Tempestade escrita por Aislyn


Capítulo 6
Missão no Mundo Real




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Cento e dezoito anos haviam se passado depois daquele evento, a Soul Society estava em paz. Os shinigamis viviam em função do mundo real, sendo que os maiores problemas eram causados por hollows que apareciam em vários lugares distintos. A paz era algo muito apreciado na Casa Shimazu, dificilmente recebia-se visitas ali, exceto uma vez por ano. Um aroma delicioso exalava pela janela de um salão finamente decorado, três empregados serviam a mesa que havia no centro e em seguida, saíam dali em silêncio. Duas pessoas encontravam-se, frente a frente, sentadas em almofadas e sorviam um gole do chá recém servido. Atrás deles, uma espécie de altar imponente chamava a atenção, estava decorado por flores, velas e incensos. O jovem visitante após terminar o chá levantou-se da almofada e se colocou diante do altar, prestando uma reverência em memória às imagens que olhava com tanta fixação.

– Mais um ano...

– Ninguém mais ousa tocar no nome deles. Até hoje, eu não entendo o que aconteceu. Você pode achar que eu só me pergunto sobre isso nessa data, mas não é verdade. Todos os dias, às vezes em várias ocasiões do mesmo dia, eu me lembro de cada um deles... Principalmente, dele. – A imponente mulher virou o rosto para a imagem do centro sobre o altar.

– Eu devo a minha vida a este homem – falou o rapaz com seriedade. – Não importa se todos resolveram esquecer por conveniência dele e dos outros...

– E eu, devo muito mais do que a minha vida... – Ela também se levantou e colocou a mão direita no ombro dele. – Hisagi-kun, quando olho para você, sinto que Kensei ainda está vivo, assim como acontece quando vejo Kiyoku.

– E ele está, Shimazu-taichou. Tanto Kiyoku, quanto eu... Nós vamos honrar eternamente a memória de Muguruma Kensei...

– E de Shinobu, Toudou e Kasaki – completou ela sorrindo. – Eu agradeço por mais uma vez estar ao meu lado neste dia. É uma pena que meu querido irmão não esteja aqui hoje.

– Eu sei o quanto Kiyoku gostaria de estar aqui. Agora, infelizmente eu preciso ir...

– Hisagi-kun, apareça mais vezes!

– Tentarei... Até mais, Shimazu-taichou.

Desde o ano em que perdeu o homem que amava, usava um kimono chamado Tomesode, variava nas cores, o daquele dia era de seda rosa, com as mangas curtas, símbolo de sua fidelidade eterna, decorado com flores de tons dourados e cinco kamons – escudos de família. Nas mãos, ela segurava um cajado do qual pendiam seis anéis dourados, três a cada lado e na cintura a bainha com a zanpakutou. Os cabelos longos estavam presos por uma trança embutida, fechada por um prendedor de ouro, cravejado de brilhantes. Olhava-se no espelho pela última vez, havia sido convocada para uma reunião no Ichibantai e gostava de apresentar-se impecável. Há cento e dezoito anos Reiko havia se tornado uma mulher fria, inflexível diante de todos na Soul Society – exceto seu irmão e Hisagi Shuuhei, o qual também tratava como irmão – e há noventa anos, estava no comando do Kidoushuu, garantindo aquela posição através de muito esforço e dedicação. Ao contrário do antigo taichou, ela também usava a sua zanpakutou e isto a tornava uma mulher incrivelmente forte.
Atendendo aos seus pedidos, Yamamoto Genryuusai a recebia em seu escritório sem a presença de outros taichous. Ela não gostou nem um pouco de ter sido interrompida em um dia tão especial por causa de algo insignificante.

– Então quer dizer que existe um lugar na cidade de Karakura que está atraindo almas e nisso, hollows também são atraídos?

– Você entendeu perfeitamente.

– O que eu não entendo, Yamamoto-sama, é por que ninguém conseguiu controlar algo tão pequeno...

– Eu também faço o mesmo questionamento. De qualquer forma, quero que você vá até Karakura e sele o lugar, assim, alma alguma poderá entrar lá.

– Sim, eu o farei!

O caminho pelo senkaimon no dia seguinte havia sido longo, nem lembrava mais quando fizera aquela trilha pela última vez. Terminaria logo o serviço e depois, daria um jeito de pegar um gigai, afinal, nem sempre tinha a oportunidade de ir para o mundo real. O lugar que deveria selar havia sido fácil de localizar, um imenso prédio abandonado no coração da cidade. Precisou de alguns minutos para reunir forças suficientes e após isso, fez surgir uma barreira de energia invisível aos humanos, mas que, conseguiria repelir qualquer outra criatura e nem mesmo um shinigami poderia quebrá-la.

– Se isso não for o suficiente... – Ela rangeu os dentes. – De qualquer forma, sair correndo atrás de hollows não é o meu serviço. Que se virem...

Reiko falava sozinha, referia-se a presença de um hollow que havia sentido um pouco ao longe dali. Havia encomendado o seu gigai através de uma via segura e se dirigiu até a Urahara Shouten, infelizmente, o dono da loja não se encontrava e Jinta a atendeu. Decidiu ficar pelo menos duas semanas no mundo real, queria esquecer um pouco o passado e em Karakura encontraria distração. A parte mais fácil foi alugar uma casa para ficar durante a sua estadia, era um sobrado de dois pisos, bastante confortável. O único ponto ruim era ter que fazer compras, afinal, não podia esperar também que a despensa da casa estivesse abastecida. Admirava-se com a forma como conseguia ser simpática com as pessoas, tanto que, ganhou bons descontos em lojas de roupas. Não havia gostado nem um pouco da roupa que viera no gigai e preferiu vestir algo mais apropriado. Saiu de uma loja de roupas de grife usando um vestido de caimento acima dos joelhos, verde água, com um generoso decote em “V”. Nos pés calçava sapatos de salto alto, brancos e como acessórios comprou também uma gargantilha dourada e brincos de argola, discretos. Preferiu deixar as dezenas de sacolas em casa e caminhou até um mercado que ficava a dois quarteirões dali. Não sabia o motivo de estar atraindo tantos olhares, tanto que desconfiava de alguns e perguntou para um homem se ele havia perdido algo, no mesmo momento, sentiu uma pontada no peito...

“Perdeu alguma coisa aqui?”

Ela ainda lembrava-se de cada rosto naquela cena, principalmente o dele quando a indagou de forma grosseira. Estava acontecendo justamente o que não queria, entretanto, havia demorado demais mesmo para lembrar-se dele, de acordo com a sua concepção. Entrou no mercado e depois de ter ser certificado de que toda a espécie de comida congelada estava em seu carrinho, Reiko se dirigiu até os caixas, para o seu azar, estavam lotados. Alguns gritos vindos de um cliente que se encontrava no primeiro caixa chamaram a sua atenção:

– Eu exijo o troco!

– Mas senhor, eu já expliquei que não temos mais moedas. Por que você não aceita uma balinha?

– Você gostaria que eu pagasse isto tudo com balas? - Perguntou ele furioso.

– Não senhor... – Respondeu a caixa gaguejando. – Se quiser, eu chamo o gerente então.

– Chame... Terei o prazer de socá-lo se não fornecer o troco que eu tenho direito!

A voz do homem parecia familiar, tanto que ela tentava se aproximar e ver quem era. O gerente chegou até ali e os gritos cessaram, o homem havia ido embora e ela só conseguiu vê-lo pelas costas. Teria pedido para a caixa que a atendeu ir rápido se não fosse tão paciente.

“Eu acho que estou ficando velha... Não é possível! Já estou ouvindo a voz dele em tudo e isto é grave!”

