Corri de volta, protegendo meu furto, antes que alguém tivesse a chance de me ver. Tirei meu capuz assim que cheguei no dormitório, ofegante e agradecida pelas meninas ainda estarem dormindo. Roubar bebida de um professor poderia me render uma detenção para o semestre todo, mas eu havia prometido a Draco que contaria sobre nós a Robbie, e eu não tinha encontrado maneira melhor do que umas duas ou três doses depois. Slughorn não notaria que uma das suas inúmeras garrafas de Whisky estava faltando, eu só corria risco no caminho para o dormitório. Nem prestei muita atenção no que peguei, apenas agi rapidamente... e corri o máximo que pude. Escondi bem a garrafa no meio das minhas coisas, tirei o casaco de bandido e voltei para a cama.

— Eu disse que não precisávamos tomar chá na Madame Poddifot, não que não precisávamos ir à Hogsmead juntos. — reclamou Draco

— Eu pensei que quisesse abrir o jogo. 

— E eu quero, por isso quero que vá comigo.

— Eu não vou para Hogsmead, Draco. Vou contar pra Robbie primeiro. Depois que a piadista oficial da Grifinória ficar sabendo, todos vão. Ei... eu vou te compensar por isso, prometo. E você pode aproveitar com seus amigos. Não sei se alguém já te contou, mas namoradas costumam ser espaçosas.

— Eu não quero aproveitar com meus amigos, Allie. Eu quero aproveitar com você. O próximo passeio é só daqui à uma semana. 

— É pouco tempo! E quem se importa com Hogsmead quando se tem uma sala mágica e... 

Uma semana... somente agora a ficha estava caindo. 

— Que dia é hoje? — perguntei

— 23, eu acho. Porque?

— Porque sábado que vem é dia 30.

— E daí? 

— É meu aniversário... — concluí, comigo mesma, ainda pasma por ter esquecido da data, e mais pasma ainda por não ter pensado em mudá-la. Mas não fazia diferença, eu já havia contado à Henry que faria dezesseis em janeiro no dia em que nos conhecemos. Pelo menos a data certa do meu aniversário meu namorado tinha o direito de saber. — Nosso primeiro passeio como casal será no meu aniversário. Se for um desastre eu mato você. 

— Vai ser o melhor aniversário da sua vida. Eu preciso ir. Tem certeza que não vai mesmo vir? 

— Tenho. Divirta-se, e fique longe de Pansy. 

— Ela não vem, não se preocupe. 

— Mesmo que viesse. — reclamei. Demos um beijo de despedida e parti para meu dormitório e minha missão. 

Robbie estava estudando sozinha numa das mesas da Sala Comunal. Me senti um pouco culpada...ela tinha que passar nas NOM'S, não era justo tirá-la dos livros. 

— Olha só quem está sendo uma boa menina. 

— Oi, Allie. Porque não foi para Hogsmead com todo mundo?

— Ah, eu pensei numa coisa diferente e mais divertida. 

— Tipo sentar e me ver estudar?

— Não exatamente. — Abri o zíper do meu casaco e mostrei a bebida no bolso interno.

— Onde conseguiu isso? — sussurrou — Sabe o que acontece se for pega com essa garrafa?

— Eu te conto depois. Eu pensei que a gente podia subir e jogar Eu Nunca enquanto todo mundo está lá namorando e sendo normal. 

— Tentador. Mas eu não posso, preciso terminar o dever de feitiços.

— Ah, vamos lá. Eu te ajudo com isso mais tarde. 

Sentamos no chão, num canto do quarto. Enchi os copos e respirei fundo. 

— Eu começo. 

— À vontade. 

— Eu nunca estive saindo com Draco Malfoy nas últimas semanas. — bebi a dose toda de uma vez, secando o copo

— Eu nunca desconfiei de nada disso. — bebeu — agora entendi o propósito do jogo. Porque resolveu me contar agora, se conseguiu esconder todo esse tempo?

— O jogo não acabou. Eu nunca quase dormi com Draco Malfoy — bebi

— NÃO BRIN-CA. — Robbie quase deixou o copo cair. 

— Ei, isso não é um confessionário. — reclamei — jogue direito

— Eu nunca dormi com um sonserino. 

Primeiro achei que estivesse brincando, mas Robbie bebeu o conteúdo devagar. 

— Como isso... — comecei

— Nós nos encontrávamos escondido. Assim como você e Malfoy. A diferença é que não durou muito, ele conseguiu logo o que queria. Eu era ingênua e fraca. Mas eu não deixei barato. Joguei uma poção que deu errado em cima das calças dele... enquanto ainda estava quente. Espero que ele tenha cicatrizes. 

— Uau, eu não tinha ideia... sinto muito. 

— Não sinta. Sério, eu já superei.Vamos continuar.

— Eu nunca aceitei namorar com Draco Malfoy. — bebi

Continuamos com o jogo mesmo depois de eu ter cumprido meu objetivo. Algumas doses depois já estávamos rindo e falando coisas sem sentido. 

— Ok, ok, é minha vez. — começou Robbie — Eu... nunca beijei uma menina. 

Mantive o copo na mão, mas Robbie entornou. 

— Aaaaaaaah não, Robbie, isso você vai ter que me contar direito. Quem foi?

