Inside Blue Eyes. escrita por PrefiraTestralios


Capítulo 29
Testrálios.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo meio sem sal mesmo. Vão ter mais alguns assim, a fic vai entrar numa fase meio de romance antes da trama final Astoria x Dafne/Pansy



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Tirei minhas coisas do trem e andei para as carruagens. Elas ainda eram um mistério para mim. Eu podia ver os animais puxando e Henry também, mas porque parecíamos ser os únicos? 

— Acho que gostou do meu presente. — A voz de Draco atrás de mim interrompeu meu questionamento interno. 

— Eu te disse que gostei. — respondi. 

— Eu lembro. Então, seus pais vieram passar o natal com você?

— Que? 

— Eu os vi na estação. 

— Ah. Não eram os meus pais, eram os Richter.

— Você foi para a casa dele? Porque?

— Porque ele não quis que eu ficasse sozinha. 

— Então você preferiu passar o natal com um bando de trouxas?

O sangue me subiu à cabeça. Lembrei do que Henry havia me contado sobre a família de Malfoy e tentei parecer indiferente. 

— Esse bando de trouxas me acolheu como se eu fosse uma filha. — é, não consegui — Não sei como isso poderia ser ruim. 

Encerrei o assunto com uma cara fechada e apertei o passo. 

— Se você quisesse um lugar pra ir, poderia ter ido pra minha casa. 

— Não fale como se eu tivesse ido passar o natal com uma família de assassinos psicopatas. E eu não teria ido pra sua casa, eu nem te conheço. 

— E quanto você conhece o Richter, afinal? 

— Mais do que eu conheço você. 

— Por enquanto... — parei de andar e olhei para ele, meio surpresa por ele ter sido tão direto — Você esqueceu que passaríamos um tempo juntos depois do natal, ou Richter te fez desistir?

— Ah, isso. — Sim, eu tinha esquecido. Mas não ia dar esse gostinho a ele. — Não, eu não esqueci. E eu não sei aonde você vai buscar essas ideias idiotas. Henrique não manda em mim. 

— Então ele não aprova e você não liga pra isso? — agora ele estava se divertindo. Bufei alto antes de responder. 

— Ele não tem que aprovar nada, ele não é meu namorado e nem meu pai. E você fala como se estivesse me alugando por uma semana. 

— E não estou?

— Se estivesse eu cobraria pra isso. A propósito, tenho algumas condições. — coloquei a mão direita na cintura e apoiei a esquerda sobre o malão. — Sem cantadas idiotas, sem falar mal dos meus amigos, ou dos pais deles, e... sem contato físico. 

Essa parte ficou estranha. Deixava claro que eu lembrava do beijo. Ele não percebeu meu tom de voz, mas percebeu que fiquei um pouco desconcertada. 

— Sem contato físico... até você me pedir. 

— Eu não vou pedir. 

— E eu acho que seria melhor manter em segredo. 

Uau, essa me pegou de surpresa. 

— Sim, não quero correr o risco da sua namorada ficar sabendo. — respondi, com a voz carregada de ironia. 

— Ela não é minha namorada. E não creio que ela seja problema pra você, já que a deixou careca. 

Não consegui evitar o riso, mesmo que estivesse no meio de uma quase-briga. 

— Você vem, Alyssa? — gritou Henry, de dentro da carruagem. 

— Eu vou indo. — respondi. 

— Então... a gente se vê. 

— É, a gente se vê. 

— Uau, e eu que achei que aquele era só um lance de bêbados. — comentou Robbie, rindo. 

— Cale a boca. — respondi.

Em menos de um minuto, notei como Lyla parecia preocupada e apreensiva, como Pansy corria atrás de Draco furiosa por ter sido deixada pra trás, e me dei conta de que estava sorrindo. Me corrigi instantaneamente. 

xx

— Henry... — comecei, quando estávamos jantando. Ou melhor, enquanto todos estavam jantando e eu remexendo a comida no prato — O que puxa as carruagens da escola?

— São testrálios. 

— São o que?

— Testrálios. São animais que só podem ser vistos por quem já viu a morte. Quem já viu alguém morrer.

xx

— Alyssa. — Começou Henry. Estávamos agora na Sala Comunal, eu tomando uma xícara de café com leite quente conseguida por um elfo doméstico muito querido. Eu não gostava de suco de abóbora e já estava enjoando do chá. Café me fazia falta.

— O que?

— Quem você viu morrer? 

— Minha mãe. — respondi, depois de um tempo de silêncio. Tomei um gole do café, disfarçando um pouco. — E você?

— Uma tia. Ela se afogou com o macarrão no próprio jantar de aniversário. Foi um pouco antes da minha irmã morrer. 

— Sinto muito. 

— Porque você teve que ver sua mãe morrer?

— Eu não tive que ver. Eu fugi. 

— Fugiu?

