Pov Lily Evans

Aquele era o grande dia. O dia que, segundo a Dorcas, iria mudar a minha vida.

Eu não sabia por que ela havia dito aquilo, mas também não estava me importando. Tudo o que eu tinha em mente agora era o projeto de Megan Fox que James havia levado a casa dele.

Não que ele me devesse explicações, é claro, mas mesmo assim ele não parecia estar tão mal quanto Remus dissera então.

Dorcas havia passado hoje bem cedo para garantir que eu acordasse e tomasse um café da manhã descente, além de me fazer correr umas cinquenta vezes em volta da casa. E agora, ela havia sido buscada por Remus na minha casa, para pegar nossos vestidos.

Eu não sei como ela conseguiu um vestido para mim em tão pouco tempo, mas tenho minhas dúvidas de que ela já estava tramando me levar à força para essa festa.

Eu estava vendo tevê – no pouco tempo que eu tinha antes de Dorcas vir fazer meus cabelos –, quando ouvi a campainha tocar. Como não havia ninguém em casa além de mim, fui obrigada a levantar preguiçosamente do sofá e me arrastar até a porta. Assim que abri, tive uma surpresa.

A professora Trelawney estava ali.

O que a professora de Artes Cênicas fazia na minha casa?

– Professora... Em que posso ajudar? – atendi, usando todo o estoque de educação que absorvi ao longo desses sofridos dezesseis anos.

– Ah, Srta. Evans! Que prazer – disse sorrindo de uma forma estranha. – Bem, eu trabalho na loja onde a Srta. Meadowes comprou os vestidos... Sabe salário de professor não são grandes coisas – comentou. – Enfim, eu vim entregá-lo.

Assenti. Ela me entregou uma sacola xadrez em rosa bebê e branco.

– Muito obrigada professora. Boa tarde – disse tentando tirá-la da minha porta antes que...

– Ah querida... As estrelas mandaram eu te avisar uma coisa – ela começou...

Estão de prova que eu queria tirá-la da minha porta antes que as estrelas me avisassem algo.

– O que é, professora? – perguntei entredentes, tentando não me descontrolar.

– Depois de dois erros, o amor da sua vida finalmente aparecerá. Espero que tenha uma boa festa – disse sorrindo e saiu.

Essa mulher era maluca, só podia.

Subi ao meu quarto, e coloquei a bolsa em cima da cama, pensando no que a professora havia dito.

"Depois de dois erros, o amor da sua vida finalmente aparecerá".

Aquilo só poderia significar uma coisa! Amos e James foram erros. E agora o amor da minha vida apareceria.

Sorri com esse pensamento. Eu precisava mesmo mudar.

Algum tempo depois Dorcas chegou para fazer o meu cabelo. Optei por um coque, já que o vestido era tomara que caia. Depois do cabelo pronto, passamos à maquiagem. Usei um batom creme, lápis de olho, delineador, rímel, e sombra azulada.

Assim que coloquei o vestido e me olhei no espelho, sorri. Eu estava linda.

O vestido era tomara-que-caia com tons de verde, preto e prata que pareciam se modificar dependendo da luz. O coque pareceu destacar o meu decote, e também ficou meio soltinho com ar de feito às pressas. Pus um par de brincos pequenos, que havia ganhado da minha avó no Natal passado.

– Você está linda – Dorcas disse ficando ao meu lado no espelho.

– Obrigada – respondi sinceramente, sorrindo.

– Bem, agora é a minha vez. O Rem e eu vamos te buscar daqui a pouco okay? – assenti.

Eu não aguentei ficar parada esperando. Sendo assim, fiquei quase duas horas andando em frente à tevê, sem sentar para não amassar o vestido. Ordens da Dorcas.

Assim que Remus e Dorcas chegaram, eu tive que me controlar para não abrir a boca.

Como ela conseguiu ficar tão perfeita em tão pouco tempo? Ela estava com uma saia rosa de cintura alta, uma blusa preta, e uma jaqueta de couro preta. Ah, não posso me esquecer da perfeita combinação meia calça preta mais ankle boot. Eu tenho uma tremenda inveja dela.

Remus nos levou no carro dele até a festa, mas fomos em silêncio. E eu estava muito grata por isso, não queria ficar falando muito, estava pensando no que a professora havia dito.

Assim que cheguei realmente me surpreendi. A festa estava perfeita. Não era nada do que pensei que seria – pelo menos eu não havia visto nenhuma foto do Diggory espalhada por aí ainda.

– Uma coisa, não podemos negar – Remus comentou despreocupado. – Ele sabe dar uma festa – disse rindo. Concordei com a cabeça e fiquei ali parada. Mas não por muito tempo porque os dois resolveram aproveitar a música agitada para 'se comer'. É, a minha sorte me espanta.

Estava andando sem realmente ver para onde ia quando sinto alguém bater bruscamente em mim.

– Ah, me desculpe... Lily, oi – disse ele, levei um tempo para reconhecer Frank Longbottom.

– Ah, oi Frank. Como vai a Ally? – perguntei sorrindo.

– Vai bem, e por falar nela... Você a viu? – perguntou ficando subitamente vermelho. – Eu a perdi nesse monte de gente. Sabe como a Alice é... – comentou sorrindo.

