Inside Blue Eyes. escrita por PrefiraTestralios


Capítulo 22
Escolha certa.


Notas iniciais do capítulo

Quem vocês acham que ela convidou? Façam suas apostas, hehe.



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Algumas horas antes.

Acho que esse negócio de “dar um tempo” estava me fazendo bem. Acordei descansada, com o cabelo bagunçado e uma fome gigantesca. Fiz um rabo de cavalo, coloquei um casaco simples e desci pra tomar café. Não me surpreendi com uma carta de Alison chegando pelo correio. A carta, dessa vez, veio com uma garrafa do famoso tônico-café para corujas e uma recomendação de fazer algo normal urgente. 

— Bom dia princesa. 

— Bom dia. — respondi sem tirar os olhos da carta e da descrição de como Deiserée Deveron estava levando o meu (bom, costumava ser meu) grupo de dança ao buraco. 

— Então, o que vai usar na festa de Slughorn hoje?

— Que? 

— Nada, esqueci que você só acorda depois de comer. 

— Desculpa. — respondi ainda meio distraída

— Notícias de casa?

— Sim. Sempre me deprime. 

— Então porque continua respondendo?

— Porque me deixa feliz também. Sobre o que estava falando?

— Sobre a festa. Claro que eu não fui convidado pelo próprio Slughorn então o jeito vai ser ir com você mesmo. 

— Obrigada pela prioridade. Te vendo meus convites por dez galeões. Leve quem quiser.

— Você tem que ir também. É bom fazer algo normal de vez em quando. 

Normal. A segunda pessoa que me dizia isso. Mas a festa poderia ser uma boa ideia.

— Tudo bem. Mas não vou segurar vela pra você, eu não fazia isso na França e também não vou fazer aqui. 

— Isso não vai ser problema. — Sorriu

Quando fui ao banheiro, mais tarde naquela manhã, me detive na porta ao ouvir algumas vozes.

— Nunca vai dar certo. Nunca deu e não tem porque achar que vai dar algum dia. — Era Lyla. E isso definitivamente era um choro. Não esperei para saber quem estava com ela. Apenas saí, irritada comigo mesma por ser tão egoísta e querer ir para a festa com Henry enquanto ele poderia usar meus convites e levar Lyla. Fui para a Sala Comunal e desejei não ter feito isso. A maioria dos alunos já estava de malas prontas, empolgado, falando sobre o que a mãe deles sempre cozinha no natal e sobre como ia ser bom ir para casa. Mais irritada ainda, fui para fora antes que alguém me visse e puxasse conversa

Era um turbilhão de emoções. A saudade de casa, depressão pelo feriado sozinha, toda a história de Henrique e ainda tinha o lance com Draco Malfoy. Droga, mil garotos para me ajudar naquela noite e tinha que ser justo ele. Se bem que qualquer outro garoto teria contado a alguém o que realmente aconteceu...

Eu não devia ter lembrado de Malfoy. Ele entrava na minha cabeça por um motivo que eu não conhecia. Era muito chato. E intensificado toda vez que olhava a tala no meu braço. Sentei em um lugar qualquer fora do castelo, mais uma vez ignorando o frio, encostei na parede e resolvi tirá-la sozinha. Eu ainda sentia um pouco de dor, mas nada preocupante. 

— Me disseram que você não pode tirar esse tipo de curativo sozinha.

— Percebi. Parece que Pomfrey colocou algum feitiço porque realmente não sai. Droga. 

Droga mesmo. Eu aqui, tentando parar de pensar em você e em seus segundos de heroísmo e você aparece do nada. 

— Eu já usei uma. No terceiro ano.

— Perdeu na queda de braço com um de seus amigos?

— Um acidente com um hipogrifo idiota.

— Você não gosta de hipogrifos? — Perguntei, meio confusa. Eu sempre achei que era fascinantes.

— Eles não gostam de mim. E quem gosta deles afinal? São grandes e assustadores.

