Meio-sangue escrita por gsiqc


Capítulo 11
Chalé 11




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- AI! Que merda, seu imbecil! Não é pra machucar, viu só, que droga você fez? - resmungou um campista, olhando feio para sua dupla e com a voz tão alterada que muitos pararam para ver o que era. - Isso é um absurdo, não deveriam deixar uma idiota que nem você usar uma espada!
E apontou para o talo que rasgava sua bochecha de cima a baixo e empapava sua camiseta de sangue. O garoto que era sua dupla, um menino loiro baixinho olhava acuado para seu rosto.

- Desculpe, não era a minha intenção...

- O que foi Kurt? - Perguntou Travis, indo ver o que acontecia.

- O que foi?! Esse idiota; olha só o que fez... - Ele limpou o sangue que ia escorrendo pelo pescoço, a expressão irritadíssima.

- Precisamos de um curandeiro de Apolo, alguém, pegue o primeiro campista do chalé 7 que estiver mais perto! - Gritou Travis, sentando-se na beirada da arquibancada com Kurt, para ele se acalmar. Dois ou três campistas saíram correndo, se mexendo graças a cara feia que Kurt fazia.

Summer se aproximou, depois de jogar bem longe um graveto para Sra. O'Leary pegar. Desceu as escadinhas e parou ao lado de Travis, enquanto os outros campistas que treinavam se aglomeravam em volta dos dois.

- Não está tão ruim assim. - Disse ela de repente, lembrando-se de seu braço depois da mordida de Lâmia. Lembrar daquilo lhe dava náuseas.

Kurt olhou para ela, dando-se conta de sua presença. Seu olhar homicida pairou sobre ela.

- É porque não é com você! - respondeu, esburacando-a com o olhar. - Nem sequer estava treinando, o que é que está fazendo aqui?

- Ela só estava vendo como treinamos, chegou hoje. - explicou Travis. - Quíron disse que era melhor ela ter aula de esgrima quando o braço estivesse melhor.

- Ah, não, tudo bem, Travis. - Disse Summer, tendo uma ideia de repente. Sabia lidar com idiotas metidos como Kurt.

Abaixou-se e abriu um pedaço do zíper da bota, o suficiente para retirar do guarda-canivetes de couro que Elliot havia lhe dado o saquinho de remédios de sempre, porque  carregar remédios na meia, na opinião do sátiro, era algo repulsivo.

Travis a olhou, surpreso, enquanto ela tirava o saquinho e entregava para Kurt um quadradinho de ambrosia.

- Tome, não me lembro do nome disso, mas me fez ficar melhor. - E sorriu, surpreendendo os campistas ali em volta. Ninguém saia por ai com um saquinho de remédios e ambrosia guardados em uma guarda-canivetes dentro da bota. Kurt bufou e relutantemente comeu a ambrosia.

- Por que tem remédios na sua bota? - Perguntou Travis. - Tem dinheiro ou outra coisa ai escondida também?

Summer revirou os olhos e pegou um pedaço de algodão. Molhou no tubinho vazio de pomada que havia enchido com néctar ainda na viajem, e mandou Kurt calar a boca. Limpou o sangue cuidadosamente e passou um pouco da pomada para ferimentos envenenados e cortes profundos, arrancando resmungos e espasmos do garoto.

- Ai, faça ela parar, Travis! - Gemeu ele, agarrando o braço de Summer com força, enquanto ela permanecia irredutível até acabar. Travis ria com Connor, fingindo um acesso de tosse.

Finalmente, os dois garotos que haviam ido buscar os curandeiros de Apolo chegaram, carregando uma menina de olhos arregalados e esbaforida, o cabelo muito claro grudado no rosto cheio de suor.

- O que foi que aconteceu?! Jessie me tirou da aula de arco-e-flecha, disse que era grave! - Disse ela, abrindo espaço entre a meia dúzia de campistas aglomerados em volta de Kurt.

- Ah, não, tudo bem. É só um corte, já limpei. Você tem curativos ai? Acho que ele precisa de uns pontos. - Respondeu Summer, se virando para a garota.

