Tempestade escrita por Aislyn


Capítulo 3
Uma promessa: o despertar de Raiden


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo também consta o 3.1, tratando-se da festa de boas vindas à Reiko e uma missão do Kyuubantai num distrito de Kugongai.



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Reiko baixou a cabeça e Ayano virou-se, indo embora. Ela colocou as duas mãos espalmadas sobre o solo, suas lágrimas escorriam livremente. Ainda lembrava-se do dia em que confrontou seus pais e outros membros de seu clã para se tornar uma shinigami. Estava cansada de ser apenas uma boneca de porcelana, vivendo para beber chá e falar sobre assuntos fúteis com outras jovens do mesmo nível social. Sua família, Shimazu, era conhecida por ter várias gerações de arquitetos que cuidam das construções de prédios para todas as famílias nobres. Seu pai era um homem frio, orgulhoso, via em Reiko uma forma de continuar a boa linhagem da família, tanto que havia escolhido um bom marido para ela, primo da líder dos Kasumioji. Quando fugiu da mansão em que morava, sabia que não poderia voltar, trocou o sobrenome, de Shimazu, passou a chamar-se Takeuchi em homenagem a um dos senseis da academia. Não gostava de admitir, mas depois que Genryuusai Yamamoto soube de sua origem, ele pediu que o taichou do Junichibantai lhe colocasse em uma boa posição. Como não ficara satisfeita com o grupo em que estava, preferiu pedir que a trocassem de bantai. Se soubesse a dificuldade que passaria por estar no Kyuubantai, jamais teria manifestado o desejo de ser transferida. Agora estava lá, caída no meio de um campo vazio, tomada por ferimentos. O único ponto positivo naquele embate foi Katsuo ter lutado de igual para igual com ela, sem poupá-la por ser mulher. As últimas palavras dele pareciam até as de seu pai que disse na última vez em que o viu, que ela não era digna de ostentar o sobrenome da família Shimazu.

– Chega de me lamentar!

A jovem oficial socou o chão com o punho direito e depois, ajeitou-se de joelhos, cerrando os olhos. Várias imagens, tanto do seu passado como do presente vinham em sua cabeça. A capa branca com a inscrição que pertencia ao bantai de Muguruma estava manchada com seu sangue, aquilo com certeza era uma vergonha para o time. Não poderia deixar Kensei a ver daquela forma. Quando finalmente esvaziou a sua mente, ouviu uma voz desconhecida.

“Reiko... Um trovão não pode ser a voz de sua ira, no entanto, poderia ele ser a voz de sua liberdade?”

A voz era encantadora, masculina. Podia de olhos fechados visualizar a sombra do mesmo demônio que vira outrora. Por ter ouvido aquela voz, não parecia mais tão assustador. Nas mãos dele, algo brilhava. Ele estendia as mãos, um globo de energia começava a se formar, circundado por pequenos raios. Reiko também se enxergava naquela visão, diante dele. Aos poucos, a imagem parecia mais visível. Não era o rosto de um demônio. Parecia um jovem, de cabelos negros e compridos, olhos de um vermelho profundo. Vestia uma capa branca com detalhes dourados, que encobria todo o seu corpo. No momento em que a shinigami foi tocar na energia das mãos dele, sentiu uma descarga elétrica em seu corpo e acabou desmaiando.
Os raios do sol tocavam gentilmente o seu rosto, quando ela abriu os olhos, sentiu-se ofuscada por estar bem de frente para a janela aberta. Demorou a assimilar que estava em seu quarto, moveu-se um pouco para o lado e viu suas roupas sujas no chão, sobre a cadeira, havia uma capa branca nova, provavelmente para substituir a outra que estava inutilizada. Os ferimentos de seu corpo estavam cobertos por bandagens, não sentia dor alguma, alguém a havia medicado. Nem deu tempo para se perguntar quem a ajudou, pela porta acabava de entrar Mashiro, trazia um sanduíche e chá.

– Reiko-chan! Você nos deu um grande susto... A Unohana-taichou enviou um bom oficial, ele cuidou para que suas mãos não ficassem com nenhuma cicatriz. Só não puderam fazer o mesmo com o ferimento em seu peito e me pediram para avisá-la que irá sarar em alguns dias. – Mashiro falava tudo de uma vez só. – Ah... Kensei está fazendo questionamentos por aí, acha que você jamais se machucaria sozinha.

– Peça para ele se acalmar... Eu vou explicar logo, logo – garantiu Reiko, estava surpresa com a fukutaichou, não parecia a mesma criança de sempre.

– Você não pense em se levantar! Vou chamar o Kensei – ordenou ela com sua voz infantil, no entanto, de um jeito mais sério.

Reiko ignorou as recomendações de Mashiro e levantou-se, nisso, sentiu uma dor no peito. Pôde enxergar seu reflexo no espelho, estava horrível. Tinha que tomar um banho, arrumar os cabelos...

– Estou entrando! – Disse Kensei ao abrir a porta. Reiko não o ouviu por estar dentro do ofurô que ela mesma mandou instalar e ouvindo música. O taichou escutou a música que vinha do banheiro e nem se preocupou com o que encontraria, entrou sem mais nem menos. Perplexa, ela arregalou os olhos e corou, ele não parecia ligar para o que via, falava normalmente.

– Só podia estar aqui mesmo...

– Taichou, isto é invasão de privacidade! Imagine se eu estivesse nua – disse ela quase aos gritos, para a sua sorte, estava com o corpo coberto por espuma. – Você deveria se envergonhar por entrar no quarto de uma dama assim, quanto mais no banheiro!

– Está bem... Está bem. Eu pensarei nisso na próxima vez...

– Não vai haver uma próxima vez, agora me alcance a toalha e vire-se! – Kensei fez o que ela pediu e virou-se. Reiko rapidamente enrolou-se na toalha, neste meio tempo, ele tentou olhar de canto e ela pegou um sabonete e o lançou na cabeça dele. – Pervertido!