— Eles são incríveis. Aposto que se voasse em um, pensaria diferente.

— Você já fez isso? 

— Uma vez. Quando eu era criança, de férias na Austrália. — A lembrança da infância me deixou com mais saudades de casa. Aquela havia sido uma das nossas incontáveis viagens em família. Dafne não quis voar porque tinha medo de altura e eu subi na garupa atrás de Daniel. Foi uma das coisas mais divertidas que já fizemos.

— Você é louca. O que está fazendo aqui fora? Além de aproveitando o clima, é claro.

— Só aproveitando o clima mesmo. Eu amo frio, sabe, essa sensação de parecer um boneco de neve o tempo todo realmente me agrada.

— Não precisava ser tão irônica.

— Desculpe. — Respondi, sincera. — Eu estou fugindo.

— Não vou perguntar de quem, não se preocupe.

— Não é isso. Meu dormitório está uma loucura. Todo mundo empolgado com o feriado e com a festa de hoje e eu simplesmente não estou com paciência.

— Então você vai?

— A princípio. E você? 

Eu precisava conversar. O frio me consumia, mas voltar para a Sala Comunal e encarar a bagunça que havia feito me parecia ainda menos atraente. Draco Malfoy não era minha primeira opção, mas estava me distraindo.

— Estou esperando alguém me convidar. 

— O que? Draco Malfoy não tem seus próprios convites?

— É claro que tenho! — Ele parecia embaraçado. — Bom, eu vou ter. Deve ter acontecido alguma coisa, ele conheceu o meu avô. Porque você recebeu, afinal?

— Não sei. Eu costumava ser meio carismática, mas ele deve mesmo é se divertir às minhas custas. Sou uma tragédia em poções. Provavelmente soube do meu acidente e ficou com pena.

O fato de Draco achar que eu não era capaz de ser convidada para uma festa por meus méritos me magoava. Eu sempre tive meus convites, quando eu mesma não dava a festa às escondidas. Nunca fui exatamente bonita, mas acho que isso não fazia muita diferença. O carisma era algo que minha mãe e meu irmão comentavam o tempo todo. Eu sabia cativar as pessoas. Quando conheci Alison, sabia que ela era a melhor amiga perfeita para mim, e eu para ela. Bonita, mas tímida e retraída, chamava atenção pelos cabelos castanho-claro enormes e bem cuidados, e pelos olhos verdes e grandes. Isso intimidava as pessoas. Os garotos não tinham coragem de falar com ela. Eu era exatamente o oposto. Sempre soube fazer amizades e conquistar o coração das pessoas. Meu amigo Aaron sempre dizia que era impossível me odiar. Allie e eu formamos a dupla mais dinâmica da escola. Alison tinha a beleza e eu o carisma. Com o tempo, Allie começou a pegar algumas de minhas manias, como por exemplo cumprimentar as pessoas. E eu, mais pela pressão do ambiente, na verdade, passei a me cuidar mais. Conhecemos outros alunos, do nosso e dos outros anos e formamos a turma mais divertida que aquela escola já viu. 

— Se eu algum dia fui bom em adivinhação, devo dizer que você provavelmente vai levar Richter.

Uau. Eu conhecia esse tom. Conhecia muito bem. Era o tom que Pierre usava quando me via conversando com outro garoto, mesmo depois de terminarmos. O tom que Allie usava quando eu emprestava uma roupa para Courtney ou Rachelle. Ciúmes. 

— Eu não posso fazer isso. —  Suspirei e respondi com sinceridade.

— O que tem de errado, afinal? Você está saindo com mais alguém?

Essa me pegou de surpresa e me fez rir. Será que Malfoy me achava tão sensacional assim?

— Já tenho coisas demais na cabeça. Eu não posso fazer isso porque cada segundo que passamos juntos leva a vida amorosa dele pro buraco. E eu não quero mais isso. 

— Vou fingir que entendo. 

