Inside Blue Eyes. escrita por PrefiraTestralios


Capítulo 33
Boatos e Fatos


Notas iniciais do capítulo

AVISO: Ou meus leitores-fantasma aparecem, nem que seja pra dar um UP e avisar que ainda está lendo, ou eu paro de postar. Tô chatiada, sério :[



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Era a mesma praia quente dos outros sonhos, mas dessa vez eu conseguia enxergar. Podia ver o movimento brusco das ondas batendo com violência contra as pedras, e a cor da areia. Não era o mesmo sonho, definitivamente. Os outros sonhos me davam agonia e esse me trouxe paz. Não... algo estava errado. Meu vestido longo branco estava manchado de sangue. Minhas mãos estavam cheias de sangue. E não era o meu sangue. Senti algo volumoso bater nos meus pés. Olhei para baixo e o vi. Draco Malfoy morto, como sempre. Quase morto. Agarrando minha perna com o olhar desesperado implorando por ajuda. Até uma onda violenta nos engolfar e me acordar. 

Acordei desesperada. Sonhar coisas ruins, mesmo sabendo que era um sonho e mesmo sendo um sonho repetido, sempre me deixavam exausta e frustrada. Eu estava nos braços de Draco. Não lembro em que momento pegamos no sono, mas fui imensamente grata por isso. Ele devia ter um sono muito pesado para não ter acordado com os meus chutes durante o pesadelo. 

— Alyssa? 

Bom, talvez não tão pesado assim. 

— Hm? 

— O que você tem?

— Foi só um pesadelo. 

— Quer me contar?

— Não. 

— Acho melhor voltar para o meu dormitório... 

— Não, por favor, fica aqui. 

— Tudo bem... podemos lidar com o resto da escola amanhã. 

Não respondi. Só conseguia pensar no meu sonho. Dessa vez o sangue dele estava, literalmente, em minhas mãos. Era o tipo de pesadelo que me atormentaria até a morte. Eu estava ensopada de suor. Ou Draco não se importou, ou estava assustado pelo tom da minha voz, porque não recuou. 

— Alyssa... tem certeza que está tudo bem? 

— Não. — eu estava assustada demais para mentir. 

— Então fala comigo. 

— Não quero dormir de novo. — eu parecia uma criança de sete anos. 

— Nós podemos ficar acordados a noite toda, se você quiser. — Chegou mais perto e me apertou em seus braços como se eu fosse uma boneca. Imaginei como iria parecer se eu estivesse com a minha altura real. 

Acordei seis horas depois. Atrasada para a aula, mas disposta. O terror do pesadelo já era algo distante.

— Draco? 

— Hm?

— Já é de manhã.

— Tudo bem. Pode dormir de novo, Alyssa, eu estou bem aqui do seu lado.

— Acorda, Draco, estamos atrasados!

— Ah, droga. 

Levantei, coloquei minha blusa e descobri que ela estava com um terrível cheiro de cachorro molhado. Tentei dar um jeito rápido no meu cabelo, com alguns grampos que estavam na minha bolsa. 

— Eu não posso aparecer assim na frente de seres humanos. — gemi

— Então você pode ficar aqui até eu voltar. 

— Como um cachorro? Porque eu já estou parecendo com um. Até cheiro como um. 

— Dá pra perceber. Se te consola, acho que não estou muito diferente. 

— Não mesmo. Mas você não precisa estar cheiroso pra ninguém. Principalmente nas aulas com Pansy Parkinson.

— Impressão minha ou tem alguém com ciúmes?

— Impressão sua. Arg, eu vou voltar pro meu dormitório e tomar um banho. A aula de poções vai ter que ficar pra outro dia. — Peguei o resto das minhas coisas — É melhor você esperar uns dois minutos pra sair. 

— Ah, qual é. Achei que já tinha esquecido essa coisa de anonimato.

— Eu não esqueci... ainda. De qualquer jeito — continuei enquanto arrumava a gravata sonserina dele — é melhor não anunciar para a escola que dormimos na mesma cama. Principalmente se for numa sala secreta. 

