Narrado por Vick

Eu já havia acordado há algum tempo, mas estava com receio de abrir os olhos. Tinha a sensação de que quando o abrisse Peter estaria com a arma apontada na minha cabeça pronta para me matar, ou pior, ele estivesse com a arma na cabeça de Matt.

Me remexi na cama ainda de olhos fechados, covarde eu sei, mas se tem uma coisa que aprendi com Lukas é ter amor a vida, ele não a valorizou, e talvez, deve ser por isso que ele morreu tão cedo.

Abri os olhos assustada, Lukas ainda era uma cicatriz aberta dentro de mim que eu necessitava fechá-la antes que fosse muito tarde e outra pessoa morresse. Virei meu corpo para o lado, a verdade era que eu não esperava que ninguém estivesse ali naquele hospital preocupado comigo, desde que tinha saído do Brasil e perdido o meu irmão eu já havia me acostumado em ficar sozinha, na verdade esse era um hábito que eu nem me importava mais.

Mas ao invés de encontrar uma cadeira de hospital vazia me assustei ao ver um ser conhecido ali e não pude evitar de ficar feliz com isso. Eu esperava que a única visita que eu tivesse fosse à de Matt, por motivos óbvios já que ele havia me levado para o hospital. Mas ao invés disso me dei de cara com um par de olhos castanhos, estavam fixos em mim, suas mãos estavam entrelaçadas e apoiadas na sua coxa, o corpo dele estava inclinado para frente e sua expressão estava séria, até demais pro meu gosto.

_Oi.- murmurei baixo sentindo um incomodo em minha perna.

Syn não respondeu. Eu franzi o cenho confusa e me apoiando na cama me sentei nela. Analisei o quarto e me assustei ao ver que havia um grande tanque de oxigênio ao lado da minha cama, aos poucos sentia a minha memória voltar e recuei ao me lembrar do tiro na perna.

Virei meu rosto a Synyster novamente e dei um pulinho de susto ao ver que ele estava do meu lado, olhei para cima lhe encarando e em resposta senti seus braços rodeando meu corpo em um abraço apertado.

_Você tem ideia do susto que nos deu?- seu tom de voz era de reprovação e eu o senti percorrendo suas mãos m minhas costas, o perfume dele inundava o ar e eu dei um suspiro baixo.

_Me desculpe. - apertei sua jaqueta com força tentando não mostrar o quanto eu estava feliz com a sua preocupação. _Da próxima vez eu vou tentar me desviar do tiro.

Syn me soltou de uma vez e segurou meus braços com as suas mãos, seus olhos estavam arregalados e pude ver claramente olheiras escuras em seu rosto.

_Como assim próxima vez?- senti meu corpo ser sacudido e continuei o encarando. _Um tiro na perna e um dia tomando oxigênio não são o bastante?- sua sobrancelha estava arqueada pedindo uma resposta.

 _Você sabe que não.- dei uma pausa e senti seu corpo se distanciando do meu. _Eu preciso saber o que realmente aconteceu com Lukas, e se foi Peter que o matou eu tenho que.- parei por um instante, o que eu realmente iria fazer com ele?

_Vai mata-lo?- A expressão de Syn estava séria novamente e ele se afastou encostando- se na janela, não me encarava, seus olhos observavam o movimento fora do hospital. _Você quer realmente se tornar uma assassina?- ele virou o rosto me encarando e eu congelei.

_Por que se for realmente isso eu prefiro que você suma da minha vida.- arregalei os olhos ao senti as palavras dele me atingir, sua voz era fria e os olhos dele também.

Senti minhas mãos suarem, meu corpo estava tenso e não pude impedir um gritinho baixo quando senti Syn agarrando meus ombros.

_Me responda!- sua expressão era assustadora e ao mesmo tempo firme, eu desviei o olhar e suspirei.

_Não seria capaz, não tenho coragem de matar uma pessoa, mesmo que seja Peter.- voltei a encara-lo e seu rosto ainda mantinha uma postura seria.

_Então pra quê tudo isso? Isto tudo é suicídio sabia?- Syn me soltou e começou a andar em círculos no quarto.

_Eu.- fomos interrompidos pelo barulho da porta sendo aberta, sorri ao ver um homem tatuado adentrar o quarto. Matt estava de óculos escuros e com um boné com a aba virada para trás, segurava um copo enorme de café do Starbucks e abriu um largo sorriso ao me ver.

_A bela adormecida já acordou.- ele se aproximou sentando na cama e me dando um selinho.

_Bela adormecida?- franzi o cenho rindo._ Tem certeza que você só está bebendo café?

Um sorriso escapou de seus lábios e eu encarei Syn,  ele estava encostado na porta e observava tudo calado. Matt retirou os óculos e eu também pude ver grande olheiras arroxeadas debaixo de seus olhos.

_Bom, considerando que você já está dormindo há três dias eu acho que posso te chamar assim.

Arregalei os olhos, três dias? Será que eles haviam me drogado ou coisa parecida?

_Por que estão aqui?- perguntei subitamente e senti Matt pegar a minha mão._ Quero dizer, eu não quero parecer ingrata, mas eu já  estou acostumada a ficar sozinha.- olhei para baixo encarando a minha mão entrelaçada com a de Matt.

_Nós nos preocupamos com você.- ouvi a voz de Syn e o fitei. Olhei os dois homens ali parados e pude ver que nenhum estava feliz com a presença do outro. Era só o que me faltava, ficar no meio de um triângulo amoroso.

O clima ficou meio tenso e Matt encarava Syn como se ele fosse um intruso, eu em resposta olhei para a minha perna e num movimento arranquei o lençol olhando o estrago que a bala havia feito.

