Meio-sangue escrita por gsiqc


Capítulo 10
Velhos Conhecidos




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Summer deu um passo à frente, e correu os olhos pelo rosto dos campistas lá dentro. Alguns mal-humorados e desconfiados, outros com um sorriso idiota, alguns a olhando como se esperassem uma oportunidade de limpar seus bolsos.

- Então esse aqui é o chalé 11? - Disse ela, entrando no chalé com entusiasmo, mais até do que gostaria. Não costumava ter muita sorte com lugares novos.

 Lá dentro estava uma bagunça, sacos de dormir pelo chão, meias e lençóis em cima da mesinha de madeira e a parede era um pouco descascada, mas Summer não se importou com nada disso. Era hora da limpeza, e todos os inúmeros garotos e garotas ali faziam suas tarefas rindo e se divertindo, jogando sabão uns nos outros e varrendo seus pés enquanto outros faziam as camas.

- Sim. É modesto. - Disse um garoto alto de cabelos castanhos cacheados. Summer reparou que ele tinha a sobrancelha arqueada, o sorriso malicioso e basicamente a expressão muito parecida com a de seus inúmeros irmãos: nariz pontudo, olhos espertos e provavelmente era o tipo de criança que os professores classificariam como muito encrenqueiro.

- Eu achei incrível. - Respondeu, surpresa que um monte de garotos e garotas da sua idade vivendo juntos não estivesse se matando ou batendo uns nos outros.

- Sou Travis Stoll, o conselheiro-chefe. Elliot disse que você é indeterminada, não é? É muito estranho para sua idade, somos normalmente reclamados com 13 anos.

- Ah, não se preocupe. Sou uma aberração da natureza, isso recentemente foi provado pela comunidade científica. - Summer sorriu e correu os olhos pelo chalé outra vez, tentando adivinhar onde é que dormiria. Não parecia haver espaço e nenhum beliche sobrando.  - Onde vou dormir?

Travis pensou um pouco, porque ainda não havia lhe ocorrido à ideia. Depois pegou da mão de um garoto que passava, um saco de dormir camuflado enrolado numa corda grossa de acampamento.

- Ei! O que está fazendo? - Perguntou ele, indignado.

- Ué, você foi reclamado, não foi? É um filho de Deméter, aposto que lá vai ter uma cama macia e confortável para você com balinhas de menta no travesseiro e uma plantinha fofa na cabeceira. Não vai precisar.

O garoto fez cara feia ao ouvir plantinha fofa.

- Mas é meu. Trouxe de casa.

- E quem se importa? - Travis deu as costas ao garoto e entregou o saco a Summer. A garota riu e agradeceu. - Ainda tenho que lhe arranjar algumas roupas, certo? Vamos ver o que temos na loja do acampamento.

E quando estavam saindo, se depararam com um garoto alto, de cabelos castanhos cacheados, e sobrancelhas arqueadas igualzinho Travis, com o mesmo sorriso divertido no rosto vindo em sua direção.

- Acho que estou tendo um Deja Vu... - Disse Summer para si mesma.

- Oi! - Disse ele. - Sou o Connor. Soube que tínhamos uma campista nova. Vim dar as boas vindas.

Summer sorriu e ficou olhando para a cara dele, tentando imaginar se eram gêmeos mesmo ou só parecidos. Reparou que Travis era mais alto.

- Obrigada.

- E dizer, é claro, que é sempre bom tomar cuidado com a sua carteira. - Ele sorriu, colocando os braços sob o ombro dela.

- Não tenho carteira. - Respondeu ela, abrindo a bolsa de couro preto que ainda estava pendurada em suas costas. - Só barras de cereais. Seu pai é muito bonzinho, mas eu e Elliot gastamos o dinheiro todo. Quer uma moeda? Estas duas sobraram.

- Meu pai deu dinheiro a vocês, é? - Ele fez cara de aborrecido para as moedinhas de 10 centavos. - Viu só, Travis? Devíamos chutar a bunda dele.

Summer contraiu os lábios.

- E ainda não fizeram isso por quê?! - Summer tirou o braço de Connor de seus ombros. - Se eu soubesse quem são meus pais, já teria chutado a bunda deles a muito tempo.

Os três foram andando. Enquanto observava o acampamento, Summer percebeu que era bem maior do que tinha presumido enquanto estavam voando com Trillian. Os campos de morando e a floresta pareciam não ter fim.

Por outro lado, a loja do acampamento era uma saleta pequenininha com uma fachada laranja, que vendia roupas e utensílios de toalete e outras bugigangas estranhas. Travis se adiantou, destraindo a atenção da atendente antes mesmo de Summer pensar no que queria. Connor pegou o que estava ao seu alcance, e entregou a Summer duas mudas de roupa e algumas toalhas. Depois a puxou dali enquanto Travis se debruçava no balcão contando uma história.

