Humano escrita por Lady Baginski


Capítulo 2
Munição




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/195185/chapter/2

Era somente mais um dia infeliz, logo terminaria. A sensação desagradável de ter que se preocupar com não desperdiçar munição era uma coisa sempre um tanto irritante. Porque não podiam manter um estoque maior dessas coisas... Pensava nisso enquanto comia uma torrada no bar próximo a sua casa. Casa, em termos, estava mais pra depósito. E como sempre, o café era ruim.

Seu telefone tocou.

- Alô... Falou sem nenhum tipo de empolgação.

- Ei, porque não atendeu antes, pirralho dos infernos... Começou um gritedo enorme. Aquela mulher não sabia ser discreta?

- Porque eu estava mastigando, e não pretendo ter um celular cheio de grude de torradas pra usar depois. Respondeu ele como se fosse uma coisa normal a ser explicada.

- Volte pra cá agora. O que você queria já está pronto. Ela disse, e um pequeno sorriso se abriu.

Saiu dali depois de pagar a conta e foi tranquilamente para um outro lugar. Era desagradável, mas aquela velha sabia como resolver os seus problemas.

- Olá... Disse ele entrando e se escorando no balcão daquela loja velha e com poucos clientes, àquela hora, nenhum ainda.

- Ah, que bom que veio... Lento. Porque ela sempre tinha que reclamar como se ele devesse ter poderes a la The Flash pra aparecer quando ela queria...

- Conseguiu o carregamento que eu pedi, Cláudia? Ele perguntou para a mulher de seus quase quarenta anos, enérgica, com o cabelo curto e liso em um tom de castanho.

- Não duvide de mim, garoto... Johannes vai ficar muito contente com o que consegui. Ela disse fazendo um sinal para que ele entrasse na loja. Uma sala ao fundo era usada para praticar tiro, e ali haviam duas maletas grandes sobre uma mesa ao canto.

- Só isso? Ele perguntou olhando para as malas, achou que não seria suficiente.

- Pare de desperdiçar o meu precioso carregamento de munição, pratique mais pra não ficar dando tiros fora, Leo.

- Que seja... Resmungou ele vendo-a abrir as malas.

Pistolas novas, diferentes das que ele conhecia, e um carregamento com balas que pareciam bem menores que as que ele estava acostumado. Não parecia que aquilo derrubaria nem mesmo um cachorro.

- Tecnologia de ponta pra vocês - começou a mulher - precisão com muito mais segurança, afinal, com esse tipo de munição, não vai poder se dar ao luxo de dar um tiro pela culatra.

- Vejamos... Ele pegou uma das armas e carregou, testou o peso e mirou para a parede de tiros onde ainda havia um alvo usado pendurado. A mira do atirador anterior era boa, provavelmente era Johannes.

- Não atire! - Ela disse desarmando-o. - Não seja idiota... Não vou querer problemas com o efeito desses tiros...

Ela parecia preocupada. Aquela munição ridícula seria capaz de algum estrago tanto quanto a anterior?

- Um tiro, e pode derrubar qualquer coisa no seu caminho.

- Qual a munição disso? Suficiente pra matar aquelas coisas?

- Qualquer coisa com alta resistência, certamente. Uma explosão em miniatura.

- Se você me garante, eu vou levar essas coisas então. Respondeu ele saindo com as malas. Johannes já deveria ter acertado o pagamento previamente, pra  que ela estivesse tão tranquila quanto a uma encomenda daquele tamanho.

Chegou no depósito que poderia temporariamente chamar de casa e viu o velho terminando as malas. Iriam mesmo tão longe dali. Nova York não tinha o clima que ele mais adorava no mundo, mas perderia o péssimo café do barzinho e os poucos colegas que poderia considerar normais na sua escola.

- Ei, velho... Pra quê a pressa? Perguntou ele para o homem de seus mais de quarenta anos e alguns fios grisalhos, mas ainda forte o bastante pra carregar aquelas malas sozinho.

- Não posso perder o prazo de matrícula em alguma escola de ensino médio pra você, pirralho irritante, me ajude. Disse ele, como sempre. Ele era engraçado, até mesmo quando o chamava de irritante. Ter um pai assim não era desagradável.

