Com o brilho do crepúsculo matutino em seu rosto sereno, Julie acorda. Ela se espreguiça, boceja e tem preguiça de se levantar, mas ela precisava ir procurar escola com seu pai. Quanto mais cedo fosse, talvez mais cedo conseguisse resolver essa tarefa chata. Pensando assim, ela se levanta e desce da cama para ir se arrumar. Daniel ainda estava dormindo, coberto dos pés à cabeça com edredom, ao ver isso Julie ri. A noite tinha sido bem fria. Julie segue se arrumando, procurando não fazer barulho para que não acordasse Daniel.

Quando termina de se arrumar e de tomar seu café da manhã, seu pai também está pronto, então estavam de saída. Julie queria que Daniel fosse com ela, mas ele ainda estava dormindo. Ela chega perto de Daniel na cama. Ao menos avisá-lo ela o faria.

– Daniel.. – Ela sussurra calmamente, colocando sua mão sobre Daniel. Ele estava ainda todo coberto, então não dava para ter certeza direito de onde estaria colocando sua mão. Ela torcia para que fosse apenas o ombro.

– ..Hm..?

– Eu vou sair com meu pai, tá?

– ..Hm..

– Tchau..

Julie sente vontade de abraçar Daniel antes de sair, mas ignora essa vontade e se dirige para a porta. Em seu caminho, ela tem vontade de pelo menos dá-lo um beijinho na bochecha. Ela olha para trás, mas Daniel estava com o rosto coberto também. “Para de bobeira, Julie..!” Ela pensa, então sai de casa com seu pai.

Por volta de meio-dia, Julie e seu pai chegam em casa, cansados, eles pesquisaram e andaram muito atrás da melhor escolha para colégio. Ela vai até seu quarto, e como esperado, Daniel já não estava mais lá, e também em nenhuma parte do apartamento.

– Ele deve ter ido ‘espairecer’. – Julie diz para si mesma. Ela vai tomar um banho para poder almoçar.

Enquanto isso, Daniel estava andando pelas redondezas, pensando em como as coisas estavam sendo agora. Ele sentia muita falta de sua guitarra, a qual já tantas vezes o fez se sentir melhor, sentir-se vivo. Ele tem saudades de seus amigos, de poder conversar com eles. Mas estar com Julie compensava muito. Entrando de acordo com sua introspecção, ele se sentia muito feliz de poder estar perto de Julie, poder, com seus próprios olhos, assegurar-se de que ela estivesse bem e não apenas por notícias se tivesse ficado em Campinas, como seus amigos. Nesse momento, Daniel se lembra de Martim. “E posso protegê-la de predadores mulherengos como ele.” Daniel pensa. Para ele, tudo estava bem, tão bem que ele chegava a irritar lhe um pouco. “Foi desnecessário eu ter falado aquilo para a Julie ontem de noite, mesmo que seja verdade..” Daniel suspira e olha para o céu azul.

– Ela é linda... – Ele admite. – Mas serviu para alguma coisa, acho que ela ficou feliz de ouvir isso. – Daniel tenta mudar o curso de seus pensamentos. – É isso, eu só estava pegando leve com ela, apoiando pra ela não ficar triste com essa mudança, é.. e geralmente é isso que faço pelos amigos, os ajudo. Amigos... – Ele se esforça convencer-se de seus motivos, mas falha ao pensar nessa última palavra envolvendo ele e Julie. – Só poderíamos ser ... amigos? - Daniel percebe que está falando sozinho. Resolve voltar para o apartamento e deixar o assunto desse diálogo consigo mesmo para trás.

Nesse meio tempo, Julie não tinha nada de bom para fazer no apartamento. Ela tinha procurado Bia no msn, mas não a viu online, então estava conversando com ela por sms já havia alguns minutos, sentada no sofá da sala.

– Bia, tem que reclamar com o cara da internet! Nem conseguimos terminar de conversar ontem. E eu queria conversar com os meninos também ahh! Diz pra eles que eu estou com muita saudade, tô sofrendo aqui sem a banda..– Julie fala e digita em seu celular ao mesmo tempo. Ela recebe a resposta de Bia, onde diz “Eu já reclamei, mas ele só diz que está resolvendo. Paciência.. Pode deixar que eu falo e mostro sua mensagem pra eles. E o Daniel?”.

– Ah sim! Ele disse que quando puder vai falar com o Martim! Já é ótimo, mesmo não sendo ele que quis de primeira. Digo isso porque ele disse que vai falar com Martim por ser importante pra mim.. Amiga, ele tem sido uma graça comigo. – Julie envia. Logo Bia responde: “ Ótimo mesmo, e quanto mais cedo melhor, quando minha net voltar vou chamar o Martim, e você coloca o Daniel aí no msn, o que acha?.. Daniel, uma graça? Me conta detalhes disso!!”.

– Boa ideia, amiga, eu topo! E, bem... – Julie pensa na melhor forma de explicar. – Ele meio que me disse que eu sou.. bonita. – Julie sorri e envia. Mas estranhamente sua mensagem não foi mandada. Julie nota que está sem sinal da operadora. – Ahh que isso!!! – Julie se joga no sofá, se sentindo derrotada, parecia que o mundo juntava forças para tirar seus motivos de alegria. Ela está muito triste, mas não queria se sentir assim, então liga a televisão para se distrair. – Legal, um filme de romance pode me ajudar. - Julie se ajeita deitada no sofá para ver o filme.

Ela mal presta atenção ao programa, mas o assunto dele a faz lembrar-se de Daniel na noite passada, do que parecia que ele iria fazer ao se aproximar dela. Lembrar disso a fez sentir uma onda de calor. Ela ignora e decide tocar um pouco para passar o tempo. Ela pega seu violão e vai para a varanda, onde corria um vento bem fresquinho. Ela começa a cantar.

– Ninguém consegue ver o jeito

Que seus olhos brilham sem querer

Toda vez que você sorri. – Julie segue tocando com os olhos fechados.

Se eu pudesse escreveria lindos versos de amor

Só pra ter você aqui... - Ela se desconcentra e para de tocar. Julie poderia tocar essa música pensando em Nicolas.. ou até mesmo para aquele menino loiro que nem conhecia. Entretanto, nunca havia passado por sua mente tocar essa música pensando nessa pessoa, essa música e nem qualquer outra, mas aconteceu, ela se sentia num clima tocando para -- Daniel...

– Eu. – Daniel aparece.