– Pervertida é você! Poderia ter me mandado sair, oras! – Gritou. – Mas... Mudando de assunto – a expressão de Kensei tornou-se séria e sua voz mais branda. – Preciso que me conte o que aconteceu... Tousen Kaname encontrou você no campo enquanto caminhava.

– Bem... Eu estava treinando kidou e calculei mal um deles, foi isso – respondeu ela sem encará-lo nos olhos. Já havia colocado o shihakushou enquanto ele a esperou no banheiro. – Não se preocupe.

– Você mente mal, Reiko. Muito mal, na verdade – o taichou sentou-se na cama dela e cruzou os braços. – Não queira proteger alguém, caso contrário, eu mesmo darei um jeito de descobrir a verdade. Seus ferimentos foram causados por uma lâmina...

– Perdão, taichou... Não sei o que dizer – ele fez sinal para que Reiko se sentasse ao seu lado e ela obedeceu. – A verdade é que já tenho problemas demais com o bantai, então, eu não gostaria de mais um.

– Eu admiro isso profundamente, contudo, tenho que cumprir a minha função e você a sua, nanaseki.

– Certo – Reiko suspirou e começou a brincar com uma mecha de seu cabelo molhado. – Ontem à noite quando eu vim dormir, o Ayano praticamente invadiu meu dormitório e me desafiou. Fomos até o campo para um duelo, porém, a condição era não usar kidou. Então, o resto você já sabe... Eu poderia ter impedido, entretanto, sem kidou eu não sou nada, esta é a verdade!

O taichou ficou sem saber o que fazer quando viu que Reiko começou a chorar, talvez ainda estivesse um pouco frágil por causa da luta na noite anterior. Ele colocou a mão no ombro dela e sorriu:

– Calma, Reiko... – Kensei estranhou o seu próprio jeito de lidar com a jovem, só naquele momento notou que a estava chamando pelo primeiro nome. – Nós vamos dar um jeito nisto. O problema é que tanto você, quanto Ayano desrespeitaram uma lei.

– Eu aceito o meu castigo, taichou.

– A prisão não é um bom lugar, você sabe bem. Podemos fazer um acordo! – Colocou ele enquanto coçava a cabeça, realmente não estava gostando de sua atitude, parecia até estar amolecendo. – Eu digo que você estava apenas treinando sozinha e em troca, quero que aprenda a usar a sua zanpakutou, certo?

– Hai... Vou me esforçar, eu prometo! – Reiko levantou-se e fez uma larga reverência. – Muito obrigada pela oportunidade!


– Também não precisa puxar o meu saco – caçoou ele após levantar-se. – Vou lhe dar o dia de folga!

– Mas... Tenho que fazer meus relatórios.

– Eu cuidarei disso.

Ela não quis discutir, um dia de folga seria muito bom para relaxar e refletir. Não entendia bem a mudança de comportamento por parte de Muguruma Kensei, afinal, ele tinha todo o jeito de quem jamais aceitaria que dois de seus shinigamis duelassem sem o seu conhecimento. Uma coisa foi aquele desafio no refeitório, outra foi a luta às escuras. Antes de sair, ela precisaria passar a tesoura no novo uniforme, não gostava do comprimento dele e o cortou até a altura de sua cintura, agora mais parecia um casaco. Reiko ajeitou o cabelo, só percebeu naquele momento que estava totalmente enredado, então, penteou-se e fez um rabo de cavalo.

– Finalmente... Cheguei!

Após quinze minutos, estava chegando ao campo de treinamento do Kyuubantai. Não poderia desapontar Kensei, até porque, a chance que ele havia dado para ela deveria ser única. Reiko sentou-se em posição de lótus e fechou os olhos, tentava esvaziar a sua mente. Chamava calmamente pela entidade que havia falado com ela na noite anterior, esperava ter uma visão ainda mais clara...

“Duas horas e nada...” – Ela calculava o horário através do sol, mesmo sob a sombra de uma árvore, estava muito quente.

“Não sei mais o que fazer! Por qual motivo você não fala comigo, zanpakutou?”

Estava começando a ficar estressada, tanto que pegou a sua zanpakutou e começou a sacudi-la, como se quisesse acordá-la. Quem a visse, com certeza a chamaria de louca e riria daquela cena. No fundo, ela sabia que não era daquela forma que entraria em contato com o ser que vira na noite anterior. Sem querer, deixou a zanpakutou cair no chão e a pegou de qualquer jeito pela lâmina, cortando um pouco o seu dedo indicador direito. Ela fez uma cara feia quando reparou que do corte saía sangue, colocou o dedo na boca e limpou a lâmina com um lenço que sempre trazia na cintura. Naquele momento, sua cabeça começou a doer, estava sendo forçada a cerrar os olhos e quando o fez, viu novamente a imagem do jovem de olhos vermelhos em sua mente. Ele sorria para ela de uma forma gentil, estendia as mãos novamente, desta vez vazias. Reiko ficou em dúvidas, achou estranho o fato de ele ter aparecido assim que limpou seu sangue da lâmina e lembrou-se que nas últimas vezes em que ele apareceu, ela também estava ferida. A voz dele parecia um trovão ressoando em sua mente, depois que se concentrou melhor, pôde ouvi-lo com clareza.

“Eu quero que você me tenha, Reiko-chan. Mas antes, preciso que me liberte, assim, também poderei libertá-la.”

“Mas... Como eu posso libertá-lo?” - Indagou mentalmente, acreditava no que via.

“Eu lhe direi o meu nome, no entanto, preciso de algo com o mesmo valor.”

“E o que seria?” – Reiko estava nitidamente perturbada. A energia que sentia arrepiava o seu corpo inteiro, não conseguia entender o porquê de tão bela criatura causar-lhe tais reações.

