Tempestade escrita por Aislyn


Capítulo 4
Novas sensações... Novos sentimentos




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Quatro anos se passaram desde a festa de boas vindas para Reiko e o incidente com Eishima Shinobu. Reiko nunca superou aquele acontecimento e colocou desde então em sua vida o objetivo de ficar mais forte. Com a ajuda de Kensei, em treinos constantes conseguiu controlar parte de seu poder e com isto, também granjeou o respeito de todos os shinigamis do bantai. Não escondia a sua alegria em estar tão realizada, se tornara grande amiga dos quatro oficiais acima dela e isso facilitava muito o seu trabalho, eles a ajudavam no que precisava. Com o tempo, aprendeu a respeitar seu taichou e este respeito era mútuo, às vezes, até juntava-se com ele para correr atrás de Mashiro. Era inegável, ambos pareciam-se muito, tanto em personalidade, como no modo de agir e por isso, quando não concordavam em algo, ficavam horas discutindo. A discussão daquela manhã era por um motivo muito bobo, mas Reiko fazia uma incrível tempestade por isto.

– Você está atrasado para as boas vindas ao novo taichou! Será que dá para se apressar?

– Takeuchi, dá um tempo – ele estava diante do espelho arrumando o cabelo há mais de quinze minutos e aquilo irritava Reiko. – Aliás, o que está fazendo no meu quarto, hein?

– Odeio quando me chama de Takeuchi neste tom... E você sabe muito bem o que estou fazendo aqui! Acabei de vir do Ichibantai e até mesmo o Hirako-taichou já chegou lá, você deveria se envergonhar.

– Já estou indo...

– Então vá! – Gritou. Sentia-se exausta, tanto que quando o taichou saiu, ela deixou-se cair na cama dele, resolvendo tirar o dia de folga. Já estava pegando no sono no momento em que ouviu a porta abrir. Rapidamente, elevou o corpo depressa para parecer que estava sentada.

– Rei-chan! - Berrou Mashiro. – Não me diga que dormiu aí com o Kensei-baka? – Ela colocou as mãos sobre as bochechas e apertou, aproximou-se de Reiko e começou a estalar os lábios como se quisesse beijá-la. – Não ouvi ruídos no seu quarto esta noite.

– Cale a boca, sua retardada! – Reiko pegou um dos travesseiros e jogou na fukutaichou, acertando-a no rosto. – Não fale besteiras... É claro que eu dormi no meu quarto esta noite, mas quando fui deitar, já era tarde. Fiquei jogando xadrez com Kasaki e...

A oficial foi surpreendida com um golpe de travesseiro que Mashiro deu em seu rosto. Reiko sacudiu a cabeça e olhou para Mashiro com ira, em seguida pegou outro travesseiro e a atacou. Elas corriam por todos os lados, inclusive, pisoteavam os lençóis brancos da cama de Kensei. Depois de uma hora, as duas estavam deitadas no chão, ofegantes.

– Trégua?

– Sim, Rei-chan!

Quando a porta abriu-se, Reiko e Mashiro haviam adormecido, a fukutaichou com a cabeça no braço direito da nanaseki. Pareciam até duas criaturas angelicais, exceto por...

– Seus demônios! – Ele esbravejou o mais alto que pôde. – O que fizeram aqui?

Muguruma Kensei estava com os olhos arregalados, havia penas por todos os lados, seus lençóis estavam cheios de pegadas, a prateleira de discos e livros que há muito trouxera do mundo real havia sido destruída. As duas acordaram num sobressalto, Mashiro se escondeu atrás de Reiko assim que levantaram. O olhar do taichou era aterrorizante, ele pensava em como puni-las, achava que nem mesmo uma semana sem doces como punição para Mashiro e uma semana para Reiko sem ir até a sua loja favorita de acessórios seria o bastante. Tinha que pensar em algo mais cruel.


Três horas depois...

