Inside Blue Eyes. escrita por PrefiraTestralios


Capítulo 36
Teoria da Semelhança.


Notas iniciais do capítulo

Gente, mil desculpas por não ter postado mais. Aconteceram mil coisas, depois mais mil, depois eu excluí o capítulo todo porque achei uma bosta e tive um puta bloqueio na hora de escrever. Enfim, tomara que alguém ainda leia isso ):



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Aos pés da escada que dava no dormitório dos meninos estava Henry. Desmaiado, com sangue jorrando de uma ferida na cabeça em uma velocidade assustadora. Minha vontade era de descer correndo, mas senti que ia desmaiar. As paredes entravam e saíam de foco, e o barulho causado pelos alunos saindo de seus dormitórios não ajudava em nada. Comecei a cair, e senti alguns braços me ajudando a sentar no chão. Esperei a pior parte da tontura passar e desci. Alguns alunos perguntavam o que havia realmente acontecido e outros apenas faziam barulho. De repente a Sala Comunal ficou cheia demais, e aquilo estava me deixando louca. Segui a professora até a enfermaria, mesmo que não devesse. Provavelmente ninguém tinha permissão para acompanha-la. Mas eu não ligava. 

Então esse era o plano. Atingir Henry. Claro, Pansy nunca machucaria Draco. Dafne talvez, mas Pansy jamais, e meus instintos me diziam que a parte das ideias cruéis era totalmente de Pansy. Não que minha irmã tenha sido uma santa durante o tempo em que convivemos, mas ela nunca foi muito boa com ideias. Esperei pelo que me pareceu mais de três horas, escondida atrás de uma cortina em um dos leitos da enfermaria. Tentei bloquear os detalhes dos ferimentos, mas consegui ouvir o principal. Perna quebrada, e a ferida horrível na cabeça, ao lado da sombrancelha esquerda. Não era grave, a perna foi concertada num feitiço só, e o sangue foi estancado quase imediatamente. Mesmo assim, quando a professora se foi, e Madame Pomfrey também, não pude evitar as lágrimas. Vê-lo em uma cama, inconsciente, mesmo que já medicado, fez eu me lembrar do que vim fazer em Hogwarts: acertar as contas com minha irmã. Será que era apenas um aviso? Ou será que Pansy estava irritada demais por eu ter roubado seu namorado? Ou foi apenas uma tentativa de me "presentear" pelo aniversário? Peguei em sua mão, sentei ao seu lado e deixei algumas lágrimas insistentes saírem.

xx

— Allie? — ouvi uma voz sussurrar meu nome. Ergui os olhos e percebi que Henry estava acordado. Quanto tempo havia se passado? Eu não podia correr o risco de ser pega dormindo em cima do leito de Henry. Agora eu era... hm, comprometida. Olhei no relógio, quase três horas. Tempo de sobra para enfrentar a Mulher Gorda e voltar para a minha cama. — O que aconteceu? Ai! 

— Não mexe, acho que ainda não está completamente curado. 

— Onde eu bati a cabeça com tanta força?

— Você... — hesitei. Contar a Henry sobre a queda seria o mesmo que contar que a culpa era minha. Mas era melhor ele saber por mim. — Você caiu da escada. Eu tenho que voltar para o quarto, ninguém sabe que eu estou aqui. 

— A gente conversa amanhã?

— Ok. Dorme um pouco, Henrique. 

Esperei pelo sono, mas ele não veio. Acendi uma luz e tentei ler, mas ainda assim o sono não veio. Tentei até mesmo pensar na minha música preferida, mas o sono não veio mesmo assim. Tive certeza de que era inútil, eu não dormiria de novo. Senti um alívio momentâneo quando estava perto da hora do sol nascer, pois eu poderia ao menos andar pelo castelo. Fui até o corujal e mandei Roxy com um bilhete para Draco. 

 — Não volta aqui sem uma resposta, tá? 

Despachei Roxy e esperei, alí mesmo, impaciente, andando de um lado para o outro por longos dez minutos até receber uma resposta com uma caligrafia que só poderia pertencer a alguém com muito sono. 

