Oh! Ótimo, agora o cara por quem estou apaixonada me odeia. Eu sou uma idiota, é.

– Lily, você tem que ir atrás dele – Lene disse dois dias depois quando me viu jogada na cama chorando.

– Eu não tenho coragem de encará-lo Lene – eu resmunguei chorando ainda mais.

– Coragem é quando você sabe que não vai dar certo e mesmo assim tenta. Você sabia que aquele plano idiota não ia dar certo e tentou, teve coragem pra continuar com ele não foi? Agora tenha coragem para arcar com as consequências – ela disse sabiamente.

– Lene, não são frases de filmes infantis que vão me ajudar. Além disso, eu prefiro ficar aqui chorando vendo O Rei Leão do que ir atrás do James e levar um fora.

– Tudo bem então Lily. Fique ai, criando teias de aranha... Foi só a minha opinião – ela disse como quem não quer nada. Okay, ela conseguiu me deixar irritada!

– O MUNDO PRECISA DE EXEMPLOS, E NÃO DE OPINIÕES LENE! POR QUE NÃO DÁ O EXEMPLO INDO ATRÁS DO SIRIUS E ME DEIXA EM PAZ? – gritei. Droga! Eu não devia ter descontado nela.

Pude ver seus olhos se encherem de lágrimas. Mas que droga, eu sou uma máquina de magoar as pessoas agora?

– Você realmente quer algo, Lily? Então corra atrás, pois suas lágrimas não o farão por você – ela disse deixando uma lágrima cair e saindo do meu quarto.

E agora, vamos recapitular a minha perfeita vida... É eu sou sarcástica e irônica quando estou com raiva.

Bem, eu namorava o lindo e cobiçado Amos Diggory. Até que o vi me traindo com a Vance e o traí com o Potter. Desde então eu namorava o Potter, mas eu o estava usando para fazer ciúmes o Diggory. Meu plano estava indo perfeitamente bem, mas eu não contei com uma surpresa do destino: eu me apaixonei pelo Potter! Tentei negar de todas as formas possíveis e impossíveis para mim mesma e para minhas amigas. Então num belo dia, ou nem tão belo assim, Lene, minha linda melhor amiga, começa a me "zoar" dizendo que eu amava o Potter, e eu sabiamente...

Nossa, estou tão irônica hoje!

Voltando a minha vida perfeita... Eu sabiamente disse a Lene que o James, cara pelo qual eu estou apaixonada, era só um motivo para fazer o Diggory se roer de ciúmes. Mas eu não contei que James ouviria isso. E ficaria realmente bravo, e sairia correndo e com lágrimas nos olhos, e que eu ficasse tão mal. E muito menos que eu descontaria na Lene, perdendo assim, possivelmente para sempre, a minha melhor amiga.

Gostaram da minha vida? Pois é, eu também não.

E então eu tive outra ideia maravilhosamente maravilhosa. Eu vou seguir o conselho da Lene!

Finalmente vai fazer alguma coisa que preste da sua vida, não é Lily?

Consciência! Faz bastante tempo que não te vejo por aqui, já estava com saudades!

Sim, minha ironia ta dez...

Mas voltando... Eu vou seguir o conselho da Lene e vou atrás do Jay. Afinal, "minhas lágrimas não o farão por mim".

Levantei da cama e fui tomar um banho. Quando terminei coloquei uma calça jeans, uma blusa qualquer e um all star. Peguei minha bolsa, um casaco de moletom, passei um gloss e saí.

Eu realmente não sabia direito aonde ir, e também não queria pegar o carro. Sim, eu fui andando. Então, estava quase chegando lá – eu acho – e vi uma pessoa vindo em minha direção. Era Severus. Ele pareceu se assustar a me ver, mas logo sua expressão passou para preocupação.

– Lily, você está chorando? – perguntou horrorizado. Eu estava?

Só depois que ele falou que eu senti meu rosto molhado. E agora eu estava chorando na frente do meu ex-melhor amigo. Que demais!

– Snape – cumprimentei magoada. – Tenho que ir, desculpe.

– Não, Lily – ele disse segurando meu braço e me obrigando a virar para ele. – Será que não podemos conversar, nem por uns minutos? Sente aqui – disse me conduzindo até um banco.

Não sei por que me sentei ali, e nem o que me levou a abraçá-lo no segundo seguinte. Mas era aquilo que eu precisava, era dele, do meu irmão, que eu estava precisando.

– Calma Lily, o que houve? – perguntou realmente preocupado.

Ainda soluçando e com lágrimas escorrendo livremente pelo meu rosto, me soltei dele e olhei em seus olhos negros.

– Minha vida... É uma droga! – eu disse com a voz falha. – Eu o magoei Sev. Magoei o cara que eu amo – eu disse chorando mais ainda.

Eu sei que não devia chorar pelo James enquanto o Severus estava comigo, aquilo era egoísta. Mas eu simplesmente não conseguia parar, doía demais.

– Lil – disse ele. Senti-me confortada com aquele apelido, era assim que ele me chamava quando éramos crianças. – Me diga o que houve, e como magoou o... Potter – percebi que ele não usou o desprezo e o nojo que usava para falar de James. O tom dele soou... Magoado, ressentido e até... Invejoso.

Relatei tudo que havia acontecido na minha vida, até o momento em que havia brigado com Lene.

