Snowflake escrita por PSaiko


Capítulo 5
Capítulo 5




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Snowflake

Kaline Bogard

O céu estava tão bonito que não pôde deixar de pensar em como seria perfeito se Jack estivesse ali ao seu lado.

Pensar em Jack doía.

E o único a quem culpar era ele próprio.  Deixara-se cegar pela idéia de que conseguiriam viver camuflados entre os humanos.  O sonho durara um certo tempo em que tinham sido muito felizes juntos.

Até que a Agência desenvolvesse aquele aparelho GPS.  Uma tecnologia capaz de diferenciar um Jään de uma pessoa comum.

E a caçada começara.

Para salvar a vida de quem amava não restara opção além de deixar tudo pra trás e fugir as pressas.

Outra tola ilusão.

O cerco se fechara.  Jack e ele caíram capturados.  Foram marcados, tratados como criminosos e encaminhados para um dos galpões da Agencia.  Ali, de acordo com os funcionários que não se cansavam de zombar dos prisioneiros, seriam erradicados como pragas que contaminavam o mundo dos humanos.

Ainda não acreditava na fuga precipitada por um descuido.  O desespero em se pôr a salvo e a ameaça da Agencia, novamente, prestes a alcançá-los.  Capturá-los novamente.

No meio do medo e da incerteza uma idéia nascera.  Boba, a princípio.  Ferozmente recusada por Jack.

Deviam se separar.  Pelo menos um deles precisava se salvar.

“Então eu vou para o norte.  Você fica em segurança, Inferninho.”

“Por que, Jack?  Acha que eu não consigo?”

“Tenho certeza que você não consegue!  Isso não é um manga, Shibuya, e você não é um super herói.  Minhas chances são maiores.”

“Não.  Tudo aconteceu por minha culpa.  Eu vou corrigir.”

“Jin...”

“Shiiii.  Não use meu nome de verdade, Ursinho.  Vamos usar os codinomes.”

“...”

“Vai para o sul, Jack.  Temos um ticket para o navio.  Eu consigo um também e então nos encontraremos outra vez.  Nunca mais sairemos das Terras Ermas.”

“Não.  Não gosto desse plano.”

“Pois é tudo o que nos resta agora.”

Então se separaram por que a Agência estava quase em cima deles outra vez.  Jack seguira para o sul.  Devia estar a salvo, em segurança e protegido pela imensidão gelada que eram as Terras Ermas.

E ele estava ali.

Como ia imaginar que uma garota tão gentil poderia se disfarçar num posto de observação e emboscá-lo?  Como ia imaginar que eles usavam munição de compressão quente?

Aquilo era a pior coisa para um Jään.  O corpo resistente dos seres de gelo não se afetavam por munição comum.  Em outro caso não estaria tão mal, já teria se recuperado e continuado seguindo ainda mais para o norte.

No entanto o ferimento seria seu fim.

Se não estivesse tão quente naquela região.  Se não tivesse sido alvejado.  Se não fosse tão insistente em ficar ali ao invés de fugir quando as coisas começaram a dar errado.

O preço fora alto.

Seu corpo estava sendo diluído por dentro, destruído pela munição de compressão quente.  Tivera forças para uma tentativa de curativo inútil.  O sangramento parara, mas o estrago estava feito.  Sentia os efeitos negativos.  Não conseguiria se mover e mesmo falar aquela simples frase com o humano de nome Takeo custava um esforço tremendo.

Apesar dos reveres sofrido não se arrependia.  A única coisa que doía mais que tudo era pensar em Ryuutarou.  Seu querido, precioso e especial Ryuutarou.  O “ursinho” a quem abraçava todas as noites antes de dormir, que aconchegava contra o peito e ninava gentilmente.

Nunca mais veria seu amado ursinho outra vez.

No fim Jack estava certo.

A vida não era um manga.  Suas chances eram pequenas.

Ele não iria conseguir.

Foi uma longa noite, tanto para o Jään quanto para os donos da fazenda.  Nenhum dos dois conseguiu dormir, os espíritos estavam exaltados.  Sabiam que algo estava errado naquela história.

A Agência estava manipulando a opinião pública.  Enganava os cidadãos!

– Temos que ir mais a fundo – Takeo insistia na idéia.

– Você enlouqueceu.  O que podemos fazer contra a Agência?  Quer ir às rádios e jornais?  Acha que é só chegar e anunciar ao mundo que temos uma idéia errada desse povo?

– E a sua sugestão, Hayato, é fingir que nada disso aconteceu?  Voltar a colocar uma venda nos olhos e ouvir as notícias de uma guerra contra monstros que nem ao menos existem?!

O moreninho suspirou e sentou-se na cama de casal.  Estavam no quarto de ambos, um dos cômodos mais bem arrumados da casa.  Praticamente tudo estava no lugar certo.  Havia um toque especial de cada um que deixava bem evidente traços das personalidades tão diferentes.

Takeo acalmou-se um pouco e foi sentar ao lado do namorado.