Reiko saiu apressada com duas sacolas em mãos, guiada pelos seus instintos, seguiu até a rua oposta ao caminho que ela tinha que ir e pôde ver o homem do mercado caminhando tranquilamente. Seu coração disparou, poderia jurar estar vendo um fantasma e apesar de fugir de tudo o que a fazia sofrer, ela preferiu segui-lo. Já estava caminhando há mais de meia hora e ele não parava, até que, ela se distraiu e o perdeu de vista. Após um longo suspiro, percebeu que estava perdida, teria que retornar todo o caminho, isto se lembrasse ao certo por quais ruas já passou. Quando deu meia volta, ele surgiu na frente dela, como que por encanto. Reiko ao vê-lo, deixou as sacolas caírem e sentiu um aperto no peito, não conseguia respirar direito.

– Está me seguindo por qual motivo, mulher?

– Você é um...

– Parece até que viu um fantasma! – Ele a encarava com o cenho franzido, contudo, sua expressão mudou quando ouviu a voz dela e a olhou diretamente nos olhos.

– Não pode ser... – Ela não conseguia suportar o peso do próprio corpo e de joelhos foi ao chão, ignorando até mesmo o comprimento de seu vestido. – Por que a minha mente insiste em pregar tantas peças?

– Você está bem?

O desconhecido estendeu a mão para ela e a ajudou a levantar-se, no entanto, Reiko não ousou olhar novamente no rosto dele, pegou as sacolas e saiu correndo. Quando reparou que ele foi atrás dela, ela gritou:

– Você não existe!

Reiko conseguiu chegar até o sobrado, jogou as compras em cima da mesa de jantar e subiu as escadas. Ao entrar no quarto, atirou-se na cama de bruços e começou a chorar. Ficou muito tempo daquele jeito, até que não restavam mais lágrimas ou forças para chorar e resolveu tomar um banho longo. Uma hora depois, penteou os cabelos, voltou para a cama e conseguiu pegar no sono, mesmo com tantas imagens que surgiam na sua cabeça.
Na frente da casa, um vulto começou a rondar, sua mão tocava a barreira que a shinigami havia feito ali.

– Humm...

Bastou apenas um golpe, a lâmina de sua arma que mais aparentava uma faca militar conseguira quebrar aquela barreira e Reiko estava cansada demais a ponto de não ter percebido. O invasor teve dificuldades para encontrar uma janela aberta, não queria fazer barulho e então, teve que entrar pela do banheiro no segundo andar, exatamente o que ficava na suíte. A shinigami não acordara com o ruído, contudo, sentiu sede e decidiu levantar-se para beber água. Ao voltar para o quarto, notou que não estava sozinha, não queria precipitar-se, mas mesmo assim, assumiu a sua verdadeira forma.

– Quem está aí? Apareça antes que...

– Você nunca foi de fazer ameaças.

“Essa voz... De novo! Será que é um hollow? Não... Se fosse, eu sentiria.”

Reiko acendeu a luz, para a sua surpresa, o estranho que ela viu no mercado estava deitado em sua cama, com as pernas cruzadas. Vestia uma camisa preta de física, com detalhes brancos, calças cargo verde por dentro de botas de combate. Parecia estar muito à vontade.

– É falta de educação não cumprimentar as pessoas, sabia?

– Quem é você? Como conseguiu entrar aqui? – Ela não cairia tão fácil em um truque antigo como aquele, estava pronta para atacá-lo se fosse preciso e colocar um fim naquela história tão dolorosa. – Não importa! Eu vou acabar com você, antes que possa me machucar ainda mais.

Ele levantou-se e caminhou, parando diante dela. Reiko o encarou, se não fosse pelo corte de cabelo e os piercings na sobrancelha e na orelha, poderia jurar que estava diante de Muguruma Kensei. Lembrava-se da condenação dos antigos taichous, eles haviam sido sacrificados como hollows quaisquer e não havia a possibilidade de ser Kensei.

– Por que você não facilita as coisas, Takeuchi?

– Desgraçado! Como ousa invadir as minhas memórias desta forma? Você poderia brincar com qualquer imagem, mas não com a dele! Deixe-o descansar em paz, desgraçado!

Ele deu de ombros e olhou para baixo antes de fazer algo que a deixou sem ação. Havia empurrado-a contra a parede, prendendo os braços dela acima da cabeça, controlando a força para não machucá-la. Reiko recusava-se a olhar nos olhos dele, até que, não agüentou mais e o fez. Ela sentiu algo que há muito não sentia, seu coração parecia ter parado de bater.

– Isto não é brincadeira alguma, posso provar.

E ele provou... Encostou seus lábios nos dela que deixou com que a emoção do momento tomasse conta, sobrepujando o receio que tinha de que tudo não passasse de um sonho ou algo pior. Aquele era o beijo dele, ainda tinha a mesma doçura mesclada com impetuosidade. Reiko queria se render aos braços dele, deixar com que ele a conduzisse e fizesse com ela o que bem entendesse, assim como fazia no passado, todavia...

– Seu filho da...

– Disso você nunca me chamou! – Irrompeu. Ele estava quase a deitando na cama quando ela o empurrou. – Precisa mesmo me xingar numa hora como esta? Se bem que é bastante sexy...

– Como pôde esconder que estava vivo durante todos estes anos, Muguruma Kensei? Há cento e dezoito anos eu choro a sua morte... Não sabe o quanto sofri por isso, e o pior de tudo, eu nem conseguiria exprimir em palavras a imensidade de coisas que eu senti desde a sua ausência!

– Para tudo há uma explicação... Mas, se eu nunca dei um jeito de procurá-la, foi para o seu bem. Não queria que o segredo sombrio que me envolveu pudesse fazer com que você perdesse a vida, Reiko. Eu também sofri...

– Você vai me explicar, Kensei... Só que não agora!

Apagando a luz, foi a vez de Reiko surpreendê-lo. Ela o puxou, fazendo-o cair de frente com o corpo dela e o enlaçou com as pernas. Naquela noite, se entregaria completamente a ele, não o questionaria ou criticaria. A janela estava fechada apenas com o vidro e a luz da lua penetrava através da cortina clara. Seus lábios mais uma vez se encontravam com sofreguidão, ele não se limitava apenas à boca dela e apesar de seu esforço para mantê-lo acima de seu pescoço, Reiko não tinha forças para lutar contra as sensações que a língua dele provocava. Tentando reagir, as mãos dela deslizaram pelos ombros dele, e em seguida, chegaram até as costas, tinha pressa em tirar-lhe a camisa. Kensei não se importava com o significado daquele kimono fino que ela trajava, arrancava a faixa de qualquer jeito e com as mãos em cada borda, as afastou e conseguiu chegar até os seios dela. Reiko tratava de travar uma batalha com a fivela do cinto dele, não queria perder, no entanto, era difícil se concentrar enquanto ele passeava por seu corpo usando todos os métodos que podia, mãos, lábios e língua. Ela o olhou com raiva quando viu que não conseguiria livrar-se do resto das roupas dele.

– Já entendi, eu tiro!

Kensei em poucos segundos fez a vontade de Reiko, seus corpos nus encontravam-se, comprimiam-se um ao outro querendo chegar até o limite em que aquela ligação poderia ir. Ela gemeu baixinho e ele sorriu, fazendo-a sentir um tremor em seu interior. Reiko afagava os cabelos dele, que se movia sem pressa, apesar de no íntimo estar com uma vontade quase irreprimível de virá-la de outro modo e tomá-la, querendo descontar o tempo em que não a tivera. O que o impedia era justamente o carinho que Reiko imprimia naquele ato e no mínimo, Kensei tinha que retribuir.
Ele estava inebriado com o perfume no corpo dela, não conseguia pensar em mais nada, apenas levou os lábios até os dela e entre um beijo sussurrou “eu te amo”, fazendo-a estremecer por debaixo do corpo dele e incrivelmente no mesmo momento, atingir o ápice. Ao notar que ela levou a cabeça para trás e deixou o pescoço à sua mercê, Kensei a atacou com um beijo naquele ponto que já havia descoberto ser o mais fraco dela.

– Hey... Ainda não acabou!