— É. Nós estávamos longe do St Mungus, e meu pai achava arriscado aparatar. Então simplesmente a levou a um hospital de trouxas. Ela estava grávida e entrou em trabalho de parto, mas nem ela nem a criança sobreviveram. Meu irmão ficou responsável por mim e pela minha irmã, mas eu fugi e acabei vendo tudo. 

— Deve ter sido horrível...

— Foi. Mas tudo bem, já faz tempo. 

— Henry... — comecei, com cautela. — Porque Lyla fica estranha quando me vê com Malfoy? 

— Acho que é só pelo que eu te contei. 

— Mas porque ela se preocupa? Quer dizer, nós dividimos o quarto mas nunca fomos exatamente amigas. 

— Não sei. Deve ser da natureza dela se expressar. Porque, pra ser sincero, eu também não gosto muito disso. 

"Você não tem que gostar", pensei em responder. Mas me contive. Ele só estava preocupado. 

— Não precisa se preocupar. Não é como se nós fossemos um casal de verdade. Nós só "saímos" uma vez e estávamos ambos bêbados. 

— Bom, eu acho que isso vai longe. Mas você sabe se cuidar. 

xx

Acordei atrasada para a aula. Perdi o café, minha blusa estava abotoada errado e minha saia estava ao contrário. E estava com um pouco de medo de olhar para o meu cabelo. Mas eu precisava achar uma coisa antes de sair. Virei meu malão e as gavetas do avesso porque tinha certeza que havia trazido. Encontrei um velho lápis com uma borracha na ponta perto das meias. Era velho, assim como meu caderno usado, mas iam servir por hora. Prendi meu cabelo num coque frouxo e corri para a aula de transfiguração. 

— Oh, então parece que os franceses não tem uma relação muito afetiva com despertadores. Acho que a essa altura já deve ter se acostumado com o fuso horário. Bom dia Rockfellery. —   me repreendeu McGonagall. Acho que fiz barulho demais entrando na sala. 

— Desculpe, professora. Não vai acontecer de novo. 

Me sentei no fundo, no primeiro lugar vago que encontrei. Ao lado de uma garota que nunca prestara atenção. Tinha cabelos louros pela cintura, um tanto mal cuidados mas bem bonitos... e um gosto para acessórios meio estranho. 

— Com licença. — pedi, baixinho e tentei prestar atenção na aula. 

Era uma tarefa especialmente difícil. Tínhamos que transformar uma almofada em um porco-espinho e deveríamos praticar em pares. A garota não falou muito comigo, acho que preferia trabalhar sozinha. Consegui, depois de algumas tentativas, deixar minha almofada cheia de espinhos e com focinho. Quase um porco. Corrigi os movimentos exagerados com a varinha e duas tentativas depois havia conseguido um perfeito. 

— Acho que se mexer menos a varinha fica mais fácil. — sugeri à minha colega. Ela tentou e conseguiu de primeira. 

— Obrigada. Acho que nem precisaremos fazer o dever de casa hoje. Sou Luna Lovegood, muito prazer. 

— Alyssa Rockfellery. O prazer é sempre meu.

— A garota que veio da França. Eu conheço você.

— Conhece? 

— Sim. Eu te vi na festa do professor com o garoto Malfoy. 

— Ah, que ótimo. Acho que vai levar um tempo para essa fama passar. 

— Não acho que seja ruim. Vocês animaram a festa... bom, pelo menos até um certo ponto. 

— Provavelmente estragou minha reputação com o professor de poções. Acho que vou ter que esperar até a aula para saber. 

Nossa conversa até que rendeu bastante. Na maior parte do tempo eu não entendia o que ela falava, mas gostei dela mesmo assim. Era o tipo de garota que simplesmente era verdadeira, sem vergonha de sí mesma. Criei uma simpatia enorme por ela. 

Saí da sala distraída, ainda guardando minhas coisas na bolsa quando senti alguém me puxando para fora do corredor. 

— Mas o que... Ah, é você. O que você quer? Eu preciso ir pra aula.

— Precisa mesmo? — perguntou Malfoy

— Tecnicamente sim. Os NOM'S estão chegando e eu... 

— Ah, você não precisa ir pra aula de adivinhação. Sim, eu estudei os seus horários. 

— Eu não preciso, é verdade. Mas e quanto a você?

— Digamos apenas que encarar Slughorn não é exatamente uma prioridade no momento. 

Acabamos no mesmo lugar que fomos quando estávamos bêbados. Acho que pouca gente conhece, e ninguém frequenta. Era uma torre alta e pequena, com alguns bancos e ficava num lugar longe das salas de aula e das salas comunais, então era muito pouco conhecido. Larguei minha bolsa no chão e sentei perto da beirada. Me encostei na parede e apenas o fitei. Sentado também na beirada, mas na extremidade, encostado na outra parede. Tirei da bolsa meu antigo caderno e meu velho lápis. Aquela pose daria um belo desenho... se eu ainda soubesse como desenhar. 