“Um sacrifício! Preciso do seu sangue e da sua carne. Após tê-los, você também me terá. Seremos um só ser, Reiko-chan.”

A oficial não acreditava no que estava ouvindo, como poderia conhecer a sua zanpakutou após realizar um auto-sacrifício? Não fazia sentido algum. Lembrava de já ter ouvido falar de shinigamis que precisavam se sacrificar para liberar seus ataques mais poderosos, porém, era só em um sentido figurado.

“Deve haver outro jeito... Se eu me sacrificar, não vejo como poderemos estar juntos. Por favor, me diga exatamente o que quer!”

O jovem aproximou-se de Reiko e acariciou o rosto dela, sua mão era fria e seus olhos exerciam um fascínio estranho na shinigami.

“Você deve confiar em mim, afinal, se estou aqui é porque o seu poder me atraiu. Prometo que não irá doer, Reiko-chan. Eu jamais pediria algo que pudesse feri-la de verdade. Um sacrifício será a sua libertação também. Renasceremos no mesmo instante, juntos!”

Reiko assentiu e ajoelhou-se no chão. Não estava com medo, o olhar doce daquela criatura acalmava o seu coração. Faria o que ele estava pedindo, afinal, tinha que manter a palavra que deu a Kensei e somente despertando a sua zanpakutou conseguiria. Ela respirava para concentrar-se melhor, alguns minutos depois, ergueu a zanpakutou e deixou a lâmina na direção de seu peito, segurando o punho com força, usando as duas mãos. Quando foi desferir o golpe final, ouviu uma voz que cortou a sua ligação com a criatura.

– O que está fazendo, sua estúpida?

Ela abriu os olhos, Kensei apertou as mãos dela fazendo-a largar a arma devido a força que empregou. Lágrimas escorriam em seu rosto, não sabia o motivo de estar chorando, mas parecia que o despertar tão brusco havia machucado-a no âmago. Em instantes assimilou o que acontecia, estava ofegante, nervosa.

– Taichou... – Sua voz saía num tom de súplica. – Me deixe fazer o que ele pediu, somente assim, saberei o seu nome!

– Do que você está falando? Está ficando louca? – Ele abaixou-se e segurou o queixo dela, tentando fazer com que olhasse para ele. – Exijo uma explicação, Takeuchi!

– Saia daqui, agora... Por favor. Assim que eu fizer isso, serei alguém de verdade!

– Imbecil! – Kensei empurrou Reiko e segurou a zanpakutou dela. – Isto só vai voltar para as suas mãos quando me explicar o que aconteceu. Agora, levante-se e vamos embora.

– Não! – Gritou e levantou-se. – Você não pode interferir no meu livre arbítrio! Eu vou fazer o que é preciso para libertar a minha zanpakutou...

– Afff... Takeuchi, desde que você chegou só me trouxe dor de cabeça. Não me force a bater em você! – Kensei a segurou pelo braço e a arrastou. – Vamos!

Já próximos à base do Kyuubantai, o taichou largou o braço da oficial e ela o empurrou com força contra um dos muros laterais, não havia mais ninguém ali. Reiko tomou distância e Kensei ficou estático, não entendia o que ela faria.

– Me perdoe, taichou...

A oficial esticou seu braço direito para o lado, deixando-o em uma linha reta à altura do ombro. Sua mão ficou semi-aberta, com os dedos quase esticados de forma que, o polegar era o único afastado dos demais e o mais semi-flexionado de todos. Já os outros quatro tedos estavam unidos e alinhados. Por entre esses, próximo da palma da mão, gerou-se a partir da reiatsu da shinigami uma concentração de energia similar a um átomo dourado, o qual era contornado por pequenos raios em sentidos diversos. Tal energia aumentou em intensidade e tamanho, cobrindo assim toda a mão de sua usuária. O formato era o mesmo anterior, porém, muito maior. Assim que finalizou a preparação – poucos segundos foram necessários – Reiko começou a desenhar no ar o formato de um triângulo. Desenhava-o ligeiramente diante do próprio corpo levando seu braço à frente e acima de sua cabeça, contudo, um pouco mais a esquerda de si, descendo com o mesmo à linha de sua cintura e posteriormente o puxando de volta para a posição inicial. A cada movimento feito pelo braço, uma linha dourada tomava forma e passava a ficar marcada no ar, sendo que, em cada extremidade do triângulo por onde sua mão repousou, uma concentração de energia idêntica àquela formada em sua mão ficava presente e vibrante. Ao que o desenho é finalizado, a silhueta da shinigami desaparece por alguns instantes, e neste momento, as energias concentradas nas três extremidades do triângulo tomam formato de uma espécie de garra. Quando esta mutação finaliza, a oficial surge novamente atrás do triângulo conjurando o nome da técnica, estando com sua base de pernas bem afastada lateralmente, tendo o seu joelho direito flexionado em 45º à frente, e a perna esquerda totalmente esticada.

– Bakudou número trinta... Shitotsu Sansen!

Assim que o fez, os três feixes de luz foram disparados um após o outro, mas em velocidade tão incrível que para olhos menos treinados poderiam ter parecido arremessados ao mesmo tempo. O destino de todos era preciso, dos dois primeiros, cada um cravaria em um dos braços de Kensei, e o terceiro, iria atravessar o tronco deste na linha de cintura, prendendo-o contra a parede. Os três feixes com um único objetivo: a imobilização total do taichou, mesmo que não o machucassem.

– Você vai pagar por isto, Takeuchi! – Ele falou tranqüilamente e sorriu de forma irônica. Reiko pegou a sua zanpakutou das mãos de Kensei e o fitou sem emoção. – Não faça isso!

