Inside Blue Eyes. escrita por PrefiraTestralios


Capítulo 20
Aparências




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Não olhei para trás. A última coisa que eu precisava era ver dois garotos brigando feito crianças. Mas ou a tal briga aconteceu muito rápido, ou nem aconteceu, porque logo Henry me alcançou. 

— Não foge. Olha, eu sinto muito ter sido grosso, mas você me pegou de surpresa. 

Não respondi, apenas apertei o passo. 

— E você não esclareceu tudo. Claro que eu saquei sozinho depois que vi Pansy Parkinson correndo e gritando escondida sobre a capa do uniforme. 

— Então se você já sabe porque está aqui? Porque veio atrás de mim?

— Porque eu sou seu amigo. E eu não me importo se você é irmã de Pansy Parkinson embora seja meio estranho... 

— Eu não sou irmã dela! — Interrompi — Eca! Como você pode pensar que eu e aquilo compartilhamos o mesmo útero?! — Parei de andar e o encarei de boca aberta. Antes de cairmos no riso. Melhor assim. 

— Então você é assim mesmo? Quero dizer, morena sexy e com esses olhos lindos?

Estávamos agora no dormitório dos meninos. A sala comunal estava cheia. Estavam todos se divertindo por lá, inclusive os amigos de Henry, o que nos deixou a sós. 

— Não exatamente... mas eu não sou tão feia assim, Henrique, fala sério. 

— E como você é? 

— Não sou muito diferente, na verdade. Mudei poucas coisas. O suficiente pra não ser reconhecida e causar dúvida ao mesmo tempo. 

— Mas se você e Parkinson-sem-cabelos não são irmãs... quem é ela afinal?

— Essa é uma grande pergunta. Ela não apareceu ainda. Eu sei que é uma das amigas de Pansy porque elas são amigas desde que éramos crianças, antes de mudar pra França. Ela ia brincar na minha casa e elas roubavam minhas bonecas. Pestes. 

— Mas... qual exatamente é a sua teoria? Quer dizer, ela mudaria de aparência e nome como você? 

— Acho que veio pra cá como ela mesma e depois que eu cheguei aqui se escondeu. Ela nunca foi muito popular na Beauxbatons, acredito que saiba ser discreta. 

— Entendo. Ei, mudando de assunto. Como você é de verdade?

— Já falamos sobre isso.

— Eu sei. Mas não quero falar, eu quero ver.

— Não sei se é uma boa ideia. E eu realmente não mudei muito. Eu sou um pouco mais baixa, tenho cicatrizes e nasci loura.

— Como você muda? Quer dizer, transfiguração ou algo assim?

— Na verdade meu bisavô era metamorfomago. Eu não o conheci, mas é genético. Minha mãe não conseguia, mas acho que na verdade não gostava muito. Nem meu irmão. Eu adorava. Quando meu avô ia nos visitar, ele me mostrava o que sabia. Para ele era fácil. Pra mim era terrível. Eu tinha o gene, mas não a prática. Consigo só poucas mudanças, como a cor do meu cabelo, meu nariz e esconder algumas cicatrizes. Imagino que seja isso que está escondendo minha irmã também. 

— Caraca! Eu já ouvi falar em metamorfomagia, mas nunca conheci alguém que dominasse. 

— Eu não domino. Sou uma tragédia, levei meses para conseguir. 

— Você bem que podia me mostrar.

Sutil.

— Eu não vou fazer isso. 

— Porque? Não confia em mim?

— Se não confiasse não teria lhe contado. — Essa história de confiança já estava irritando. — Não vou te mostrar porque você tem uma queda por loiras. Pensa que eu nunca vi como olha para Lyla Adams? 

— E como eu olho pra Lyla? — "É inútil, eu já vi que você ficou sem graça", pensei em responder.

— Como se ela fosse um grande bolo de chocolate. 

— É impressão minha ou tem alguém com ciúmes? 

— Ninguém aqui está com ciúmes. — Respondi, começando a ficar sem graça também. — Vigia a porta. 