– As coisas não vão voltar ao que eram nem mesmo se fingirmos que nada aconteceu.

– Tenho medo – Izumi se deixou abraçar pelo compositor – Somos tão pequenos, Takeo.  Existe um motivo para a Agência veicular uma falsa guerra com falsos monstros.  Seremos esmagados se nos metermos...

Shiroyama ficou pensativo.

– A opção é jogar o Jään no rio que passa atrás do milharal.  E deixar o destino decidir o resto.  Ou... acabar o serviço e enterrá-lo em algum lugar do bosque a margem da estrada.

As idéias tão cruéis horrorizaram o moreninho.

– Não podemos fazer isso!  Nunca!

– Sei disso – Takeo sorriu triste acarinhando as costas do escritor – Exagerei para que compreenda que não temos muitas opções.

Hayato se afastou um pouco e mirou o amante.

– Alguém, em algum lugar deve saber a verdade.  É impossível a Agência manter um controle tão perfeito sobre as informações.  Posso tentar descobrir algo usando meus contatos... investigamos com calma, sem chamar atenção.

– Concordo.  Temos que começar por algum lugar agora que nos envolvemos na história.

– Fugimos tanto para nada?  Por que nós, Takeo?

– Talvez por que outros fechassem os olhos à verdade.  Talvez já seja o destino decidindo o rumo que o futuro seguira.

Hayato não respondeu.   Em silêncio se ajeitou, assim como Takeo e, apesar do cansaço que sentiam nenhum dos dois conseguiu dormir até que a madrugada avançasse quase cedendo espaço ao novo dia.

E foi justamente o moreninho quem acordou na frente.  Deixou o namorado dormindo, passou pelo banheiro para se ajeitar.  E rumou para a cozinha onde deixou água no fogo para preparar um café bem forte.

Finalmente rendeu-se a curiosidade.  Saiu da casa e foi para perto do canil verificar se o Jään ainda estava lá.  Por um breve segundo teve a doce esperança que ele fugisse e saísse de suas vidas.  Apesar de desejar de todo coração o invasor de sua fazenda ainda estava lá, bem visível, praticamente na mesma posição em que o tinham deixado na noite anterior, apesar de parecer adormecido.  Também não mexera na vasilha com lamen, ao lado das outras duas que Takeo tinha colocado antes.

Hayato aproximou-se da grade estranhando o fato.  Será que Jääns pareciam humanos, agiam como humanos, mas não se alimentavam como humanos?

Ao lançar um segundo olhar sobre o rapaz, com mais acuidade, compreendeu tudo.  A criatura não comera por um único e visível motivo: não pudera.  Não pudera, provavelmente, sequer sair do lugar.

O Jään estava morrendo.

oOo

Jack era o caroneiro perfeito, silencioso e indetectável.

Entrava em ônibus, onde as chances de ser pego eram menores.  Gostava de motoristas solitários também.  Ele ficava invisível e se acomodava no banco de trás seguindo viagem sem precisar de dinheiro.  Coisa, aliás, que tinha pouco.

A medida que se embrenhava mais e mais no norte a paisagem adquiria um ar de zona rural, as casas escasseavam, assim como as caronas.  Seguia a pé a um bom tempo, absorto na paisagem dominada quase totalmente por grandes milharais.

Na mente, pensamentos preocupados e urgente.  No coração, pura aflição.

Seu povo, os Jään Ihmiset, como eram chamados pelos seres humanos, tinham uma característica muito forte.  Quando encontravam alguém a quem amavam, desenvolviam um laço empático.

Graças a esse vínculo Jack sabia qual o caminho seguir.

Sabia que estava cada vez mais perto do seu amado cabeça de vento.

E que algo estava errado.

oOo

Teruo acertou um tapa irritado no GPS.

Aguardava o frentista encher o tanque de seu carro.  Estava louco para acender um novo cigarro.  Só não fazia isso por que era proibido fumar em postos de gasolina.

Se não fosse a precaução necessária já tinha acendido pelo menos um.

Viajara a noite toda.  Adiantara um bom tanto do percurso e, caso o GPS estivesse correto, o Jään se encontrava a mais ou menos oito quilômetros daquela pequena cidade.  Não se movera desde que captara o sinal, na manhã do dia anterior.

– Ei, rapaz – Teruo chamou o frentista – Pode me dizer o que tem para lá?

– Umas fazendas, moço.  Plantação de milho, trigo, cevada.

– Hum – o moreno cortou o assunto.  A época era mais propícia para milho.  Espigas viçosas, grandes em enormes milharais.

Um esconderijo perfeito..


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Notas finais do capítulo

Continua...
Esse mundo é muito similar ao nosso. Mas imagino menor em espaço continental e populacional. Tem alguns avanços tecnológicos, mas é bem atrasado em algumas coisas.
Por exemplo, lá não tem Internet. E to decidindo se tem telefone fixo ou celular.
Rádio e jornal impresso é certeza ter. Televisão também é algo que estou considerando inserir ou não.



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