Suspirei alto, como sempre. Então resolvi desabafar. Talvez se ele soubesse o quão problemática eu sou, desistisse logo e eu não me sentiria culpada por querer apenas um espião da sonserina.

— É aquela garota do meu dormitório, Lyla Adams. Ela gosta dele. E ele costumava gostar dela também, até eu aparecer e estragar o curso natural da vida.

— Dramática. 

— É um dom. — Assim como estragar o romance alheio. 

— Então... na verdade, você está é fugindo da fúria de uma loura desprezada?

— Não me faça rir mais. É que... — a risada sumiu. — está todo mundo tão empolgado e eu vou sair da festa e ir direto passar o natal sozinha, numa cidade chuvosa e estranha. Provavelmente na companhia de uma garrafa de vinho e imaginando o que faria na França.

— Se ajudar, pode me contar o que faria na França. Às vezes conversar é o melhor remédio.

Draco Malfoy sendo sensível? O que estava acontecendo com o mundo?

— Eu não sei. Acho que na hora que eu aceitar falar sobre isso, vou estar admitindo pra mim mesma que fiz a escolha errada vindo pra cá. Ou que deveria voltar imediatamente. Você poderia me distrair com alguma cantada estúpida, isso sim ajudaria muito.

— Me dar outro fora ajudaria muito? Desculpe, acho que já usei todas com você.

— Então era só aquilo? O que é que você usa com as garotas afinal, poção do amor?

— Eu não sei. Eu normalmente não faço nada.

— Essa juventude está perdida.

— Então vou te distrair de verdade. O que exatamente pretende fazer com relação a festa?

Era impressão minha, ou Malfoy estava cobiçando meus convites? Será que os cabelos de Pansy já estavam normais o suficiente para sair em público? Mas ele não a levaria. Eu tinha certeza disso. Por mais que eu fosse apenas uma conquista, ele não desperdiçaria a chance. E porque eu deveria desperdiçar? Ele era bonito, estava atrás de mim há um bom tempo, o que significa persistência. E ainda serviria de espião quando eu precisasse. Mas mais do que isso... seria uma chance de descobrir como eu mesma me sinto com relação a tudo isso. 

— Não sei. Acho que vou pensar em algum lugar mais quente. Foi bom falar com você dessa vez. Você deveria ser decente mais vezes. — Sorri e fui embora. Se ele realmente quisesse ir comigo, teria que esperar. 

Eu o convidaria. Era minha decisão. Diria a Henry que não poderíamos ir a festa como amigos porque ninguém entenderia assim e isso estragaria as chances dele com Lyla ou qualquer outra garota. Mas eu queria poder ir com ele também. Se eu não pensasse tanto nos outros, levaria Henrique. Talvez eu devesse ser mais individualista e pensar só em mim. 

— Ei. — Ouvi Henry correndo logo atrás de mim. Esses garotos estão invadindo minha mente? — Minha mãe me mandou uma roupa às pressas. Acho que está pequena nos tornozelos mas vai servir. E eu espero que você esteja mais atraente do que costuma ser porque hoje eu estou a fim de me exibir...

— Henry. — interrompi. — Não podemos fazer isso. 

— Entendi. — falou em um tom mais triste — você vai com ele, não vai? Eu vi vocês lá fora. 

— Ele não tem nada a ver com isso, Henry. Nós não podemos ir porque estragaria suas chances com a Lyla. E eu não quero estragar a sua vida amorosa. 

— Lyla? Então o problema é ela? Qual é, ambos sabemos que você praticamente solta faíscas perto dele. 

— Eu não solto faíscas. — respondi mal humorada e corando — E ela não é um problema. Ela gosta de você e eu não quero...

— Atrapalhar ninguém — me interrompeu — eu sei. Mas você está entendendo tudo errado, Allie. Eu não quero ir à festa com Lyla. Nem com garota nenhuma que não seja você. Então se quiser ir com ele, só me diga a verdade, mas não use ninguém como desculpa. Eu vou te esperar na Sala Comunal. — Sorriu, e antes de ir me deu um beijo na bochecha. 