– Mashiro-chan, como estes homens podem ser tão nojentos?

Reiko e Mashiro estavam de avental, ajoelhadas no banheiro masculino geral do Kyuubantai. Tinham acabado de limpar os azulejos e agora esfregavam o chão. Muito cansadas, ainda faltava o pior, limpar os sanitários.

– Não parem! – Kensei colocou o pé no traseiro de Reiko e a empurrou quando viu que ela havia parado, fazendo-a dar de cabeça na parede. – Da próxima vez eu vou chutá-la!

– Agora você foi longe demais, desgraçado! – Reiko pegou o balde com água suja e jogou em Kensei, ele desviou e deu uma gargalhada, porém, Mashiro fez o mesmo e o acertou. – Mashiro-chan... Corra!

Kensei largou em disparada atrás das duas, não se importavam nem com os shinigamis que passavam pelos corredores carregando papéis e acabavam chocando-se com eles. Mashiro conseguiu fugir por uma janela e Reiko se desfez das luvas de borracha como também do avental, e correu até o jardim do Kyuubantai, achando que atrás de uma árvore estaria bem escondida. Ficou cerca de trinta minutos sentada sobre a grama, este tempo era o suficiente para que a ira do taichou acabasse e então, saiu de seu esconderijo, ainda tinha que arrumar alguns papéis para o dia seguinte.

– Achei você... – O taichou surpreendeu Reiko, ela não conseguiu se desvencilhar dos braços dele que a empurrou contra o tronco da árvore. Kensei imobilizou os braços da oficial, deixando-os esticados acima da cabeça, fazendo pressão nas mãos dela com as suas. – Não sabe o tempo que vou demorar para tirar aquela sujeira da minha haori!

– Pelo visto tomou um banho de perfume, hein? – Reiko queria incomodá-lo, mas quem estava incomodada era ela, sentia o aroma do perfume dele invadir as suas narinas, era maravilhoso. – E você está me machucando! – Ela virou o rosto para o lado.

– Por que não tenta se libertar? É tão autossuficiente – ele comprimiu o seu corpo contra o dela quando ela tentou empurrá-lo usando o próprio corpo. Naquele momento, sentiu algo estranho, nunca havia ficado tão perto de Reiko, apesar de já terem dançado uma vez, era uma aproximação diferente. – E então, Takeuchi...

– Você está pedindo, Muguruma-taichou...

Reiko mal conseguia falar, sua respiração estava totalmente cortada graças à pressão do corpo dele contra o dela. Resolvendo virar novamente o rosto, ficou frente a frente com o de Kensei e seus olhares encontraram-se. Ele parou de fazer força, libertando-a, colocou um braço em cada lado do corpo dela, as mãos espalmadas apoiando-se na árvore e ela deixou seus braços caírem livremente sobre os ombros dele. Não sabia muito bem o que estava fazendo, todavia, Kensei cansou de olhá-la somente e com as duas mãos, pegou as pontas do uniforme que Reiko usava e a puxou para que ficasse ainda mais próxima do corpo dele, roubando-lhe um beijo. Ela arregalou os olhos e tentou livrar-se, no entanto, rendeu-se ao calor dos lábios dele e o abraçou fortemente. Sem muito jeito, cerrou os olhos e entreabriu os lábios, sentindo finalmente a língua dele invadir a sua boca. Kensei parecia muito afoito naquele beijo, ela sentia dificuldade para respirar, mesmo assim tentava acompanhar o ritmo dele.

– Taichou... – Reiko sussurrou próximo aos lábios dele. – O que foi isso?

– Não sei, só espero que não conste nos seus relatórios – respondeu ele sem jeito. Reiko escondeu o rosto no peito dele, continuava a abraçá-lo. – O que você acha que foi?

– Instinto – simplesmente respondeu sem olhar para ele.

