Inside Blue Eyes. escrita por PrefiraTestralios


Capítulo 23
O beijo.




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Era o sorriso mais incrível do mundo. E era impossível não sorrir também. 

— Já estava na hora — reclamou Henry — Eu tinha certeza que as francesas levavam horas pra se arrumar. 

— E não valeu a pena? — reclamei

— Totalmente. — Sorriu outra vez e me deu o braço. 

Andar com Henrique estava sendo exatamente o oposto do que eu esperava. Não era desconfortável e eu não me sentia estranha. Também não atraímos olhar algum nos corredores. Acho que todos já imaginavam que isso iria acontecer. Todos, inclusive um garoto louro com uma cara de choque que apenas olhou, sem dizer nada. 

Draco estava visivelmente pronto para uma festa. Eu fora idiota em pensar que poderia levá-lo. Claro que ele só queria um convite e provavelmente arranjou uma garota mais fácil. 

— Ei! — Gritou, quando já estávamos relativamente longe. — Que merda é essa? 

O choque de Draco era evidente, mas não achei que se importasse tanto assim a ponto de dar um escândalo. 

— Como é? — perguntei, confusa. 

— O que você está fazendo com ele? Eu achei que... 

— Achou o que? O que, exatamente, Malfoy? — Elevei a voz e me arrependi no mesmo instante. Ele percebeu.

— Será que dá pra dar licença, Richter? Isso é entre nós.

— Na verdade, não. — Me surpreendi ao ver Henry enfrentando Malfoy. Eu não tinha visto muito do seu lado briguento. 

— Eu não estava pedindo. Alyssa, será que você pode mandar esse imbecil... — Retrucou Draco 

— Eu acho que você não entendeu ainda — interrompeu Henry. Foi quando eu percebi que ele não estava irritado, mas sim se divertindo — ela veio comigo. Achei que isso já estava claro pra você, amigo. 

Essa foi como um soco na cara de Draco. Eu estava em choque demais pra dizer alguma coisa, então apenas deixei que Henry me rebocasse até a festa. Somente lá percebi que havia algo que o estava incomodando. 

— Diz logo qual é o problema. — reclamei, na porta da festa. 

— Você o convidou também?

— Claro que não! Bom, posso ter dado a entender que convidaria, mas não convidei. 

— Entendi. 

Passados alguns bons minutos, eu percebi que a festa estava um tanto... chata. Pra não usar a palavra entediante. Se estivesse na França, eu faria mudarem a música e começaria com um número do meu grupo de dança, deixando todo mundo animado e acabaria recrutando mais um ou dois membros. Aqui, não havia muito a se fazer. Cumprimentei o professor, que foi gentil perguntando como estava meu braço. Socializei com alguns conhecidos e tentei fingir que estava me divertindo. Não consegui convencer Henry. 

Lyla estava com um vestido vermelho provocante, indiscreto para uma festa dada por um professor. Mas, eu tinha que reconhecer, caiu muito bem nela. E Henry estava reconhecendo também... Essa sensação me irritava. Esse misto de raiva, desejo e desespero chamado ciúme não era comum em mim. E doía um pouco. Eu tinha escolhido Henrique. E ele deu a entender que, se fosse entre eu e Lyla, me escolheria também. Mas o jeito como ele olhava, enciumado, enquanto ela dançava com um garoto da Sonserina... 

Mesmo que ele disfarçasse, me senti deixada de lado e enganada. Tentando disfarçar, me virei para a mesa a entornei uma dose de Hidromel. Era ótimo. Tomei mais uma, e mais uma... comecei a me soltar. Esqueci que Henry estava pensando em outra e continuei dançando com ele como se não tivesse nada acontecendo. Um garoto que eu não conhecia, ou conhecia mas não lembrava, passou com uma bandeja. Tomei uma dose e quando aprovei, tomei logo outra. 

— O que é isso? — perguntei, pegando logo outra dose. 

— É Uísque de Fogo. Meio forte, acho que não é pra garotas. 

O insulto me deu vontade de quebrar a taça na cabeça dele. Mas, em vez disso, apenas tomei outra dose. Essa, por azar, desceu queimando. Mesmo assim, mantive a compostura e apenas sorri. 

— O que é que estava dizendo? 

— Eu não sabia que você era de beber... — comentou Henry, um tanto confuso.

— Eu não sou. Vamos dançar, Richter. 

Eu já havia bebido antes. Nas festas da Beauxbatons, nas festas de trouxas que eu ia escondida do meu pai depois que Danny morreu e outras ocasiões. As bebidas dessa festa não eram fortes, mas eu não estava acostumada. Logo as pessoas começaram a perceber que eu estava um pouco mais alterada que o normal. Talvez porque eu comecei a fazer a coreografia que venceu o campeonato no meu segundo ano na escola.

— Lyla, querida. Você por aqui? E com esse vestido? Achei que talvez você viesse... com uma saia comprida e um casaco de neve. Você já é sexy demais.... pra que jogar na cara? — Abracei-a e comecei a chorar. Como uma típica bêbada. Henry não sabia se ria ou se chorava. 

— Hã... vou entender como um elogio. 

O parceiro de Lyla estava com uma cara horrível. Parecia muito bravo com a situação.

— Você, amigo. — Peguei a mão dele — Você e eu somos iguais... não há nada pra nós aqui. Siga seu caminho. — Bati no ombro dele e enxuguei as lágrimas. 

— Você, querida. — Peguei na mão de Lyla e a arrastei até Henry. — Você devia ter vindo com ele. Vocês foram feitos um pro outro. — Peguei a mão de Henry e coloquei sobre a de Lyla. Eles estavam incomodados com a situação... mas talvez meus problemas com o álcool acabassem ajudando alguém. — Divirtam-se. 

