A depressão de todos ali era visível. Ninguém ousava dizer coisas do tipo "vai dar tudo certo". Alguém tinha que animar o pessoal.

— Fim do Nyah...? Tá brincando... — Falei.

      Todos olharam pra mim.

— Esse não vai ser o fim do Nyah! Nem sonhando!

— Tyras... — A garota ferida começou. — Eles estão tomando tudo... Até Pachi e Illusion foram derrotados onde mais comandavam: no ar!

— E daí?! E por isso vai desistir?! É assim que vai honrar a memória deles?! Eles foram deletados lutando pelo Nyah! E você agora vai desistir da luta?! Meu irmão foi deletado lutando e defendendo o Nyah! E EU vou honrar a memória dele!

      Peguei a DelBlade que fora do meu irmão.

— Foi com essa lâmina que meu irmão lutou! Foi com essa lâmina que meu irmão salvou minha vida! Foi com essa lâmina que meu irmão defendeu o que todos nós temos de mais valioso: A vida dos nossos amigos, A esperança daqueles que amamos, os sonhos daqueles que compartilham de nossas alegrias! E é isso que o Nyah representa! E agora vocês vão deixar tudo isso morrer?!

      Todos observavam em silêncio.

— Pois eu jurei sobre essa lâmina que eu ia acabar com isso. Eu jurei que ia vingar a morte do meu irmão. Jurei que ia encontrar quem causou tudo isso e ia fazê-lo pagar. Não só pelo meu irmão, mas por todos que sofreram e estão sofrendo nessa guerra. E eu vou cumprir esse juramento. Custe o que custar!

      Pude ver que olhos de muitos refletiam esperança. Vontade de lutar. Garra e determinação.

— Nossa, você daria um ótimo líder, Tyras. — Navi sussurrou no meu ouvido.

      "Deus me livre." Pensei.

— Tem razão, Tyras! — Falou Lauren. — Esse é o NOSSO Nyah! E não vamos entregá-lo assim!

— Isso aí! — Falou Duda.

— Estamos nessa! — Kant ajuntou.

      MasterKina acenou com a cabeça.

— E além disso, eu nem recebi meu primeiro salário como admin ainda! — Falei. — E o Nyah acaba assim?! Nem sonhando!

      Todo mundo caiu na gargalhada.

— É isso aí povo! — Falou Lauren. — Pelo salário dos admins! Preparem as armas! Carreguem os canhões e...

— Interrompam o namoro da sanguessuga com o galegão! É hora do show! — Completei.

      Mais risadas. Duda pegou o rádio.

— Luke, onde você está?

      Graças a Navi, pude ouvir a conversa.

— Vinte metros da base. Com a Lady. Voltando. Desligo.
     
      Duda desligou.

— Eles estão perto. Devem chegar em poucos minutos.

      Poucos minutos o casal real chegou. Começamos a preparar tudo para a nossa partida. Ajudei a recolher as armas e prepará-las para transporte, mas não antes de pegarmos munição suficiente. O galegão e a manda-chuva guardavam os rádios, monitores, e namoravam, além de ajudar as outras duas com a "filial da cruz vermelha improvisada." Ou seja: Horas e horas de puro tédio. Mas um tédio necessário. Dava pra aguentar se não fosse um pequeno incidente.

— Quem dera tivesse alguma música aqui... — falei.

— Sonha, garotão. — Respondeu. Lauren.

— Ui, gostei do "garotão"! — Brinquei.

      Navi entendeu o recado.

— Desejo realizado! — Falou e colocou "música" pra tocar nos fones.

      Só que... Cara, aquilo não era música. Fique estático. Em choque. Imagino que tenha ficado verde, azul, branco, sei lá.

— Tyras? Cê tá bem? — Perguntou Lauren.

— T...to, t...to legal...

— Tem certeza?

— T..Tenho tenho, valeu.

      Saí dalí com vontade de vomitar. Fui num canto isolado.

