Inside Blue Eyes. escrita por PrefiraTestralios


Capítulo 35
Ametista.




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— Ah, me ajuda Alyssa, por favor. Deve ter algo no mundo que você queira. 

"Uma carta da minha melhor amiga. Ou apenas poder te dizer meu nome verdadeiro", pensei em responder. A semana do meu aniversário estava sendo horrível, para não usar a palavra péssima. As cartas de Alison realmente pararam de vir. Me preocupei no começo, e mandei várias implorando notícias e atualizando as novidades, mas quando o tônico de Roxy acabou e eu não recebi resposta alguma, desisti. Henry havia feito diversas tentativas de contato, mas eu recusei todas. Ignorei os sorrisos e até mesmo os cumprimentos. Eu poderia lidar com seu namoro, afinal, nunca fui apaixonada por ele ou algo do tipo. Eu nem mesmo sou ciumenta. Além disso tudo, Draco estava me pressionando para saber o que me dar de presente, o que fez eu me arrepender amargamente de ter comentado a data. 

— Eu não quero nenhum presente, Malfoy. Já te disse isso mil vezes. 

E eu realmente não queria nada. Ter Draco só pra mim, mesmo em apenas alguns momentos roubados entre algumas aulas nos dias mais difíceis (e suspeitos, pois ele desapareceu em alguns) era um consolo. Simplesmente sentar na "nossa torre", ficar recostada em seu peito e deixar que ele me abraçasse por trás, mesmo que não conversássemos, me confortava. Por um minuto eu esquecia de Alison e Henry, volta e meia me esquecia até da Astoria. Menos, é claro, quando ele começava a perguntar sobre meus desejos de aniversário. 

— Eu não posso não te dar um presente de aniversário. Isso seria um suicídio como namorado. Você tem que me ajudar, eu estou perdido. O que seu último namorado te deu?

— Um cachorro de pelúcia. — respondi, e me arrependi na mesma hora. Eu não gostava de falar sobre Pierre, sempre deixava Draco com raiva ou ciúme. Ou os dois. — E eu gostei tanto que ele ficou na França com minhas outras tralhas. 

— Você gosta de bichos de pelúcia? 

— Não, eu gosto de cachorros. 

— É, talvez eu possa trazer um cachorro da América. 

— Cachorro da América? 

— É. Bom, eu sei que você é louca pra conhecer a América e agora sei que gosta de cachorros. 

— As chances de você me conseguir um cachorro são as mesmas da gente ir pra América. — ri

Ele ficou em silêncio por um tempo antes de responder. 

— Acha que um dia nós poderíamos? 

— Ter um cachorro?

— Não, Allie. — eu praticamente podia ouvi-lo revirando os olhos — Ir embora. Pra América ou pra qualquer outro lugar. 

— Não seria por falta de vontade. — respondi, com um pouco de tristeza na voz. Fugir com Draco para um lugar quente onde Dafne Greengrass e minha vida problemática seriam passado era a ideia mais tentadora do mundo. 

— Você iria comigo? Pra não voltar nunca mais? 

Senti seu coração acelerar. Que assunto era esse? 

— Você está brincando? — me inclinei para o lado e encarei-o nos olhos. 

— Você sabe que as coisas estão feias por aqui. Pode ser que uma bomba estoure em breve. 

Voltei para meu lugar e comecei a escolher as palavras. Estávamos mesmo começando essa conversa?

— Você está falando sobre... Voldemort? — senti seu corpo enrijecer.

— Quem falou com você sobre isso? — perguntou, com a voz um pouco alterada, mas tentando controlar. 

— Várias pessoas, — menti — não é um assunto desconhecido. 

— E o que você sabe, exatamente? 

— Não muito. Sobre a coisa com os nascido-trouxas e o passado... ruim. 

— E sobre a minha família? Eles te falaram alguma coisa sobre a minha família? E sobre mim, o que foi que te disseram? — perguntou, mas com a voz embargada. O abraço de repente ficou mais apertado, com um toque de fúria. Depois afrouxou. Deixei seus braços e sentei de frente para ele. 