"Te encontro na torre em cinco minutos." 

Quando cheguei, ele já estava lá. Com o cabelo, que sempre estava impecável, meio bagunçado e com uma cara de sono. Isso me fez pensar em como eu devia estar parecendo. Com meus cabelos longos presos em uma trança mal feita antes de tentar dormir ontem, sem nada de maquiagem e com a primeira roupa que achei, um moletom velho e largo e uma calça qualquer. Meu figurino poderia me render uma suspensão em Beauxbatons. Na verdade, eu poderia até estar vestindo meias diferentes. Mesmo assim, Draco não hesitou em abrir os braços assim que me viu. Sem pensar, me aninhei neles e quando me aninhei, não consegui segurar as lágrimas novamente. 

— Foi culpa minha, Draco. É tudo culpa minha. 

Ele apertou o abraço e afagou minhas costas, provavelmente escolhendo as palavras. 

— Porque não me conta direito essa história?

— Henry... — senti sua postura enrijecer, mas continuei mesmo assim. Eu precisava desabafar. — Ele caiu da escada. 

— Ele tá bem? — perguntou, sem me liberar do abraço

— Sim... mas está na enfermaria. 

— Você o empurrou da escada?  

Empurrei Draco para trás e enxuguei as lágrimas. Falar com Draco foi um erro estúpido. Já era ruim demais todos os nossos segredos. Minha verdadeira identidade, quem me atacou perto da Sala Precisa quando ele me salvou e o que Draco faz quando some, são segredos que por enquanto estavam em panos quentes então não atrapalhavam nossa vida. Mas de certa forma, chorar pelo acidente de Henry na frente dele me dava a sensação de que tudo viria à tona logo, logo. 

— Não... eu não sei. A culpa foi toda minha, Draco. No meu aniversário, no dia em que fizemos as pazes. Atingir a mim não era mais suficiente... 

— Allie. — Draco pegou em minha mão, me fez sentar e sentou do meu lado — Porque a culpa é sua? Tenho certeza de que foi só um acidente. 

— É coincidência demais... eu recebi o aviso e ouvi o barulho, então ele estava lá. Eu achei que estivesse morto. — abracei os joelhos e colei a cabeça nas pernas, como uma criança envergonhada. Tentei me recompor e pensar numa desculpa para as próximas perguntas que viriam. Mas as perguntas não vieram. As perguntas não vieram, e o carinho continuou. Assim como quando Draco falou sobre a família e me pediu para... — Draco.

— Eu estou bem aqui.

— Me promete uma coisa.

— Que coisa?

— Que vai ficar longe de Pansy Parkinson. Por favor, promete?

— Você não tem que se preocupar com Pansy, Allie. Ela vem atrás de mim às vezes, mas eu não gosto dela. Juro.

Balancei a cabeça negativamente. Isso aqui não era sobre ciúmes, e ele sabia disso. Provavelmente estava apenas tentando me acalmar.

— Longe, Draco. Por favor, promete. Eu prometi uma coisa a você sem questionar.

— Eu prometo ficar longe da Pansy.

— E das amigas dela também? — acrescentei, mesmo tendo quase certeza de Dafne estar na grifinória. Pelo menos grande parte do tempo. 

— Das amigas dela também. 

Suspirei, em alívio e encostei minha cabeça em seu ombro. Chorar tinha dois efeitos diferentes em mim: ou me dava alívio, ou me dava uma dor de cabeça sem fim e me deixava exausta, assim como hoje. Olhamos o sol nascer juntos e em silêncio, ambos receosos demais para dizer algo. 

— Sabe... — Draco começou — Uma hora nós dois vamos ter que parar com isso. 

— Isso o que? 

— Esses segredos. Se a gente quiser realmente dar certo. 

— Mas não precisa ser agora. 

— Não... não precisa ser agora. 