Ignorando o grito de seu superior, ela o fez. A lâmina da zanpakutou perfurou o seu peito, logo, suas vestes e o solo ficavam tomados por sangue. De joelhos, Reiko retirou a lâmina de seu peito e segurou firmemente o punho, ao seu lado, surgia o jovem que ela só via em sua mente e Kensei também podia o ver. Ele aproximou-se de Reiko e colocou a mão direita sobre o ferimento dela, fechando-o por completo, como se tivesse sido um milagre.

“Reiko-chan... Meu nome é Raiden! Vamos... somente você pode liberar a minha verdadeira forma.”

Reiko não parecia ter sofrido nada, sequer hesitou, assentiu e cravou a zanpakutou no solo, aos poucos, a oficial liberava toda a reiatsu que escondia, era surpreendente. Kensei finalmente entendia como ela conjurava kidous tão potentes, mesmo sendo de níveis baixos, só não compreendia como alguém tão inexperiente podia controlar toda aquela quantidade de reiatsu.

– Ressoe com toda a sua fúria... Raiden!

Quando Reiko terminou de proferir tais palavras, Kensei reuniu forças e conseguiu livrar-se do bakudou facilmente, a energia que o prendia “quebrava-se” e desaparecia rapidamente. Para ele, o que estava acontecendo era inédito, nunca havia presenciado nada nem mesmo parecido. O jovem transformava-se em um demônio de asas negras, olhos vermelhos, presas afiadas e ao abrir a boca, emitiu um grito ensurdecedor, assemelhava-se à trovoadas. Seu olhar incandesceu quando se virou para o taichou e então, o céu ficou coberto por nuvens cinzentas, opressoras. De cada uma delas, vários raios começavam a surgir, concentrando-se nas mãos de Raiden quando vinham em sua direção. Em seu rosto horrendo, um sorriso macabro brotou e, sem mais, ele lançou contra Kensei uma poderosa descarga elétrica. Rapidamente, Reiko empunhou a sua zanpakutou e saltou, se colocando na frente de seu taichou.

– Eu controlo você de agora em diante!

Ela falou com veemência e usando a sua zanpakutou, absorveu o raio. Naquele momento, a criatura fundiu-se com a lâmina e Reiko desmaiou. Kensei conseguiu segurá-la antes que caísse e a tomou em seus braços, pegando também a zanpakutou dela. Chegou à conclusão de que ela havia usado energia demais e por isto, seu corpo não agüentou. Temia que a oficial não conseguisse domar o poder de sua zanpakutou e se perguntava o tempo todo em que levou para chegar até o quarto dela, o que era afinal aquela criatura?

3.1 - A Festa – Apresentando os oficiais do Kyuubantai

Uma semana se passou e Reiko continuava sem desempenhar as suas funções, não havia cobranças por parte de Kensei ou qualquer outro oficial do bantai, todos os que tinham um posto estavam cientes do processo difícil que Takeuchi Reiko passara para controlar a sua zanpakutou. Pela última vez naquele dia, por ordens de seu taichou, Mashiro batia à porta de Reiko para levar comida, precisamente o jantar. A resposta já era esperada, afinal ouviu a mesma coisa por vários dias. Sem discutir, Mashiro deu de ombros e saiu dali.

– “Não estou com fome”, é tudo o que ela diz, Kensei... Mashiro não agüenta mais! Vou derrubar a porta e fazer a Rei-chan comer à força.

– Até parece que é só você quem está de saco cheio – falou ele após um longo suspiro. Ele brincava com uma caneta, rolando-a por sobre a sua mesa de um lado para o outro. – Se isso chegar até o soutaichou, estou...

– Kensei! – Mashiro surgiu do nada atrás do Taichou e tapou a boca dele com uma das mãos. – Você não pode falar palavrões!

– Desaparece daqui – falou ele com a voz abafada por causa da mão dela. Estava paciente demais, até ela estranhava o comportamento dele. Fazendo justamente o contrário, a garota sentou-se sobre a mesa. – Mashiro... Você é meu teste diário de paciência, sabia?

– Eu tive uma idéia – seus olhos grandes e acinzentados brilhavam, ela estava muito próxima do rosto de Kensei. – Uma festa!

– Festa? – Inquiriu ele arqueando a sobrancelha esquerda. – Acha que isso ajudaria em quê?

– Reiko-chan teria que sair do quarto se soubesse que um evento oficial aconteceria. Kensei – chamou com seu jeito irritante. – Você mente para ela, eu vou começar a arrumar tudo para a festa.

– Não sei! – Ele jogou-se para trás na cadeira e colocou os pés sobre a mesa, bem no rosto da garota. – Bem, pela primeira vez em anos você tem uma idéia... Vou apostar. Leve alguns homens com você, acho que o salão de reuniões é grande o suficiente para isso e, por favor, gaste apenas o necessário. Não quero dor de cabeça depois, entendeu?

– Hai! – Assentiu ela empolgada. Quando desceu da mesa, saiu correndo e bateu a porta.

– Eu sei que vou me arrepender – concluiu o taichou pensativo.

No dia seguinte, Kensei viu uma jovem shinigami sair do quarto de Reiko e foi averiguar. Como sabia que ela não o atenderia caso seguisse o protocolo, entrou sem bater à porta. Ela estava sentada em sua cama, com um copo de suco em mãos. Usava um kimono fino, caro demais para uma nanaseki ter adquirido, afinal o salário não era tão grandioso. Ele não quis falar nada sobre a roupa, talvez estivesse enganado, já que não entendia nada sobre moda feminina.

– Tenho certeza absoluta de que você não errou de porta – falou ela com o cenho franzido. – Se é isto que veio saber, não sei quando vou voltar a desempenhar a minha função, ou se voltarei. Estou pensando seriamente em ir embora.