— O que está fazendo?

— Nada. — respondi — só não se mexe. 

— Ok...

Ficamos um bom tempo em silêncio. Eu era péssima em começar conversas com estranhos. Eu conseguiria manter um assunto tranquilamente, agora puxar um era outra história. 

— Allie. 

— Que? — perguntei, sem tirar os olhos do meu desenho, que estava mais parecido com uma missão impossível.

— Me fala mais sobre a sua escola. 

Suspirei antes de responder. 

— Bom... o que quer saber exatamente? 

— Você disse que fazia quadribol também...

— É, mas só fiquei algumas semanas. Entrei pra apoiar uma amiga, mas não consegui conciliar com meus ensaios então larguei. Eu gosto de jogar, mas não de competir. 

— Eu gosto de competir. Quem não gosta de competir?

— Você é muito competitivo. 

— Você também. Se não fosse não teria jogado sei lá o que no cabelo da minha possível namorada. 

— Aquilo foi outra coisa. Eu sou competitiva, mas no que eu posso ganhar. 

— Bem que Hogwarts podia ter um grupo de dança também. Eu queria ver você dançar. 

— Você já viu — ri — mas não lembra. 

— E você lembra? 

Meu sorriso se apagou lentamente com a armadilha. 

— Vagamente. — dei de ombros. 

— Vagamente... significa o que? Vagamente pode ser mil cois...

— Vagamente é vagamente. — interrompi. — E você está se mexendo. — reclamei. Deixei o caderno de lado, fui até ele e virei seu rosto no ângulo em que estava antes. Ah não. Cheguei perto o suficiente pra ele me olhar nos olhos. A proximidade já era desconcertante porque eu podia sentir o perfume. Mas o olhar... era íntimo demais. Me deixava insegura. — Vê se para de se mexer. — voltei para o meu lugar.

— O que é que você está fazendo afinal? 

— Nada que te interesse. 

— Se não me interessa porque precisa de mim pra isso?

— Porque sim. 

— Mas...

— Para de discutir, Malfoy. — Interrompi com uma certa autoridade, sem tirar os olhos do meu quase-desenho. 

— Você é uma veela? 

— O que? — A mudança de assunto súbita me deixou confusa. 

— Eu perguntei se você é uma veela. Ah, deixa pra lá...

— Não que eu saiba... bom, não. Claro que não, eu nem sou tão bonita assim. 

— Claro que é. — retrucou — Parece que nunca se olhou no espelho. 

— Bom, aqui talvez. Mas não perto de uma veela de verdade. 

— Eu acho que gostaria mais de você do que de um veela. 

— Sem bajulação Malfoy. Eu já estou aqui com você, não precisa apelar.

— Não, é verdade. Você é transparente. 

— Eu posso ser tudo, menos transparente. — respondi, e me arrependi na mesma hora. Deixava claro que eu tinha um segredo. 

— Todo mundo tem seus segredos... — respondeu, mais para ele mesmo do que pra mim. — mas não foi isso que eu quis dizer. Você é espontânea, é linda, inteligente e faz o que quer. Era a última coisa que eu esperava de uma aluna da Beauxbatons. Menos pela parte "bonita", claro. 

— Ah, então agora admite que eu deveria ser mais bonita? 

— Não foi isso que eu disse. 

— Eu sou metade inglesa, se isso ajudar na sua defesa. 

— Então você acha que os ingleses são feios?

— Não foi isso que eu disse. — respondi, sorrindo. Ainda sem tirar os olhos do caderno. 

— E o que foi que você disse?

— Que eu sou metade inglesa ué. 

— Porque não estudou aqui desde sempre então?

— Porque eu morei na França desde... sempre. — menti, torcendo para que já não tivesse contado a história de outro jeito.

— O que tem de diferente? Entre aqui e Paris, quero dizer. 

— Bom, para começar não chove o tempo todo. E não faz tanto frio. 

Olhei para o desenho terminado. Não estava tão ruim, considerando o quanto estava enferrujada. Miss Eleanor, minha ex-professora iria adorar o detalhe da mecha de cabelo caído na testa. Levantei, arranquei o desenho do caderno e dobrei a folha ao meio. 

— Eu preciso ir, tenho DCAT agora —coloquei a bolsa nos ombros e o desenho na mão dele — A gente se vê. 

Fugi antes que ele visse o desenho ou comentasse sobre ele. E se ele achasse aquilo meloso demais? Quer dizer... nós mal nos conhecíamos. A química era inegável, mas acho que desenhá-lo pode ter sido um pouco precipitado. 

— Onde você estava? — sussurrou Henry quando entrei na sala. Atrasada, mas dessa vez discreta. 

— Eu conto depois. 

— Se você estava com Malfoy eu não preciso saber dos detalhes. 


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