Narrado por Vick

Sentia meu corpo tremer. Peter apontava a arma em nossa direção e Matt tinha se posicionado na minha frente, como se isso me acalmasse. Eu não tinha certeza se ele estava blefando ao apontar a arma para nós ou se era realmente sério. Preferia não arriscar, mas também não queria que Matt levasse um tiro por minha causa. Então, saí de trás de sua proteção corporal e com as mãos na frente do corpo fiz movimento indicando para que Peter se acalmasse.

_Isso é loucura.- a arma que até agora estava apontando para Matt se virou para mim mirando em minha cabeça. Eu fechei os olhos dando um breve suspiro, encarei Peter que estava com os olhos um pouco arregalados, parecia que estava a beira da loucura.

_Peter.- ele me analisou e eu continuei._ Peter solta essa arma.

Houve uma risada irônica e ao mesmo tempo assustadora de Peter e de repente ele ficou sério, seus olhos mostravam tristeza e raiva, eu não sabia o que fazer.

_Você não quer brincar?- Ele balançou a arma freneticamente ainda apontando para mim.

Eu estava com um problema. Eu sabia que ele tinha um espirito meio psicopata quando Peter queria, mas eu não pretendia morrer agora, ainda mais na frente de Matt.

_Você não está em seu juízo perfeito!- gritei me aproximando. Eu sabia que tinha que fazer alguma coisa antes que desse merda.

_Você me fez ficar assim!- gritou também me olhando. Eu fiquei em silêncio me aproximando devagar. Por incrível que pareça Peter não reagiu, eu estava cerca de um metro de distância dele rezando internamente para que ele não atirasse em Matt.

_Se acalma.- pedi suplicante.

_Me acalmar? Você me larga no dia do nosso casamento e depois eu te acho no nosso apartamento com esse cara!

_Ela não fez nada.- Matt se pronunciou me defendendo e Peter virou seu rosto a ele.

_Quer dizer que o que vi lá foi um sonho?- fez uma cara debochada enquanto seus cabelos balançavam pela sua euforia.

_Não.- Matt se pronunciou e eu virei meu rosto a ele._ Eu obriguei ela.

_O que?- me virei exaltada  para Matt -. _Você não me obrigou a nada! Desde aquela noite em Vegas eu fiz tudo por que eu quis!- gritei nervosa.

_Mas eu te obriguei a ficar comigo lá no seu apartamento!

_Matt-. Respirei fundo e continuei._ Larga de ser cabeça dura eu fiz isso por que- parei subitamente olhando para baixo desnorteada, eu não sabia o que falar, eu sei que Matt estava esperando eu dizer um “eu te amo”, mas eu não sabia se gostava dele ao ponto de dizer isso.

_Por que?- Matt me incentivou com um sorriso quase imperceptível nos lábios.

_Por que- fui interrompida pelo som alto de um disparo, eu senti um vento  rápido perto do meu ouvido e por instinto eu coloquei a mão na orelha me abaixando um pouco, fiquei segundos nessa posição e depois me endireitei olhando para frente e me assustei ao ver um pequeno buraco na parede do lado onde Matt estava parado. Peter tinha atirado e por pouco, muito pouco teria me acertado. Fechei os olhos tremendo e sentindo as minhas mãos suarem frio.

Eu arregalei os olhos e a primeira reação que tive foi de voltar a olhar Peter, sua expressão estava congelada e ele não se mexia, por um segundo eu achei que ele estava tendo um pire paque, eu preocupada como sempre me aproximei lentamente e vi sua expressão congelada, com cuidado abaixei a mão que estava com a arma e toquei seu rosto, aos poucos ele parecia  recuperar a consciência.

Seus olhos que estavam meio caídos me olharam e eu senti um arrepio percorrer minha espinha, e de repente senti Peter agarrar o meu ombro e sua mão que estava com a arma se levantou lentamente.

Houve um barulho e de repente eu vi Matt empurrar Peter com tudo na parede, ele colocou o braço pressionado o pescoço de Peter na parede, enquanto que com o outro tentava tirar a arma de sua mão. Dava para ver pela expressão de Peter que ele não aguentaria muito tempo sem ar, então, ele juntou as forças que tinha dando um soco na barriga de Matt fazendo com que ele se curvasse de dor tirando o braço do pescoço dele e colocando a mão na barriga. Enquanto isso, Peter corria na minha direção e eu tentava me afastar dele sem me virar, eu estava desesperada e quanto mais me afastava mais Peter se aproximava.

_Tá com medinho é?- murmurou com uma voz perversa. Eu nunca tinha visto ele naquele estado tão maligno e confesso que era assustador vê- lo daquele jeito, por que apesar do meu ódio por ele, não era eu que estava armada.

