Inside Blue Eyes. escrita por PrefiraTestralios


Capítulo 2
Plataforma nove e meia.




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Chequei novamente se havia pego tudo. Nem precisava, comecei a arrumar as malas assim que me instalei em Londres. Livros, pergaminhos, penas, uniforme (que não chegava nem aos pés das minhas vestes perfeitas da Beauxbatons) e todas as outras tralhas que na verdade só serviriam para manter o disfarce. Eu não estava exatamente interessada em aprender, óbvio. Mas eu já chamaria atenção demais pela minha nacionalidade, não seria necessário se tornar uma rebelde. Terminei meu café e me aventurei mais uma vez pela cinza cidade de Londres. 

A estação de King Cross estava cheia, com trouxas de terno correndo para todos os lados, com suas pastas de trabalho. Empurrei meu carrinho e pensei, pela primeira vez em muitas semanas, em como seria bom ter alguém pra me despedir. Alison, minha melhor amiga, teria ido comigo até Hogwarts se eu pedisse. Mas eu não ousei pedir isso a ela. Ela era emotiva demais, acabaria chorando na hora H e era bem provável que eu desistisse de tudo e voltasse a ser a loura depressiva de sempre. Meu coração pulou de surpresa (e de alegria também, admito), ao ver que, sem eu mencionar qualquer desconforto em embarcar sozinha, ela estava alí. Tinha vindo da França pra passar apenas alguns últimos minutos comigo. 

— Alison! O que veio fazer aqui?!

— Ah, a doce e meiga… Alyssa. Eu vim me despedir, ué. 

— Veio de tão longe só pra isso? 

— Não se preocupe com isso, meu novo namorado me trouxe. Ele é maior de idade e já sabe fazer chaves de portal. 

Minha vontade era perguntar: Novo namorado? Como assim? Mas não havia tempo. Eu só tinha 20 minutos até o trem sair e uma conversa sobre os namorados de Alison levava muito, mas muito tempo. Então eu só sorri e disse:

— Que bom que você veio. 

— Pode me agradecer quando voltar. Ah, não faz essa cara Ast.. Alyssa, você vai voltar, eu sei disso. Seu pai vai precisar de ajuda emocional quando descobrir que a filha é uma assassina. 

Apertei meu carrinho com mais força numa tentativa inútil de reprimir a raiva. Eu havia tentado, de todas as formas possíveis mostrar a ele todas as evidências de que havia sido Dafne. A carta de suidício mal escrita, a total falta de razões para se matar, o fato de que Daniel era péssimo em poções e nunca conseguiria preparar uma coisa desastrosa o suficiente para se matar. E, é claro, a fuga de Dafne logo após o enterro. “Foi uma fatalidade, Astoria… Dafne era apegada a ele e não suportou continuar na mesma casa e sumiu no mundo.” “ELA ESTÁ NA INGLATERRA. FOI ESTUDAR EM HOGWARTS, EU TENHO CERTEZA, ERA O SONHO DELA”, eu explodia, gerando perguntas como “E como ela se matricularia? Como compraria o material? Onde estaria morando?” Eu não tinha, obviamente, respostas, o que me levava a explodir em lágrimas de pura raiva pela ignorância de um pai que agora estava fingindo que superou tudo e que estava absolutamente feliz em seu emprego miserável no mundo trouxa. E depois ouvia coisas do tipo “Você está abalada, Astoria, precisa superar.” Tentei de tudo com Maxime, mas não consegui viajar junto com meus colegas, não teria sentido já que não tinha idade para o Torneio Tribruxo. Então, meu amigo Aaron me perguntou se eu tinha notícias de Dafne, porque pensou tê-la visto de longe. Então investiguei um pouco e descobri que não é tão difícil assim se emancipar, e que Hogwarts tem um fundo para alunos com renda baixa. Depois das perguntas respondidas, a ignorância prevaleceu, me levando a tentar fazer justiça com as próprias mãos.

— Ele é quem vai se suicidar. Idiota. Danny nunca se mataria.

— Eu sei. E eu não apoio o que está fazendo, mas eu te conheço. Quando põe uma ideia na cabeça, não adianta tentar interferir. Eu vim aqui pra me despedir, e te pedir três coisas.

Ali tirou do bolso dois colares idênticos, prateados com o símbolo do infinito. Era lindo, e ambos continham um “A” minúsculo cravado na parte inferior. 

— Eu quero que use. E me prometa que nunca, nunca, nunca vai tirar. É um jeito de permanecermos, de certa forma, amigas, mesmo em países e escolas diferentes. 

— Tudo bem, eu uso. — Ela arqueou uma sombrancelha — Prometo. Seu mal gosto para garotos é compensado pelo seu bom gosto com joias. — Virei de costas e deixei que ela colocasse o colar em mim. Senti a nuca queimar e soube que ela havia lançado algum feitiço. Eu já esperava.

— Está querendo ser presa? 

— Só vou ser presa se descobrirem que fui eu. Está cheio de pais bruxos aqui, e a varinha é do Mason. 

Então o nome do futuro ex-namorado era Mason… interessante.

— Tá, deixa eu por o seu em você. — sugeri, antes de ver que o dela havia sido colocado antes do meu, obviamente esqueci-me de como é era pró-ativa. — tudo bem, você tem mais dois desejos que, obviamente, passarão por avaliação prévia.

— Quero que você me escreva. Todos os dias, toda hora, sempre. Não vou aguentar ficar sem notícias. 

— Assim que eu descobrir se o correio lá é seguro e encontrar uma coruja de longas viagens, eu escrevo… prometo. — Essa foi fácil. Eu não aguentaria mesmo, não apenas não contar o que estava acontecendo comigo, como não saber o que acontecia com ela.

— Ótimo, assim que eu gosto… — ela hesitou e olhou o relógio. — Você só tem cinco minutos. Como se chega nessa tal plataforma nove e meia.

Gelei. Eu havia planejado cada detalhe de minha vida falsa, mas esquecera de pesquisar como achar a plataforma. No fim, não foi tão difícil. Ficamos paradas no meio das plataformas nove e dez e começamos a reparar em como as pessoas com corujas e malões faziam. Fácil.

— Alison… — Droga. Eu era péssima com despedidas. — Vou sentir saudade. Eu vou voltar assim que conseguir. E vou morar com você, tá?

— Não foge não, idiota. Esqueceu de perguntar qual é o terceiro pedido.

Esperei por “você passa as férias de natal e páscoa na minha casa, me manda um presente no meu aniversário e eu fico com as roupas que você deixou na sua casa”. Mas ouvi apenas…

— Se cuida. 

Abracei-a, com um aperto de aço porque poderia ser, na verdade, a última vez que estávamos nos vendo. Claro que Dafne poderia tentar me matar, ou eu poderia dar bandeira e acabar presa. Mas eu manteria minha promessa. Eu me cuidaria.


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