— Navi! O que raios é isso?!

— Hã? fala da música? Segundo meu banco de dados, você gosta desse tipo de música. Certo?

— Quem... Programou... Seu banco de dados?!

— O seu irmão, claro.

      Tinha que ser...

— Tira isso pelo amor de Deus!! — Implorei.

      Ela tirou na mesma hora.

— Desculpe... eu...

— Não... tudo bem... a culpa não é sua... — Falei me recuperando. — O David tinha que ter posto alguma pegadinha... Enfim... Delete tudo que for similar a isso... e baixe todas as músicas desse pendrive.

      Pluguei o disco no bracelete e ela fez a cópia. Logo eu estava ouvindo Dream Theater.

— Ah... bem melhor. — Falei.

— Agora entendi. Não vou mais errar! — Falou animada.

— Isso aí... agora, vamos voltar.

      Felizmente ninguém tinha notado minha falta. Peguei minhas DelBlades e ajudei a terminar tudo. Poucos momentos depois, estávamos a caminho. De onde? Não faço idéia...
      O caminho era desolador. Restos da categoria, pedaços de fics espalhadas pelas ruas. As casas e prédios estavam em ruínas.

— Meu Deus... — Falou Navi.

     Baixei a cabeça. Era doloroso ver aquilo. Apenas apertei a mão em volta de DelBlade de meu irmão com força. Estavámos saindo da categoria Castlevania quando ouvi um barulho horrivelmente familiar.

— Tyras! Há algo se aproximando a noroeste! Não está no meu banco de dados!

— É a coisa que matou meu irmão. — Sussurrei. — Obtenha todas as informações que puder.

— O que é isso? — Lauren Perguntou.

— Tripods. — Duda Respondeu.

     "É bom saber o nome da coisa que vou derrubar..." Pensei.

— Luke, nós temos como lutar contra eles? — A líder perguntou.

— Temos sim, mas não estamos nem um pouco seguro aqui. — Respondeu o galegão.

     "Ê galego frouxo..."

— Mas com minhas espadas deletadoras, — Falei, amolando uma na outra. — Ai do tripod que se meter a besta...

— Quanta munição nós temos?

— Muita — Respondeu o primeiro-galego — O suficiente para defender uns aos outros pelo menos.

     "Então parece que quem vai atacar sou eu..." Pensei sorrindo. Fomos em direção a umas das poucas casas que ainda estavam de pé, e a usamos como cobertura. Mas antes que pudéssemos chegar nela, um tripod saiu das ruínas. Saquei as DelBlades e avancei, enquanto a coisa disparava perto de nós.

— Galego! MK! Me dêem cobertura! — Gritei.

— Galego?! Ah, raios! MasterKina! Mande a Lady voltar! — Falou enquanto me cobria.

— Sai daí! — Berrou o MK. — Volta pra dentro, vampira!

— Que lindo, o cavaleiro louro defendendo sua amada dentuça! — Falei.

      Atrás do que eu via, que estava sendo acertado pelo MK e pelo Galego vinham mais quatro. Mas, antes que pudesse reagir, um deles surgiu do nada. Teria sido meu fim, se três tiros na arma principal dele não o tivesse feito ruir. Me escondi em um muro, bem a tempo de ouvir MK gritar.

— Que parte do "Volta pra dentro" você não entendeu?!

      "Nossa! A líder me salvou! Espero que o primeiro-galego não fique com ciúmes..." pensei e corri para o próximo. Aproveitando a cobertura do oxigenado e do "metido-a-Richter-Belmont", puz em prática mais um dos meus planos. Pulei nas costas de um e cravei as DelBlades nele. E assim, fui subindo, no melhor estilo "God-of-War"

— A dona aranha, subiu pela parede... — Eu cantava.

      Em poucos momentos eu tava no topo da coisa. Cravei as DelBlades na "cabeça" do bicho.

— Subiu no tripod... — Continuei.