Ele protestou ao ver que ela estava quase se dando por vencida e para não ficar sem saciar o seu desejo, colocou as mãos nas costas dela e a puxou para que ficassem frente a frente. Reiko deu um jeito de ficar confortável sobre o colo dele, estava ainda em estado de êxtase e deixou com que ele guiasse os movimentos. Minutos depois, Kensei a abraçou com força e suspirou largamente, fazendo com que ela sentisse um arrepio no pescoço e se contorcesse em risos.

– Você não vai mais parar com isto é? – Reiko beliscou o ombro dele, já não estava mais agüentando os sopros em seu pescoço, ele fazia propositalmente e divertia-se com os arrepios que ela sentia. – Kensei!

– Yare... Yare! – Ele a deitou na cama e colocou-se ao lado dela, abraçando-a. Sua boca estava próxima à orelha direita de Reiko, adorou ter encontrado ali também um ponto fraco e ela se contorceu quando ele voltou a falar. – Temos muito para que conversar... Amanhã.

O desejo dele era inesgotável, se ela não estivesse tão bem encaixada em seu corpo descansando, a amaria até a manhã seguinte. Reiko dormiu tranqüila enquanto ele apenas afagava os longos cabelos dela e hipnotizava-se com os movimentos de seu ventre enquanto respirava. Novamente estavam unidos, tanto pelo coração, quanto pela alma.
Kensei abria os olhos ao sentir os raios do sol penetrando através da janela, percebeu um vazio em seus braços, contudo, nos lábios sentia que ela havia deixado um beijo cheio de paixão antes de levantar-se. Não sabia se era apenas uma sensação mesmo ou se a viu sair da cama. Sobre um sofá, as roupas dele estavam dobradas e exalavam um perfume, pareciam terem sido lavadas e passadas com cuidado, também havia uma escova de dentes nova e uma toalha branca. Ele aproveitou a gentileza e foi até o banheiro tomar um banho, escovou os dentes e ajeitou o cabelo assim que se enxugou. Era incrível a diferença que uma mulher poderia fazer na vida de um homem e ele tirava esta conclusão não só pela maciez em suas roupas, mas também pela delicadeza que ela tivera em deixar tudo pronto para que o dia dele começasse facilmente.
Kensei desceu as escadas, tentava mandar a preguiça embora com um alongamento discreto em meio à sala quando foi interrompido pela voz aveludada de Reiko.

– Bom dia... Espero que esteja com fome e também, espero que eu não tenha errado nos itens de um café da manhã aqui no mundo real, pensei em coisas diferentes das quais estou acostumada.

Ele ficou encantado com a mesa que ela havia preparado, havia diversos tipos de pães, doces, salgados, cereais... Reiko esperou que Kensei se sentasse e serviu uma xícara de café para ele, deixando também à disposição um copo de suco de frutas.

– Fome é pouco! Só não me deixe comer sozinho...

– Ora, você nunca foi de cerimônias!

Durante o café da manhã, Reiko contou para ele como havia se tornado taichou do bantai de kidou e também, o atualizou quanto a certas coisas. Ela falava com empolgação e ele só ouvia, por vezes assentia e fazia alguns sons incompreensíveis não querendo atrapalhá-la.

– Kidoushuu, hein? Eu não esperava menos de você! Quero ver o que pode fazer – Kensei estava curioso para saber até onde iam as habilidades de Reiko, tanto que já havia pensado em um programa para a tarde. – Há muito tempo eu não tinha noticias da Soul Society... Na verdade, até as evito.

– Você não mudou nada – comentou ela após reparar o olhar de Kensei quando se referiu a ver o que ela podia fazer.

– Você sim... Está mais forte, muito mais. Seu olhar pareceu estar mudado também e quando a vi, quase não a reconheci. Tive que me atentar a enxergar através deles e procurar a mulher que eu conhecia. Por sorte, ela não demorou muito para aparecer.

– Eu prometi que mudaria meu jeito de ser no momento em que você saiu da minha vida, Kensei. É por isso que hoje estou à frente da Casa Shimazu e também do Kidoushuu. Você lembra que me fez prometer, não lembra?

– Eu nunca esqueci um momento sequer dos quais eu passei ao seu lado, Reiko.

– Isto quer dizer que...

– É claro, sua idiota! Nem mesmo um século fez com que eu deixasse de amá-la.

Reiko queria pular de felicidade e quando abriu a boca para respondê-lo, sentiu um tremor no chão. Por curiosidade, ela pegou o dispositivo que adquiriu na Urahara Shouten. Dois hollows estavam muito próximos, de acordo com o Denreishinki. Kensei estranhou a tranqüilidade dela ao ignorar o dispositivo após ver que ele apitava. O que o fez perder a paciência foi o fato de Reiko ter começado a levar as coisas da mesa para a cozinha.

– Você realmente não vai fazer nada?

– Fazer o quê?

– Dois hollows estão próximos...

– Não é o meu trabalho!

Ele não acreditou, a shinigami falava e agia com indiferença, nitidamente longe de lembrar aquela que conhecera no passado.

– Se for assim mesmo, não deveria encher a boca para falar que está à frente de um bantai!

– Você quer brigar, Kensei? – Perguntou ela fazendo pouco caso do que ele falava. – Eu estava pensando que poderíamos manter o clima de paz e amor por pelo menos um dia.

– Eu não quero brigar, só acho que você deveria ir lá fora e fazer o seu trabalho. Não está sentindo estes tremores?

– Estou sim e até onde eu sei, existe um shinigami responsável por Karakura. Mas, se quiser ir ajudá-lo, eu não vou me opor.

– Você não é mais a mesma, acho que me enganei. Antes, iria até lá com um brilho no olhar querendo cumprir a sua missão. Aliás, você adorava o seu trabalho, independente do que fosse.

– Claro que eu não sou mais a mesma! Depois de tanto tempo, você esperava o quê? Mesmo assim, já fiz o meu trabalho ontem e por sinal, algo que eu nem deveria fazer.

Da rua podia se ouvir os gritos de uma criança, Kensei correu até a janela e viu uma menina de aparentes sete anos que corria em desespero, pela corrente quebrada em seu corpo, tratava-se de uma alma.

– Os hollows estão atrás de uma menina e só você pode ajudá-la!

– Eu não vou discutir com você... Já disse que hollows não são minha responsabilidade.

– Desgraçada!

Kensei a olhou com raiva, não acreditava que Reiko havia perdido a sensibilidade, parecia até uma pedra. Ele pegou a zanpakutou já em sua forma shikai, que carregava na cintura e olhou mais uma vez para Reiko antes de sair pela porta. Ela ficou curiosa para saber o que ele faria e foi atrás. A menina correu para um campinho de futebol que havia perto dali e quando os dois chegaram, se depararam com ela e mais um grupo de garotinhos com uniformes de futebol. Em instantes, um hollow apareceu e foi em direção às crianças.

– Crianças, saiam daqui agora! – Kensei colocou-se na frente de todos e estendeu o braço direito, apontando a zanpakutou em direção ao hollow. – Dissipe... Tachikaze!

Ao redor do Vaizard, correntes de ar se formavam, estas faziam com que a poeira se levantasse do solo. De uma só vez, com um movimento de braço, Kensei lançou fortemente as correntes contra o hollow, estas se transformavam em fios de energia e o cortaram em pedaços. O monstro acabou tombando diante dele. Reiko sentiu uma nostalgia ao vê-lo fazer aquilo, quando ia elogiá-lo, um outro hollow apareceu e atacou as crianças que corriam em direção oposta a de Kensei. Seus braços pareciam tentáculos, com dois deles pegou a menina e com mais um, outro menino, ambos gritaram apavorados quando a criatura abriu a boca. Dominada por um impulso, Reiko sacou a sua zanpakutou e saltou em direção ao hollow. Ela foi atacá-lo visando a sua máscara, porém, um dos tentáculos a pegou de surpresa e a envolveu pela cintura, ela ergueu a zanpakutou com uma das mãos.