— Você sabe a fama que tem, Draco. Eu não vou mentir pra você. — "não vou mentir mais pra você", completei na minha cabeça. Ele virou para o lado e evitou me olhar — Ei, olha pra mim. Eu estou aqui. Mesmo com tudo que eles falam sobre os Malfoy, mesmo com tudo que falam sobre você. Eu não me importo. — "Só quero garantir que você não seja como eles", completei também.

No momento em que vi Draco à beira de lágrimas e sofri com isso, soube que estava tudo arruinado. Meu plano de transformar Draco em um homem bom, diferente da família comensal; e principalmente a parte de abandoná-lo depois de resolver as coisas com Dafne. Era tarde demais. 

Abracei-o e deixei que ele molhasse minha blusa com as poucas lágrimas que se permitiu soltar. 

— Não é culpa minha. Eu nunca tive alternativas, Allie. Eu nunca fui livre como você, nem nunca vou ser. — Acariciei seus cabelos e deixei que continuasse. Era a primeira vez que desabafava comigo, e eu não queria estragar tudo. — E sabe o que é pior? Eu queria. Eu sempre admirei a pureza de sangue e a tirania. Sempre soube que era o único caminho para a raça bruxa...

— Você é livre. — Agora eu estava irritada. Com a família de Draco, com esse tal de Voldemort, com esse conceito puro-sangue idiota, com o mundo. Sabe-se lá quantos outros garotos estão indo pelo caminho errado, apenas seguindo os passos da família e achando que é o certo a se fazer. Que é o único caminho. Isso não iria acontecer com Draco. Não enquanto eu ainda estivesse aqui. — Vamos embora então. Para a América, Austrália, Nova Zelândia ou qualquer outro lugar. 

— Se ao menos isso resolvesse alguma coisa... se ao menos deixasse alguém seguro. 

Não soube o que responder. Nem queria responder. Só queria mante-lo aqui, nos meus braços, longe de tudo. 

— Desculpa. Você deve estar me achando um idiota fraco por isso. — De repente ele estava com raiva e me afastou como se eu fosse tóxica. 

— Não. — Sequei uma de suas lágrimas — Você é só humano. Ninguém é forte o tempo todo. 

— Eu deveria. 

— Você não é de pedra, como quer parecer. Você também sente. 

Esperei que dissesse alguma coisa. Mas ele não o fez.

— Então. — sentei ao lado dele e puxei um de seus braços pelo meu ombro — Você quer falar sobre isso ou prefere continuar em silêncio?

— Eu só quero te pedir uma coisa. 

— Peça. — tentei parecer confiante, mesmo quando seu braço ficou rígido feito pedra.

— Não diga o nome dele. 

— Voldemort?

— É. Por favor, prometa que não vai dizer mais. 

— Tudo bem, mas... porque?

— Só me prometa. 

— Tá... tudo bem. Eu prometo. 

xx

Passear em Hogsmead de mãos dadas com Draco começou sendo a coisa mais estranha do mundo. Mais uma vez era inevitável fazer uma comparação com meu último namoro, em que passeios românticos eram rotina e não eram motivos de tantos olhares. Considerando que o namoro não deu certo, talvez não devesse tomar Pierre como base. Depois de um tempo, comecei a prestar atenção à minha volta, e percebi realmente a má fama que Draco tinha. Normalmente, eu não me importaria, mas hoje estava me enchendo de fúria porque eu podia ver o esforço que Draco estava fazendo pela data. Me enchendo de doces da Dedos De Mel, me levando ao Três Vassouras e encarando mais olhares, dessa vez de meus amigos grifinórios. Não demonstrei minha raiva, mas acho que Draco percebeu meu alívio quando começamos a andar por lugares mais vazios. 

— Como assim você ainda não tinha visto a Casa dos Gritos? Todo esse tempo em Hogwarts...

— Então esse é o Ponto de Encontro da Sonserina? Sinceramente, esperava algo mais assustador. Talvez gritos e alguns fantasmas. 

— Seria mais assustador ainda se colocassem você lá, quando está de mal humor. 

— Engraçadinho. Como se você fosse a coisa mais linda do mundo quando acorda mal humorado. 

Ele não se deu ao trabalho de retrucar. Ao invés disso, me beijou. 

— Você é a coisa mais linda do mundo. 

— Diz isso porque nunca passou meia hora na minha antiga escola. 