      Comecei a cortar e fazer o maior estrago no bicho. Ele se mexia e tremia e mexia. De repente começou a cair. Me segurei nas Delblades.

— E o derrubou!! — Completei. — AIOOOOOO SILVERRRR!!!

      O bicho fez um barulho enorme quando caiu no chão. Puxei as espadas e saí de cima do bicho. Estava indo em direção ao outro quando saiu sabe-Deus-de-onde um NyahBag. Pego de surpresa, não pude reagir, mas antes que ele pudesse atirar, um balde (sim, isso mesmo, um balde) o acertou bem no meio da cabeça, quase me acertando também. Quando olhei na direção de onde veio o balde, o encontrei. O galego. Ele acenava para o muro onde estava escondido. Corri pra lá e me escondi também.

— Caramba, Galego... Já tinha visto Delblades... Mas DelBALDE, juro, é a primeira vez...

      Ele riu.

— Me dá cobertura! — Falei, apontando para o último Tripod que restara.

— Estou sem munição! — Ele falou.

— Ué! — Peguei dois baldes que estavam encostados no muro e dei na mão dele. — Pronto! Problema resolvido! Se precisar de mais potência nos tiros, tem umas pedras ali no canto.

      Corri em direção ao tripod, deixando o Galego perplexo. Lógico, Navi havia me avisado que não havia mais ninguém por perto. E tive o cuidado de aumentar o volume do fone dessa vez. Cheguei no pé do tripod e cravei uma no "dedo".

— Ihhhh gente boa. É unha cravada. Vou ter amputar. — Falei.

      Tirei a DelBlade e cortei a perna inteira. O tripod começou a cair onde estavam os NyahBags restantes. Olhei para eles. Eles olharam para mim. Pintou um clima, mas aí eu apontei pra cima. Eles olharam e viram a coisa a três metros deles.

— METAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAL!! — Gritei enquanto a coisa caía e esmagava eles.

— Tyras! — Ouvi o Galego gritar.

      Olhei. Haviam quatro NyahBags indo na direção dele. Ele os usou os DelBaldes, e derrubou dois. Né que a coisa funcionava mesmo? Corri para ajudá-lo. Cheguei e cravei as DelBlades em um e rapidamente segurei o outro por trás, o imobilizando.

— É todo seu, DelBalder!

      O primeiro-galego acenou e deu uma surra enorme no NyahBag, chega deu pena... dos punhos do galego, devem ter ficado doloridos. O último tripod caíra por terra e a figura sorridente e suada de um rapaz loiro avançava pela poeira até encontrar com seus companheiros de batalha (Uia).

— Aquele era o último. — Falou MasterKina.

      Estávamos igualmente cansados, mas estavam felizes pelo (aparente) sucesso na disputa.

— Na boa, eu acho melhor a gente pegar as meninas e ir embora daqui, Galego... — Falei.

— Concordo... - Respondeu, ajeitando a peruca loura.

— Principalmente agora que você tem um motivo especial pra isso, não é? — Falei com um olhar irônico

— Estão falando do que? - Perguntou MasterKina.

— CPI, meu caro. - Falei. - “Comissão de Piadas Internas”, se liga que daqui a pouco você percebe...

      Sorrindo, fomos em direção a casa em ruínas que onde as meninas fizeram um abrigo improvisado. Abrimos a porta e demos de cara com a sala vazia e algumas roupas espalhadas pelo chão.

— Duda...? — Perguntou Luke. Ninguém. — Lauren, Myh, Kant... Countess? Alguém em casa? Alow?

      Silêncio. Ele resolveu apelar:

— OLHA UM TRIPOD GIGANTE COM TENTÁCULOS LÁ FORA!!!

      Nada.

— É, não teve graça. — Falei. — Deixa as piadas comigo, tá?

— Myh e Countess saíram há quarenta minutos... — Respondeu Lauren saindo de seu esconderijo com os olhos marejados.