– Quem sabe – ele afastou-se um pouco de Reiko e inclinou o corpo para poder encostar a testa na dela e a fitar diretamente. – O instinto não é algo que nos controla a todo o momento, é uma pena.

Reiko corou e ele sorriu, após isso, afastaram-se. Durante o jantar, ela não conseguia encará-lo e ele estava incomodado com a situação, não queria que os outros notassem, afinal, estavam sempre conversando com todos ou entre si. Para o espanto de ambos, Mashiro falou para que todos ouvissem:

– Kensei e Reiko estão namorando!

A fututaichou foi acertada por um copo que a pegou em cheio na testa e atirou-se no chão chorando. Kensei a fulminava com o olhar, só se acalmou quando os presentes começaram a rir.

– Esquecendo esta brincadeira de mau gosto, o que aconteceu, taichou? – Shinobu estava curioso já que não era normal aquele silêncio por parte de seu superior. Suspeitava que seu maior temor finalmente tivesse se concretizado. Estava dando tempo ao tempo, ainda tinha esperanças de um dia poder revelar seus sentimentos para Reiko, caso Kensei nunca o fizesse. – Você está estranho desde que voltou da reunião de hoje... Por um acaso não gostou do novo taichou, Urahara Kisuke?

– Não houve nada... E sobre Urahara, ele é um bom homem, um pouco ingênuo talvez – Kensei tentou disfarçar, olhou de canto para Reiko e logo se voltou ao seu oficial. – Bem, eu vou dormir... Boa noite!

– Você nem bebeu todo o sakê, realmente está estranho – comentou Kasaki ao ver que o copo do taichou estava cheio.

Kensei virou de costas e saiu do refeitório, assim, todas as atenções foram voltadas para Reiko.

– Antes que perguntem, eu não sei de nada! Só estou quieta porquê hoje não foi um bom dia...

Ela saiu dali rapidamente, aquela atitude alimentava a imaginação dos shinigamis. No dia seguinte, os comentários rolavam por todo o Kyuubantai. Kensei já não estava mais agüentando as piadas e Reiko, ao contrário dele, ignorava-as. Ela jurou para si mesma que aquilo não aconteceria mais, enquanto ele, não parava de pensar um só momento naquele beijo e queria de qualquer jeito encontrá-la sozinha novamente.
Quando a noite se fez, Reiko acabava de deitar-se e ouviu um ruído vindo através da janela de seu banheiro. Como gostava de dormir à vontade, enrolou-se em um lençol vermelho e pegou a sua zanpakutou. Ao ver um vulto saindo pela porta do banheiro, agilmente, ela empurrou a lâmina de sua zanpakutou contra o peito do invasor e acendeu a luz.

– Isto sim vai parar nos relatórios, taichou! – Reiko jogou a zanpakutou em cima do sofá que havia abaixo da janela do quarto e segurou com ainda mais força o lençol que cobria o seu corpo, não queria que ele a visse praticamente nua. – Espero que seja uma situação de vida ou morte!

– É sim...

Kensei empurrou Reiko e ela caiu sobre a cama. Ele posicionou-se sobre ela, mas com os braços sobre a cama, para não machucá-la com seu peso de uma vez só. A oficial estava assustada com a intensidade que havia no brilho dentro dos olhos dele e com a necessidade com que os seus lábios procuravam os dela.

– Taichou... – Sussurrou tentando livrar-se dos lábios dele. – Você...

– Não fale nada, é uma ordem, Takeuchi...

Kensei falou de um jeito doce, murmurando próximo aos lábios dela, que, finalmente decidiu corresponder ao beijo que ele tanto procurava. Reiko poderia chamar aquele ardor que sentira de paixão avassaladora, tanto que tal sentimento parecia inundar aquele quarto. A inocência dela não lhe permitia saber de imediato quais eram as intenções dele, contudo, não reagiu quando ele arrancou o lençol que cobria o seu corpo. Reiko sentiu as bochechas arderem quando o taichou parou o beijo e passou a olhar para o seu corpo:

– Perdeu alguma coisa, taichou?

