Meio-sangue escrita por gsiqc


Capítulo 7
Parada em Nebraska


Notas iniciais do capítulo

maaais um capítulo! espero que gostem, hein? kkk



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– Estou ficando cansada, Elliot. - resmungou a garota, segurando-se debilmente nas penas da cabeça de Trillian, O Grifo, que na verdade era fêmea, e que só se descobriu mais tarde. Já estavam sobrevoando as grandes planícies de Nebraska e o céu começava a escurecer e dar sinais de que logo iria chover.
– Só mais um pouco, já estamos chegando à cidade. - respondeu, dando uma longa olhada vertiginosa para baixo. A única coisa que se podia ver era uma estrada de terra, uma longa estrada de terra poeirenta que se estendia ao horizonte. O sol se punha, sombriamente brilhante. Com a voz sonolenta, Summer murmurou para Trillian:
– Dá pra ir mais rápido, garota? Estou morrendo de fome e queria dormir um pouco. Você também parece um pouco cansada...

E o Grifo piou, agitando as asas e planando mais alto. Aumentou a velocidade e em poucos minutos sobrevoaram algumas casinhas distantes de campo e pequenas fazendas. Depois de um tempo, a cidade já estava a vista. Alguns prédios apareceram em seu campo de visão e linhas tortuosas de faróis de carros já eram visíveis. Trillian remexeu as suntuosas asas novamente e emergiram no alto de um denso cúmulo-nimbo e começaram a descer preguiçosamente em seus contornos. O vento batia em seus rostos agora furiosamente, indo de encontro ao chão, o ar subindo em espiral e descendo como sicômoros caindo da árvore no outono, só que na direção contrária.

Enquanto caía vertiginosamente e nauseantemente, Summer constatou que, se fosse ficar vagando pelo céu acreditando em tudo o que Elliot havia lhe dito sobre os gregos durante a viajem, quando na verdade mal sabia usar uma espada, ou explicar por exemplo porque os deuses nunca vinham ver seus filhos, estariam em um problema mortal. A ideia a atormentava, então resolveu apenas esperar que tivessem uma boa aterrissagem.

Infelizmente, lá em cima alguém brincava com eles.Trillian deu um piado agudo, assustando os dois de repente. Estava feliz em encontrar uma área arborizada na cidade para aterrissar e de tanta euforia acabou batendo em uma figueira e despencou pelos galhos até conseguir parar as enormes asas.
Infelizmente Elliot e Summer despencaram de seu lombo também, caindo na grama molhada e fazendo o maior estrondo.
– Ai!
– Você está bem? - perguntou Elliot, levantando-se cambaleante.
– Tudo ótimo! - Respondeu ela, os olhos semicerrados. Limpou a bota cheia de lama e olhou na direção de Trillian, que rolava pela grama como extrema alegria agora. - Ótimo, pelo menos alguém está feliz. Vamos, Elliot, ela vai ficar bem até voltarmos.

Elliot seguiu Summer e foram em direção a alguns bares e restaurantes da rua principal. A rua estava apinhada de gente andando de um lado para o outro, por isso não foi difícil se misturar. Summer entrou em um restaurante e foi direto para o banheiro trocar-se, enquanto Elliot escolhia uma mesa e lia o cardápio. Estavam com tanta fome que nem se deram ao trabalho de escolher o restaurante.

Quando voltou, Summer ouviu Elliot pedir enchiladas e rosbife. Não gostava muito de enchiladas, mas pela cara de Elliot ao ler o cardápio, presumiu que ele sim, e muito. Não que o Sátiro fosse muito exigente com a comida, mastigava desde pulseiras de latão a toalhas de mesa...E então Elliot a contemplou, intrigado com as vestes estranhas da garota.

– Uau, quem é você e o que fez com Summer... ? - Elliot olhou para a garota, lembrando-se de que não havia perguntado seu sobrenome antes. - Qual é o seu último nome?
– Bell. - disse a garota num sussurro inaudível.
– O que?
– Bell! Summer Bell. - Gritou, de repente muito interessada no remendo de suas botas. - Tudo bem, é constrangedor. Por favor, não ria.
– Mas o que tem de tão engraçado? O fato de você se chamar "Sino de Verão"? - disse o sátiro, ignorando-a e tendo uma crise de risos. - Tem razão.
Summer revirou os olhos e pegou o cardápio, resmungando sobre o quanto Elliot era idiota.
– Mas então, o que fez com suas roupas? - Disse ele, depois de se recuperar das risadas. - Você está parecendo um... ah deixa pra lá, não vou dizer isso.
A garota olhou para si mesma, surpresa com o comentário. Vestia uma calça jeans preta enfiada dentro das botas, uma camiseta branca - finalmente - limpa, e o casaco de nylon camuflado. Em sua opinião, parecia normal.
– Olha aqui cara, vou enfiar uma besta Excalibur bem no meio do seu traseiro se não parar de reclamar.
– Certo, tudo bem. Só estava comentando a sua falta de estilo...

Summer olhou mais uma vez para ele, seriamente incomodada. Já devia ter aprendido a não importar-se com o que os outros diziam, mas sempre tinha vontade de socar todo mundo quando a criticavam, e isso contava... quase que o tempo todo. E agora, não sabia bem o porque, sentia uma vontade mais do que o normal de discutir e bater em Elliot.
– Como tem coragem...? Você não passa de um idiota que só fala besteiras! Nem mesmo conseguiu me defender daquele monstro, Lâmia, e se não fosse por mim seria morto pela Trillian também. Porque não cala essa maldita boca? - Elliot baliu e olhou ao redor, desviando o olhar da garota. Sem perceber, começou a mastigar o tampo do pote de sal que estava em sua mão. Summer revirou os olhos e ficou observando as pessoas lá fora. Não queria se aborrecer com Elliot, nem gritar com ele. Era só que...estava se sentindo muito agressiva no momento e confusa, precisava descontar em alguém.