— E ainda não voltaram? — A voz do loiro saiu mais preocupada do que o desejado.

      Eu sabia que os dois estavam se dando uns amassos, mas era melhor que ninguém soubesse. Não era o momento, e por mais sem-noção que eu seja, sei até onde ir. Um gesto negativo foi o suficiente para ele e os outros entenderem a gravidade da situação.

— Não as vimos lá fora... - Eu disse, sério.

      De repente, um medo me veio.

— E a Duda? A Kant? Também foram? — Perguntei.

— Lauren apenas apontou as roupas jogadas no pé na janela, ainda entreaberta. O desespero tomou conta de todos. Pela segunda vez eu não sabia o que fazer. E parece que ninguém mais sabia.

— Não... Só pode ser brincadeira...

       Me ajoelhei no lugar e abaixei a cabeça.

— Tyras... — Navi tentou falar comigo.

       Lembrei do que passamos juntos. A perseguição da Raphaell. O resgate de Hont e Hika-chan, a chegada na base. Poucos momentos, mas marcantes. Mais perdas. Mais pessoas de quem eu gostava...

— Eles... Vão pagar... — O ódio corria pelas minhas veias, enquanto eu arranhava o chão seco e empoeirado. Aos poucos, o chão se tornava levemente úmido.

— Tyras... — Lauren começou.

— Vou fazê-los pagar... Nem que para isso eu morra tentando... Mas eles vão pagar...

       Eu precisava manter a calma. A Lauren não parecia ser muito forte emocionalmente. O Galego estava visivelmente abalado e MasterKina não estava muito diferente.

— Se... Se a Lady... E... E a Countess... — MasterKina parecia nem querer continuar a frase.

— Não... Não! Elas não podem... Ter me contrariado... Elas não podem ter sido deletadas... E... — Ele não conseguiu continuar.

       Toda a estrutura do loiro ruiu como um tripod recém destruído. Há duas horas estava com ela do seu lado e agora ela estava desaparecida. Ou quem sabe até... Deletada! Não. EU tinha que aguentar. Porque daquele jeito, o galego não ia. Me levantei, sequei o rosto e fui acalmá-lo.

— Calma, cara... Eu sei o quanto é difícil, todos nós estamos sofrendo com tudo isso, mas vai com calma... Não vai se meter na frente de nenhum tripod e pedir pra ser deletado que vai ver nada de mal aconteceu. A Lady é esperta, sabe lutar, a Countess é inteligente, não dá um passo antes de saber o que está fazendo... Elas não iam se jogar de cabeça numa missão sem saber se iriam voltar ou não. Provavelmente só se esconderam em outro lugar.

— Mas... Se elas tiverem morrido eu... Nunca vou me perdoar...

— Você não tinha como impedir... Não foi culpa sua... — Disse Lauren. De alguma forma bizarra ela entendia os sentimentos dele. Parecia saber o que havia... Não. Ela sabia o que havia entre eles.

— Eu juro que vou encontrá-las... Onde quer que elas estejam e vou trazê-las de volta para casa!

— Mas sem loucuras, okay? — Recomendou MasterKina. — A Vampira vai dilacerar o seu pescoço quando voltar e descobrir que você teve pensamentos suicidas.

       Pela primeira vez, os quatro se pegaram rindo.

— Arrumem tudo... — Disse Luke, por fim. — Iremos atrás delas hoje mesmo. Agora!

      Concordando com um gesto de cabeça, todo mundo se mobilizou para deixar o lugar o mais rápido possível, levando consigo alguns pertences das nossas companheiras para guardarem na lembrança. Elas tinham sido ótimas lutadoras. No consenso geral, resolvemos deixar algo delas sempre a vista para nos lembrarmos das grandes garotas que eram.
      Observando o horizonte pela porta aberta, Luke parecia pensar por onde começar a procurar. Enquanto arrumava tudo, o ouvi murmurar.

— Lady, Lady... O que foi que você fez?