– Lily, se tem uma coisa que eu percebi, sabe, vendo o Potter correr atrás de você todos esses anos, é que... Ele te ama, Lily – ele disse seriamente. Eu nunca imaginei ouvir o Severus dizendo que o James me ama. ­– Então ele vai ter perdoar... – disse convicto. – Só não sei quando – completou despreocupado.

– Obrigada – respondi sinceramente. – Acho que já vou. Até mais Snape – me despedi voltando a ser como era antes.

Saí andando em direção a onde eu supunha ser a casa de James, torcendo para que ele não me seguisse e para que James me ouvisse. E me entendesse.

– LILY – ouvi-o gritar quando já estava há alguns metros de distância. Virei-me para ele com uma expressão interrogativa.

Olhei para baixo assim que vi seus olhos. Estavam suplicantes e qualquer coisa que ele me pedisse olhando em meus olhos, eu faria.

– Lily, me perdoe, esqueça o que aconteceu. Okay? – disse chegando mais perto.

Fechei os olhos com força e respirei fundo. Estava na hora de despejar tudo o que eu sentia em relação ao nosso desentendimento.

– Não dá Severus – eu disse olhando para cima e me deparando com seus olhos: negros e frios. – Você era como um irmão, e me magoou da pior maneira possível – continuei –, você me humilhou na frente de toda a escola, por ciúmes. Severus, você me chamou de vadia, só porque pensou que sendo amiga do Remus, eu seria amiga de todos os Marotos, e com isso, te esqueceria. Simplesmente não dá pra me esquecer de tudo isso e seguir em frente – eu disse cansada.

– Mas Lily, eu te vi andando de mãos dadas com o Lupin! Claro que sentiria ciúmes – disse ele tentando se justificar.

Imediatamente, como se essas palavras fossem um tipo de controle remoto, um flashback de dois anos atrás veio em minha mente.

"Remus havia me chamado para conversar em particular e eu estava sentada debaixo de uma árvore com o "dito cujo". Ele estava me contando sobre um grupo de babacas que batiam, e por várias vezes até matavam, os homossexuais. Eles eram identificados com uma tatuagem ridícula, de uma caveira e uma cobra saindo de sua boca.

– E então, eles agora acham que sou homossexual, e disseram que vão me matar se eu não virar homem – Remus dissera finalizando sua história. – Como se eu não fosse – comentou entredentes.

Eu havia ficado horrorizada. Como eles podiam ser tão... Ridículos e mentes fechadas?

– E... Onde exatamente eu entro nessa história Rem? – perguntei já prevendo a resposta. Estava claro e límpido como água que ele gostava da Dorc e deveria querer que eu sondasse o território... Ah, espertinho.

– Eu quero que você finja ser minha namorada – disse de uma só vez. Me engasguei com o ar, no momento seguinte à sua fala estava eu, um ruiva louca, tossindo e tentando respirar. Sem contar que eu deveria estar feito um pimentão, de tão vermelha – mas isso é normal.

– Você quer o quê? – perguntei assim que me recuperei.

Depois de muita conversa – na qual descobri que os trogloditas chamavam o Rem de "Estrelinha" – conseguimos chegar a um acordo.

 Eu seria a namorada que faz de tudo para o namorado, e então ele me trairia e eu descobriria. Faria um show dizendo que eu não o queria mais, e ele diria para todos ouvirem que ele prefere as ruivas.

Sim, ruivas, eu estaria de peruca morena. E toda essa encenação na frente dos trogloditas. Isso tudo para provar que meu amigo lunático é homem... Não seria mais fácil pedir a Dorc em namoro logo?

Mas como boa amiga que sou, aceitei o pedido. E então saímos de debaixo da árvore de mãos dadas e sorrindo, felizes. Mas isso era um simples gesto de amizade!

Então eu vi. James Sirius estavam provocando o Severus. Fui tentar dar um ponto final naquilo, afinal, Potter com certeza me ouviria.

– Potter! – chamei assim que cheguei. Ele se virou para mim com um típico sorriso maroto no rosto.

– Sim minha ruivinha? – perguntou ainda sorrindo.

– Pare de importunar o Severus. Agora! – eu disse autoritária e então olhei para Severus.

Seus olhos negros estavam perigosamente fixados na mão de Remus entrelaçadas às minhas.

– Eu não preciso da ajuda de uma vadia como você, Evans – disse lentamente e se afastou.

Eu não sabia o que fazer naquele momento. Meu melhor amigo, meu irmão, havia me chamado de vadia. Vadia? Eu podia ser TUDO, menos vadia. Acho que aquela dor só não superou a dor de ver James chorando por causa da minha estupidez."

– Por favor, Lily, me perdoe – pediu suplicante.

Sim, eu o perdoaria. Era impossível não perdoar. Seria cruel.

– Sim, eu o perdoo – eu disse seriamente. – Mas não pense que me esquecerei de tudo o que você fez, e nem que serei novamente sua amiga. Sou sua colega Severus – disse meio incerta. E se ele me magoasse novamente?

– Ah, Lily! Obrigado – disse sorrindo sinceramente.

Às vezes temos que perdoar os erros alheios, para que possamos perdoar aos nossos próprios erros. Sei que esquecer não é fácil, mas perdoar, é divino.