- Jennifer, querida, vamos analisar os fatos.

 - Não temos que analisar nada, Piper! – Eu disse, em meio às lágrimas irritantes que desciam sem parar pela minha bochecha. – Ele vai me abandonar! Ponto! Fim da história!

 - Jenny... – Ela tentou me acalmar. – Lembra quando você o conheceu?

 - Lembro... – Respondi.

*

“ – Jennifer Connor? – Um garoto de cabelos lisos e olhos verdes penetrantes, chegou perto de mim. – O que a rainha da escola está fazendo na detenção? – Ele tinha um sorriso torto malicioso e parecia se divertir com meu estado.

– Te conheço? – Eu estreitei meus olhos para ele.

– Ah não, não conhece. Ninguém me conhece. – Ele me encarou com sarcasmo. – Não sou Ninguém.

Ignorei quando ele continuou me encarando. Baixei os olhos para o texto que eu tinha que copiar por castigo.

– Você sabe que não perdemos nada se não concluirmos os castigos. Não sabe? – Ele falou.

– Estou ocupada. – Eu respondi secamente.

– Sei... – Ele sorriu perversamente e depois voltou para onde estava antes de vir me atrapalhar.

Eu me lembro de já ter visto aquele garoto antes, andando pelos corredores. Ele era um daqueles adolescentes que gostam de usar roupas pretas e passar lápis no olho. Eu nunca cheguei perto desses grupos, mas agora estava ele, olhando fixamente na minha direção.

– Então, Ninguém, não tem nada mais pra fazer não? – Eu perguntei ainda olhando meu caderno.

– Não. – Ele deu de ombros. – Se você não sabe, eu vivo pra encher o saco das pessoas que entram nessa sala.

Eu o olhei incrédula, mas com um meio sorriso no rosto.

– Eu sou a sortuda de hoje?

– Quem sabe. – Ele olhou para as unhas pintadas de preto e colocou os pés em cima da mesa.

– Senhor Dekker! – Uma voz grossa trovejou da porta. – Por favor, sente-se direito e conclua seu castigo! – O professor coxinha, de matemática, estava parado na porta e tinha um olhar fulminante em cima do garoto.

Eu abafei um riso ao olhar a cara de espanto que ele fazia.

– Vamos. Acabem logo o castigo e vão embora. – O professor sentou na cadeira que ficava de costas para a lousa e nos olhou severamente até o fim da detenção.

Passaram-se mais ou menos uma hora em que os três ficaram em silêncio. O professor tirava um cochilo por alguns minutos, mas então despertava alerto, com os olhos arregalados. Procurando ver se eu e o garoto estávamos fazendo tudo certo, para depois voltar a dormir novamente.

– Senhor. Terminei. – Eu levantei e entreguei duas folhas escritas completamente, frente e verso. O professor aceitou depois de conferir e eu peguei minhas coisas para sair.

– Hey. Princesa! – Ouvi uma voz rouca atrás de mim enquanto eu andava pelos corredores.

– Não me chama assim. – Eu retruquei enquanto continuava a andar.

– Que isso? Que falta de educação! – Ele se fez de ofendido. – Eu só ia perguntar se você vai à festa do Mark na sexta.

– Você vai? – Eu estreitei os olhos e o vi de rabo de olho.

– Estou pensando. – Vi de relance um sorriso malicioso em seus lábios. – E você?

– Se eu aparecer lá e te ver, eu volto na hora. – Eu disse ríspida vendo-o me ultrapassar.

– Ah, então você vai. – O garoto confirmou, enquanto se virava para me encarar e andar de costas. – Então... Nos vemos depois. – Ele piscou e voltou a andar normalmente. Saiu da escola e virou em uma esquina. Não o vi mais depois disso.”

*

 - Então você lembra que o Nicholas e eu não nos dávamos bem. – Ela sorriu, provavelmente lembrando-se de tudo que tínhamos feito no ano passado.

 - Aonde quer chegar? – Virei meu rosto para ela e vi seus lindos olhos verdes me encararem.

 - Estou dizendo que eu não gostava dele, até descobrir o grande homem que ele é. Jenny, você realmente acha que ele vai te abandonar? – Ela não me deixou responder. – Ele te ama. Muito. Sei disso. E você também sabe.

 Comecei a soluçar. Parecia que minhas lágrimas já haviam secado.

 - E, mesmo que esse tal de Peter for mesmo filho dele, eu sei que o Nick nunca vai te abandonar.

 - Mas... Piper... – Ela me olhou de um jeito amável. Como se eu fosse uma filha com o coração quebrado por causa de um ursinho de pelúcia que fora rasgado.

 - Shh. “Mas” nada, senhorita. Quer dormir aqui hoje?

 - Sua mãe não vai gostar. – Sorri, secando as lágrimas que molhavam minha bochecha.

 - E eu lá ligo para o que ela vai ou não gostar? – Ela colocou as mãos na cintura fina e me olhou com uma sobrancelha levantada. – Você vai dormir aqui, sim senhora.

 - Piper? – Chamei.

 - Hn?

 - Obrigada. – Ela sorriu e nós vivemos um daqueles momentos de “Melhores Amigas Para Sempre”.

* * *

Um mês depois.

Sabe... É realmente difícil passar um mês evitando o homem que você ama. É pior ainda ver uma vadia como a Nadia andar com ele. Mesmo que o garoto ignore-a, é cortante ver que ela está se aproveitando da situação para ficar com... O Nicholas.

 - Vamos! Anime-se! – Andrew me pegou pela cintura e me levantou do chão. – Hoje é o último dia de aula! Amanhã nós já podemos dormir até tarde...

 - Vocês podem acordar tarde, meus amigos. – Corrigi, enquanto lutava, inutilmente, para ser colocada novamente no chão. – Eu não consigo dormir até tarde.

 - Por quê? – Piper perguntou, vindo atrás de nós.

 - Tenho medo que a Katherine corte meu cabelo enquanto eu estiver dormindo. – Sorri, ainda suspensa pelos braços do loiro.

 - Hey... Vocês não acham uma injustiça, sermos liberados dos estudos assim, tão perto do Natal? – Amani fechou a cara, sentando-se perto da gente.

 - Faltam quantos dias? – Perguntei, voltando ao chão.

 - Uns cinco, eu acho. – Piper deu de ombros.

 - Uau... – Me surpreendi. – Não sabia que estávamos tão perto. Tenho estado tão ocupada...

 - Você foi ver a bolsa para a universidade, certo? – Andrew perguntou, enlaçando a namorada pela cintura.

 - Fui. – Respondi, dando de ombros.

 - E aí?

 - Fui em Harvard. Mandei tudo o que tinha que mandar e sentei com a secretária para falar sobre as bolsas. – Suspirei. – Acho que vou ter que trabalhar dentro do campus para conseguir bolsa de alguma coisa.

 - Mas você vai fazer que curso?

 - Jornalismo. – Respondi. – Por quê?

 - Vê se tem uma vaga no jornal da universidade. – Andy deu de ombros.

 Sorri e comecei a tomar uma lata de coca-cola que o Amani tinha deixado ali em cima da mesa.

 - Jenny? – Piper me chamou, ainda nos braços do namorado.

 - Hn?

 - Tem como você ir lá em casa na quinta feira? – Ela sorriu e eu fiquei desconfiada.

 - Por quê?

 - Nada não. – Ela sorriu ainda mais e eu revirei os olhos.

 - Tá, eu vou.

Se eu não conhecesse a Piper, diria que o café mexeu demais com o sistema nervoso dela.

Mas, infelizmente, eu a conheço bem demais, para saber que ela está escondendo alguma coisa.