– Faça o que quiser – ele deu de ombros como se não se importasse, no fundo, preocupou-se com o que ela havia dito, mas tinha que manter as aparências. – Vim aqui para dizer que esta noite teremos uma reunião oficial e já que hoje você ainda pertence ao time, quero que vá. Aliás, é sua obrigação, se preferir usar este termo.

– E se eu não for? – Desafiou, encarava-o com firmeza.

– Vai ser penalizada por faltar aos seus compromissos como oficial e etc, etc... Odeio leis e você sabe! Então, facilite as coisas.

O taichou virou as costas e saiu. Reiko estava agitada demais nos últimos dias, não conseguiu se controlar e atirou o copo com suco na porta quando ele a fechou. Mal sabia Kensei sobre tudo o que ela ouvira há uma semana atrás, quando saiu de seu quarto no dia seguinte ao ter despertado a sua zanpakutou. Um grupo de homens formado por Ayano Katsuo riam e comentavam sobre ela, principalmente sobre o fato de uma shinigami com um cargo considerável só ter descoberto o nome de sua zanpakutou depois de tanto tempo. Levantavam várias hipóteses, até mesmo a de ela ter algum caso com alguém poderoso ou ser uma "nobrezinha" qualquer. Não poderia mais ficar em um lugar onde nem mesmo o funcionário mais baixo a respeitava.
Como se tratava de uma obrigação e ouviu que a reunião seria ao anoitecer, a shinigami vestiu seu shihakushou e a jaqueta branca do time. Queria ao menos passar a imagem de que não estava abalada com nada que pudesse ter acontecido, por isto, maquiou o rosto sobriamente, com uma sombra azul nas pálpebras, uma espécie de delineador preto e lápis de olho da mesma cor. Nos lábios passou um batom de tom rosado, todos os produtos eram trazidos do Mundo Real e faziam sucesso em lojas para mulheres. Não satisfeita, a shinigami abriu uma caixa de jóias que ganhara de sua mãe há muitos anos. Da caixa, tirou um prendedor de cabelo de ouro cravejado por diamantes e pequenos rubis, e fez um coque elaborado, finalizando com o prendedor. Parecia alguém diferente, já estava na hora de assumir quem era realmente, uma mulher bonita e com classe.
Reiko estranhou quando viu a porta do salão de reuniões fechada, normalmente ficaria aberta e com dois soldados na guarda. Não havia ruído algum e nem sinal de homens caminhando ali por perto. Só lhe faltava a reunião ter acabado, se tivesse acontecido, ela teria sérios problemas. Como estava com dúvidas, resolveu abrir a porta e para a sua surpresa – uma grande surpresa – o salão que estava escuro, foi iluminado por várias lanternas coloridas. Lá dentro, encontrava-se praticamente todo o bantai, Mashiro foi a primeira a gritar, e os outros homens acompanharam:

– Surpresa!

Reiko não sabia o que dizer, nunca havia visto os soldados sorrirem para ela, até mesmo Muguruma Kensei e os outros oficiais estavam contentes. Ainda não tinha entendido que a festa era pra ela, só soube quando leu em uma grande faixa no alto de uma parede a mensagem: “Bem vinda, Reiko-chan!”
Ela estava envergonhada, caminhava até a outra extremidade do salão onde Kensei e os outros estavam, enquanto isto, recebia reverências da grande maioria dos shinigamis. Somente quatro homens e uma mulher – algumas haviam sido aceitas há duas semanas no bantai – não a cumprimentaram, Ayano Katsuo e seus amigos fiéis. A nanaseki corava a cada reverência, assim que chegou perto de Mashiro, foi abraçada por ela.

– Rei-chan! Gostou? – Ela falou em voz baixa. – Os oficiais e até mesmo o Kensei ajudaram.

– Eu não sei o que dizer... Por que as boas vindas, se eu já estou aqui há quase um mês?

Kensei meneou a cabeça e olhou furioso para ela. Reiko entendeu o recado, resolveu sorrir para a fukutaichou e retribuiu o abraço. Agora olhava tudo com mais calma, além das lanternas coloridas, as paredes estavam decoradas com faixas e várias mesas repletas de comida e bebida, tudo com muita cor e enfeitadas com flores. Ela sentia-se mal, havia julgado todos do bantai tomando por base a atitude de poucos. Pela primeira vez parecia ter sido acolhida por um grupo de pessoas e não tinha como a maioria ter sido obrigada a tratá-la com gentileza. Reiko respirou, tomou coragem e resolveu agradecer, primeiramente fazendo uma reverência.

– Muito obrigada! Sinceramente, eu nem sei o que dizer... Nunca ganhei uma festa em toda a minha vida, então, ainda não sei descrever bem a sensação. Estou muito surpresa e muito, mas muito feliz! Quero pedir desculpas se um dia incomodei algum de vocês e espero de todo o meu coração, que neste momento está fazendo “doki doki” muito rápido, que vocês possam me ver como alguém que realmente faz parte deste time. Bem, não estou muito habituada com festas, mas sei que é sinônimo de diversão... Então, vamos nos divertir!

Reiko foi aplaudida, de repente, uma música bastante agradável começou a tocar, alguns já começavam a arriscar diferentes passos de dança. Sempre fora o costume em quase todos os esquadrões a apresentação de novos oficiais, isto era algo que Reiko estranhava não ter tido e aquele era o momento mais oportuno para tentar fazer um pouco mais de amizade com aqueles que estavam acima dela. Primeiramente ela foi até Kensei, fez uma curta reverência e colocou-se na frente de Gizaeimon Toudou, o rokuseki que estava ao lado do taichou. Dentre os quatro oficiais, ele parecia o mais sério. Tinha uma aparência estranha, não era bonito, seus cabelos pretos ficavam presos num rabo de cavalo e utilizava uma bandana de cor branca na testa. Ele a saudou, até sorria de forma sincera, mesmo assim, não parecia gostar tanto de conversas.