– Hadou número cinquenta e quatro, Haien!

Da lâmina de sua arma, um projétil de cor roxa foi lançado e quando atingiu a criatura, esta se consumiu em chamas. Reiko foi largada imediatamente, assim como as duas crianças. Ela mal caiu no chão e saltou agilmente, conseguindo pegar a menina nos braços, contudo, o hollow lançou o garoto ao longe e ela não conseguiria pegá-lo a tempo.

– Bakudou número trinta e sete, Tsuriboshi!

De umas das mãos de Reiko, uma grande onda de energia espiritual saiu, esta se transformou em uma espécie de seis cordas, que, prenderam-se às grades do campinho e formaram uma rede em que o garoto caiu de forma segura. Assim que deixou a menina no chão, Reiko atacou o hollow que ainda não havia tombado e cortou a sua máscara com um golpe preciso. Ela respirou aliviada, quando olhou para a arquibancada à sua esquerda, viu que Kensei estava sentado como se nada tivesse acontecido.

– Você ficou o tempo todo sentado! E se aquela criança tivesse se machucado?

– Eu sempre confiei em você – respondeu ele triunfal. – Só acho que está muito enferrujada, que vergonha! Um hollow tão fraco pegá-la daquele jeito...

– Cretino!

– E por qual motivo não utilizou a shikai? Teria sido mais precisa que um hadou! Ainda tem medo dela? – Reiko não respondeu e virou as costas, entretanto, ele saltou e colocou-se na frente dela. – Existem doze crianças ali, tem certeza que não se esqueceu de nada?

– Eu odeio você, Kensei... – Reiko teve que forçar um sorriso para ir até as crianças, todas estavam apavoradas. – O que aconteceu com vocês?

– Nosso ônibus caiu de um barranco quando estávamos voltando de um campeonato. Não sabemos o motivo, mas, nenhum de nós consegue sair daqui, apenas ela. – Respondeu um deles.

– Qual seu nome, garotinha? – A shinigami encantou-se com ela, era loira, tinha os olhos verdes, pele clara. Seu penteado lembrava muito o que sua mãe fazia nela quando era criança, dividia o seu cabelo e trançava os dois lados.

– Miharu...

– Será que você sabe de alguma coisa? Preciso saber o que mais aconteceu com vocês...

– Nee-san... Papai treinou meus amigos durante um ano para ganharem aquele campeonato e nós vencemos! Eu ia torcer em todos os jogos. Aí, no vestiário, o troféu foi roubado. Era tudo o que eles mais queriam, ele seria exposto na nossa escola.

– Você conhece a pessoa que roubou? – Reiko demonstrava interesse pela história e aquilo fazia Kensei empolgar-se.

– Hai! Foi o treinador do time que derrotamos, seu nome é Fukuda Masato... Ele o tirou das mãos de meu pai que não quis brigar. Papai é um homem bom, disse que o mais importante era o sentimento e não o troféu. Mas, meus amiguinhos não entendem isto.

– Compreendi! Vamos recuperá-lo e assim, farei com que todos vocês possam ir para um lugar melhor. Quero que me diga onde posso encontrá-lo...

– Posso mostrar o lugar, é em outro bairro, distante daqui. O único problema são aqueles monstros, eles vão voltar, não vão?

– Vou chamar alguém para cuidar de vocês!

Assim que Reiko entrou em contato com o shinigami local, saiu utilizando shunpo e a garotinha foi em suas costas. Kensei as acompanhou, estava espantando com a mudança de Reiko, parecia decidida e o brilho em seu olhar havia ressurgido.

“Eu sabia que a máscara dela cairia...”

A shinigami parou em casa para pegar o seu gigai e durante o caminho, foi explicando para Miharu como era a Soul Society e o que ela era. A garota estava gostando demais da história.

– E então, eu posso ser shinigami também quando você me mandar para lá?

– Se você quiser! Mas, tem que se esforçar e estudar muito para isto...

– E nós vamos nos ver lá?

– Isso é complicado, meu bem... – Reiko não queria dizer que era quase impossível.

– E meus amiguinhos, vou vê-los?

– Não vou mentir para você... Talvez nunca mais os veja.

– Então, não tem nada de melhor neste lugar! Acho melhor ficar onde estamos, assim, ao menos podemos ver nossos pais todos os dias no campinho.

– Garotinha, acredite, seus amiguinhos podem virar comida daquelas coisas se continuarem lá e você também! Não quer o bem deles? – Kensei com seu timbre forte assustava a menina que se calou por instantes. – Responda!

– Quero sim senhor... Mas...

– Mas, nada! Agora chega de perguntas e conversa fiada... Chegamos – anunciou ele.

Reiko não gostou nem um pouco do tom de Kensei, realmente ele não levava jeito com crianças e ela quase o chutou. O local em que chegaram era um ginásio imenso, demorou até encontrarem o treinador de futebol. Fukuda Masato era um homem de 1,95cm, corpulento, usava um boné enterrado na cabeça, camisa de seu time e calças de moletom, seu rosto era avermelhado, os olhos negros estavam fixos em Reiko.

– Eu não entendi bem, senhora. Que acusação mais sem nexo é esta?

– Não estou aqui para responder perguntas e sim para fazê-las! Agora devolva o troféu daqueles garotos e nós iremos embora em paz – ela falou com classe.

O homem riu alto, Kensei ficou observando de longe com os braços cruzados, já que Reiko garantira que daria o seu jeito feminino naquele caso. Ele controlou-se quando viu o homem aumentando o tom de sua voz.

– Vadia! O dia em que uma mulher ditar alguma coisa aqui no meu ginásio, eu deixo de ser eu. Saia daqui antes que eu esqueça que você é uma mulher.

– Vou tirar o troféu à força de você! Já vi que ser bem educada não resolve – ela odiava aquele tipo de homem, ainda mais quando na Soul Society tinha que lidar com vários deles. – Te dou cinco minutos, seu porco!

– Em cinco minutos eu ensino você a baixar a cabeça diante de um homem!

O treinador levantou a mão para Reiko e Miharu escondeu-se atrás dela. Antes que a mão dele encostasse na shinigami, Kensei o pegou pela camisa e o jogou contra a parede.

– Ela poderia ter feito algo pior com você, seu merda! – Vociferou ele. – Agora, me dê a chave da sala de troféus antes que eu perca a minha paciência!

Masato retirou a chave do bolso e jogou para Kensei, ele por sua vez entregou para Reiko. Miharu reconheceu o troféu assim que eles entraram na sala e saíram dali rapidamente. Quando estavam na frente do ginásio, o treinador apareceu com dois seguranças.

– Peguem estes ladrões!

Reiko deu meia volta e com apenas um olhar, fez com que os dois homens ficassem parados como se estivessem com seus corpos congelados e não a atacassem. Caminhando lentamente, ela aproximou-se de Masato e o encarou.

– Babaca! Deveria saber o que aconteceu com o time que lutou para conseguir aquele troféu! Seu time deve ter vergonha de tê-lo como treinador... Não sabe o quanto um simples troféu era importante para aqueles garotos, tanto que ao menos, eles teriam morrido felizes carregando-o no ônibus enquanto comemoravam a vitória que não teve com o mesmo sabor! Você destruiu a felicidade deles, e por mais que o reconhecimento seja importante, a alegria de um time em expor as suas conquistas não tem preço! Aquele troféu pertence à escola deles... Os pais que perderam os seus filhos têm o direito de tocá-lo! Agora, saia da minha frente antes que eu decida sujar as minhas mãos com você.

– Aquele homem arrogante não vai chegar a tempo de defendê-la – falou o treinador com ira.

O homem pegou Reiko pelo braço, ela o fulminou com o olhar e desferiu um soco no estômago dele e em seguida, um chute em cheio no meio das pernas. Ele gemeu de dor e ajoelhou-se, enquanto isto, ela divertia-se.

