Caos. Qualquer pessoa descreveria o momento simples e puramente como ‘caos’. Ainda mais quando se tem dez anos e se está totalmente sozinha em um lugar cheio de trouxas malucos. Pessoas de branco corriam por todo lado, algumas arrastavam macas e pareciam muito desesperadas. Havia um cheiro de álcool impregnado e a garotinha não sabia exatamente onde procurar. Era tudo muito grande pra alguém tão pequeno. A trouxa bonita da recepção disse para ela esperar com a irmã, mas ela precisava procurar os pais. O hospital dos trouxas a assustava, ela não conseguia entender porque o pai traria a mãe justo para cá, quando os curandeiros cuidariam dela e do futuro irmãozinho muito mais rápido… “Não há tempo, mas que droga!” (…) então ela encontrou… dentro de uma das salinhas estranhas. A cena era horrível. Seu pai chorava e segurava a mão da mãe, que parecia inconsciente. Uma coisa estranha apitou, o que deixou o pai mais desesperado ainda. Aquilo não podia ser bom. 

Acordei, meio assustada. Mas não tanto. Não era a primeira vez que sonhava com a morte da minha mãe nos últimos tempos. Logo voltei a dormir… era melhor que não tivesse feito isso.

A garotinha agora crescera. Procurava alegre o irmão mais velho, que havia lhe prometido ensinar-lhe mais algumas mágicas. “Você precisa voltar pra escola sabendo mais do que todos, mesmo que seja preciso quebrar a lei.” Ela acordou cedinho naquele dia, antes que o pai ou a irmã acordasse e então não pudessem praticar. Mas o irmão não estava lá. “Deve estar dormindo…” pensou a garotinha. Então foi, tentou acordar o irmão, mas esse não respondia. “Danny, por favor, acorda logo!”, chamava a garotinha chorosa enquanto sacudia o irmão, que já estava com a boca cheia de espuma e o corpo sem vida. 

Acordei antes do sol nascer, suando frio desta vez. Eu sonhava com a morte da minha mãe, e do meu irmão, mas não com as duas na mesma noite. Pensei em mandar uma coruja à Alison, mas ela me diria que era um sinal e que eu deveria voltar pra casa imediatamente. E isso me renderia mais algumas horas escrevendo porque estava fazendo isso. Levantei, sabendo que era inútil tentar dormir um pouco mais e fui fazer meu café. Realmente deveria ser um sinal. Sonhar com as duas mortes um dia antes da minha ida à escola nova. Hogwarts. Não seria fácil. Eu era uma boa atriz, pelo menos de uns tempos pra cá, quando dizia que estava na casa de Alison, mas na verdade tinha passado a noite em outros lugares. Quando me perguntavam se estava tudo bem e eu respondia sim. Ou então quando mencionavam Danny numa conversa qualquer e eu não alterava em nada minha expressão. Mas seria muito mais difícil. Eu seria realmente outra pessoa. Mãe inglesa, pai francês. Morei na França e estudei em Beauxbatons até resolver me emancipar e tentar algo diferente em Hogwarts. Vou fazer 16 anos, tenho cabelos negros e olhos azuis, da cor do mar. Nada de cicatriz perto da sombrancelha, nariz nada arrebitado e alta. Prazer, Alyssa Stephanie Rockfellery. Tentando enganar não só meus futuros colegas, meu diretor, meus professores, como também a possível assassina do meu irmão. Não seria fácil. Planejei tudo com o maior cuidado quando usei meus “dons” pelo que espero que seja a última vez.Tirei a cicatriz perto da sombrancelha que fizera aos cinco anos, transformei meu nariz arrebitado em um nariz normal, tingi meus cabelos longos e louros de um preto intenso que já deviam ser meus de nascença e me dei alguns poucos centímetros. Mantive os olhos azuis que herdara do meu irmão e o fato de ter um pai francês e ser órfa de mãe. Ela provavelmente havia mudado a aparência também, mas desconfiaria um pouco da minha história de adolescente emancipada e ficaria com um pé atrás. Então tentaria me atingir, de algum jeito e assim eu saberia quem ela é. E a mataria na primeira chance, bem lentamente, com uma dose extra de sofrimento. Era um plano perfeito.