Meio-sangue escrita por gsiqc


Capítulo 12
Determinada




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Connor pegou o arco e sorriu para Summer, olhando de soslaio para ela.

- Acho que eu não tinha reparado o quanto ela é...reluzente. – E riu, apontando para Kayla.

Summer concordou distraída, não percebendo o interesse dele. Pegou um dos arcos do arsenal de Kayla e escolheu um alvo. Felizmente teve a ideia de olhar para o lado antes, e acabou vendo a cena mais engraçada que já havia presenciado. Kurt, com toda aquela pose, tentava soltar a flecha do arco, mas o arco estava do lado errado e a linha acabou prendento seu dedo. Summer estava rindo muito, mas presumiu que ele havia ferido sério o dedo, porque ele gritava e fazia caras estranhas exageradas quando se deparava com o dedo inchado. Largou o arco no chão e começou a resmungar sobre flechas idiotas que prendem aonde não deviam, enquanto o chalé inteiro ria dele. Summer se contorcia de rir também. Já havia reparado que Kurt não tinha coordenação motora nenhuma, porque viva ralado, machucado e cheio de talos na mão. O que era muito engraçado, é claro, mas a fazia lembrar-se de como machucava-se com frequência no orfanato também.

Porém uma coisa era fato, e isso ninguém discutia. Kurt andava engraçado. Não como Elliot e os demais sátiros, mas era engraçado. Parecia ter algum tipo de coisa importante e imaginária na cabeça, porque andava com tanta cautela e pose, que se imaginava tratar de alguém presunçoso. Tinha os cabelos castanhos desgrenhados, um topete alto apontando, e costeletas saindo pelos dois lados. Os olhos, eram a coisa mais estranha e bonita que Summer já havia visto, o que fazia ele se gabar mais do que o possível quando mencionavam o fato. Eram cor violeta, e as vezes quando o sol batia, ficavam azuis ou dependendo da quantidade de luz, verdes. Como os olhos daquela atriz famosa dos anos 50, Elizabeth Taylor. O que soava particularmente gay. Também tinha problemas em ficar quieto por muito tempo, o que era anormal até para um meio-sangue, que tem déficit de atenção. E, de acordo com Elliot e os irmãos Stoll, que por acaso também eram seus irmãos, tinha um indesejável hábito de dar em cima de todas as garotas que passavam na frente dele.

- Precisa de ajuda? - Perguntou Kayla, abafando o riso.

- Não. – Resmungou ele, e pegou novamente o arco do chão, dessa vez do lado certo. Tentando parecer digno, exibiu o braço forte e bronzeado para a garota, enquanto esticava o arco.

Summer então apontou para o alvo, concentrando-se. Connor remexia-se ao seu lado, acertando desajeitadamente flechas na madeira do alvo. Disparou a flecha, mas errou e ela adentrou a floresta, perdendo-se entre as árvores. Kayla olhou para ela e fez um muxoxo, sem nenhuma vontade de ir lá pegar a flecha de volta. Summer então foi até lá, tentando imaginar onde a flecha caíra.

Kurt resmungava outra vez, e tão alto que dava pra ouvir a metros de distância.

Enquanto andava pela floresta, Summer reparou que ali era incrível, e constatou que nunca tida estado em uma antes. O ar era diferente, os sons, as cores, e era tão maravilhoso que nem se deu conta de onde estava indo. Era bom estar ali. As flores pareciam muito mais coloridas, e as árvores pareciam estar vivas. O acampamento era o tipo de lugar que sonhara conhecer a muito tempo, e pensava se mais uma vez, não estava mesmo sonhando. Esqueceu momentaneamente da flecha que tinha ido pegar. Quando deu-se conta, tinha ouvido um barulho estranho como um rosnado aproximando-se e um farfalhar de folhas contínuo bem perto de onde estava. Não ouvia mais os resmungos e risos do chalé de Hermes lá trás, só o silêncio cortado pelo esmagar de folhas de alguém. Devia estar longe do círculo dos alvos, e Kayla devia estar vindo atrás dela, pensou.