– Eu não preciso ser defendida... Você sim!

Reiko deu as costas, Kensei levava a garota no ombro e ela segurava o troféu, com a ajuda dele. Quando chegaram ao campo de futebol, os garotos vibraram ao ver o prêmio, riram e até mesmo choraram. Seu último pedido era que fosse entregue ao pai de Miharu, o treinador do time. Reiko ficou feliz ao ver que tudo foi resolvido e tratou de fazer o Konsou – enterro da alma – de cada um deles. Kensei notou que ela estava sensibilizada ao se despedir de Miharu, quase não conseguia empunhar a zanpakutou e ele segurou em suas mãos para ajudá-la, assentindo. Com lágrimas nos olhos, a taichou tocou levemente a testa da garota com o punho da zanpakutou.

– Até mais, nee-chan...

– Voltaremos a nos ver, meu bem! Eu vou prometer isto para você, okay?

A shinigami voltou para o seu gigai antes que alguém aparecesse, não gostava da idéia de utilizar as Soul Candy. A programação de Kensei teria que ficar para o dia seguinte e durante o caminho, ele não quis puxar assunto, queria deixar Reiko refletir um pouco sobre o ocorrido. A primeira coisa que ela fez quando chegou a casa foi jogar-se no sofá.

– Se eu soubesse do quanto somos importantes aqui, me empenharia mais em ajudar. Senti algo tão bom ao ver a felicidade daqueles garotos.

– Você ainda toma qualquer causa para si mesma – comentou nostálgico. – Sinto orgulho em um dia ter sido seu companheiro!

– Não fale assim... Isto me faz querer voltar ao passado e para mim já chega, vivi tantos anos pensando nele. Agora, só quero saber do presente – ela ajeitou-se no colo de Kensei assim que ele se sentou no sofá e o abraçou, parecia uma criança querendo chorar. – Kensei... Como vou fazer para ficar com você? Logo vão me chamar, e...

– Reiko... Vamos combinar o seguinte, ficamos juntos as duas semanas que você tem aqui e depois, pensamos nisso.

– Tudo bem, meu amor... Meu, meu, meu! Não sabe o quanto eu lamentei por nunca ter lhe chamado assim!

– E você é minha, sempre foi... Sempre será!

– Não vejo a hora de destruir a sua imagem naquele altar que fiz para você e os outros... Sério, vou rasgar o seu retrato com muito prazer!

Kensei riu, apesar de ter sentido um aperto no peito ao ter imaginado quanto tempo ela passou lamentando a sua morte. Estava apreensivo, achava que a qualquer momento Reiko tocaria no assunto sobre a última noite na Soul Society. Ela estava realizada em estar ali com ele, não precisava de mais nada...

– Reiko... Eu na sei bem como explicar, só que, esta casa... O jeito como eu acordei hoje. Tudo é tão perfeito! Não sei se quero estragar este momento com lembranças ruins, mas, eu preciso contar a verdade para você.

– Nee-sama!

Pela porta da frente entrou um jovem de cabelos negros e compridos, caíam abaixo da sua cintura. Tinha 1,78 cm, 75 kg, estava vestindo uma camiseta branca de mangas cortadas expondo seus músculos, calças jeans rasgadas nos joelhos e nos pés, usava um All Star vermelho. Os olhos rasgados, de um azul profundo encaravam Kensei, não conseguia piscar. Da alegria com que chegou, passou rapidamente ao ódio, havia perdido o autocontrole e partiu para cima de Kensei, que se levantou e ficou encarando o jovem que o pegou pela camisa.

– Desgraçado! Como pôde? – Esbravejou ele. – Não pode ser você... Muguruma Kensei jamais teria nos deixado sofrer durante cento e dezoito anos.

– Kiyoku, solte-o, por favor! – Reiko tocou no rosto do irmão e o acariciou. – Acalme-se.

– Nee-sama – ele sussurrou.

– Deixe-o, Reiko... Talvez ele tenha razão! – Bradou Kensei.

– Não, Kensei! Eu tenho medo de saber o motivo de você nunca ter nos procurado, porém, sei que fez isto para nos proteger.

Kiyoku largou o Vaizard e afastou-se, estava confuso demais e não entendia como a irmã havia aceitado aquela situação tão facilmente.

– Muguruma Kensei! – Chamou o jovem, com um timbre sério. – Eu fiquei todos estes anos secando as lágrimas de Reiko. Você não imagina quantas noites em claro passei até que ela conseguisse voltar a dormir. Todos os dias acendíamos incensos e pedíamos para você nos guiar... Não existe motivo algum para explicar. Não pode existir!

Kensei orgulhava-se do homem que Kiyoku havia se tornado, podia sentir a força que ele emanava somente olhando através de seus olhos. Recordava-se da voz infantil chamando-o de irmão.

– Kiyoku! Vejo que cumpriu a sua promessa, cuidou de Reiko e tornou-se forte. Não vou tratá-lo como uma criança, então, digo que você tem razão. Não há nada que justifique o que eu fiz, sinceramente, também não há nada que eu faça para que vocês esqueçam o sofrimento passado.

– Aquele garotinho tolo não existe mais mesmo! Quero que me diga como está vivo – exigiu ele por entre os dentes. – Você se transformou em hollow, talvez ainda seja uma ameaça para a Soul Society e eu não vou deixar de cumprir o meu dever se não me explicar.

– Não posso explicar, só peço que confiem em mim – falou Kensei com tranqüilidade.

– Confiança é algo muito difícil... Você não confiou nem mesmo na mulher que o amou, como pede agora que ela confie em você? Ao menos eu não confio nem um pouco em alguém tão sujo!

– Kiyo, meu amado irmão. Esqueça isso! – Reiko estava quase suplicando, não queria ver as duas pessoas que ela mais amava brigarem diante dela. – Kensei, fale a verdade...

– Não posso, nee-sama! Até entendo que esteja cega por causa do seu amor por este homem, mas, eu não vou cair nesta!

– Acho que é melhor eu ir embora – Kensei interrompeu a conversa, passou por Kiyo e antes de abrir a porta, olhou para Reiko. – Volto logo...

– Kensei... Você não vai mais voltar, estou certa?

– Que tipo de homem você pensa que eu sou?

Ele perguntou quase aos gritos e saiu, batendo a porta. Kiyoku estava sério e Reiko nunca o havia visto daquele jeito. Ela gostou do estilo que ele adotou para andar no mundo real, contudo, não quis tecer comentários e preferiu deixá-lo sozinho. Ele sentou-se em uma cadeira e enquanto tomava um copo de água, lembrara-se do dia em que foi graduado na academia, era a sensação dos últimos tempos na Soul Society, em menos de um ano havia se tornado um shinigami. Orgulhava-se de si mesmo, não era um fukutaichou só por ser irmão de Reiko e sim por ter merecido. Sempre que ela o questionava sobre ser um taichou, ele desconversava, queria estar sempre perto dela. Sua cabeça estava doendo, nada parecia ter nexo, nem mesmo as lembranças que tinha de Muguruma Kensei...

“E se durante todos estes anos eu tomei por base um homem que nunca existiu de verdade? Não posso deixar Reiko sofrer nas mãos dele!”

– Aonde vai? – Indagou Reiko no momento em que viu Kiyoku levantando-se e saindo de seu gigai. Ele usava um shihakushou com as mangas cortadas, assemelhado ao de Hisagi Shuuhei e as luvas que ganhara de Kensei no último aniversário em que passaram juntos.

– Quem quer saber, minha irmã ou a minha taichou?

– Sua irmã...

– Não interessa – ele beijou o rosto dela e saiu rapidamente.

Reiko suspirou, poderia jurar que sabia o que Kiyoku pretendia, então, resolveu segui-lo. Não demorou muito até que ele parasse, estava diante de um prédio imenso, aparentemente abandonado. Ele estudava a barreira que havia descoberto ao redor do lugar, era bem diferente do que ele conhecia.