– Perdi... – Ele fez uma pausa longa e voltou a si. – Perdi a minha capacidade de raciocinar. Perdi o meu autocontrole e aos poucos estou perdendo a minha sanidade.

Ela sorriu de forma maliciosa e o surpreendeu, puxando-o pelo shihakushou, sentindo finalmente todo o peso dele sobre o seu corpo e a rigidez espontânea de algo que nunca estivera antes em contato com ela. Não poderia esperar menos de um homem tão viril. As mãos de Reiko eram tão impacientes quanto às dele, que lentamente traçavam um caminho, desde o seu colo até os seios, fazendo-a suspirar. A shinigami estava lidando com vários desafios, primeiramente conseguiu livrar-se da haori, agora, desatava o nó do obi branco que envolvia a cintura dele, finalmente abrindo o seu shihakushou. Ele, ao ver que mãos delicadas dela estavam sofrendo um pouco naquilo, ajudou-a e despiu-se, jogando as vestimentas para longe. Tentando controlar-se, Kensei resolveu atentar-se um pouco a ela, segurou em seu rosto delicadamente e com uma ternura incomensurável, em seguida, encostou novamente seus lábios nos dela. Beijava-a com lentidão, mas com uma pressão que somente o beijo de um homem como ele proporcionava. Reiko se surpreendeu, o taichou roubava a sua respiração, entretanto, não queria que parasse... Ele acariciava com suavidade o rosto dela, sua clavícula, ombros, costas...

– Kensei...

Pela primeira vez sentiu-se à vontade para chamá-lo daquela forma, num insinuante sussurro. Ele sabia que Reiko o chamou involuntariamente, a voz dela "acariciou" os seus ouvidos como se fosse um veludo, nunca imaginou que apenas ouvi-la chamando-o pelo nome causaria uma resposta tão forte em seu corpo, pulsante, que o fazia tremer de desejo. Oprimindo a testa contra a dela, ficou a encará-la por alguns segundos. Reiko estava consciente de que não poderia negar mais o desejo dele, que, era visível até mesmo ardendo no interior de seus olhos cor de âmbar. Obrigou-se a fitá-lo também, aquilo fazia com que sentisse um frio na barriga e uma fisgada indescritível abaixo dos seios. Ela desviou e prendeu o olhar nos músculos do peito dele, ao tocá-lo, sentiu uma vibração e um calor potente, era firme, de uma textura macia e lisa. Também não poderia mais negar ao seu próprio corpo o que naquele momento se fazia tão necessário, desejava aquele homem com todas as suas forças e fez questão de deixar claro o que queria. Ele não pensou duas vezes quando ela assentiu. Naquele momento, se deu inicio a uma tempestade no interior daquele quarto, marcada por ventos fortes, trovoadas, lampejos e raios. Era abrasadora, leviana e cheia de volúpia. Aos poucos, tornava-se impetuosa, feroz. Não era somente instinto, envolvia uma cálida onda de sentimentos, novos sentimentos que a cada beijo, carinho ou sussurro, eram descobertos.
Ao fim, Reiko descobriu-se sorrindo deitada sobre o peito do taichou, que assim como ela, estava exaurido. Instantes depois, ela ajeitou-se com o corpo sobre o de Kensei, após um longo suspiro, conseguia sentir a sua respiração voltar ao normal e murmurou:

– Estou exausta.

– Eu não – ele a olhou com malícia, seu sorriso era provocante.

– Você não está pensando em...

– Shhh... – Kensei selou os lábios dela com um beijo, daquela vez, queria perder-se por mais tempo dentro dela, almejava que Reiko não pudesse respirar sem que sentisse que fazia parte dele. A tempestade recomeçava...