Draco e eu matamos um dia todo de aulas. Imprudente, já que os NOM'S estavam cada vez mais perto, e bobagem, já que eu estava melhorando minha frequência e reputação com os professores. Mesmo assim, eu precisava de um abraço interminável e de carinhos sem perguntas. Não visitei Henry o dia todo. Esperei por Lyla para ouvir notícias. 

— Ele vai poder voltar para as aulas amanhã. O estranho é que ele disse que não se lembra de nada... — concluiu, depois de me dar o relato sobre os ferimentos e o estado de saúde de Henry. Se algum dia houve qualquer resquício de birra entre nós duas, estava acabada. Lyla estava sendo paciente e respondendo todas as minhas perguntas com uma atenção mais que digna. De um jeito estranho, o acidente nos uniu.

No começo, achei estranho Lyla não ter ido atrás de Henry como eu, mas depois percebi que era apenas uma diferença de personalidade. Eu sou completamente irracional e impulsiva quando se trata de pessoas que amo, enquanto Lyla permanece racional e impassível.

— O que você acha que aconteceu? — perguntei, fitando o dossel da cama. 

— Como assim?

— Ele caiu, ou... — minha voz falhou

— Você acha que pode ter sido...empurrado ou enfeitiçado?

— Eu não sei. O que você acha?

— Eu acho.. acho que ninguém teria motivo suficente pra fazer isso. Henry não tem inimigos. 

Infelizmente, anda com pessoas que tem, pensei.

Lyla desceu para o jantar, depois de insistir muito para que eu descesse também. Mesmo tendo passado o dia praticamente em jejum, preferi ficar um pouco sozinha. Que diabos eu ia fazer agora? As últimas semanas foram tão maravilhosas...apesar de estar distante de Alison e Henry, elas conseguiram me fazer esquecer da minha vingança. Talvez eu devesse voltar para a França. Talvez o túmulo de Danny, seu antigo quarto cheirando à mofo e nossa casa vazia me dêem um bom choque de realidade. Acho que passei tanto tempo e gastei tanta energia vivendo Alyssa Rockfellery que acabei esquecendo quem é Astoria e o que ela passou. E de quem é a culpa. 

xx

— Você sabe que precisa comer, né? — perguntou Robbie, quando notou que meu almoço estava intocado. Forcei um gole de suco, tentando disfarçar. 

— Eu disse comer, não disfarçar. Você não engana ninguém, todo mundo sabe que você detesta suco de abóbora.

— Eu prefiro café, mas não vai me fazer bem.

— Ai meu Deus, você... 

— Fale mais baixo, está assustando os segundanistas. — pedi

— Tá olhando o que? 

A garotinha do segundo ano que estava prestando atenção na nossa conversa corou e voltou a atenção para seu prato. Por medo de Robbie ou porque percebeu que não sabia ser discreta... tanto faz. 

— Você está grávida? — perguntou Robbie, num sussurro. 

— Tá brincando, né? 

— Não! Quer dizer, acho que não. Você não come, e levanta no meio da noite e depois some o dia todo. Anda meio estranha, sei lá... 

— Eu não estou grávida, Robbie. Eu só estou...preocupada. — peguei o garfo e comecei a colocar o purê de batatas pra dentro.

— Você foi ver o Henrique ontem?

— Não. Eu preciso sair daqui, Robbie. A gente se vê.

Larguei o garfo, peguei minha mochila e saí, ciente de que não conseguiria comer um grão antes de conversar com Henry. Eu contaria a verdade. Diria que a culpa foi toda minha, e que enquanto eu não desse um jeito na minha irmã isso poderia muito bem acontecer de novo. Foi uma decisão tomada num momento de insônia, no meio da madrugada, depois de acordar de um pesadelo, mas mesmo pensando com clareza me parecia a coisa certa a se fazer. 

— Você não devia estar na aula? — perguntei

— Olha só quem fala. — respondeu Henry, tirando os olhos de um livro sobre uma das mesas da Sala Comunal.

Sentei na cadeira ao lado dele, e tirei de dentro da bolsa o bilhete com a ameaça. "Se você não cair, alguém cai por você". Essas palavras não saíam da minha cabeça. Eu quase podia ouvi-las saindo da boca de Pansy. 