Nossa. Eu estava completamente ferrada. Fui ao banheiro as pressas e não reconheci a garota do reflexo. Desconcertada, com os olhos estranhos. Respirei fundo, encarei meu reflexo e disse a mim mesma "Você tem que escolher um deles. E logo"

Gostaria que Ali estivesse aqui para conversar. Me explicar tudo. Afinal, minhas experiências com garotos não foram lá muito intensas. O que eu realmente sentia por Henry? Ele era meu melhor amigo. Eu confiava nele. Até hoje, parecia apenas carinho e amizade. E o que eu sentia por Draco? Ele era um idiota. Porque esse idiota mexia tanto com a minha cabeça e me fazia, segundo Henry, soltar faíscas? "Sua chance de descobrir",disse a tão conhecida voz na minha cabeça, "Mas antes precisa descobrir o que é prioridade. Henrique Richter, seu amigo, ou Draco Malfoy, o cara que partiu o coração da irmã da sua melhor amiga, namora a melhor amiga da sua irmã assassina e apesar de tudo isso, mexe com você."

Quando entrei no meu quarto já era fim de tarde. E eu ainda não tinha me decidido. Gemi e me joguei na cama. 

— Quer um? Às vezes ajuda. Quase sempre. — Robbie me estendeu uma caixa de bombons

Arranquei a caixa da mão dela e comecei a comer como uma criança. 

— Ok, pode começar a falar. 

— Vamos usar uma situação hipotética. Se você tivesse que escolher entre dois garotos. Um deles é seu amigo, mas uma de suas amigas gosta dele. O outro mexe com você e te faz, hm, soltar faíscas. Não literalmente, claro. 

— E como vamos chamar esses pretendentes? — perguntou Robbie, claramente se divertindo

— Vamos chamá-los de Harry e... Dereck. Isso, Dereck.

— Harry? Você está querendo sair com Harry Potter? — Gina entrou no quarto e se meteu no assunto, claramente meio irritada. 

— Não! Claro que não, são nomes fictícios. Por favor, não tenha uma crise de ciúme, é a última coisa que eu preciso. 

Larguei os bombons de lado, virei de bruços e afundei a cara no travesseiro. 

"Eu prefiro você morena"

"Você pode me contar o que faria na França"

Como se houvesse realmente uma escolha a ser feita. Henrique não era meu namorado, mas o que aconteceria se eu abrisse essa porta? Ele era meu amigo, minha segurança. Eu amava isso demais para perder depois que terminássemos.

Em contrapartida, Draco era o garoto das sensações estranhas. Uma aventura. Eu queria essa aventura, apesar de ser completamente errada. Mas também foi meu salvador aquela noite. E não contou pra ninguém, nem exigiu que eu contasse a verdade. 

— A questão é — começou Robbie, se jogando na cama ao meu lado — se você gosta desse seu Harry fictício. Pare de pensar tanto nos outros, não vai levar a nada. 

Robbie tinha razão. E estava sendo coerente, apesar de ser amiga de Lyla. Agora eu precisava pensar em mim, só em mim. 

— Tem razão. — sentei abruptamente na cama. — Se eu sei o que um é, não vai fazer diferença. Se eu não sei o que o outro é eu preciso descobrir. Volto logo! 

Saí correndo do dormitório, em tempo de ouvir Robbie gritar

— Você tem que se arrumar! 

xx

Sorri comigo mesma. Era possível que tivesse feito a escolha errada... mas sinceramente, e daí?

Reparei que o colar de Alison estava diferente. Não era o mesmo símbolo, agora era um colar simples com um pingente. Fiquei imaginando que tipo de magia tinha aquele colar. Às vezes ele até ficava meio... invisível. Provavelmente fora programado para se adequar a ocasião. 

Desci as escadas, atrasada e decidida a ter uma noite normal. Não precisava ser perfeita. Mas sim normal. Saí da Sala Comunal e o encontrei do lado de fora, impaciente. 


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