Era realmente difícil. Não apenas pela técnica, mas por algo que nunca falei com ninguém. Nem Alison ousou me perguntar sobre. A verdade é que há muito tempo eu não era loura. Meus cabelos eram exatamente da mesma cor, textura e brilho que os de Danny. Quando ele morreu, eu passei semanas sem me olhar no espelho. Mesmo cabelo, mesmos olhos. Se eu fosse mais velha, poderíamos ser gêmeos. Era doloroso demais. Me fazia chorar. Então, um dia, sem dificuldade nenhuma, me olhei no espelho e mudei de cabelo. Mesmo comprimento, mas completamente escuro. Eu nunca mais havia voltado ao normal. Até hoje. 

Evitei olhar para Henry. Não queria que ele me visse a beira de lágrimas pela sabe-se-lá qual vez no mesmo dia. Fitei o chão, como se tivesse vergonha de mim mesma. Detestei isso. Eu não era assim. Eu não fugia. Ok, eu fugi. Há muito tempo. Não faria isso de novo. Levantei o olhar e percebi que Henry estava tão perto quanto Draco em nosso quase-beijo.

— Você tem o nariz meio arrebitado. 

— Já ouvi isso antes. 

— Tem alguma coisa errada com você. 

— Eu não estou acostumada. Com o cabelo, quero dizer. Ele não fica natural há muito tempo. 

— Não é um defeito. Você fica mais bonita morena. E eu tenho que confessar, estou muito feliz por seus olhos serem realmente seus olhos. 

Ri, embaraçada com a estranheza do momento. Voltei meu cabelo para a cor normal, depois arrumei o nariz e a altura. 

— Melhor assim? 

— Eu só falei sobre os cabelos. Não disse nada sobre todo o resto. Baixinha, quantos anos você tem afinal? 

— Quatorze. 

— Desculpa, mas vou levar um minuto para absorver essa. É sério?

— Idade é só um número. — Reclamei. Eu era claramente mais madura e mais esperta do que garotas que tinham realmente dezesseis. 

— Se tem uma coisa que eu nunca desconfiaria é a sua idade, pode ter certeza. 

— Não é só parte do disfarce. Quer dizer, eu devia estar no sexto ano por mérito.

— E no primeiro por convencimento. Bem que dizem que narizes arrebitados pertencem a pessoas metidas. 

— Isso não é justo. 

Fui para a cama mais leve. Agora meu amigo sabia da verdade. Descobri que os envelopes deixados na Ala Hospitalar na verdade eram para a festa de natal do professor de poções, cujo nome eu vivia esquecendo. 

— Entãaaaaaaaaao. — Ouvi Robbie entrar no quarto, seguida de Lyla — Pode começar a contar.

— Contar o que, exatamente? 

— Ah, não precisa disfarçar. — Respondeu Lyla com a voz um pouco estranha. — Todo mundo viu você saindo do quarto do Henrique Richter. Então, há quanto tempo vocês já estão juntos escondido? 

Ela estava claramente mal humorada. Eu nunca, em toda minha vida, poderia imaginar que estaria causando problemas na vida amorosa dos outros. Eu precisaria ajeitar isso.

— Não tem nada acontecendo. Ele é meu amigo. 

— Sério? — perguntou Robbie, um tanto cética. 

— Sim! Porque eu mentiria pra vocês sobre isso? 

— Bom, da sua parte pode até ser. Mas ele ficou desesperado quando você caiu. Achou que estava morta. Na verdade, todo mundo achou, mas tanto faz. 

Robbie falava da minha experiência como se falasse sobre o jantar. 

— E nenhuma de vocês ficou também? Agora estou magoada. 

— Claro que não. — Robbie sorriu — vaso ruim não quebra. 

— Na verdade, parece que os vasos quebram. Me desculpe pelo seu, falando nisso. 

— Tudo bem — Respondeu Lyla — Eu não gostava dele mesmo. Flores merecem algo mais bonito que aquilo. 

— Mas falando sério, Lyl, eu nunca fiquei com o Henrique. E nem ficaria. Seria como ficar com um irmãozinho. 

— Porque está falando nesse tom? Até parece que eu me importaria. 

— Mesmo que ninguém aqui se importe. — Respondi já embaixo das cobertas. — Um passarinho me contou que ele gosta das loiras.

"Mas prefere as morenas", completou uma voz na minha mente. Não pude evitar sorrir com a lembrança.


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