Simplesmente corri até meu dormitório. Algumas pessoas olhavam para mim no corredor, como se eu não tivesse juízo. E a julgar pelo meu cabelo, eu realmente parecia não ter nenhum. Felizmente a Sala Comunal estava vazia, então não tive que cumprimentar e nem me explicar para ninguém. Mas meu dormitório não estava. 

— Hey... — cumprimentou Lyla

— Bom dia. — respondi, sem olhar diretamente. Ok, eu perder meu amigo não era completamente culpa dela... bom, na verdade era sim. Mas ela não tinha consciência disso, o que torna a culpa justificável.

— Dormiu bem? — perguntou, irônica, me olhando de cima à baixo. 

— Você acreditaria se eu dissesse que dormi como se não tivesse dormido há semanas? 

— Acreditaria. Você realmente não dorme há semanas. 

— Eu sei que é difícil acreditar, meu cabelo está parecendo pelo de cachorro e... — processei a resposta de Lyla. — como você sabe?

— Ah... eu tenho o sono meio leve. — deu de ombros. — Você cai da cama às vezes. Não estou te chamando de gorda, mas isso faz um barulho enorme. 

Joguei minha blusa limpa nela, numa tentativa de deixar o clima entre nós duas mais ameno. 

— Dizer que alguém treme o chão quando cai da cama é chamar de gorda! Conheço garotas que te matariam por isso. 

— Eu também! — riu — Robbie, por exemplo. 

— Robbie te mataria, mas morreria de rir disso depois. Eu preciso ir, estou atrasada pra aula. A gente se vê, Lyl. 

— Até mais. Não esqueça a sua blusa. 

— Obrigada.

Me joguei na banheira, sem vestígios da pressa que deveria ter. Comecei a pensar na noite passada. Uau, eu quase perdi a virgindade. Alison ficaria louca se soubesse. É impressionante a firmeza necessária para pensar no calor do momento. E que calor... 

Corri para a aula de Feitiços. A única cadeira vazia era ao lado de Henry. Essa era uma das poucas aulas que ele não fazia com Lyla. Com o tempo, deixei de sentar ao lado dele nessas aulas também. Hoje não tinha opção. 

— Vai ficar aí na porta ou vai finalmente nos dar o ar da sua presença, senhorita? — perguntou o professor.

— Vou lhe dar o prazer da minha presença, obrigada professor. 

Sentei ao lado de Henry sem olhar para ele. Hoje nada estragaria meu dia, nem meu humor. 

— Tem alguém de bom humor ou é impressão minha? — perguntou

— Não graças à você. — encerrei o assunto e prestei atenção na aula. Hoje estávamos praticando o feitiço Depulso, arremessando almofadas para o outro lado da sala. Não demorou muito para Flitwick nos separar em pares. Fiz como Luna, no dia em que a conheci, e trabalhei sozinha. Eu não tinha muita dificuldade com esse feitiço, mas gostava de praticar. 

— Sabe, você não pode ficar sem falar comigo pra sempre.

— Na verdade, eu posso. — respondi

— Eu também não posso ficar sem falar com você. Eu sinto saudades.

— Deixa pra sentir saudades quando seu namoro terminar. Até lá pode continuar esquecendo seus amigos. 

— Olha só o sujo falando do mal lavado. Eu sei muito bem que você não dormiu no seu quarto ontem. 

Joguei uma almofada com a mão em Henrique, usando toda a força que pude e acertei em cheio. 

— Usando as varinhas, por favor. — pediu o professor

— Onde eu durmo, ou com quem eu durmo, não é nem um pouco da sua conta. 

— Desculpa então. Eu só achei que você me contaria uma coisa importante assim. 

— É? Porque? Ah, não responda. É porque nós somos amigos e conversamos todos os dias sobre tudo, claro, nada mais justo que você seja o primeiro a saber quando eu durmo com alguém. — respondi, um pouco alto demais. 

— Tem certeza que essa é uma boa hora para... Espera aí... o que? Você realmente dormiu com ele? — começou Henrique, meio assustado com meu tom de voz.

— Não, não é uma hora pra nada. — aproveitei que o professor ainda estava perto e lancei três almofadas numa velocidade recorde. 

— Estou dispensada? — perguntei, presunçosa

— Claro. Pegue seus deveres com Richter. 

