— A senhora está me chamando de louca? É isso mesmo?

Eu estava de robe na sala comunal, praticamente surtando.

— Não, Rockfellery, estou dizendo que seus sonhos são muito reais e que você se assustou.

— Não foi um sonho! Elas também viram!

Robbie e Gina se entreolharam, como se formulassem mentalmente uma resposta.

— Bom, Alyssa... nós só ouvimos você gritar. Não tinha mais ninguém no quarto.

— É claro que tinha! A Lyla estava entrando, deve ter visto, não?

— Eu não vi ninguém sair Allie, desculpa.

— Vocês deveriam voltar para a cama, vão perturbar o resto dos alunos e.... — reclamou McGonagall antes de eu começar a surtar em um francês desesperado.

— Eu pensei que a segurança do dormitório seria a última das minhas preocupações! É sério que vocês pensam que eu sou louca? Sério mesmo? Pois bem, na hora que eu for assassinada enquanto durmo e vocês tiverem que enviar meu corpo por chave de portal para a França e dar uma explicação que simplesmente não vai convencer ninguém vocês vão ver que eu estava certa! E eu espero que Alison e Aaron se vinguem direitinho, e eles vão, pode ter certeza. Que droga, vocês podem ir...

— Tudo bem, já chega, senhorita — reclamou a professora, mal humorada. — Voltem para a cama antes que comecem a perturbar o resto dos alunos.

— Tarde demais pra isso. — Henry saiu do dormitório dos garotos, com uma cara de sono. — O que está acontecendo?

— A senhorita Alyssa tem sonhos vívidos demais. Se não quiserem que eu tire dez pontos da grifinória, voltem para o dormitório agora mesmo, sim?

— Eu sinto muito Alyssa — sussurrou Gina

Sente. Sei que sente. Tentei não julgar, afinal, era mesmo provável que ninguém mais tivesse visto. Meu olhar cruzou com Henry em um instante e pensei em como seria bom se estivéssemos nos falando. Ele acreditaria em mim? Me acharia louca também? Ou exigiria a verdade de uma vez por todas.

— Boa noite, Rockfellery.

— O que aconteceu com o princesa? — sussurrei, voltando ao dormitório.

— O que disse?

— Eu disse boa noite, Richter.

As meninas adormeceram quase que instantaneamente, mas claro que não tive a mesma sorte. Sentei na cama e abracei os joelhos, pensando se havia a possibilidade de eu ter mesmo sonhado. Suspirei, levantei, acendi a varinha e fui ao banheiro.

Encarei meu reflexo, tentando não pensar nas olheiras que teria amanhã. Desabotoei os três primeiros botões e percebi um roxo enorme no meu colo. Na adrenalina, nem percebi a dor. Agora doía tanto que eu mal consegui tocar. Tá, não era tão grande assim, mas era grande o suficiente pra aparecer se eu esquecesse de fechar os dois últimos botões, o que era comum. Eu não estava louca. Alguém estava de tocaia, só esperando que eu dormisse. Pensei nas garotas do dormitório. Gina tinha vários irmãos e era parecida com eles. Dafne nunca teria tanta criatividade assim. Robbie era espontânea, estava sempre rindo e fazia questão que eu participasse do "círculo de amizade". Lyla era doce e gentil. Sempre meiga, chorava quando levava um fora. Henry tinha uma certa queda por ela. Era difícil acreditar que uma das duas pudesse ser uma assassina disfarçada. Eu teria que pensar com a cabeça fria. Não agora, mas amanhã, na sala precisa, se conseguisse dormir.

Voltei para a cama e encontrei um bilhete espetado na minha coberta:

"Ainda não foi dessa vez, vadia." - P.G