A manhã que se seguia iniciara-se perfeita, o céu estava azul e o sol com seus raios conseguia aquecer até mesmo a alma de Reiko, que acordou imaginando se tudo não passara de um sonho. Não havia vestígio algum dele em seu quarto, a única coisa que a fazia acreditar que realmente havia acontecido algo, era o perfume de Kensei em seus lençóis. Lembrava-se de alguns minutos antes de ter adormecido, sentiu como se estivesse morrendo nos braços dele, o corpo fraco, trêmulo. Estava tentando esconder o sorriso, não queria ser questionada pelo bom humor, então, tomou fôlego e saiu do quarto com a fronte erguida. Após chegar ao pátio, reparou em uma cena bastante atípica.

– Bom dia, Toudou-san! – Ela ergueu a sobrancelha direita. Coçava a cabeça enquanto examinava a parede que era exatamente a do lado de fora do quarto dela. – O que aconteceu?

– Estranho! Este prédio é novo, Reiko-san... Não entendo como podem ter surgido rachaduras deste tamanho – ele voltou-se para Reiko e deu de ombros. – Fica bem onde a cabeceira de sua cama está instalada, não?

– Realmente – ela engoliu em seco e tentou disfarçar. – Vou ter que pedir para a Mashiro parar de pular na minha cama, daí a pouco ela vai derrubar o prédio. – A oficial fez uma breve reverência. – Preciso ir, a manhã vai ser longa!

– Até logo – falou Toudou desconfiado. – E pode deixar que eu pedirei para repararem isto.

– Eu agradeço! – Ela gritou quando já havia se distanciado e acenou. – “Desgraçado... Eu vou matá-lo! Isto é... Se eu conseguir chegar perto dele hoje, ou, amanhã quem sabe...”

Reiko não sabia como ir até o escritório de Kensei, tentava ensaiar um pouco antes de entrar pela porta, talvez, só colocasse os relatórios na mesa dele e saísse. De qualquer forma, ela criou coragem, mas antes, resolveu espiar discretamente para ver o semblante de Kensei e não fez ruído com a porta.

– Kaname, você precisa escolher um lado...

– Eu sei, mas essa não é a melhor hora e esse não é o lugar para conversarmos sobre isso, Aizen-sama.

Reiko estranhou aquela conversa e abriu a porta, teria de improvisar algo.

– Oe, Aizen-futukaichou... É sempre bom vê-lo! Kaname-san...

– Takeuchi-san, como vai? – Aizen sorriu para Reiko de forma encantadora, era muito bom nisto. – Eu trouxe alguns documentos para o Muguruma-taichou, mas, já fui informado que ele não está.

– Eu vou bem – respondeu ela sorrindo. – É bom saber que o taichou não está, vou aproveitar e fazer uma limpeza aqui.

– Bem, então é melhor que eu vá embora. Importa-se de avisar a ele sobre os papéis, Tekeuchi-san?

– É certo que não... Até mais, Aizen-fukutaichou!

Os dois saíram da sala e deixaram Reiko pensativa, afinal, o que significava aquela conversa? Tentava encaixar alguns fatos, todavia não chegava a lugar algum, a não ser que pudesse estar imaginando coisas demais. A próxima pergunta era a respeito do paradeiro de seu taichou, não se lembrava de evento algum para o dia. Reiko passou duas horas organizando o escritório e Kensei não voltava, ela já estava impaciente, perdia a conta de quantas vezes olhou pela janela para verificar se ele entrava pelo portão.

– É... Acho que ele se arrependeu do que fez e está tentando fugir!

– Fugir, Takeuchi? – Kensei a pegou sentada no sofá, falando sozinha para quem quisesse ouvir. – Você acha que eu sou o quê?

– Nada não, taichou. Eu sequer estava falando de você! – Ela foi tomada de surpresa, mas achou que havia se saído bem daquela. – Por que demorou tanto?

– Eu estava jogando conversa fora com o Hirako e o Love...

