Meio-sangue escrita por gsiqc


Capítulo 3
A batalha do beco




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– Você está brincando, não é? Quem são vocês? O que eu estou fazendo aqui?! - Choramingou a garota, tentando manter a calma e a arma no punho. Olhou suplicantemente para Elliot e ficou mais assustada ainda. Ele segurava uma flauta de bambu extensa enquanto olhava com aversão para a mulher.

Summer então reparou nela, pensando que com certeza não havia visto aquilo durante a festa. Ela tinha olhos vermelhos como pequenas chamas em órbita e o rosto branco como cera. Mas não era bem uma mulher. Tinha o corpo de mulher, mas o tronco terminava numa enorme e grotesca cauda de serpente, que sibilava e choaqualhava sem parar no chão poeirento e sujo da rua. Percebeu que o assovio que ouvira ao longe vinha de sua cauda. – Você... Isso é uma cobra nas suas pernas?

A mulher riu, uma risada grotesca e sibilante.
– Ele não te disse nada ainda? Nada sobre os monstros? Coitadinha... Eu estava na festa me divertindo bastante, havia muitas criançinhas bonitinhas por lá, não? Mas senti seu cheiro, Meio-Sangue. Delicioso. Ah, e a propósito, sou Lâmia, Rainha da Líbia.
– Que se tornou um demônio devorador de crianças. - Completou Elliot, colocando a flauta em sua boca logo em seguida e tocando uma música estranha.

Summer olhou para o garoto ao seu lado e então entendeu.

"Hum...Você sabe algo sobre mitologia grega?"
Do chão começaram a brotar raízes grossas e trepadeiras que prenderam a cauda de serpente da mulher e a fez se irritar, os olhos chamuscando em vermelho vivo.
Exibiu suas enormes presas e arrancou com as mãos a raiz de sua cauda.
– Seu sátiro idiota, acha que vai me deter com raízes?! - E começou a rir novamente, se arrastando até eles.

Summer brandiu o punhal, se concentrando na mulher. Ela arreganhou suas presas, o rosto a centímetros da garota. Elliot começou a aumentar o ritmo da música, fazendo raízes mais grossas ainda impedirem-na. Mas ela tinha unhas tão afiadas quanto uma faca, e cortou as raízes com destreza. O garoto então começou a acertar ela com a própria flauta.
– Saia do meu caminho, seu estúpido! - Disse, jogando Elliot contra o muro. A garota tentou golpeá-la com o punhal, mas não teve sucesso. Quando viu que o garoto havia desmaiado correu até ele.
– Elliot! - Gritou Summer.. Mas Lâmia se aproximou dela com rapidez, sibilando sua cauda em volta da garota. Summer sem pensar, fez o que lhe pareceu mais natural, e acertou um golpe com o punhal nela. A mulher-cobra se desviou e arreganhar mais ainda as presas, mostrando que não iria ser vencida fácil assim. E no instante seguinte caiu sobre a garota, cravando seus enormes dentes no braço dela. Desequilibrada, a garota caiu, e o punhal de bronze foi parar longe. Elliot conseguiu se levantar novamente, mas assim que o viu se aproximar, a mulher-cobra foi ao encontro dele e enroscou sua enorme cauda em volta do garoto, fazendo-o sufocar e desmaiar.
– Elliot! Me ajude! - Gritou Summer, desnorteada. Sua visão estava turva, e ela não tinha forças para se levantar. O veneno começava a formigar em seu braço.
– Agora é a sua vez, criança. Vou lhe sugar até não restar nada, nem uma gota sequer de seu sangue olimpiano e mortal!

E atacou mais uma vez, jogando o corpo da menina contra o muro de concreto. Depois da pancada, fez questão de cravar as presas afiadas em seu braço com lentidão, prolongando a dor e aproveitando-se da falta de defesa da garota. E a queimação que sentiu sob a pele foi tão intensa que Summer perdeu a consciência por alguns instantes, os pensamentos completamente perdidos. Ouvia os ruídos esganiçados e sibilantes da mulher, mas seu corpo não reagiu. Inerte, Summer tentou mexer os pés, mas tudo doía, desde os fios de cabelo até os dedos do pé.

Ao seu lado, a flauta de bambu de Elliot descansava. Pensou nele, caído, nas palavras confusas que havia dito. Pensou em tudo o que seria aquilo, e no que Lâmia acabara de dizer: "Seu sangue olimpiano e mortal".

Summer então pegou a flauta e acertou a cabeça da mulher, fazendo-a se retrair. Acertou outra vez, cravando a flauta nos olhos em chamas da mulher e empregando toda a força que ainda tinha. Aproveitou o momento de distração, e se arrastou o mais rápido que pode até o punhal. Mas Lâmia era rápida, e a alcançou com fácil maestria, arrastando-a pelo chão e apertando todo o corpo da garota com sua cauda escamosa. Apertou tanto que Summer não conseguiu respirar, e sentiu como se todos os ossos de seu corpo estivessem se quebrando lentamente.
– Não...consigo - Sufocou, as palavras morrendo em sua boca. Sentia os olhos escurecerem, o veneno desbravando suas veias e o topor tomando conta de seu corpo. Estava perdendo os sentidos, um a um, enquanto Lâmia vencia a queda de braço. Sabia que estava perdendo. E o pânico se alastrava cada vez mais. Gritou sem voz, implorando pela vida.

Então fechou olhos,derrotada.

O punhal. Lembrou-se. Elliot tinha lhe dado o punhal.

As mãos queimavam, sentindo o bronze frio debaixo delas, incendiando seu corpo. Pegou-o, agarrou-o com toda a sua vida e levantou a lâmina enquanto esperava. E embora soubesse que não tinha mais forças, sentiu que não precisava mais se preocupar. Desmaiou, sem lembrar-se de mais nada.

Lâmia se aproximou, soprando seu hálito quente na nuca da garota e brandiu as presas. Felizmente, o punhal ainda estava firme nos dedos de Summer e atingiram a escama dura de sua cauda assim que ela se curvou sobre a garota para lhe sugar todo o sangue do corpo.

E finalmente.

Finalmente tudo escureceu, perdendo-se no resto da neblina da noite e encobrindo todos os rastros da luta que houvera ali. Nada sobrara, além do silêncio.


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Notas finais do capítulo

*Na mitologia grega, Lâmia era uma rainha da Líbia que tornou-se um demônio devorador de crianças. Chamavam-se também de Lâmias um tipo de monstros, bruxas ou espíritos femininos, que atacavam jovens ou viajantes e lhes sugavam o sangue.
Diversas histórias são contadas a respeito de Lâmia. Sua aparência também varia de lenda para lenda. Na maior parte das versões, contudo, seu corpo, abaixo da cintura, tem a forma de uma cauda de serpente.



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