- Não é fácil, sabe. Acho que ela faz de propósito, só para acabar com a graça. - Reclamou ele, andando as margens do lago. - Nos deixa roubar, e depois vai correndo contar a Quíron. É por isso que sempre somos os últimos nas aulas de arco e flecha, sempre temos que ficar alguns minutos a mais.

- Ah, isso é realmente ruim. - respondeu ela. - Eu costumava puxar as calças de uma garota dez vezes maior e mais gorda que eu no orfanato. Ela também sempre fazia de propósito, sabe? Ficar me chamando de Pernalonga... Ainda bem que sou bem rápida, porque com as pernas dela, não dá pra correr muito.

Connor riu, surpreso.

- Você fazia isso?

- Ah, sim. Minha estupidez é grande o bastante para isso. É que... Ah, não sei. Não consigo me controlar. Quando vejo já fiz.

- É! Também sinto isso. - Disse ele de repente, empolgado. - Uma vez coloquei aranhas no Chalé de Atena e só depois de rolar no chão de tanto rir é que me dei conta de que era uma coisa muito estúpida. Eles ficaram realmente apavorados. E Travis achou que elas não eram suficientemente grandes, pff.

- Aranhas não são tão ruins.

- Mas, são inimigas mortais dos filhos de Atena. Já deve ter o ouvido a história.

- Hã, talvez. Não me lembro. Deve ter sido engraçado. Mas precisava ver quando fiz um garoto do orfanato colocar um vestido rosa e uma coroa de princesa. Aquilo sim foi engraçado. Ele ficou gritando, tentando tirar o laçarote rosa da cintura. "Sua estúpida, volte aqui, vou torcer seus miolos!"

Connor riu e jogou a cabeça para trás. Travis voltou da lojinha e perguntou do que ele tanto ria. Summer explicou e continuou a contar as peças que havia pregado nos garotos do orfanato enquanto voltavam para o chalé. Já estava na hora do almoço e o pavilhão do refeitório começava a encher.

Após o almoço, os campistas do chalé de Hermes se reuniram na grande arena circular. Iriam ter aula de esgrima, mas como Summer tinha chegado a pouco tempo, ficou na arquibancada apenas observando, afinal mesmo depois de Quíron ter feito ela tomar inúmeros remédios com nomes estranhos dos deuses, seu braço ainda não estava bom.

Travis e Connor, que por acaso não eram gêmeos mas intercalavam as tarefas de conselheiro-chefe, lideraram as lutas em duplas. Cada campista tinha sua própria espada e depois de alguns minutos estavam empapados de suor, espadas desarmadas caindo pelo chão e gritos de raiva ecoando pela arena.

Então começaram a lutar de verdade, intensificando as estocadas e cutiladas básicas, passando pelos golpes para desarmar e defesa com escudo. A cada golpe, os campistas pareciam mais surrados e contundidos, e Summer, que particularmente adorava ver luta livre na TV, achou incrível.

De repente, tirando-lhe a concentração, ouviu passos vindos debaixo da arquibancada e virou-se para olhar quem era. Mal se deu conta do que poderia ser, e um cão enorme, preto e peludo, do tamanho de um rinoceronte apareceu em sua frente, babando por onde passava.

- Ai meu Deus, tem um cachorro do tamanho de um javali aqui! - Gritou, levantando-se, pronta para correr. O cachorro a olhava, confuso.

- Não, não corra Summer. É só a Sra. O'Leary. - Disse Connor, arfando. - É um cão infernal, mas não faz mal a ninguém, disso tenho certeza.

Summer arregalou os olhos para a palavra "cão infernal". Foi se afastando devagarzinho até ter certeza que o cão não iria atacá-la. Connor a incentivou a se aproximar e jogar algo para ela pegar, mas a garota estava apavorada. A Sra. O'Leary devia ter quase uns dois metros.

Depois de alguns minutos, olhando para a cara do cão sem reação nenhuma, sentou-se novamente, com cautela, o mais longe possível. Sra. O'Leary ainda a observava. E então subitamente, correu até a Summer, babando seu rosto e pulando em cima dela.

- Ahhh, me ajudem! - gemeu a garota, tentando se livrar da Sra. O'Leary. - Ela. Está. Me. Babando. Toda.

Os campistas riram. Summer lutava bravamente, desaparecida sob a pelagem densa e escura da cadela.

Logo depois se acostumou e permitiu que a cadela assistisse a luta ao seu lado, empurrando sua cabeçona para o lado o tempo todo, e jogando pedaços de gravetos para ela, na esperança de que a cadela se perdesse na floresta. Infelizmente Sra. O'Leary era incansável e fez Summer jogar gravetos para ela mais do que gostaria. No fim, a garota acabou toda babada e cheia de pêlos pela roupa, mas seu medo lentamente se transformou em afeição, e ela passou a gostar da cadela mais do que gostaria também.


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Notas finais do capítulo

s2 Sra O'Leary



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