– Por falar nele, me lembrei do Aizen... Ele esteve aqui, deixou alguns papéis e...

– E? – Indagou ele ao ver que Reiko ficou um pouco sem jeito.

– Ouvi uma conversa estranha entre o Aizen e o Kaname-san... Nada demais.

– Mulheres... – Ele deu de ombros e suspirou. – Se não é nada demais, então por que esta cara?

– Deixe estar – Reiko levantou-se e olhou para Kensei, estava corada. – Toudou descobriu rachaduras na parede do meu quarto.

– Eu soube, inclusive, ele deixou o orçamento comigo agora mesmo quando cheguei.

Kensei parecia indiferente, aquilo deixou a oficial aborrecida, achava que a noite anterior deveria ter significado algo para ele, contudo, concluiu que poderia estar enganada. Alguém bateu na porta e ele a abriu, um jovem shinigami entregou um documento lacrado nas mãos do taichou e saiu.

– É para você – disse ele sem maiores informações e entregou nas mãos de Reiko.

– Não pode ser... – Após ler o papel, teve que se sentar novamente no sofá para não cair, suas mãos estavam trêmulas e seus olhos em instantes ficaram marejados. – Taichou...

– O que houve? – Ele sentou-se ao lado de Reiko e segurou as mãos dela, estavam frias. – Pode me dizer...

– Preciso ir até o Ichibantai – ela apertou as mãos dele. – Não posso explicar agora.

– Quer que eu a acompanhe?

– Não há necessidade... – Reiko levantou-se e deu as costas.

– Hey! – Muguruma Kensei a puxou pelo braço, fazendo-a ficar de frente com ele e com as palmas de suas mãos, segurou no rosto dela. – Eu estou com você, não se esqueça disso. Mais tarde quero que me conte a verdade sobre este papel... Agora, some da minha frente, Takeuchi.

Ele tentou forçar a voz quando falou o sobrenome dela, mas estava claro o tom de preocupação. Reiko saiu de lá um pouco mais tranqüila quanto aos sentimentos de seu taichou com relação à noite anterior e chegando ao Ichibantai, Yamamoto Genryuusai a esperava. Estava sentado em uma almofada na sala de chá e ofereceu uma xícara para Reiko, que o acompanhou e tomou o lugar na almofada na frente dele.

– Já controlamos o hollow que atacou a Casa Shimazu, contudo, não houve sobreviventes.

– Meu pai... – Balbuciou ela. – Minha mãe... Todos...

Reiko não conseguia assimilar, queria chorar e as lágrimas não saíam. Yamamoto estava sem palavras e enternecido com tudo o que aconteceu, a família de Reiko era muito próxima dele.

– Yamamoto-sama! – Um de seus oficiais entrou pela porta sem cerimônias. – Trouxe notícias da Casa Shimazu.

– Que notícias? – Perguntou interessado.

– Um bebê foi encontrado com vida no interior de uma passagem secreta, junto com a sua ama. De acordo com a mulher, trata-se Shimazu Kiyoku.

– E onde ele está?

– Aos cuidados da Unohana-taichou!

– Ótimo.

Yamamoto fez sinal para que o oficial saísse e Reiko o fitou com dúvidas, deixando cair a xícara no chão. Não sabia de quem eles falaram, há quatorze anos estava sem receber notícias de sua família. Antes que ela perguntasse, o velho explicou.

– Kiyoku é seu irmão... Ele nasceu há seis meses e seus pais preparavam uma festa para apresentá-lo à nobreza, antes disto, estavam mantendo segredo absoluto. Afinal, um filho homem é muito importante para manter a linhagem da família, já que...

– Já que a primogênita deu às costas. – Ela completou com pesar. – Mas, eu tenho um irmão! Não consigo acreditar.

– Você deve ir vê-lo e também, como descendente direta da família, tem que fazer os preparativos para o funeral de seus pais, por mais duro que isto possa ser.