- Ahn... - resmungou ela, um pouco tonta. Seu rosto estava pálido, quase verde. - Não sei bem. Deviam ter chamado o Will, não sou boa com isso. Porque não o levamos a Quíron, ele vai saber o que fazer...

Kurt revirou os olhos e saiu andando a passos duros em direção à casa grande. Resmungou alguns palavrões sobre "filhos de Apolo que não sabem curar" e depois sumiu de vista.

- Tudo bem, vamos lá! - Gritou Travis, limpando o suor da testa suja de fuligem. - Onze, reunir! A aula de esgrima vai ser cancelada hoje. Todos para o chalé, e depois da aula de grego antigo estão livres para esvaziar alguns bolsos por ai.

Summer acenou vagamente para a Sra. O'Leary e sorriu para a garota do chalé de Apolo, e depois se juntou aos campistas, de volta ao chalé 11.

O resto da semana passou tão rápido que Summer nem se deu conta. Estava se divertindo nas aulas de esgrima (em que constatou com absoluta certeza de que esse não era seu dom eterno), cuidando de Trillian depois do almoço e tendo aulas de grego antigo com Connor.

A vida no acampamento era simples. Não arrumou confusão com ninguém, não precisou bater e sair correndo, ou usar roupas doadas de outras crianças. Tinha apenas de ajudar na limpeza do chalé, coisa que já estava bastante acostumada, e aprender a usar espadas e escudos antes de sair por ai querendo vencer a captura da bandeira.

Em compensação, Elliot não aparecia fazia cinco dias, e Summer não tinha a menor ideia de onde ele estaria. Queria contar o que estava acontecendo, conversar com ele e dizer o quanto tinha sido bom ele aparecer de repente lá no orfanato. Queria contar que agora não tinha só um amigo, mas o alguns campistas novatos do chalé de Hermes e alguns de chalés vizinhos.

Havia conhecido uma garota meio louca do chalé de Íris, e andara conversando bastante com um garoto que havia chegado a pouco tempo como ela, do chalé de Ares. Parecia que ele também tinha o inútil hábito de bater e sair correndo.

  Na segunda, enquanto tomava café da manhã após uma oferta generosa de seu presunto para Hermes, Travis avisou que iriam ter aula de arco-e-flecha de novo. Perguntou solenemente se alguém queria quebrar o braço junto com ele para não ter que ir, e suspirou de forma tão frustrada que todos da mesa ficaram com pena dele.

- Não sei o que há com aquelas flechas malditas, mas nunca consigo acertar nada, nem a bunda do meu próprio irmão.

Connor revirou os olhos, a boca cheia de pudim de pêssego.

- Flechas são como trolls da montanha. – Concluiu Mandy, uma garota ruiva que adorava se meter onde não era chamada. – Trolls da montanha são como raiozinhos de sol entrando pela fresta da janela de manhã...

- Sem filosofia a essa hora da manhã, Mandy... Se eu não mandar você calar a boca agora, não para nunca mais. – Disse Connor cuspindo pêssego em quem estivesse perto. – É só uma hora de aula, agarrem-se nisso.

- Eu gosto de arco-e-flecha. – Resmungou Summer, meio triste em saber que era a única que mantinha a opinião. Garfos caíram de mãos atentas, e um silêncio pairou sobre a mesa 11. Todos olharam assustados para ela. – Que foi?

- Porque você é a melhor de nós em arco-e-flecha, obviamente. E sabe-se lá o porque... – Disse Travis, muito espantado. Levantou da mesa e arrastou-se de volta para o chalé a fim de terminar a limpeza.

Alguns minutos depois, o chalé onze reuniu-se na área circular perto da floresta para a aula de arco-e-flecha. O chalé estava desfalcado, faltando um ou outro que alegaram estar com dor de cabeça ou qualquer outra coisa idiota. Kayla, a garota de cabelos loiros curtos do chalé de Apolo esperava perto de um dos alvos, segurando um arco dourado reluzente.

O sol estava brilhando, e refletia no cabelo dela tanto quanto no arco, cegando todo mundo que olhasse muito.

- Bom dia. – Disse ela, sorrindo sem graça. Percebia-se que ela estava tão empolgada quanto o chalé de Hermes para a aula. – Peguem os arcos que separei para vocês.


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