– Kiyo... Você o seguiu até aqui?

– Hai... Eu sabia que ele estava escondendo algo. Isso é uma prova!

– Por que você está agindo desta forma? Eu nunca o vi tão sério.

– Você é quem está diferente! Quer dizer que ele aparece depois de mais de um século, passa a noite com você e está tudo bem?

– Kiyoku, me respeite! – Reiko pegou no braço dele e o apertou. – Agora, vamos embora e isso é uma ordem. Aliás, nem sei com a permissão de quem você está aqui!

Ele riu e enlaçou Reiko pela cintura, jogando o corpo dela para trás após um passo de dança.

– Achei que poderíamos dançar sob a luz do luar, como diz aquela música e depois, beber coisas estranhas naquele parque de diversões. Você não me leva desde que eu tinha uns cinqüenta anos! Enfim... Eu vim para divertir você, é uma pena que meus planos tenham ido por água abaixo.

– Parque de diversões? – Ela indagou surpresa. – Realmente você não cresceu nada! Além de ter que beijar você todas as noites, agora vou ter que arrastá-lo para casa pelas orelhas? Seja o que for, amo você... Precisava dizer isto agora.

– Não... – Ele a soltou e fitou seriamente os olhos de Reiko. – Nós vamos saber o que há atrás desta barreira, é o nosso trabalho – ele sorriu docemente. – E, eu também amo você.

– Quero ver você passar por essa barreira sozinho – Reiko piscou o olho direito para ele. – Vai se machucar.

– É por isto que você vai quebrá-la, caso contrário, meu Denreishinki está aqui e eu não vou me importar em notificar a Soul Society.

– Odeio você, Kiyoku! – Ela deu um tapa no ombro dele. – Deveria se envergonhar!

– Decida-se, mulher! Amor, ou, ódio? Não dá para sentir as duas coisas por alguém.

– Mas, eu sinto... Quando vi Kensei ontem, descobri que é possível.

Kiyo reparou na mudança de humor de Reiko, poderia jurar que ela choraria. No fundo, ele também ficou feliz por vê-lo vivo, apesar de não querer admitir para si mesmo, quanto mais para ela. Preocupava-se com a irmã e achava que ela tinha o direito de saber a verdade, principalmente por ter sido fiel até então a Kensei.

– Por favor, nee-chan... Você sempre foi curiosa, apesar de tudo!

– Kiyo, eu não acho isto certo. Por que não esperamos ele contar a verdade para nós? – O fukutaichou empunhou a zanpakutou e desferiu um ataque contra a barreira, porém, a sua lâmina se chocou contra a da zanpakutou de Reiko antes que tocasse em seu alvo. Ele já esperava aquela reação por parte dela. – Idiota! – Gritou Reiko. – Você poderia ter se matado!

– Eu sabia que você bloquearia... Agora, ande logo! – Ordenou ele num deboche.

– Ora... Desde quando o hollow monta no shinigami? Moleque, você está precisando de um castigo, faz tempo que não tem um! – Após olhar por alguns instantes para o prédio, ela voltou-se para o irmão. – Mas, falando sério... Se quebrarmos esta barreira, seremos recepcionados de um jeito bem...

– E o que você sugere? – Kiyo a interrompeu, parecia até que Reiko sabia quem estava lá dentro junto a Kensei e ele desconfiou. – Acamparmos aqui até alguém sair? Vamos nos divertir, nee-chan!

– Okay... – Reiko cerrou os olhos, juntou as mãos e começou um cântico. – Que todas as leis possam ser respeitadas... Se eu tirar, que eu possa repor. Se eu quebrar, que eu possa consertar. Que o meu, possa ser seu... Que o seu, possa ser meu!

Reiko estava utilizando uma técnica própria, por mais forte que fosse a barreira, ela conseguiria controlá-la por instantes. Por sorte, a técnica parecia um bakudou, ela já suspeitava quem estava por detrás daquilo. Ao terminar de falar, Reiko espalmou as mãos e a energia da barreira começou a ser absorvida por ela. Ambos entraram rapidamente e ela liberou a energia, assim, a barreira voltou ao normal. Exausta, não imaginava que daria tanto trabalho segurar o poder que envolvia aquele bakudou. Quando olharam atentamente, tudo estava incrivelmente tranqüilo, parecia uma imensa garagem para carros.

– Reiko, não há ninguém aqui.

– Há sim... Só que abaixo do solo.

A shinigami caminhou um pouco e notou que havia uma passagem escura com uma longa escadaria. Não se atentou muito à passagem e afastou-se, seus olhos percorreram a imensidão do lugar, acima dela havia vários andares, estava tudo avariado, para não dizer, destruído. O que mais chamou a sua atenção foi que em um canto, havia uma mesa grande, repleta de comida e ao redor dela, dez cadeiras estavam dispostas. Kiyo coçava a cabeça, estava curioso demais, analisava uma prateleira com várias edições de mangás da Shonen Jump, revistas diversas, principalmente hentai e cd’s de Rock n’ Roll. Reiko estava quieta, contava mentalmente, um, dois, três... Quando chegou ao dez, ouviu gritos vindos da passagem.

– Rei-chan! – Mashiro surgiu do nada e pulou em cima dela, derrubando-a de costas no chão. – É você mesma?

– Estávamos esperando... – Atrás de Kiyoku, Hirako Shinji surgiu e encostou a ponta de sua zanpakutou nas costas dele. – Odeio crianças curiosas... Ainda mais shinigamis.

– Hirako-taichou? Você também... – Kiyoku olhou para trás, não sabia o que falar quando viu os outros. – Mashiro... Todos estão?

– Mashiro-chan! – Reiko a abraçou com força. – Que saudades! Você... Cuidou bem do Kensei?

– Kensei-baka... Ele está pior do que era antes, Rei-chan! Não gosta que ninguém cuide dele. – Protestou. – Mashiro traz comida e ele nem agradece. Não lava as meias e nem as cuecas! É um horror quando...

– Ora sua fofoqueira! – Kensei puxou Mashiro e a jogou para o alto, felizmente, ela caiu em pé. – Eu sabia que vocês viriam, – comentou ele assim que ajudou Reiko a levantar-se – só não achei que entrariam tão facilmente!

– O que fez com a barreira, senhorita? – Hachi a estudava por todos os ângulos. – É uma técnica que eu desenvolvi, chamo de “As Oito Fendas Gêmeas Unidas”. Hadou algum de shinigamis seria capaz de quebrá-la e vocês não passaram por entre ela, senão, eu teria sentido.

– Eu não a quebrei – explicou Reiko orgulhosa. – Apenas a absorvi e depois, liberei, uma técnica desenvolvida por mim... A propósito, seu poder é incrível, vai muito além de um simples bakudou, Hachigen-sama.

– Me chame de Hachi, por favor, senhorita.

– Impressionante! – Irrompeu Rose. Ele segurou a mão de Reiko e a beijou. – Seja bem vinda ao nosso lar... Seu fukutaichou também é bem vindo!

– Vocês estão bem informados – colocou Reiko com desdém. – De qualquer forma, não estamos aqui em missão, por isto, nada de preocuparem-se. Seu segredo morrerá no instante em que sairmos daqui, se bem que conhecendo a Soul Society, eles devem saber disso tudo. – Reiko encarou Shinji e falou seriamente. – Pode guardar a zanpakutou, Hirako-san!

– Droga, eu achei que poderia me divertir depois de tantos anos sem ver um shinigami – lamentou Hirako.

– Fica na sua, Hirako! – Hiyori pulou nas costas de Shinji e puxou seus cabelos. – Eu vou me divertir com ele! Ande, shinigami... Mostre a sua zanpakutou.

– Vocês dois, quietos! – Kensei olhou com fúria e ambos baixaram a cabeça. – Vamos jantar em paz, depois, nos divertimos. Mashiro, traga as bebidas!