— Lyla. — admitiu, rindo

— O que? Como assim? Porque? Quando?

— Chega de perguntar, você parece um professor. Ou os meus pais... tanto faz. Foi no ano passado. Ela estava bêbada... bom, nós duas estávamos. Acho que nem lembra, ou finge que não lembra. Foi hilário. 

— Mas o que é que está acontecendo aqui? — Lyla entrou no quarto, literalmente boquiaberta. Não entendi o porque, já que ficamos num canto e não fizemos bagunça nenhuma. 

— Aaah você chegou muito tarde, querida. Acabamos com a garrafa todinha.

— Deu pra perceber. Os alunos do primeiro ano estão escutando as risadas lá da Sala Comunal. 

— Ops. — respondi. Depois eu e Robbie caímos na risada de novo. — Que horas são? 

— Quase nove. Gina está jantando mas já vai chegar, então se quiserem manter essa bebedeira em segredo é melhor irem se recompor. 

Suspirei. O nível de álcool no meu sangue não estava muito alto, comparando com meus dias de luto. Apesar de ter perdido o costume, a sensação ainda era familiar. A cabeça girando, o estômago meio embrulhado e o fato do mundo parecer mais bonito. 

— Não tenho certeza se consigo levantar. Robbie? 

Olhei ao redor e descobri que Robbie já estava em sua cama, apagada. 

— Ah, ótimo. — reclamei. Me levantei, e quando tinha certeza de que ia cair, senti Lyla me segurar. Instantaneamente comecei a chorar. — Você é tão legal. Sério. 

— Eu não sou legal, você é que devia parar de beber. 

— Você é sim. — senti que estava em minha cama, e quando me deitei escutava apenas zumbidos. — Ai, desliga esse apito Lyl eu ainda não estou de ressaca. — reclamei.

Não escutei tudo que ela disse. Pude distinguir apenas algumas palavras.

— Vá dormir.

xx

— Ei! O que aconteceu com você? — Draco correu e me alcançou no corredor, enquanto eu ia tomar café. 

— Draco... não grita comigo. 

— Eu não estou gritando, eu... Espera aí. Porque você está de óculos escuros dentro do castelo? 

— Porque eles ficam bem em mim.  

— Ah, sério? Ou porque...

— Ai ai ai ai ai — interrompi — gritando de novo. Por favor, por favor, por favor fale só um pouquinho mais baixo. 

— Porque andou bebendo. — completou. — Vem comigo. 

— Pra onde está me levando? — reclamei — Eu não estou mais bêbada, Malfoy.

— Me espera aqui. Se aparecer assim na frente dos professores vão saber que você bebeu.

Sentei no chão e esperei, meio impaciente, num lugar que não reconheci.

— Aqui. — Draco voltou e me estendeu uma xícara. — bebe. 

— Porque? O que é isso? 

— Eu mandei você beber.

— Tá bom, mamãe. — bebi, obediente. Normalmente, eu teria enfrentado Draco e começado uma discussão, mas eu sabia que o que quer que estivesse na xícara não me faria mal algum. Então, depois do primeiro gole, descobri que era apenas café. Preto, puro e forte. 

— Então... como foi a sua noite? Eu não te vi no jantar depois que voltei de Hogsmead.

— Sinceramente? — tirei os óculos — Eu não me lembro. 

— De nada? — cruzou os braços, cético.

— Nadica. Bom, eu e Robbie começamos a jogar Eu Nunca, então eu contei sobre nós, mas mesmo assim continuamos a jogar. Já que eu não me lembro, deve ter sido divertido.

— Nossa. Garota bêbada sábado à noite, os grifinórios devem ter adorado. 

— Seu idiota. Eu não saí do meu dormitório. 

— Como sabe se não se lembra? 

— Bom... instintos. 

xx

Robbie estava definitivamente pior que eu, isso eu podia perceber de longe. 

— Ressaca? — perguntei. 

Ela estava sem óculos, então eu podia ver as olheiras e o dever de feitiços ainda na mesa, inacabado.

— Tá brincando? — perguntou — eu derrubei o livro no chão e parecia um tiro. 

— Desculpe por isso. 

— Relaxa. Foi divertido. E eu prometo não contar nada à ninguém. 

— Pode contar, é isso que ele quer. — revirei os olhos

— Na verdade eu estava falando sobre a sua viagem à Austrália, aquela em que você... 

— Então você lembra de tudo? O que exatamente aconteceu?

— Wow... você não lembra?

— Eu lembro do começo do jogo...e só.

— Não fizemos nada... literalmente. Rimos alto e assustamos alguns garotos do primeiro ano com o barulho, depois Lyla entrou no quarto e eu apaguei na cama. Acordei de madrugada e você estava dormindo com a mesma roupa então acho que apagou também.

— Ah, graças à Merlin!

— Seu namorado acha que você...

— É, ele acha. — me joguei na cadeira ao lado dela. — Não sei quanto tempo isso vai durar. Sinceramente, nunca tive muita paciência com ciúmes.

— Honestamente? Draco Malfoy nunca me pareceu o tipo de garoto que assume compromisso com alguém. Você deve ter usado muita Amortentia.

— É, eu devo. Deixa eu te ajudar com isso. — peguei o dever dela e comecei a ler

— Sério?

— Eu prometi ontem.