– Toudou-san, obrigada...

– Ah, Mashiro contou que nós ajudamos, é? – Perguntou ele tentando parecer simpático, apesar de gostar da presença da shinigami, não tinha costume de mostrar-se daquela forma.

– Sim! Quero que conte comigo para o que precisar – falou Reiko sorrindo.

– Eu farei ists! Você também, Reiko-san, pode contar comigo.

Reiko assentiu e foi até Kasaki Heizou, o sanseki, e Tousen Kaname, o goseki. Kasaki demonstrava ser simpático, apesar de todos o acharem carrancudo. Era careca, usava um bigode que Reiko achava engraçado. A voz dele era agradável demais e ele a cumprimentara sem que ela dissesse nada. Tousen também parecia simpático, apesar de Reiko não sentir-se bem perto dele. Usava uma máscara estranha no rosto e tudo o que ela sabia sobre ele é que era cego.

– Takeuchi-san, o que acha de uma rodada de sakê daqui a pouco? – Perguntou Kasaki de bom humor.

– Eu não sei, sou fraca para bebidas! Mas, vou tentar... Daqui a alguns minutos, certo? – Respondeu ela coçando a cabeça, sabia que não iria adiantar pedir para que a chamasse pelo primeiro nome, ele era formal demais para isto.

– Yoshi! – Ele fez sinal de positivo com o polegar. – Vamos, Tousen? Temos que reservar um pouco de bebida para o nosso grupo, logo, eles vão acabar com tudo!

– Vamos sim – respondeu Tousen com a voz um pouco abafada por causa da máscara. – Takeuchi-san, pode me considerar um amigo.

– É claro, Tousen-san – Reiko forçou um sorriso, não gostou quando ele passou por ela e tocou em seu ombro gentilmente. – Vejo vocês em breve!

No momento em que Reiko procurou por Mashiro para fazer-lhe um pedido, uma musica mais calma começou a tocar, os homens aproximavam-se das poucas mulheres que o bantai possuía, elas riam entre seu grupo, obviamente sua autoestima iria às alturas naquela noite. A nanaseki olhou para Muguruma Kensei, ele a observava de canto, encostado em uma parede de braços cruzados.

– Reiko-chan? – Ela sentiu uma mão em seu ombro, quando se virou, deu de cara com Eishima Shinobu. Dentre os oficiais, o yonseki era o mais bonito. Tinha os olhos esverdeados, cabelo ruivo passando os ombros e um corpo bem esculpido. – Ultimamente os costumes do mundo terreno estão por tudo aqui, resolvi então tentar aderir. Me concede esta dança?

– Ah... – Ela não sabia o que dizer, diferente dos outros casais de shinigamis que dançavam separados, ele a pegou pela mão e a levou para o meio do salão. – Não sei dançar muito bem...

– Nem eu – disse ele com um sorriso encantador.

Shinobu provou o contrário, de frente com Reiko, ele entrelaçou a mão esquerda com a direita dela e com braço direito, a envolveu pela cintura e a trouxe para perto dele. A shinigami estranhou aquela posição de dança, porém, intuitivamente colocou a outra mão sobre o ombro dele. Ele guiava-a num círculo imaginário, basicamente dois passos para um lado e outro, em movimentos graciosos. Reiko parecia flutuar depois de alguns minutos, Shinobu praticamente encostava a testa na dela, deixando-a sem graça. Vários shinigamis observavam a dança do casal, alguns casais tentavam imitar, sem muito sucesso no começo. Quando a música cessou, uma verdadeira valsa começou a tocar, provavelmente, Mashiro havia roubado alguns discos de Kensei, os mais alegres pareciam muito com o tipo de música instrumental que Hirako Shinji, capitão do Gobantai ouvia. Reiko sorriu para Shinobu, estava claro que ele só a deixaria ir se ela dançasse outra vez.

– Só mais essa – falou a shinigami próximo ao ouvido dele. – Ainda devo uma rodada de sakê para o Kasaki-san.

– Eu a acompanharei depois – Shinobu era o homem mais gentil que Reiko havia conhecido até então, um verdadeiro sonho para qualquer mulher, shinigami ou não. – Sei que o começo nunca é fácil, mas, eu estarei aqui para o que precisar.

– Arigatou, Eishima-san...

– Shinobu – corrigiu ele. – Não gosto muito de formalidades, somente quando a ocasião pede.

O coração de Reiko disparou quando ele a jogou para trás e a puxou de volta, um passo que não entraria muito bem em uma valsa, contudo, ele queria impressioná-la. Era estranho o fascínio que os olhos dele exerciam sobre ela, tanto que em situações normais, jamais teria aceitado aquela dança. Odiava danças, lembrava a obrigação de aprender a dançar de forma tradicional para várias cerimônias em sua família, não era uma boa lembrança.

– Shinobu-san, eu acho que deveríamos parar – propôs Reiko com um meio sorriso, não queria olhar diretamente nos olhos dele.

– Mas, acabamos de parar – o Yonseki riu, ainda estavam em posição de dança, parados no meio do salão enquanto uma música mais agitada começou a tocar. – Acho que você pegou o espírito...

Shinobu soltou a mão de Reiko, notou que ela estava com uma mecha de cabelo solta e arrumou atrás da orelha dela. Reiko já não era tão inocente, sabia bem que aquele não era um comportamento normal, o mais estranho é que ela não queria se esquivar, seu desejo era deixá-lo investir e ver até onde ele iria. Ela estava pronta para convidá-lo a beber algo, quando foi puxada bruscamente pela mão livre, como ainda estava praticamente “colada” a Shinobu e segurando no ombro dele, ele também foi puxado. Kensei olhava-a estranhamente, não parecia muito feliz e nem queria esconder.

– Pedi para colocarem uma boa música, espero que você dance comigo, Takeuchi... Temos que conversar!