Reiko e Kiyoku entreolharam-se, não gostaram da história de “diversão”. À mesa, todos comiam e conversavam. Aigawa Love contava o que estava acontecendo nos mangás que lia e Rose o repreendia por aquilo, os mangás eram seus e ele sequer tocara neles. Reiko sentia-se em casa, sua felicidade poderia ser notada nos risos e também, enquanto Kensei acariciava a sua mão e ela retribuia. Conhecendo seu irmão, Reiko estranhou o interesse dele por Yadomaru Lisa, estavam sentados lado a lado e ele perguntava inúmeras coisas para ela que praticamente o ignorava. Kiyo já havia engolido um pouco o seu orgulho e demonstrava estar contente por ver todos vivos. Kensei levou Reiko até um sofá que havia ali próximo da mesa e ambos sentaram-se.

– Desculpe entrar neste assunto, mas... Kaname-san me encontrou naquela noite, me apoiou no memorial aos oficiais mortos e a vocês. Ultimamente, eu ando muito afastada dos outros taichous, mas, tenho certeza que ele faz o possível para honrar o lugar que um dia foi seu.

Kensei levantou-se do sofá e chutou uma cadeira, aquilo assustou Reiko. Pensava se havia dito algo errado. Love se aproximou e colocou a mão no ombro dele.

– Calma, Kensei, ela não tem culpa! Não vamos interferir se você quiser contar a verdade, contudo, pense bem nas conseqüências.

– Do que você está falando, Love-san? – Indagou ela preocupada. – Eu ouvi, sabia!

– Vou deixar esta missão para Kensei – respondeu ele gentilmente e saiu de perto.

Kensei coçou a nuca e voltou a sentar-se. Não sabia por onde começar...

– Tousen Kaname... Ichimaru Gin... Aizen Souzuke...

Ele falava com pausas, demorou um pouco até contar parte da verdade para Reiko. Ela não conseguia esconder a sua fúria, com as unhas, arrancava pedaços do estofado. Nunca havia julgado Urahara Kisuke, agora, agradecia muito por realmente não ter feito isto. Sempre confiava nas pessoas e tanto Urahara Kisuke e Tsukabishi Tessai, quanto Shihouin Yoruichi, nunca lhe deram motivos para acreditar na traição que recaia sobre eles. Kensei secou uma lágrima que rolou no rosto dela.

– Meu amor... Se nós tivéssemos nos preocupado com aquele conversa que eu ouvi, talvez...

– Não se preocupe, Reiko! Nem mesmo Hirako se culpa mais por nunca ter enxergado a verdade. Eu quero que você aja naturalmente diante de tudo e Kiyoku também! – Ele olhou para o jovem que também estava ouvindo tudo. – Infelizmente, temos que deixar com que Aizen mostre a verdadeira face para a Soul Society. Quando ele fizer isto, você já saberá como se proteger...

– Mas, de que forma alguém como Aizen conseguiu tanto poder?

– Não sabemos... A única certeza que temos é a de estarmos preparados para o que vier.

– Me desculpe por tê-lo julgado. Sei que escondeu isso por nós, agora eu sei. Se Aizen e os outros descobrissem que Kiyoku e eu naquela época sabíamos disto tudo, teriam nos matado.

– Eu não vou deixar com que nada aconteça a vocês. – Kensei segurou fortemente as mãos dela. – É por isso que todos os dias nós treinamos aqui!

– Aniki... – Kiyoku estava calado até então. – Eu peço perdão por tudo o que eu disse e fiz hoje pela manhã! Se sou o que sou hoje, é por sua causa.

– Eu sei, moleque! E você sabe o que eu quero de você, não?

– Hai! – Ele levantou-se decidido. – Quando você quiser...

– Vocês dois não estão pensando em... – Reiko olhou com preocupação e balançou a cabeça ao ver que Kensei pegou a sua zanpakutou e a girou por entre os dedos. – Vou prender os dois, não estou brincando!

– Nee-chan, fique tranqüila! Ele tem que ver que eu não sei somente kidou...

– Homens!

Reiko fechou o semblante e foi até Rose, queria ajudá-lo a preparar um chá que ele fazia com tanto empenho. Ele a olhou e sorriu, há muito não via um shinigami e estava empolgado com a visita. Após terminarem de preparar o chá, ele serviu duas xícaras e entregou uma para ela. Kensei apontou para a passagem e Kiyo o seguiu, assim como Reiko e os outros. O corredor era maior do que a shinigami imaginou, seus olhos que quase se acostumaram à escuridão, foram ofuscados pela claridade que havia lá embaixo. Estava familiarizada com o local, parecia muito com passagens ocultas nos subsolos da Soul Society. Se pudesse descrever o lugar, diria que se assemelhava quase a um deserto, repleto de pedreiras.

– Vamos sentar ali? – Rose apontou uma espécie de morro que dava uma boa visão para o lugar em que Kiyo e Kensei foram. – Isto é, se apreciar a minha companhia.

– Claro, eu adoraria! – Quando ele ofereceu o braço, Reiko encaixou o seu no dele e ambos se dirigiram até o lugar que ele a guiou. Após sentarem-se, ela puxou assunto. – Este chá está maravilhoso!

– Obrigada, Reiko-chan! Faz muito tempo que não saboreio uma xícara de chá em tão adorável companhia.

– Roujuurou-can...

– Rose, por favor...

– Certo! – Ela concordou sorridente. – Bem Rose, eu aconselho que beba o chá logo, este solo vai tremer.

– Não se preocupe, Kensei vai pegar leve!

– Eu não estou falando nele...

Reiko olhou para Kensei e em seguida para o irmão, ambos estavam frente a frente e encarava-se com ar de que um era melhor que o outro. Assim que o Vaizard se exibiu com sua zanpakutou, Kiyo tirou a sua da bainha e sorriu.

– Não é com um brinquedinho desses que você vai conseguir aparar meus golpes!

– Moleque...

Quem estivesse próximo notaria uma veia que saltou na têmpora direita de Kensei, neste instante, ele avançou na direção de Kiyo e desferiu um soco visando o seu estômago. Com o braço esquerdo, o jovem aparou o golpe.

– Você já foi melhor, nii-sama! Quem sabe não trocamos por espadas de madeira?

Quando Kiyo terminou de falar, ao redor de Kensei surgiu uma forte energia e com um empurrão de seu braço contra o do outro, a energia explodiu e ele foi lançado a vários metros. Reiko deu um pulo e Rose tocou em sua mão.

– Acalme-se, Reiko-chan...

– Você nem imagina o que Kensei provocou...

– O quê? – Rose a olhava com duvida.

– Hachi-san! – Gritou Reiko. – Duplique a barreira lá fora!

Não deu tempo para o velho raciocinar, Kiyoku levantou-se e de uma só vez, mostrou toda a reiatsu que escondia como se numa explosão.

– Surja com todo o vigor de seu espírito, Gaia!

Sua zanpakutou tomara a forma de um cajado branco, encimado por uma pedra dourada e ele o girou por entre as mãos. Neste momento, o solo começou a tremer e rachou-se. Em instantes, todo o local começou a tremer, parecia que desabaria. Kensei saltava agilmente para não cair por entre as fissuras que pareciam persegui-lo, contudo, raízes brotavam delas e estas se enrolaram em seus pés, fazendo-o cair. A primeira coisa em que pensou foi cortá-las, no entanto, enormes rochas eram levantadas no ar e com um mover de sua arma, Kiyo as lançou na direção de Kensei.

– Maldito!

– Banzai, Kiyo-Kun! – Gritou Mashiro enquanto levantava os braços três vezes, como se estivesse em uma torcida, encorajando o garoto.

O Vaizard elevou a zanpakutou e com o seu poder, moldou incontáveis fios de energia que se enrolaram nas pedras, logo, fazendo com que elas virassem pó. Quando estava livre das raízes e em pé, observou Kiyo.