E ver o velho correndo naquele jipe velho pela estrada parecia preocupante, mas era bem menos assustador agora que era costumado a isso. Quando era criança era somente um menino chorão.

- Vamos pra onde dessa vez? Perguntou ele pro velho que dirigia.

Johannes alisou o cavanhaque pensando em alguma outra coisa, deu-se conta que o assunto era com ele, e respondeu. Leo pensava em como poderia um cara daqueles estar vivo depois de tanto tempo sendo um avoado como era.

- Seattle. Vi umas notícias de lá que podem render alguma coisa.

- Aff...

- Porque esse resmungo, Leo?

- Cidades do interior são sempre chatas... Lembra da última vez que fomos pro interior de Connecticut? Você se empolgou tanto no seu falso ofício de ser carpinteiro que pensei que tinha esquecido o que realmente tinhamos que fazer...

- Eu não esqueci, não seja tolo... - começou ele, lá vinha história - com catorze anos você já deveria saber se cuidar sozinho...

Ah, claro, do jeito que naquela época ele atirava mal o velho ainda decidiu testar a sua paciência...

No fim das contas perderam tempo em Seattle, as matrículas para uma escola sequer ainda estavam abertas.

- Viu, toda aquela pressa pra nada...

- Leo, isso não é culpa minha, a Claudia é que demorou demais com o meu pedido.

- Então da próxima vez não peça coisas impossíveis pra ela.

- Eu não pedi nada impossível, só pedi munição suficiente pra podermos ficar tranquilos por alguns meses.

- Sei...

Afinal, seja lá o que fosse a munição daquilo que eu tinha buscado, não parecia ser o tipo de coisa que a Claudia conseguiria sozinha, por mais inteligente e melhor que o seu laboratório fossem.

Em Seattle tiveram só um encontro indesejado, e Leo pode pelo menos testar a munição nova. Realmente, a estabilidade da arma o assustou, um tiro, e o bicho virou poeira, ou nem isso, simplesmente desapareceu, de dentro pra fora.

- Velho... O que exatamente tu pediu pra Claudia fazer com essa munição?

- Ah, eu percebi que a antiga poderia fazer muito estrago e era muito pesada, então cheguei à conclusão de que se ela conseguisse criar algo que fosse livre de radioatividade e fizesse um estrago similar seria ótimo.

- E ela criou um dispositivo que explode dentro do corpo dessas coisas como uma micro-bomba de neutrôns... Leo chegara a essa conclusão de forma simples, não precisava mais que conhecimentos escolares pra isso, mas em questão de armas letais contra qualquer tipo de coisa que se atravessasse na sua frente, tinha um pouco mais que mero conhecimento de causa.

- Legal, não é? Não precisamos mais nos preocupar com sujeira nenhuma... Falava o velho como se fosse o adolescente dali.

Era meio estranho lidar com um velho que não se preocupava com o próprio pescoço. Era como se as vezes ele não se importasse em viver ou morrer.

Mais tarde, no hotel, ele tinha pedido informações sobre as cidades ao redor e vinha até Leo que se preparava pra dormir no seu lado do beliche.

- Acho que poderemos nos instalar em uma cidade próxima, localização estratégicamente boa, e uma escola na cidade inteira... Isso é meio chato, mas pelo menos vai poder conhecer praticamente todo mundo.

- Sim... E correr o risco de ser esfaqueado de novo... Resmungou Leo pensando na última vez que estiveram em um lugar que todo mundo os conhecia, evidentemente ele passou a ser estranho, e algum idiota decidiu comprar uma briga com ele. Sempre aparecia um imbecil desse tipo.

- Ah, não... Forks é uma cidade tranquila, provavelmente não vai ter muitos problemas. Fora a chuva...

- Chuva?

- Eu não comentei isso? É um lugar que tem poucos dias de sol por ano.

- Maravilha... Pensava Leo em como o velho ficaria inútil quando os parafusos e bases de platina de pelo menos três das suas juntas começassem a incomodar com o tempo ruim.

Dormiu e tentou não pensar mais nesse problema. Pelo menos logo estaria se divertindo com algo melhor que isso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Humano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.