Logo a comida chegou, echiladas para Elliot e rosbife para Summer. Além, é claro, de algumas latas de Coca a mais do que o necessário, e pacotes de amendoim torrado. Elliot fingiu que não havia ouvido nada e continuou a tagarelar.
– É para a viajem. - Explicou ele, a boca lotada de molho. - Gosto de mastigar latas quando estou nervoso. E amendoim. Quero dizer, quando sinto esses cheiros estranhos também. É uma coisa que acontece normalmente, mas quando me dou conta, fico nervoso e começo a mastigar as coisas...
– Aham. - respondeu ela, muito interessada na comida.
– E estranho, estou sentindo esse cheiro aqui. Você não? É meio nojento, principalmente para um restaurante. Devíamos ter escolhido melhor. Conheço um em Nova York que servem enchiladas frescas! Dá pra acreditar? Não é todo restaurante que serve enchiladas. E essas aqui são da semana passada, aposto com você dois dracmas!
– Aham... estou entendendo.
Elliot encarou Summer, que comia distraidamente enquanto ele falava sem parar, tentando ignorar o que ela havia dito antes sobre ele ser estúpido.
– Sim, mas você já disse isso.
A garota levantou uma sobrancelha, um sorriso debochado no rosto.
– É mesmo? - disse, e fez um muxoxo, os lábios se contraindo para baixo - Normalmente essa é uma expressão que uso muito quando eu não estou mais interessada no assunto. Você não cansa de ser irritante?
O restaurante, Summer percebia agora, era bem rústico e cheio de tralhas. Havia algumas velharias transformadas em decoração como uma enorme e velha máquina de moer alguma coisa e facas enormes de caça dependuradas na parede. E o chão de concreto, velho e manchado, rangia e chapinhava um barulho estranho sob um mero calçado de sola de borracha. Quando viu, havia alguém parado ao seu lado observando-os com um sorriso.
– Estão gostando da comida? - Perguntou a garonete, os olhos negros brilhando intensamente, e um sorriso surgindo de seus lábios. - Porque hoje é dia de enchiladas! E isso significa que levam mais uma de graça se comprarem duas!
Elliot quicou na cadeira ao ouvir, mal contendo a animação.
– É sério? Nem acredito na minha sorte! Traga mais duas então, vou levar para viajem.
A mulher sorriu para o Sátiro e anotou no bloquinho que tinha em mãos. Depois se virou para a garota, sorrindo superficialmente e mexendo inconscientemente no cabelo preto e extenso.
– E você, não vai acompanhar seu namorado e pedir enchiladas?
Summer arregalou os olhos, pega de surpresa. Engasgou-se com a coca e precisou de um minuto para se recompor. Ao ver seu constrangimento, Elliot sorriu amarelo e disse:
– Ah, não, não. Ela não é minha namorada. - E riu, sem graça. - É minha irmã sapatão.

Summer arregalou mais ainda os olhos, cuspindo o resto de coca para todo lado. Lançou um olhar homicida a ele enquanto a mulher, nada surpresa e rindo daquele jeito de novo, se afastava da mesa com o bloquinho de papel nas mãos.
– Você ficou maluco?!
– Ué, você bem que poderia ser minha irmã sapatão. Não há nada de errado nisso.

A garota suspirou, massageando as têmporas. Voltou sua atenção para a comida enquanto o Sátiro voltava a tagarelar sobre como enchiladas frescas eram difíceis de encontrar.
Mas Elliot de repente parou de falar. Seus olhos vagaram de mesa em mesa no restaurante, aflitos e inquietos como na festa do orfanato, na noite anterior. Levantou o nariz e inspirou, as mãos tremendo, algo em sua expressão alarmando que estava desconfiado.
– O que foi?
Ele continuou inquieto na mesa, olhando desesperado para as pessoas no restaurante, cada vez mais agoniado.
– Conheço esse cheiro. Parece... Monstro!

Summer praguejou, prevendo que o garoto a arrastaria dali no instante seguinte. Enfiou o máximo de comida que pode na boca e Elliot levantou-se, quase derrubando a mesa no chão. Puxou seu braço e saíram correndo do restaurante.
– De novo? Não é possível! Esses monstros nunca desistem?
– Espera, espera. Não é monstro... - Elliot inspirou o ar pela décima vez, e passou as mãos pelo pescoço, a respiração falhando. - É mais como perigo. E sinto como se o ar estivesse inquieto aqui.
Summer achou estranhíssimo o que o garoto dissera, mas achou melhor não contrariá-lo como da outra vez.
E então deu uma olhada rápida para o restaurante, e a garçonete atendia outro cliente, mas Summer pode jurar que ela os estava olhando, um sorriso cruel no rosto e os olhos negros mais profundos do que o mar.
– O que...?!
– Éris! Como pude ser tão estúpido?... A garçonete é Éris, deusa menor da discórdia, irmã de Ares! - Gritou Elliot, exasperado. Tentou correr, mas seus pés doíam e ele quase caiu no chão ao tentar ser rápido. Segurou-se em Summer, um temor muito grande tomando conta de seu corpo inesperadamente. - E ela nos viu... Percebeu quem somos.
– Tudo bem, não sei quem é Éris. Mas não é um monstro, certo? Talvez possamos dar o fora daqui antes que ela venha atrás de nós. - E puxou Elliot, caminhando normalmente e tentando parecer que não estava desesperada também.


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Notas finais do capítulo

"Éris, é a deusa que personifica a discórdia na mitologia grega. Corresponde à deusa romana Discórdia. Seu oposto é a Harmonia, correspondente à Concórdia romana."



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