhar muito para as outras fotos de meus amigos, porque eu sabia o quanto a saudade poderia doer, e fui direto para o que estava procurando: a carta de suicídio. 

"Meus amigos, minhas irmãs, meu pai, meu amor (...) creio que é a última vez que lhes escrevo. Não posso mais suportar tal dor e nem pretendo lutar contra ela. Eu cometi um grave erro terminando o namoro com Laurel, e ela tem toda razão em não me querer de volta. Eu sempre fui meio insensível mesmo, meio canalha e nunca liguei para os sentimentos dela. Foi tarde para perceber que a amo demais para viver sem ela. Minha linda, lhe peço que siga com sua vida. Tenha os filhos que nunca tivemos, compre a casa que nós comprariamos e seja feliz com quem você escolher. Talvez um dia nós nos reencontremos num mundo sem dor e sem as complicações que nos afastaram tanto.

Com amor, Danny."

Reprimi o impulso de amassa-la, como toda vez que a relia. Era um absurdo acreditarem que a carta era dele! Ignorando todas as evidências, como Dafne e Danny terem o mesmo garrancho, ele ter descoberto seu segredo nesse mesmo dia, a inexperiência dele em venenos e, é claro, a fuga, ele nem estava infeliz com o término do namoro com Laurel McPhee, mas muito pelo contrário! Estava feliz porque era apaixonado por Brianna há tempos e estava prestes a convida-la pra sair. A única coisa que o mantinha no relacionamento era a mentira de Laurel, que foi capaz de inventar um filho para segura-lo. Eu não a culpava, afinal, meu irmão era encantador e ela o amava mais que a sí própria desde criança. Mas, caramba, como podem acreditar que ele se mataria por isso?! Era um absurdo. 

Pelo fato de ele gostar de Brianna, Alison acreditou em mim quando disse que suspeitava de Dafne. Contei a ela o que ele tinha descoberto e relatei-lhe todas as evidências. Ela me incentivou a tentar seguir a vida, afinal Dafne poderia estar em qualquer lugar do mundo. Sempre tive suspeitas de que ela estivesse em Hogwarts, mas segui os conselhos da minha amiga e fui levando. Voltei pra escola e, sinceramente, não sei como meus amigos me aguentaram. Deve ter sido uma tortura para eles ver uma amiga tão cheia de vida passar a ser algo vazio, com um olhar distante. Com o tempo, fui melhorando. Passei a fingir que estava bem. Na verdade, meus amigos mais próximos não acreditavam muito nisso, mas em vez de tentar me fazer falar sobre o assunto, tentavam me fazer rir. Me abraçavam nos corredores. Eu logo teria melhorado de verdade. Olhei acidentalmente para uma foto, tirada na escola antes de tudo. Não pude segurar as lágrimas, então deixei rolar. Chorei em silêncio toda a saudade que sentia, todo o arrependimento de não ter aproveitado mais meu irmão, aproveitado meus amigos, minha vida. Enfim, só tive certeza de que Dafne estava em Hogwarts quando a delegação de Beauxbatons voltou do Torneio Tribruxo na Inglaterra. Aaron, um de meus amigos mais próximos, havia estado lá. "Astoria, você não teve mais notícias de Dafne?" "Não, ela sumiu." "Ah, pensei te-la visto em Hogwarts. Eu até a chamei mas ela não respondeu então acho que era outra pessoa mesmo. Extremamente parecida, aliás." Aquilo bastou. Terminei o ano letivo, tentei fazer meu pai insano voltar a sí e quando vi que não dava mais, me emancipei. Ainda não posso fazer magia fora da escola, mas posso cuidar de coisas burocráticas como minha matrícula e meu apartamento em Londres. Dinheiro nunca foi meu maior problema então não havia desculpas para continuar a vida inteira pensando em como teria sido se eu corresse atrás. Não contei nada a meus amigos, mas acho que eles sabem. Alison nunca contaria um segredo meu, mas sempre fui transparente demais com todos eles. Eu restauraria a honra de Danny, provaria a todos os hipócritas idiotas que ele havia sido assassinado e depois fugiria para uma praia no Caribe e refaria minha vida. Quase ri do meu sonho muito distante... mas a primeira coisa eu faria. Eu provaria que estava certa desde o começo. Eu honraria meu irmão. 


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