Peguei outro copo de outro garçom, dessa vez com cerveja amanteigada e saí à francesa. 

Acabei na turma de Robbie. Dancei com alguns garotos que eu deveria conhecer, fiz mais alguns passos e então fui assistir ao barraco. Algum garoto entrou de penetra e foi descoberto, algo assim. Quando vi o tal garoto levando uma bronca, com Filch furioso ao lado dele, fiquei boquiaberta. Draco Malfoy. Sem garota nenhuma. Entrando na festa de penetra. 

— Parece que alguém esqueceu de avisar que escolheu outro. — sussurrou Robbie. 

— Parece que alguém veio buscar satisfações — sussurrei em resposta. Rimos juntas. Quando ele me viu, dei uma piscadela. OK, ele podia me achar uma vadia agora. Mas eu estava bêbada, nem lembraria no dia seguinte. 

Ele saiu com o professor Snape, diretor da casa dele. E voltou alguns minutos depois, meio perturbado. 

— Problemas com o diretor, galã? — perguntei. — Isso pode ajudar. — estendi para ele uma dose de Hidromel. 

— Saúde. — viramos juntos. 

— Então... — comecei — você vai levar uma detenção por não ter conseguido um convite e entrado de penetra?

— Eu não sabia que você era má. Nem que gostava de trepudiar. 

Puxei o colarinho dele num gesto sexy. 

— Você não sabe muita coisa sobre mim. 

Não conversamos muito durante a noite. Nós basicamente bebemos, dançamos e deixamos Henry com ciúmes. O que, preciso confessar, me deixou melhor. Quando cansamos de dançar, Draco roubou uma garrafa de Uísque de Fogo, saímos da festa e acabamos sentados em um banco perto de... bom, na verdade não sei bem onde. 

— Dói? — perguntou, depois de um silêncio quebrado apenas pelo barulho do Uísque descendo.

— O que? 

— Usar salto. Esse parece enorme. Vai quebrar o tornozelo de novo.

— Sabe quantas vezes eu já quebrei o tornozelo?

— Uma...?

— Dezesseis. Sete vezes o direito e nove o esquerdo. 

— Isso é conversa de bêbada. — riu

— Não, é sério. As garotas usavam salto nos números do grupo de dança. A maioria era com saltos maiores que esses. Um escorregão, uma pisada em falso e já era. Por sorte nossa curandeira era rápida. Mas eu lembro da dor como se fosse ontem.

— Não tinha um jeito mais fácil?

— O figurino faz parte do glamour da apresentação. Alguns sapatos tinham efeitos no escuro e outros jogavam confete em partes da música. Ah, eu sinto falta disso. 

Seguiu-se um silêncio constrangedor. Peguei a garrafa da mão dele e bebi um longo gole. 

— Porque você veio pra cá?

— É uma longa história. 

— Nós temos a noite toda. Não vão nos achar aqui, a menos que façamos muito barulho. 

— Na verdade, acho que já é madrugada. 

— Allie...

Ele usando "meu" apelido me deu alguns arrepios na nuca. 

— Porque eu precisava ir embora. E não queria parar de estudar.

— Isso é meio vago, você sabe né?

—...Minha relação com meu pai é uma droga. Eu não aguentava mais ficar em casa. Sua vez 

— Minha vez de que?

— Me contar algo que eu ainda não saiba. 

Ele pegou a garrafa da minha mão. 

— Minha relação com meu pai não costumava ser uma droga. Mas não está muito diferente da sua agora. 

— Ele abandonou a dignidade e começou a viver como um trouxa? É, eu achei que não. — Peguei a garrafa de volta

— Acho que ele iria preferir viver como um trouxa a essa altura... — roubou a garrafa novamente. 

— Chega de tristeza, antes que a garrafa acabe. Vamos falar de coisa boa. 

— O que aconteceu com o seu par? Antes que a garrafa acabe...

— Eu disse pra falar de coisa boa, idiota. 

— Estamos bêbados demais pra lembrar disso pela manhã, querida. Desabafe. 

— Ele gosta de outra.

— De outra? Como é possível alguém gostar de outra tendo você?

Apesar do efeito estimulante e bobo do álcool, ele parecia sincero. 

— É uma boa pergunta. Ele gosta de mim também, eu acho. Mas gosta mais dela. — Zerei a garrafa e olhei para as estrelas. Porque estava fazendo uma noite tão linda justo hoje? 

— Eu não teria te decepcionado... você sabe disso, não sabe? — Escorregou para perto — Eu já parti corações antes, não nego. Mas eu não partiria o seu. Nunca. 

Ele pegou uma mexa do meu cabelo e colocou atrás da minha orelha. Eu estava literalmente boquiaberta. Minha tendencia a ver ou não sinceridade quando os outros falavam estava mais aguçada, ou Draco mentia melhor quando estava bêbado? 

Com uma gentileza que eu não esperava, Draco colocou a mão na minha nuca e me puxou para um beijo. Contrariando minhas expectativas, foi delicado. Tinha gosto de álcool, claro. Mas eu devia estar pior, considerando que comecei a beber antes. Eu tinha vontade de beija-lo pelo resto da noite.

Ele não forçou quando me afastei, apenas continuou com a mão na minha nuca. 

— Isso foi errado. — declarei. 

— Queria que todos os meus erros fossem bons assim também... — murmurou, meio atordoado. 

— Eu estou com frio. — reclamei. — é melhor eu ir pra cama. — Levantei e fiquei surpresa com meu equilíbrio. Eu era perfeita quando bebia. Dava um vexame ou outro, mas mantia a postura. Eu poderia ter andado até a sala comunal. Ia demorar pra encontrar e cairia milhares de vezes, mas poderia. Preferi deixar que Draco me rebocasse, enquanto seus braços aplacavam o frio. 


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