— Quando foi que você recebeu isso? — perguntou Henry. Deitei os braços na mesa e enterrei a cabeça neles. Eu me recusava a encara-lo. O que ele estaria sentindo agora? Ódio? Medo? —   Allie...

— Alguns minutos antes de você... cair. 

— Mas isso não faz sentido. A gente tinha acabado de fazer as pases. 

Me obriguei a olhar para ele. Estava pálido, mas podia ser por causa do acidente. A expressão de confusão ia gradativamente desaparecendo. 

— Quantos bilhetes como esses você já recebeu?

— Alguns. — respondi, mantendo a decisão de contar a verdade — Mas nenhum deles ameaçava ninguém. 

— Só você. — completou

— É.

— Como é que você esconde uma coisa dessas? 

— E que horas eu ia contar? Enquanto você estava inconsciente? 

— Não, idiota. Como é que você esconde que está sendo ameaçada. 

— Henrique, vir pra cá já me torna ameaçada, direta ou indiretamente. Eu não estou tão diferente assim, minha irmã não é burra e nem a amiga idiota dela, é claro que elas querem mexer com meu psicológico também. 

— Mas sua irmã não deveria ser da Sonserina? 

— Sim. — suspirei — Eu tenho mil teorias para isso, uma mais improvável que a outra. 

— Vamos fazer uma lista. — Henry puxou um pergaminho e pena — Um?

— Um cúmplice na Grifinória. Improvável porque...

— Porque Grifinório nenhum ia se prestar a isso. Teoria descartada. — Escreveu e logo fez um X ao lado.

— Ela pode ter conseguido a senha e entrado para deixar o bilhete. 

— Isso não é assim, tão improvável. 

— Eu acho que eu teria visto. Pelo menos na vez em que fui atacada no dormitório. E chamaria a atenção, não? Praticamente todo mundo aqui se conhece. 

— Difícil, mas não improvável. Já pensou que ela pode estar disfarçada? Quer dizer, vocês são irmãs, ela tem o mesmo gene metamorfomago que você. 

— Já pensei nisso, mas é completamente improvável. Ela nunca conseguiu mudar a cor de um fio de cabelo. Pode até estar disfarçada, o que nos leva a próxima teoria, mas usando outros meios.

— Terceira teoria descartada. 

— Já chega desse assunto. Só faz eu me sentir ainda mais impotente. É só um jogo, se ela quisesse uma briga me encarava de frente, mas prefere esses bilhetes idiotas.

— Isso me leva à uma teoria. 

— Que seria...

— Não sobre quem ela é, mas sobre o que ela quer. Ela foi embora de casa, veio pra cá e reconstruiu a vida dela. Você fez o mesmo, não percebeu? Ela só quer manter você longe. — olhei para Henry incrédula, e com medo das próximas palavras — Você tem amigos aqui, professores que gostam de você e um elfo doméstico que te traz café. Tem até um namorado idiota. — revirei os olhos — Vocês são parecidas. 

— Como assim parecidas? Henry, ela...

— Eu sei o que ela fez. Mas vocês duas refizeram suas vidas aqui, e do mesmo modo. Deixaram o passado pra trás. 

Eu queria discordar de Henry. Queria berrar que ele estava errado, que eu detestava Hogwarts e queria voltar pra casa. Mas pra qual casa? Paris era meu lar, mas pra que eu voltaria a essa altura? Não havia mais nada pra mim lá. Nenhuma família me esperando em casa. Beauxbatons certamente não me aceitaria de volta. Nem mesmo as cartas de Alison chegavam mais. Eu havia realmente refeito minha vida em Hogwarts, e estava feliz demais com ela pra deixar meu passado com Dafne atrapalhar tudo. 

— Você tem razão. — cedi, por fim.

— Em geral tenho. E o que vai fazer?

— Vou terminar o que vim fazer. E logo, — sorri — preciso estudar para os NOM'S.


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