Para cada passo que eu corria para longe dele Peter dava três. Senti o desespero tomar conta de mim quando vi sua mão se elevar e agarrar meu pescoço com força me fazendo ficar sem ar nenhum. Eu já tinha a respiração limitada por natureza e Peter sabia disso e por isso ele apertou mais forte fazendo com que meus pés saíssem do chão enquanto inutilmente eu tentava com as minhas duas mãos empurrar o braço dele para longe da minha garganta.

_Você é tão linda.- me ergueu um pouco mais e colocou a arma em minha cabeça a engatilhando, seu rosto me encarava com adoração e fechei os olhos os apertando com força e quando eu abri os olhos novamente a sua feição maligna havia voltado.

_Eu não te traí, não seria capaz disso.- os meus sentidos já estavam ficando fracos e eu não conseguia manter os olhos abertos por muito tempo.

_Podemos voltar como era antes. Nós dois fugimos e podemos nos casar em alguma capela na estrada.- seus olhos brilhavam como se ele estivesse imaginando a cena. _Nós seremos muito felizes.- desviei meu olhar dele por um segundo e vi Matt andar devagar com um pedaço de madeira em suas mãos. Eu estava prestes a desmaiar quando o vi depositar toda a força na madeira acertando a cabeça de Peter. Em segundos eu sentia meu corpo ser libertado me fazendo cair no chão frio e o ar voltar aos meus pulmões, só que tinha um problema: era ar demais. Era irônico eu ter uma crise de asma bem agora,  de todas as vezes o meu corpo escolheu a pior hora para isso acontecer.

 Minha cabeça explodia de dor e eu não conseguia puxar o ar direito para meus pulmões, então eu abri a boca com a respiração descompassada batendo o punho no chão como se isso fosse amenizar a crise.  De longe eu podia ver Matt e Peter brigando novamente, os dois seguravam a arma ao mesmo tempo a apontando em várias direções, foi quando os dois estavam tão preocupados em socar o outro que eles miraram a arma em mim.

Eu não podia fugir, não conseguiria. E também não podia gritar, já estava difícil demais tentar fazer com que meus pulmões voltassem a funcionar direito  sem uma bombinha de ar, imagina me desviar de um tiro.

Os dois continuavam sua briguinha pessoal, Matt dava soco em Peter e o dito cujo tentava empurrar o rosto de Matt com as mãos,, enquanto os dois seguravam a arma. Foi quando sem querer alguém apertou o gatilho.

PÁA! (barulho tosco de disparo)

 Senti a bala rapidamente disparar e passar pela minha pele se alojando na minha perna. Fechei os olhos sentindo a ardência invadir o local e segundos depois veio a dor.

_AHHH!- gritei sentindo a minha voz sumir aos poucos e minha respiração ficar pior do que já estava, olhei para baixo vendo o buraco onde a bala passou pela minha calça e uma pequena poça de sangue um pouco acima do meu joelho.

_VICK!- ouvi os dois gritarem ao mesmo tempo.

 Me desesperei mais, eu nunca havia tomado um tiro na minha vida e isso era agoniante. Me deitei com a barriga para cima tentando não chorar, foi quando vi a sombra de Matt e senti meu corpo ser erguido. Gemi de dor ao sentir ele sem querer tocar a minha perna, tombei  minha cabeça para o lado e vi Peter com os olhos arregalados.

_Você já causou problemas demais por hoje-. Matt murmurou para ele e eu observei ele se distanciar ainda transtornado pelo meu estado e depois correr para o seu carro.

Senti meus olhos pesarem e encarei Matt que me fitava assustado por causa da minha respiração.

_Não dorme, por favor.- eu assenti enquanto sentia ele correr comigo em seu colo. Com essa loucura ele até havia esquecido que viemos de carro e correu comigo a pé mesmo para o hospital que era perto dali. Graças a corrida de Matt a minha situação respiratória piorou por causa do vento, mas eu não quis incomodar ele com isso.

_ALGUEM PODE CHAMAR UM MÉDICO?- ouvi Matt gritar e foi quando eu percebi que já estava no hospital. Senti a presença de várias pessoas ao meu redor e Matt cuidadosamente me colocou em uma maca.

_Oh Meu Deus! Não é aquela estilista famosa?- ouvi alguém murmurar e depois houve um barulho de uma câmera de celular.

 Vi a enfermeira colocar a máscara de oxigênio em mim e percebi que Matt segurava a minha mão, com a pouca força que me restava apertei a sua mão indicando que eu estava bem.  

A única coisa que eu conseguia pensar era na noite em que eu e Matt nos conhecemos. Deixei um sorriso escapar e depois fechei os olhos me entregando ao cansaço.