Ah Peter, você vai me pagar muito caro. Eu quero que você tenha uma morte lenta e dolorosa.

O tiro de Peter não havia feito muita coisa em minha perna, exceto ela estar enfaixada um pouco acima do meu joelho e ia descendo até a metade da minha perna, mas esse não era o problema maior. Minha perna estava imobilizada, então significa que não PODERIA DIRIGIR!

_Desgraçado.- murmurei levando a minha mão até o esparadrapo, num movimento desesperado tentei arranca-lo, mas fui impedida pela mão de Matt.

_Matt se você não me soltar agora eu vou arrancar o seu piercing com os dentes.- ele não soltou e eu o encarei nervosa.

_Quer soltar a porra da minha mão?- ele apertou mais o meu pulso e eu bufei.

_Você tomou dois tiros, tem que ficar em repouso.

_Dois?- perguntei indignada._ Onde estava o segundo tiro que eu não me lembro? 

Ele se remexeu um pouco incomodado e por fim disse:

_Parece que a arma deu dois disparos seguidos e devido a minha briga com Peter as balas acertaram lugares diferentes.- abaixou os olhos constrangido.

Eu apertei sua mão e ele voltou a me olhar.

_A culpa não foi sua.

De repente a porta foi aberta de novo, ou melhor, escancarada pelas três figuras que estavam faltando.

_E aê negada!- Jimmy gritou e levantou a mão batendo na minha.

Observei aqueles três com um sorriso no rosto, Zacky segurava um milk shake enorme e Jhonny ria da recepção de Jimmy.

_Então, qual é a sensação de levar um tiro?- pude ver Matt fuzilando Jimmy com os olhos e eu dei uma gargalhada.

_Eu prefiro beber Jack D’aniels com absinto. Deve doer menos.- comecei a rir e Jimmy arqueou a sobrancelha.

_É um desafio?- ouvi a voz de Jhonny e me virei para ele.

_Depende. Se você aguentar beber comigo até o final.- o desafiei.

_E o que eu vou ganhar em troca?- se aproximou malicioso e Jimmy puxou seu braço.

_Cara, vai procurar teu rumo. A Vick é a gata do Matt.

Eu paralisei no lugar recebendo olhares de todos e o de Syn não era nada feliz.

_Como é que é?- olhei para a cara de Matt que levantou a mão em defesa.

_Ele nos contou tudo.- Zacky disse ainda com o milk shake na mão.

Puxei a mão que Matt  estava segurando e a coloquei tampei meu rosto envergonhada. Do jeito que aqueles garotos são loucos é bem capaz de acharem que eu sou amante de Matt, o que não é verdade. O pior de tudo foi Syn ter ouvido isso, por que dias atrás eu o rejeitei justamente por ser casado.

Retirei minha mão do rosto e todos me encaravam apreensivos, exceto é claro Synyster que me olhava de mal humor.

_Aconteceu em Vegas, foi uma noite muito louca, eu tinha brigado com Peter e ainda era a despedida de solteira de Emily e graças a isso eu fui confundida com uma striper e me deram uma bebida batizada, aí eu fugi para um lugar e o Matt me encontrou e o resto eu não vou entrar em detalhes.- enquanto falava eu gesticulava com as mãos e tentava não ficar nervosa com a situação.

_Cara, aquela Emily é muito louca. A única coisa que me lembro daquele dia foi que ela me agarrou no elevador e depois eu acordei ao lado dela numa suíte presidencial.

Encarei Jimmy surpresa e depois comecei a rir. Olhei minha perna naquele estado e uma ideia maluca me veio a mente.

_Syn ?- o chamei e seus olhos que estavam encarando minha perna vieram em mim._ Você ainda quer correr?

Ele franziu o cenho confuso e por fim disse:

_É eu acho que sim, mas por quê?- todos que o encaravam viraram sua atenção a mim e eu dei uma gargalhada baixa.

 _Fala sério, olha pra mim!- apontei para minha perna imobilizada e depois voltei a olha-lo.

_ Não posso correr desse jeito, mas também não posso deixar os corredores e apostadores na mão.

Ele me encarou e todos ficaram em silêncio, meu corpo tremia em expectativa de que ele aceitasse minha proposta.

_Você quer que eu corra para você?- arqueou a sobrancelha e eu assenti.

_Vou te ensinar tudo que eu sei sobre corrida.

Syn se aproximou um pouco e apoiou o corpo com a mão em minha cama.

_E o que eu ganho com isso?- pude ver ele encarando Matt e depois sua atenção veio a mim.

Olhei para o lado e peguei minha bolsa que estava em uma mesinha, fucei lá dentro até achar minhas chaves e meu celular. Disquei o numero rápido e logo Ryan atendeu.

_Sim Ryan é claro que eu estou bem.- revirei os olhos enquanto ele me perguntava._ Foi só um acidente e eu me lembro muito bem o que aconteceu com ele, eu estava lá não lembra?- Syn percebeu que eu estava falando de meu irmão e se aproximou mais. _Não, eu não vou morrer, mas preciso que você fale com Andy e pegue outro carro para mim. Ligue para Tom, ele está lá e peça para trazer o meu favorito para cá.

Me despedi de Ryan e joguei meu celular na bolsa novamente. Encarei Syn apreensiva apertando a chave entre meus dedos.

_Então, aceita?- o olhei nervosa e ele deu um sorriso típico dele.

_Não tenho nada a perder.- murmurou e eu arremessei as chaves.

_Ótimo. Vá buscar o meu Bugatti Veyron.