Tempestade escrita por Aislyn


Capítulo 7
Quando o presente não pode subjugar o passado




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“O que eu irei fazer?”

Reiko não queria voltar para o seu refúgio em Karakura, precisava encontrar um lugar para ficar em paz. A mansão Shimazu parecia uma boa idéia, apesar de seu coração gritar o contrário.

– Doki... Doki – sussurrou ela quando colocou a mão direita sobre o seu peito, sentindo as batidas de seu coração. – Por que você teima em bater tão forte? Pensei que só o fizesse quando ele estivesse por perto...

Uma placa anunciava que ela havia chegado até a Praça Karakura, lá parecia ser um lugar tranqüilo. Muitas árvores e gramados com flores compunham a paisagem, alguns casais passeavam de mãos dadas, famílias conversavam entre si enquanto seus pequenos brincavam. Em um lugar mais isolado da praça, Reiko sentou-se à beira de um lago e colocou a zanpakutou sobre a grama, achava incrível como os astros do firmamento eram espelhados naquela água cristalina. Ironicamente, até ali ela via a representação da união de casais, no meio do lago, com vários cisnes nadando em pares. Ela nunca teria o seu par... Como shinigami, definitivamente não poderia alcançar a felicidade tão almejada. Precisava deixar tudo para trás e recomeçar, como dizia o refrão de uma música que ela ouvira há um tempo atrás:

“Para sempre e só... Eu vou sentir a sua falta.”¹

Mas, diferente da música, ela não o beijou mais uma vez. A última vez.
Mesmo tentando controlar-se, ela sabia que seguiria chorando, como fazia naquele momento. Queria poder rever o olhar dele, imortalizar o brilho de seus olhos de âmbar para sempre em sua memória, sobretudo quando a sua última lembrança era a daquela máscara fria e sem vida. Tentava fechar o seu coração, fazer com que ele também se decidisse que o melhor seria ir embora dali, que fosse orgulhoso assim como ela.

“Como você pôde esconder tantas mentiras, meu amor... Meu único e verdadeiro amor?” – Reiko tentou secar as lágrimas, odiava pensar que o destino realmente existia e como sempre ouvira que ele era traiçoeiro, agora tinha a sua própria vivência para comprovar. – Eu nunca vou esquecer você!

– Eu não vou deixar mesmo...

Reiko sentiu a presença dele, não reagiu quando Kensei sentou-se atrás dela e a abraçou. Somente ele conseguia disfarçar uma voz rude com tanta doçura envolvida ao falar com ela. O toque dos dedos dele em seus braços, não podia deixar-se cair naquela armadilha, tinha que usar a razão e não o coração.

– Eu preciso contar para você três coisas... Duas relacionadas a um passado distante, que eu jamais vou poder mudar e outra relacionada ao presente, e isto sim poderá acarretar em mudanças para o futuro. Só quero uma chance, Reiko. Mas, tenho que ficar assim, perto de você, confidenciar tudo ao pé do seu ouvido.

– Não, Kensei... Eu deveria ter vivido o resto dos meus dias acreditando que você estava morto. Vivo? Somente no meu coração. Você não é mais o homem que eu conheci no passado e nada do que você disser vai mudar isso – disse ela com firmeza.

– Aquilo é somente uma máscara e sempre que eu quiser, ela irá cair. Eu sou o mesmo, mulher... Você não sente?

O Vaizard apertou o corpo dela trazendo-a para mais perto, queria que ela sentisse seu calor, seu toque. E Reiko sentia, não queria admitir, mas ele ainda era o mesmo. Aquele calor, somente os braços dele possuíam, assim como o perfume, o hálito doce, o vigor ao tocá-la... Era o mesmo homem, Muguruma Kensei, o único homem que ela verdadeiramente amou e que somente ela conhecia como um todo.

– Sinto... Kensei, meu... Kensei.

– Eu te amo tanto, com loucura... Sempre achei que teria um destino todo de solidão, de não voltar atrás. Do nada, você apareceu novamente na minha vida e hoje eu sei, Reiko... Sei o que você quis dizer sobre fios invisíveis, eles sempre estiveram aqui, nunca foram cortados, apenas separados. Agora, só quero que estes fios se unam para sempre, nem que eu tenha que usar toda a minha força para uni-los novamente.

– Eles já estão unidos – concluiu Reiko. Ela virou o corpo e entrelaçou as pernas na cintura dele, sentando sobre seu colo. – Corpo e alma... Eternamente.

– Você tirou um fardo dos meus ombros, agora, por favor, me ouça – pediu ele próximo aos lábios dela, selando-os com um beijo. – Urahara Kisuke nos guiou para que pudéssemos ter uma chance de voltarmos à normalidade. Nós passamos por muita dor, algo que eu jamais poderia expressar mesmo se quisesse. Após o processo de “hollowficação”, perdemos toda a sanidade e como você sabe, estávamos propensos a atacar qualquer ser vivente que surgisse em nossa frente. Travamos uma batalha árdua em nossa consciência, shinigami versus hollow e a nossa vitória era incerta. Mas, um a um, conseguimos subjugar o hollow que havia tomado os nossos corpos e com muitos anos de treinamento, adquirimos o controle sobre ele. Em cada um de nós habita ainda um hollow interior, porém, nós o controlamos e não o contrário. Saber utilizar isso que guardamos em nosso interior, esse poder que esta nova existência nos deu e comandando-o, foi a forma que encontramos de estarmos prontos para a batalha que logo virá.

– Então, quando surgem as máscaras, vocês conseguem controlar tudo o que fizerem? – Questionou ela tentando mostrar-se aberta àquelas revelações. – Não existem riscos para as pessoas que ficarem ao redor de vocês?