— Obrigada, professor. 

No decorrer do dia, recebi inúmeros comentários sobre meu comportamento. Cheguei na hora para a aula de transfiguração e pedi ajuda com a minha tarefa ao invés de tentar sozinha até me irritar comigo mesma e no fim consegui até mesmo alguns elogios da professora Minerva. Não faltei nenhuma aula. Mesmo que pudesse usar o tempo para ficar com Draco, matar aula era algo que eu fazia quando estava triste e hoje não era o caso. 

— Ok, isso já está ficando meio estranho. — começou Robbie — Não me entenda mal, eu estou feliz por você estar feliz mas você poderia abrir logo o jogo. 

— O que...? — perguntei, confusa

— Ah, tenha dó, Allie. Apoiada sobre o braço com o almoço intocado, olhando pro nada com esse olho azul magnífico brilhando. Sem mencionar, é claro, que você deu bom dia pras garotas da Sonserina e elogiou o cabelo da Parvati Patil. 

— Ela fez ondas, ficou lindo! — me defendi

— Não vai mesmo me contar o que está acontecendo? Qual é, eu não sou do tipo que julga.

— E porque você me julgaria? — comecei a comer minhas batatas, disfarçando

— Eu sou do tipo que faz piadas. Mas também posso ser uma boa ouvinte. 

— Vou pensar na sua oferta. O céu do salão não está lindo hoje? 

— Está igualzinho ontem. 

xx

Voltando do jantar, ainda rindo de uma piada idiota sobre a loira e o caldeirão de cobre contada por Chuck, senti alguém me puxar para fora do corredor cheio de gente. Não estava exatamente acostumada com esse tipo de abordagem o suficiente para não me assustar, mas alguns segundos depois do jato de adrenalina eu já sabia quem era. 

— Olha só quem está melhorando a frequência. — Draco sussurrou no meu ouvido. 

— Estou só levando minha educação mais à sério. 

— É? Bom... então talvez você possa me ajudar. Eu ando tendo dificuldades em... poções. 

Fechei os olhos e deixei que Draco beijasse meu pescoço. 

— É mesmo? 

— Eu acho que talvez possa ter tomado Amortentia por engano. Sabe que cheiro ela tinha? 

Não respondi, apenas deixei que ele continuasse. Draco sussurrava em meu ouvido e me pressionava na parede, com a mão desenhando uma linha nas minhas costas. Por algum motivo, eu desejava que a mão dele descesse por apenas alguns segundos...

— O seu...

Acho que o beijo de Draco Malfoy não é algo a que eu poderia me acostumar. Talvez porque nossa química era inegável, o que me dava vontade de continuar o beijo por horas, e o que me levou a acabar arranhando suas costas. Ou talvez... bom, provavelmente, porque tínhamos química e até agora estávamos funcionando bem como amigos. Éramos quase um casal. 

— Alguém vai nos ver, Malfoy, vai com calma.

— Sabe que eu adoro quando me chama pelo sobrenome. É sexy. 

— Você é sexy, Malfoy. — Deixei que ele passasse a mão na minha coxa, puxando-a para sua cintura. Ah, que droga. "Seja racional, Astoria." 

— Então a estratégia é a mesma. — Comentei. 

— O que?

— Me seduziu para que eu te beijasse, e agora vai me seduzia para que eu vá pra cama com você. — o empurrei com o indicador — Mas dessa vez eu não vou pedir.  

— Não precisa pedir. É só dar um sinal, tipo esse que acabou de dar... 

— Isso é um sinal de que estamos num dos corredores da escola.

— Um corredor abandonado. E quem liga? Daqui a pouco todos vão saber sobre nós. 

— Como assim? — perguntei, meio confusa e encerrando o clima de uma vez. 

— Alyssa... eu sei que eu sou Sonserino e você Grifinória. E eu sei que você já deve ter ouvido horrores sobre a minha família e nem todos são apenas boatos. Mas e daí? Você não fala sobre a sua família, eu não falo sobre a minha, e nós funcionamos bem assim. 

— Draco, eu... 