Naquele momento Shinobu soltou Reiko e fez uma reverência, não podia contrariar o taichou, apesar de ter alfinetado:

– Taichou, não se interrompe uma dança a dois desta forma! Só vou aceitar porque estou com sede. Divirtam-se...

– Espere, Shinobu-san – chamou Reiko, ela encarava Kensei com fúria. – Você não vai ficar chateado?

– Claro que não, depois dançaremos outra vez! – Respondeu ele tentando disfarçar a frustração.

Kensei ignorou o olhar de Reiko e a envolveu pela cintura, ela colocou os braços envoltos ao pescoço dele, mas manteve certa distância. Ele havia sido grosseiro demais e ela queria deixar claro que não gostou daquela atitude. Quando a música começou, ele teve que guiar os passos dela, Reiko mantinha o corpo duro, tudo o que mais pedia era para que aquela dança terminasse logo, todos os shinigamis estavam olhando a cena entre eles. A jovem oficial resolveu olhar para o rosto de Kensei, ele era muito mais alto do que ela e isto ficava visível devido a proximidade de ambos. Ele a guiou até um canto próximo à porta, ali, a música não era tão alta.

– Ainda não entendi o porquê de repente vocês acharam que eu sabia dançar...

– Nem foi por isso que eu a convidei – Kensei parou de dançar, entretanto, continuou segurando-a pela cintura. – Só quero saber se reconsiderou a respeito do que me disse antes.

– É claro que reconsiderei! – Afirmou Reiko com alegria. – Depois disso tudo, só se eu fosse louca...

– Tem algo a ver com o Eishima? – Indagou pegando-a de surpresa.

– De onde você tirou isso?

Ela não obteve resposta, pela porta surgiu uma Borboleta Infernal, Muguruma Kensei afastou-se de Reiko e a mensageira pousou em seu dedo indicador direito. O taichou suspirou largamente e se dirigiu ao meio do salão, imediatamente a música cessou.

– Ouçam! – Falou ele em voz alta. – Alguns hollows surgiram no quinto distrito de Rukongai... Peço que continuem aqui, porém, fiquem em alerta caso precisemos de reforço. Os oficiais e eu cuidaremos de tudo. Mashiro, fique em guarda aqui no bantai, entendeu?

– Certo! – Gritou ela, parecia preocupada.

Os quatro oficiais e o taichou correram em direção à porta, Reiko não sabia bem o que fazer. Quando eles dobraram para o corredor, Kensei voltou e a puxou pelo braço.

– Você vem também, Takeuchi! Será uma boa experiência...

Reiko não quis discutir, só estava envergonhada por ter sido puxada por ele até o portão leste, conhecido como Hakutoumon. Ela não entendia o motivo de Kensei estar segurando tão forte a sua mão, parecia até que não confiava nela. Chegando ao quinto distrito, os hollows foram avistados, eram três, pareciam lagartos gigantes. Isso não intimidou os oficiais, até mesmo Reiko parecia tranqüila, a não ser pelo que ela viu alguns segundos depois ao fim de uma ruela.

– Taichou! O que é aquilo? – Perguntou com os olhos arregalados, apontava na direção da criatura estranha.

– Um Menos! Como é possível? – Espantou-se o taichou, ele olhou para os oficiais e assentiu. – Cuidem dos hollows!

– Sim! – Os homens gritaram e sacaram as suas zanpakutous.

A shinigami ficou sem saber o que fazer, Kasaki e Toudou foram à direção de um hollow, Shinobu e Tousen foram até os outros dois. Eles pareciam gostar daquele evento, tanto que até estavam com uma expressão de satisfação.

– Nada de shikai, lembrem-se da nossa aposta! – Gritou Kasaki. – Uma noitada de sakê sairia muito caro para qualquer um de nós...

– Do que vocês estão falando? – Reiko colou-se ao lado de Tousen, contudo, não tirava os olhos de Kensei.

– O taichou fez uma aposta conosco... Quem utilizasse primeiro a shikai, pagaria uma noite de sakê para todos – respondeu Toudou, ele saltou agilmente e fez um corte no corpo do hollow.

– Ah, sim – Reiko tentou sorrir seguindo o embalo dos companheiros. – Será que...

– Cuidado, Reiko-chan!

Ela ouviu a voz de Shinobu, quando se virou, ele estava atrás dela, abrindo os braços para protegê-la de algo que ela não conhecia ainda. Tudo aconteceu muito rápido, uma forte rajada de energia na cor vermelha acertou o peito do yonseki e ele caiu aos pés de Reiko. Ela não sabia como reagir, outro Menos se revelava diante deles e preparava mais um ataque, visava-a novamente como alvo.

– Salpique os ossos da besta! Topo da torre, cristal vermelho, círculo de aço. Mova-se e faça o vento. Pare e traga a calmaria. O som das lanças hostis preenche o castelo vazio! Hadou número sessenta e três rokujuusan, Raikouhou!

Ao contrário da conjuração normal do hadou, Reiko elevou a sua zanpakutou e a apontou para a criatura, ao mesmo tempo em esta emitiu um grito anunciando que lançaria o cero, na ponta da lâmina de Reiko foi se formando um globo de ondas elétricas. Ela fez um movimento para trás com a zanpakutou e em seguida lançou seu ataque contra o Menos, porém, a descarga elétrica foi bem maior do que o normal.

“Me empreste um pouco do seu poder, Raiden...”

O ataque de Reiko conteve o cero, ultrapassando-o, e acertou o menos, descarregando toda a sua fúria sobre ele. Todos os presentes puderam ouvir o som de trovões ressoando e o grito de uma criatura ao fundo, não era nada parecido com o que já ouviram antes. Aproveitando que o menos ficou muito ferido por causa do ataque, os oficiais foram para cima dele e o atacaram.