Mas enganou-se erroneamente. O barulho não era de gente, mas sim de animal. O rosnado se aproximava cada vez mais e Summer recuou alguns passos, temerosa. Estava pronta para correr e gritar, mas suas pernas travaram e tudo que saiu foi um grito assustado quando viu o enorme lobo na sua frente. O animal era enorme, a boca cheia de baba escorrendo e os olhos vermelhos inchados fitavam-na com urgente fome. Seus dentes se arregalaram por cima da pele e ele afiou as unhas rapidamente na pedra, avançando contra ela tão subitamente que não deu-lhe tempo de reagir. Inesperadamente, com tamanha surpresa que mal pode se conter, Summer gritou outra vez, mas as unhas do animal rasgaram sua blusa e arranharam seu ombro com rapidez, antes que ela pudesse acerta-lo com o arco que ainda estava em sua mão. O lobo livrou-se do arco quebrando-o em pedaçinhos, e abocanhou a perna de Summer como se fosse marshmallow. Summer gritou tanto que ficou até sem ar, sentindo o sangue escorrer pela calça e empapando a grama e a boca do animal com rapidez. A garota foi perdendo a consciência, e os sentidos se apagando. A última coisa que sentiu antes de desmaiar completamente foi um par de mãos segurando sua cabeça e uma lâmina atingindo algo duro bem perto dali. Alguém gritou por ela, mas tudo já ficava escuro e se apagava. Lembrou-se do dia em que Lâmia também desnorteou seus sentidos. Lembrou-se da sensação, mas a dor nem sequer chegava perto...

Quando acordou, ainda estava na floresta. Estava deitada com a cabeça no colo de Kayla enquanto ela passava alguma coisa em seu braço. Summer sentiu tudo doer, a cabeça, o ombro, as pernas, sentia que dor alguma que já sentira na vida se comparava com aquela. Em volta dela, todo o chalé de Hermes se espremia para ver o que estava acontecendo, e dois minutos depois mais dez campistas de outros chalés apareceram com Quíron, o centauro.

- O que aconteceu, Kayla? - Perguntou ele, abrindo espaço entre os campistas.

- N-não sei. Um lobo apareceu do nada, eu acho. Summer veio pegar um flecha perdida e só ouvimos seu grito. – Disse ela, tremendo. Não gostava nem um pouco de sangue, e havia sangue para todo lado agora. – Nós o matamos, mas ele a arranhou, e mordeu a sua perna também.

Kayla mostrou os ferimentos enquanto os olhos de Summer giravam nas órbitas de tanta dor.

- Venha me ajude a levá-la. – Disse Quíron em tom urgente. Mas percebeu que estavam todos muito apavorados e decidiu quebrar a tensão. – Parece que seu gosto é ótimo, Summer... todos os monstros querem provar.

Mas algo extraordinário aconteceu. Summer fechou os olhos de repente e não sentiu mais dor alguma afligir o corpo. Estava deitada numa pequena clareira e o sol inundava seu rosto. Não sabia se era sonho ou verdade, ou mesmo como tinha ido parar ali, mas estava aquecida e confortável. Já estava acostumada a não ter mais noção de quando seus sonhos tornavam-se realidade. A sensação apenas se propagou, inundando seu ombro ferido, e depois as pernas. O sol aquecia desde seus olhos até as pontas dos dedos, e parecia que se estendia ao chão, enquanto ouvia bem perto do ouvido uma música rala e baixinha, como um piano ao longe. A grama estava seca, sem sangue algum mais, e a ferida em sua perna ia se fechando lentamente, tão suave como o sol de manhã. A música ia crescendo, aumentando de volume, incendiando seus ouvidos. Summer ofegou, sua respiração ia aumentando o ritmo também. Parecia querer dançar. Seguia o ritmo da música e as sombras das arvores sobre ela se juntavam na melodia.

Mas de repente tudo ficou escuro outra vez, tão repentino como havia começado. Escuro e silencioso. Alguém sacudiu seu corpo e ela abriu os olhos.

- SUMMER!

A garota acordou com o susto e percebeu que todos olhavam assustados também para ela. Não passara-se nem meia hora. Sentou-se na grama e olhou para Kayla, suplicando uma explicação. Mas no instante seguinte Quíron inexplicavelmente curvou-se em sua direção, e todos que estavam ali também o fizeram.

- Está determinado. – Disse o centauro, enquanto alguns campistas sufocavam uma exclamação de surpresa e olhavam para algo que ela não sabia o que era.

Summer olhou também, supresa com o que via. Bem em cima de sua cabeça um holograma de luz dourada girava. Uma lira tão brilhante quanto o sol.  

- Seu pai... – Disse Kayla, tão espantada que sua voz saiu um fiapo. – Quero dizer, meu pai.

- Seu pai? - Repetiu ela. - O que é isso?!

- Sim, Apolo. – Disse Quíron. – Deus da música, da poesia e das artes. Pai da medicina e do Oráculo de Delfos. Summer foi reclamada, finalmente: filha do Deus-Sol.


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