— Fica quieta e me escuta. — fechei a boca, assustada com sua astúcia — Você é linda. Não é só por esses seus olhos azuis que parecem ser gotas do mar, mas porque você é você. Você é confiante e espontânea e sabe desenhar.  

— Qualquer um sabe desenhar... 

— Eu mandei você calar a boca e me escutar — me interrompeu — Me apegar a você não estava nos meus planos. O plano era te conquistar e depois terminar com você, assim como fiz com todas as outras...

Revirei os olhos. Agora me conta uma novidade?

— Mas você foi tão durona e o desafio me atraiu tanto que acabou me conquistando antes. 

— Draco... — interrompi. Aquilo estava ficando estranho demais — aonde você quer chegar?

— Eu estou te pedindo em namoro. — tirou uma rosa cor-de-rosa de dentro do bolso — não é de verdade. É de plástico, mas tem o mesmo cheiro das rosas normais. Eu lembrei que você me disse que não gostava das flores porque elas murchavam... bom, não esta. 

Deixei que ele colocasse a rosa enroscada na minha blusa e desviei o olhar. Depois sorri, involuntariamente. A primeira fase do meu plano estava completa. Mas não estava nos meus planos me apegar a ele também... porque quando os fiz, na verdade não o conhecia. E quando conheci o verdadeiro Draco Malfoy, já devia saber que era tarde demais. 

— Draco, você sabe o que isso significa? Não sei se você um dia já teve uma namorada de verdade, mas eu já! E não é tão legal assim. 

— Nós não precisamos andar pelos corredores de mãos dadas e nem tomar chá na Madame Puddifoot. O que eu quero é ter o direito de sentir ciúmes de Richter quando ele olha pra você daquele jeito idiota. 

— Ele não me olha de jeito nenhum. — ri — E o que você quer então? Que eu use um anel com seu nome atrás? Quando foi que você virou romântico afinal?

— Eu não sou romântico. — reclamou — E você não precisa usar anel nenhum. 

— Então qual vai ser a diferença? 

— Boa pergunta...

— Viu só? — eu não queria fazer pouco do momento, mas estava numa saia justa. — Quer saber? Encontre uma coisa que será diferente, e eu vou sair daqui e dizer pra Robbie que Draco Malfoy é meu namorado. — cruzei os braços e esperei

Ele pensou por um tempo. Sorri, contente com a minha vitória e pronta para sugerir que fossemos à Sala Precisa quando ele me respondeu.

— Rá, já sei. Os boatos se tornariam fatos.

— Isso não conta! — reclamei, boquiaberta

— Porque não?

— Porque é uma diferença mínima!

— Não me interessa. A diferença agora é essa. — Colocou a mão na parede, me encurralando, e com a outra pegou a rosa novamente e fez cócegas no meu rosto com ela. — Eu ganhei, você perdeu. — Me deu um selinho e devolveu a rosa para a blusa.  

Meu cérebro não parava de trabalhar. Draco Malfoy namorar alguém já seria um fato comentado pela escola toda. Draco Malfoy namorar uma garota da Grifinória seria comentado pela escola toda por muito mais tempo. Mas...não havia o que pensar, isso fazia parte do plano. O erro era eu estar gostando disso. Gostando dele. Isso era meu lado emocional, e eu não podia dar atenção à ele. Mas... o namoro provocaria Pansy. Talvez um confronto ciumento direto avançasse as coisas com a dupla P.G.

— Ótimo. — respondi, com uma expressão irredutível apesar das batidas irregulares do meu coração — Mas eu tenho uma condição. — sorri  — Você vai ter que me levar até o meu dormitório.

Tentei parecer indiferente com a mão de Draco sobre a minha. Sempre fui confiante e nunca liguei realmente para o que estavam pensando. Mas hoje, especialmente hoje, aqueles olhares curiosos me afetavam. Como se já não bastasse a confusão na minha cabeça e as voltas do meu estômago, ainda tive a sorte de passar por Henry e Lyla. 

— Quer que eu te leve até o quarto também?

— Você não passaria pela Sala Comunal — zombei — não é tão corajoso assim. 

— Não duvide. 

— Boa noite, Draco. 

Ele me beijou, e depois me deixou entrar, vitoriosa e confusa. Mas também, por mais errado que pareça, feliz. 


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