– Eu sei, Yamamoto-sama - sussurrou.

Kuchiki Ginrei era a última pessoa que saía da mansão Shimazu, os incontáveis incensos que estavam diante do altar que Reiko fez com as imagens de seus pais, demorariam a queimar por completo. Ela ainda não conseguira ir até o Yonbantai, passou o dia anterior ocupada com os preparativos para a cerimônia fúnebre e todas as formalidades, já sendo noite quando fechou as portas e as janelas. Estava ajoelhada diante do altar, arrependia-se por nunca ter tentando procurá-los e já não conseguia mais pedir desculpas por tudo o que fez, encontrando no choro a melhor saída para desabafar. Tinha que criar coragem para no dia seguinte ir ver seu irmão, o único elo que restava com a sua família. Estava em um devaneio tão profundo e não ouviu os passos que soavam atrás dela, só reparou que havia alguém na sala através da sombra que se fez.

– Pensei que soubesse tudo sobre você, Takeuchi... Ou, Shimazu? Por que escondeu isto de mim?

– Porque eu não tinha a menor necessidade de contar algo que havia ficado no passado... Há muito tempo atrás. – Ela virou um pouco a cabeça para poder vê-lo melhor, Kensei estava com uma expressão séria, os braços cruzados. – Se veio até aqui para fazer esse tipo de questionamento, eu gostaria de pedir que deixe para outra ocasião. Prometo que terei o prazer de falar tudo o que aconteceu para você.

– Eu não vim aqui para isso – o taichou ajoelhou-se atrás de Reiko e colocou as mãos sobre os ombros dela, tentando confortá-la. – Achei que gostaria de companhia, não é bom ficar sozinha em um lugar grande como esse e marcado por coisas tão ruins...

– Obrigada – Reiko deixou seu corpo cair para trás e foi amparada por ele, que a abraçou. – Tenho algo importante para fazer amanhã, espero que não se importe se eu deixar de aparecer no bantai.

– Eu ouvi alguns boatos, mas gostaria que você me contasse a história sobre seu irmão.

– Também não sei muito bem, para falar a verdade, não sei nem o que vou fazer quanto a isso. Seria a minha obrigação ficar com ele, no entanto, como eu vou criar uma criança?

– Daremos um jeito, não se preocupe. Todos os outros também estão com você, só não deixei Mashiro vir por motivos óbvios.

– Mas... Você sabe que a minha obrigação seria ficar aqui, dar continuidade ao legado da minha família até Kiyoku ter idade para ficar à frente de tudo, não sabe?

– Confesso que não entendo bem esse tipo de coisa, só acho que desde o momento em que você fez a sua escolha, deve seguir firme com ela, a não ser que esteja arrependida de ser quem é hoje.

Reiko ficou conversando com ele a noite toda diante daquele altar, até que adormeceu. Kensei a acomodou sobre o seu colo e encostou-se em uma parede, não queria dormir para poder velar o sono dela. Estava preocupado em perdê-la, até porque, aquele mundo não era o seu. Teria de ser paciente e esperar até que Reiko decidisse o que faria.
No Yonbantai na manhã seguinte, Reiko caminhava de um lado pra o outro, estava impaciente aguardando por Unohana Retsu. Após quinze minutos, ela apareceu e com sua voz tranqüila, explicou que a criança estava bem e sem nenhum arranhão. A oficial ficou aliviada, não agüentava mais a ansiedade, queria estar com seu irmão tão logo pudesse. Quando recebeu permissão para entrar no quarto em que o bebê repousava, seu coração se encheu de ternura. Ele repousava em um berço improvisado... Um bebê pequenino com a pele branca, bochechas rosadas, sobrancelhas finas assim como as dela e os cabelos negros, que já eram abundantes. Reiko com um pouco de receio, pegou o irmão em seu colo e o acomodou nos braços, parecia levar jeito para aquilo. Minutos depois, finalmente ele abria os olhos, tão azuis quanto os dela, assim como eram os de sua mãe também.