– Bem, sei sim. E não, infelizmente não a vi ainda... Bem, vou te deixar procurá-la em paz. Mande um beijo pra ela, por mim. Tchau – despedi-me começando a andar.

Frank e Alice eram um ano mais velhos que 'o pessoal'. Saíram da escola no ano anterior.

Alice era baixinha, e agitada. Já Frank, tímido e quieto. Mas eles formavam um belo casal.

Andei mais um pouco, e realmente pensei que fosse conseguir chegar ao meu destino dessa vez – ele passou a ser um dos bancos que ficavam perto do bar –, mas senti outro esbarrão. Esse foi mais forte, e se a pessoa não tivesse me segurado, eu com certeza iria ao chão.

– Lily, desculpe – disse uma voz conhecida. Sirius.

Fiquei vermelha instantaneamente.

– Sirius – murmurei. Eu sabia que havia o magoado, assim como magoei a James. E isso me deixava pior. Remus também estava magoado, eu via em seus olhos. Mas ele não demonstrava, e eu seria eternamente grata por isso.

Só agora eu parei para pensar, e percebi quantas pessoas eu magoei com a droga da mentira. Tudo por puro capricho.

– Ah, Sirius – o chamei. Ele me olhou. – Olha, eu quero pedir desculpas. Eu sei que elas não adiantarão, mas... Mesmo assim, me fará melhor. Desculpe-me – pedi sinceramente.

E ele fez o que eu nunca imaginei que faria, não que ele fosse de guardar rancor, mas eu NUNCA pensei que ele pudesse me abraçar do jeito que abraçou. Parecia um irmão mais velho tentando proteger a irmãzinha dos valentões e eu realmente gostava disso, e sentia falta.

– Lily – ele disse me soltando e passando a segurar os meus braços, abaixando de forma que eu o olhasse nos olhos –, eu sei que está arrependida. E sinceramente você não me deve desculpas. Mas se quer realmente ficar de bem consigo, vá falar com o James. Ele já chegou – disse sorrindo maroto e me dando uma piscadela. Sorri de volta e saí rápido dali.

Eu precisava vê-lo, precisava convencê-lo de que eu estava arrependida.

Eu tenho que registrar uma coisa... Hoje realmente não é o meu dia de sorte.

Dessa vez eu ia realmente ao chão, se não fossem mãos habilidosas segurando em minha cintura assim que fechei os olhos. Esperei minha respiração ficar regular novamente e abri os olhos.

Lá estavam eles. Os olhos castanhos que eu tanto amava. Os olhos de James. Bem, talvez eu tenha sorte sim e... Espera. Percebi uma coisa.

Eu esbarrei em Frank e em Sirius. Ah meu Deus!                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             Era ele. Agora entendi o significado do bilhete. "Depois de dois erros...". Os dois erros não eram Amos e James, como eu havia pensado, e sim os meninos – Frank e Six – com quem esbarrei.

Porque o amor da minha vida era James. E sempre seria. Eu tinha certeza disso agora.

Olhei em seus olhos, eles pareciam magoados. Eu sabia que estariam. Mas os meus não deviam estar diferentes. Afinal, eu também estava magoada com ele, mas não tanto. Porque eu fui uma idiota, que pisou no coração dele de todas as formas. E ele não merecia isso.

– Me desculpe – pedi de repente.

Ele arregalou os olhos castanhos. Só nesse momento percebi que ele já tinha me soltado e que estávamos a certa distância.

– Como? – perguntou estupefato. – Eu deveria saber desde o inicio que isso não daria certo Lily.  Eu pensei, realmente pensei que você era única. Mas... Isso já estava acabado antes de começar – ele respirou fundo. – Sabe, você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, mas também a pior. Você é linda – disse risonho –, mas também é louca. Acho que... Essa foi uma das coisas que me fizeram apaixonar-me por você. Mas mesmo tendo fingido estar comigo, você nunca esteve Lily.  E eu sei que vai doer, sei que vou sofrer quando me afastar, mas eu não posso mais ficar. Você é a melhor mentirosa que já conheci. Parabéns – ele sorriu torto. – Mas agora estou acabando o que nunca deveria ter começado. Adeus Lily. Estou deletando você, da minha vida, e do meu coração também. Esse é o meu último movimento – ele disse com a voz tremida, e eu via em seus olhos que tentava controlar as lágrimas.

Então, aproximou-se lentamente e me deu um beijo na testa. Começou a se afastar, para talvez nunca mais voltar.

Eu não sabia o que pensar. Eu estava alheia a tudo. A única coisa que eu conseguia pensar era em várias formas de me fazer sentir dor. Porque só assim eu conseguiria esquecer a dor interior de tê-lo feito sofrer, tê-lo feito desistir de mim. Eu sou a pior pessoa do mundo.

Saí correndo dali, sem me importar em quem esbarrava, e em pedir desculpas. Assim que cheguei à metade do salão ouvi Amos dizer:

– E o rei e rainha do baile são... – todos começaram a gritar, e eu realmente fiquei grata por isso. Assim não prestariam atenção em mim.

Grande erro.

– James Potter e Lily Evans – ele disse. Assim que ouvi meu nome, virei-me na direção do palco, de onde Amos falava, ele me olhou de volta, com um sorriso maléfico no rosto.

Mil vezes droga.