– Treinamos muito, Reiko... Eu confio no meu controle, assim como confio em meus amigos – explicou Kensei, ele respirou profundamente e continuou. – Bem, agora outro fato do passado, o segundo. Nem preciso perguntar se você lembra-se da noite em que nosso grupo foi atrás dos homens que saíram em reconhecimento e não voltaram, como também para seguir a pista de Kiyo... Na mesma loja em que eu comprei aquele chocolate, também encomendei algo que era muito importante para mim. Fui buscar alguns minutos antes de reunir meus oficiais, lembro que todos eles perguntavam por qual motivo eu saí tão feliz daquela loja que eles julgavam ser apenas para mulheres. Depois de tudo o que aconteceu, quando voltei à minha consciência, tive a agradável surpresa de ver que aquilo que eu encomendei ainda estava junto comigo, muito bem guardado em um alforje que eu trazia em minha cintura... Mesmo depois de tantas batalhas estava intacto.

Reiko mantinha os seus olhos todo o tempo atentos a ele, estava curiosa demais para saber do que se tratava a encomenda que ele havia feito. Kensei movimentou-se lentamente e do bolso grande de suas calças, retirou uma caixinha de veludo, colocando-a na palma de sua mão. A shinigami o olhou com dúvida, seu coração passou a bater mais rápido. Ele assentiu para ela, queria que abrisse a caixa e Reiko o fez. Era realmente uma surpresa, dentro da caixinha havia um anel de ouro branco, com um diamante perfeitamente lapidado. Ela não escondeu a alegria e o abraçou com força, escondendo o rosto no peito dele, não queria que a visse chorando novamente. Kensei afastou-se um pouco, segurou o rosto dela e secou suas lágrimas com o polegar e o indicador, levemente.

– Mão direita, Takeuchi! – ordenou ele sorrindo.

– O senhor não está esquecendo de nada? – Ela o olhou de canto e suspirou. – Já deveria estar acostumado com os costumes daqui...

– Ah, claro – Kensei coçou a cabeça com a mão esquerda e deu um sorriso sem jeito. – Quer casar comigo? Não, não... Espera! Isso é tão...

– Não estrague o momento, idiota! – Ela deu um soco no ombro dele e depois estendeu a mão esquerda. – Eu aceito sim... Só não me faça ter arrependimentos!

Kensei hesitou um pouco, estava trêmulo e ela o fuzilou com os olhos, assim, ele colocou o anel em seu dedo anelar rapidamente. Reiko parecia estar derretendo naquele momento, não sabia se ria, se chorava ou se batia nele. Como ainda não tinha reunido palavras para exprimir o que estava sentindo, o abraçou com tanta força que ele caiu de costas sobre a grama. Kensei encontrou os lábios de sua amada e ela os dele, queriam firmar aquele compromisso com todo o amor que sentiam um pelo outro e não existia nada mais sincero para isto que um beijo repleto de ardor. Ele teve que se controlar para não perder a cabeça, então, apenas a deitou em seu braço e passou a afagar suas madeixas. Com os olhos atentos, viram uma estrela cadente cortando o céu. Reiko teve a certeza de que aquela estrela apontava o caminho que ela tinha que seguir. Diante do manto celeste, ambos descobriam que as estrelas tinham muito a dizer, dois destinos que se cruzaram novamente, a profecia concretizada... O sonho que não poderia morrer.
Agora a música era outra, compartilhada por ambos, “estava escrito nas estrelas”... Poderiam chamar seu reencontro de sorte, de sonho, mas... Preferiam chamar apenas de destino.
Por mais que o dever pudesse chamá-la, aquele momento ficaria imortalizado. O que faria dali por diante? Nem ela mesma sabia. Se poderia conciliar seu dever com a Soul Society com o dever com seu coração, ainda não tinha certeza. Só lhe restava uma única certeza... Que o amor incondicional existia realmente, o que sentiam um pelo outro era forte, único e verdadeiro... Duraria eternamente.

– Reiko? – Kensei cortou bruscamente os devaneios da shinigami que estava lembrando-se do que ele falava minutos atrás sobre o presente e o futuro, agora entendia o que aquela aliança representava. – Hey...

– O que foi? – Perguntou ela debruçando-se sobre o peito dele.

– Sabe aquele programa que eu havia planejado? – Ele lembrou com um sorriso sombrio.

– Não poderia ter sido mais perfeito – respondeu ela suspirando. – Você é incrível!

– Ah, o presente foi apenas um momento que eu sequer havia planejado, confesso – ele levantou-se com cuidado e ajudou Reiko a fazer o mesmo. Em seguida, afastou-se dela e retirou a zanpakutou em forma de shikai da cintura, girando-a por entre os dedos através do aro na empunhadura. – Adoro qualquer lugar que lembre um campo de batalha!

– Desgraçado! – Reiko saltou para trás, não acreditava que ele havia destruído o momento mais lindo de sua vida. Já deveria estar acostumada. Mesmo se o forçasse a deitar-se novamente na grama, a magia não voltaria, então, resolveu surpreendê-lo. Ela espalmou a mão em direção a sua zanpakutou e conjurou uma espécie de corda de energia que se enrolou em sua arma para que pudesse puxá-la. Kensei não conhecia aquela técnica, provavelmente era algo criado por Reiko. – Você pediu!

– Dissipe... – Bradou ele com um sorriso maroto estampado em seu rosto. – Tachikaze!

– Ressoe com toda a sua fúria, Raiden!


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Notas finais do capítulo

¹ Referência à música Forever and One, Helloween.



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