– Kiyoku... Meu irmão – os olhos dela enchiam-se de lágrimas, o bebê não estranhava o seu colo, estava tranqüilo. – Ontem eu não sabia qual atitude tomar e estou arrependida por ter pensado em tantas besteiras sobre o quê fazer com você. Eu prometo que nunca vou deixar que nada de ruim aconteça com você e vou ficar ao seu lado para sempre, Kiyo.

Reiko havia levado o irmão para o Kyuubantai e há duas semanas este era o assunto principal entre os membros do bantai. Com a ajuda dos colegas, ela montou um berço em seu quarto e recebia diariamente a visita de vários shinigamis que traziam presentes para o bebê. Mashiro estava no quarto, eram cinco da tarde e ela já fazia companhia para Reiko há duas horas.

– Kiyo-kun! Ele é tão fofinho.

– Shhhh! Mashiro-chan, assim você vai acordá-lo – repreendeu a irmã zelosa.

– Kensei-baka, ele deveria estar aqui também, afinal, não tem nada para fazer hoje.

– O Kensei-Taichou deixou que eu trouxesse meu irmão para cá, entretanto, está tão afastado desde então... Será que... – Reiko calou-se, achou que não era uma boa idéia abrir seus sentimentos para alguém tão infantil como Mashiro.

– Kensei... Kensei – começou a falar Mashiro, mas foi interrompida.

– Por isso eu estava tendo uma crise de espirros! Espero que estejam falando bem de mim.

– Muito bem, quero enfatizar, taichou – Reiko colocou a mão no ombro da fukutaichou. – Será que você poderia deixar-nos a sós, Mashiro-chan? Preciso resolver algo com ele.

– Uhum!

Quando Kensei aproximou-se do berço, Reiko pegou timidamente a sua mão e entrelaçou os dedos nos dele, que a apertou. O bebê estava um pouco agitado, provavelmente por culpa do último grito de Mashiro antes de sair.

– Ele se parece com você, Reiko...

– Sim, é verdade. Ainda estou um pouco preocupada com o que fazer daqui por diante e, eu não quero culpá-lo... – Ela hesitou por instantes, todavia, continuou com firmeza. – Mas, você disse que estaria comigo naquela noite, e o que fez desde então? Quase não o vejo...

– Eu sabia que cedo ou tarde você tocaria neste assunto... Peço desculpas se não estou agindo conforme as suas expectativas.

– É só isso? – Ela largou a mão dele e afastou-se, não era bem o que gostaria de ouvir. – Pensei que fosse tentar! Acho que realmente esperei demais de você.

– Reiko... Não sabe o quanto eu quero ajudá-la, o problema é não saber como. A cada dia que passa nos afastamos ainda mais e eu sinto tanta falta de tê-la nos meus braços, de vê-la no meu escritório ou até mesmo de brigar com você por qualquer coisa.

– Você se afastou, Kensei... Não eu! Espero por você todas as noites, querendo que me leve para qualquer lugar e faça de mim o que quiser, como naquela noite... Nossa única noite.

– Sendo sincera... Você gostaria que? – Ele não conseguia ser direto, Reiko reparou que Kensei coçava a nunca e só fazia aquilo quando estava nervoso. – Bem...

– Gostaria sim... Só espero que você esteja pensando o mesmo que eu, senão...

Ele sorriu e a pegou pela cintura, levantando-a para que ficasse na altura de seu rosto. Naquele fim de tarde, Muguruma Kensei prometeu a Reiko que a ajudaria com a criação de seu irmão e que a apoiaria na decisão de fazer com que Kiyoku se tornasse também um shinigami se desejasse. Resolveram manter em segredo a relação que ambos tinham, afinal, não gostariam que ninguém prejudicasse o sentimento tão bonito que começavam a cultivar.


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