– Cuide do Eishima-san – gritou Kasaki para Reiko. - Vou pedir reforço ao Yonbantai!

Ela assentiu e sentou-se no chão, com as duas mãos, deitou parte do corpo de Shinobu em seu colo. Ele estava com um ferimento muito grande no peito, sangrava demais. Kensei ainda lutava contra o Menos, então, a oficial tinha que tomar uma decisão.

– Shinobu-san... Vou levá-lo até o Yonbantai, não temos como esperar mais! Seja forte, por favor...

– Reiko-chan, você precisa ajudar os outros... Por favor.

Ele pegou na mão dela e a apertou, sua pele estava fria, a respiração fraca demais. Ela tinha medo de movê-lo dali, ao menos, tentaria aquecê-lo. Reiko retirou a sua jaqueta e a colocou sobre o corpo de Shinobu, em seguida, o abraçou. Ele tentava manter os olhos abertos, estava muito próximo ao rosto dela.

– Eu não sei... Se... Vou resistir – balbuciou ele. – Vá ajudá-los... Você pode prender o...

Reiko não sabia o que fazer para ele parar de falar, então, selou os lábios dele com um beijo inocente. Shinobu com muita dificuldade colocou a mão sobre o rosto dela, a acariciou e desmaiou. Em poucos minutos os shinigamis do Yonbantai chegaram, Reiko os ajudou a colocar o companheiro sobre uma maca e o viu sendo levado. Kensei surgiu do nada atrás dela, guardava a zanpakutou na bainha.

– Você fez o possível para ajudá-lo, não se preocupe. Eishima é forte, mais do que qualquer um de nós!

O taichou pôs as mãos sobre os ombros de Reiko e a apertou, queria acalmá-la. Todos confiavam na capacidade de Unohana Retsu e seu bantai, era mais do que certo que Shinobu ficaria bem em poucos dias.
Três dias depois, uma enfermeira entrou no quarto em que Shinobu repousava no Yonbantai e se deparou uma cena bastante atípica, Reiko e Kensei dormiam no sofá próximo à cama, ela estava encostada no ombro dele, com a haori de taichou sobre o seu corpo. A enfermeira não quis fazer barulho, porém, reparou que o paciente acordava, então, teve que falar com ele. Os dois acompanhantes acordaram na mesma hora, Reiko ficou enrubescida quando notou aonde havia dormido, entregou a haori de Kensei e tentou sorrir para ele.

– Reiko-chan – chamou o Yonseki, parecia ter recobrado totalmente a consciência. – Taichou... Obrigado por tudo.

– Shinobu-kun! – Reiko foi até ele e com a permissão da enfermeira, sentou-se na beira da cama. – É tão bom ver você... Desculpe-me pelo que aconteceu – lágrimas começaram a surgir nos olhos da shinigami, sentia-se culpada por ele a ter protegido. Achava que se tivesse sido mais ágil, não teria colocado a vida do companheiro em risco. – Um dia eu vou recompensá-lo!

– A sua amizade já é uma grande recompensa. Sei que não nos conhecemos muito bem, mas quero que você também veja em mim um amigo...

– Mais que um amigo, Shinobu-kun– ela aproximou-se e beijou a testa dele. – Um irmão.

Ele sentiu uma pontada no peito, mas não podia ignorar o que viu na noite passada. Quando abriu os olhos pela primeira vez após ter ficado inconsciente, no sofá, Kensei não parava de observar Reiko enquanto dormia, tanto que havia se preocupado em cobri-la e em passar o braço por cima dos ombros dela, para que ficasse mais confortável e aquecida. Era uma pena a shinigami não ter visto aquela atitude do taichou, todavia, o yonseki queria que um dia ela pudesse ver e reparar um pouco mais naquelas pequenas atitudes. Por mais que gostasse da oficial, deixaria o caminho dela livre para alguém que demonstrava gostar dela talvez mais tempo que ele, apesar de não falar nada. No fundo, Shinobu jamais esqueceria do calor dos lábios dela junto aos seus. Queria estar errado sobre os sentimentos do taichou por Reiko, todavia, tinha plena consciência de que somente alguém como Muguruma Kensei poderia protegê-la sempre.

– Ah, Eishima-san – falou Kensei com bom humor. – Eu devo uma rodada de sakê para todos vocês, então, trate de melhorar o quanto antes!

– Você usou a shikai contra o Menos, taichou? – Perguntou Reiko, ela deu uma cotovelada no estômago dele. – Que vergonha!

– Só um pouco – Kensei coçou a cabeça e tentou mudar de assunto. – Você não tem nada para fazer, Takeuchi?

– Taichou... Você está amolecendo! – Zombou Shinobu. – A Reiko-chan quase deu um jeito no menos com um hadou, esta foi a minha última visão naquela noite...

– Hunft! – Kensei deu de ombros. – Eram quatro contra um menos, dê um desconto, eu fui sozinho!

– Você só lembra disso, Shinobu-kun? – Reiko olhou para baixo, tentava não deixar transparecer o seu nervosismo quando ele tocou no assunto. – Não viu mais nada mesmo? Quero dizer...

– E o que você queria que ele visse? – Cortou Kensei. – Ele lá estava em condições de ver algo?

– Tudo bem, taichou – falou Shinobu com doçura. Ele pegou a mão de Reiko deixando-a sem jeito. – Realmente só me lembro disso e de ter ouvido o bramir de uma criatura junto a trovões. Acho que esta parte foi loucura...

– Não foi, mas isso é história para a “festa do sakê” – garantiu Reiko. Ela levantou-se e passou a mão no cabelo do yonseki. – Agora descanse para podermos festejar, certo?

– Vamos, Takeuchi! – Kensei pegou Reiko pelo braço e a puxou, estava ficando campeão naquilo. – Até mais tarde, Eishima-san.


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