Mais uma vez, não se deu ao trabalho de retrucar. Esperei por um segundo beijo, mas em vez disso, Draco pegou minha mão e colocou no meu dedo anelar o anel mais lindo que eu já vi. 

— Você disse que não queria presentes. Mas uma vez mencionou que gostava de ametistas. 

— É... lindo. — ergui a mão na altura dos olhos para admirar o anel, com formato oval e uma pedra roxa na mesma forma. Se encaixava perfeitamente no meu dedo.

— Era da minha mãe. E antes disso foi da minha avó, e antes disso da minha bisavó. Agora é seu. 

— Ela não ficou brava? — perguntei, meio incrédula

— Bom, normalmente ela perguntaria se você é sangue-puro, mas ultimamente anda com tanta coisa na cabeça que a única pergunta que fez era se você valia a pena. 

— E o que você respondeu? — perguntei, um pouco presunçosa. 

— Que se você não valesse a pena, ninguém mais valeria. 

Duvidei que ele tivesse usado essas palavras, mesmo que fosse apenas em uma carta. Mas isso não tirou o romance do momento e nem o valor do presente. 

Entrei na Sala Comunal e num canto havia uma festa surpresa. Que realmente foi surpresa. Fiquei feliz ao saber que, apesar de não ser tão popular quanto em Beauxbatons, eu tinha algumas pessoas se importando comigo em Hogwarts. Pessoas que trouxeram bolo de chocolate branco porque era o meu favorito, e me fizeram sentir especial. Quando Henry chegou, simplesmente cruzei os braços e esperei. 

— Hm... parabéns. 

— Obrigada. 

Ele sorriu e me estendeu um bolo, ligeiramente menor do que o outro, com as palavras "Sinto muito, fui um idiota. Me desculpa!". Tentei manter a carranca, mas não consegui. Aquele, com certeza, era o pedido de desculpas mais original do mundo e não tive como negar. 

— Vem aqui, seu idiota. — Abracei-o 

— Eu sei que não devia ter me afastado. — Estávamos agora só nós dois, comendo os últimos pedaços de bolo e colocando a conversa em dia — É que eu realmente queria dar certo com Lyla. E na minha cabeça, ela era uma pessoa ciumenta como eu, então achei que se continuasse falando com você ela surtaria, algo assim. 

— Sabe que isso é ridículo, né? Eu me dou bem com a Lyla. 

— Agora eu sei. Na verdade, conversamos sobre isso. 

— Conversaram, é? E ela?

— Ela me chamou de idiota e disse pra te pedir desculpas. Então eu tentei fazer isso na aula de feitiços e descubro que você dormiu com Malfoy. — ri

— Eu não dormi com Malfoy, seu idiota. Quer dizer, tecnicamente dormi, mas não do jeito que você pensa. 

— Quer dizer de que jeito?

— Do jeito que nós dormimos no natal. Só que com um pouco mais de malícia. Basicamente, ficamos no pré-liminares.

— E agora? Vocês estão juntos de verdade?

— Sim. — suspirei — Ainda é meio difícil lidar com os olhares. Mas eu me acostumo. Principalmente quando acabo ganhando um anel de ametista.

Subi para o quarto, com a barriga cheia e feliz por meu décimo sexto (ou décimo quinto, na verdade) aniversário não ter sido um desastre. Quando joguei meu casaco na cama, notei o embrulho. Abri cuidadosamente, como se fosse uma bomba. Quando vi o conteúdo, meu coração deu um salto que chegou até a doer. Era um ursinho de pelúcia. Inútil, sujo e velho, que eu brincava quando tinha uns seis anos e ainda morava na Inglaterra. Ele estava com a orelha rasgada, graças à um encontro com Pansy Parkinson criança, numa das vezes que veio brincar com Dafne. Espetado no urso, havia um bilhete.

"Feliz aniversário, querida. É uma surpresa que esteja durando tanto... Só não esqueça: se você não cair, alguém cai por você. Espere só até receber nosso presente." - PG 

"Alguém cai por você". Era uma mensagem bem clara. Senti um aperto no estômago, pensando em Draco, na Sala Comunal da Sonserina, no meio de minhas duas inimigas. Ele não sabia de nada da minha história, para ele a birra com Pansy era apenas ciúmes. Nem desconfiava que algo estava errado... seria um alvo muito fácil. Então ouvi o grito. 


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