– Garoto... Seu poder é surpreendente, mas ainda precisa de muito treinamento para controlá-lo.

– Você não viu nada!

Kiyo olhou para o solo e pousando o cajado sobre ele, fez com que uma tempestade de areia se formasse ao redor de Kensei, tornando-se intensa. O Vaizard riu para si mesmo, responderia da mesma forma. Conjurando um tornado ao redor de si, repelia a areia e ao socar o ar com a adaga por entre a mão, tudo se voltou contra o Fukutaichou. O jovem não conseguiu controlar todo aquele poder e mais uma vez, foi lançado ao longe, contudo, não satisfeito ele se levantou.

– Segure isto então... Bankai...

– Hadou número trinta e um, Shakkahou! – Reiko lançou uma esfera e energia vermelha contra Kiyo, neste instante ele calou-se e desviou, fazendo com que o hadou acertasse uma rocha gigante. – Isso já foi longe demais, Kiyoku! Você não tem permissão para utilizar bankai e sabe disso, droga!

– Mas, nee-sama – ele abaixou a cabeça, sua zanpakutou voltava à forma normal. – Okay...

– Às vezes você se comporta como uma criança... E Kensei, você é um irresponsável!

Kensei meneou a cabeça, abriu a boca para reclamar, porém, Hirako tocou em seu ombro e o encarou. O Vaizard era experiente quando se tratava em lidar com a fúria de mulheres e sabia que, caso Kensei retrucasse a shinigami, aquilo não teria mais fim. Rose observava Reiko, não escondia o contentamento em ter uma mulher de maneiras tão finas ao seu lado, estava encantado. Parte do seu encantamento talvez se devesse ao fato de ele conviver há anos sempre com as mesmas mulheres, Hiyori, Lisa e Mashiro, cada uma com suas peculiaridades, nada que chamasse a sua atenção enquanto homem. Já que Kensei resolveu se isolar, voltando para o andar superior, Rose quebrou o silêncio que se fizera.

– Você vai ter que ser paciente com ele... Acho que depois de tantos anos, é complicado lidar com os sentimentos.

– Agradeço a preocupação – Reiko levantou-se e fez uma reverência para Rose. – Ainda tenho muitas perguntas sem respostas, Rose-kun... Será que vocês conseguem distrair Kiyoku enquanto eu falo com Kensei?

– Claro! – Rose assentiu e pegou a xícara das mãos de Reiko. – Oe, Hiyori! Faça as honras da casa, mostre para o garoto um pouco de diversão!

– Hachi-sama, agora é a sua chance de duplicar a barreira... Não quero que a Soul Society saiba que Kiyoku está usando seus poderes, ainda não é hora. E Kiyo – ela olhou para o irmão de forma severa. – Se você pensar em bankai, te envio para Senzaikyu!

– A Soukyoku não deve ser nada agradável – Kiyo riu e apertou o pescoço, engolindo em seco. – Vou maneirar, prome...

Ele nem teve tempo para terminar, Hiyori jogou um de seus tamancos na cabeça dele para que prestasse atenção nela. Reiko balançou a cabeça e riu, ainda não estava acreditando que o riso voltava a fazer parte de seus dias, tanto que já nem sentia mais amargura alguma. Assim que ela subiu as escadas, viu seu amado sentado no sofá, ele estava brincando com uma de suas luvas bastante distraído. A shinigami aproximou-se com cautela, não queria cortar de forma tão brusca os pensamentos dele, se é que ele estava pensando em algo.

– Kensei...

Ele colocou a luva na mão e olhou para Reiko, não parecia mais estar de bom humor. Ela sentou-se e pousou a mão direita sobre as coxas dele, respirava com calma, não sabia bem como abordar um assunto tão importante.

– Antes de irmos embora, eu preciso saber o que aconteceu aquela noite... Como conseguiu voltar ao normal depois daquilo tudo?


Kensei estalou os dedos das mãos ao cerrar os punhos, estava mais do que claro que ele não se sentia à vontade. O silêncio por parte dele incomodou Reiko, ela sibilou, estava perdendo a paciência. Se ele não queria abrir-se com ela, nada mais tinha a fazer ali, então, levantou-se. Kiyoku subiu as escadas correndo e parou ofegante diante da irmã, segurando-a pelos ombros. Com os olhos arregalados, ele não dizia coisas conexas.

– Reiko, nee-sama... Ela... Ela é um hollow. Não sei... Juro que não sei como aquela máscara apareceu – o shinigami olhou para trás, não queria voltar a ver Hiyori daquela forma. – Como pode?

– Desta forma!

Kensei falou em voz alta, num timbre sério. Reiko olhou para ele incrédula e sentiu um arrepio na espinha, parecia estar em estado de choque. Ela não movia um músculo, era uma revelação pela qual não esperava. Em um devaneio, estava de volta à cena que jamais havia saído de sua cabeça... Sua lembrança mais dolorosa. Estava diante do monstro que seu amado havia se tornado naquela noite opressora, há tantos anos, cada imagem, cada cheiro, cada palavra... Ficara tudo guardado em sua memória. Com um movimento involuntário, Reiko sacou a sua zanpakutou e a apontou na direção de Kensei.

– Maa, maa! – Interrompeu Shinji quase em um grito. – Deste jeito, você terá que declarar guerra a todos nós!

Reiko não expressava emoção alguma, segurava a arma com força. Não parecia ter ouvido Shinji, estava muito além, em um mundo que somente ela conhecia e lá, ouvia claramente a voz de Kensei em um último sussurro: “Me perdoe”. Era mais do que claro, não estava pronta para saber a verdade. Como shinigami, não tinha tanta certeza de que sair dali e deixá-los em paz seria a atitude mais certa. Kiyoku se colocou atrás de Reiko e surpreendendo a todos, ele tocou na mão dela e a fez abaixar a zanpakutou.

– Nee-sama, não se precipite. Eles abriram as portas de seu refúgio para nós, deixaram claro que somos bem vindos...

– Não, Kiyo – cortou Kensei. – Deixe que ela faça o próprio julgamento e mais, que me sentencie se assim for o caso. É a função dela, e você como subordinado deverá acatar qualquer ordem... Não me decepcione, garoto.

Reiko parecia ter voltado a si, agora com seu olhar, estudava Kensei. Daquele monstro só restava a máscara, mas ainda assim, enxergava-o como um. Um a um, todos os Vaizards mostravam as suas máscaras. Kiyoku reagia bem melhor do que Reiko, passado o seu susto, tinha a ciência de que por baixo daquelas máscaras, ainda havia seres adoráveis, alguns que ele teve chance de conviver quando pequeno. Lisa aproximou-se do fukutaichou, sua máscara tinha a forma de um losango e assemelhava-se em seu centro a um elmo de um cavaleiro templário. Ele deu um passo para trás no mesmo instante em que ela retirou a máscara e sorriu, contagiando-o com seu sorriso, fazendo-o retribuir.
Kensei tentou aproximar-se de Reiko, porém, ela meneou a cabeça negativamente, guardou a zanpakutou na bainha e correu até a porta. Ela moveu as mãos como se quisesse conjurar um kidou, mas Hachi foi mais rápido que ela, com um instalar de seus dedos, a barreira se desfez. Ela saiu sem olhar para trás.

– Perdoem a minha irmã!

Kiyoku fez uma larga reverência assim que os outros Vaizards retiraram as máscaras, de todos, Rose era o que mais demonstrava tristeza em seu olhar.

– Ela deve achar que somos aberrações... Não pertencemos a mundo algum – murmurou Rose. – Vá atrás dela, Kensei... Explique o que aconteceu!

– Não! – Bradou ele. – Deixe-a pensar o que quiser. Podemos conviver com mais um julgamento errôneo! Dane-se aquela mulher.

– Você fala da boca para fora, aniki. – Kiyo colocou a mão no ombro de Kensei e sorriu. – Sei que fará a coisa certa, não permita que ela o enterre novamente, Muguruma Kensei.


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