Snowflake escrita por PSaiko


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Eu ia postar ontem, mas o Nyah ficou off.
.
Enjoy



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Snowflake

Kaline Bogard

Capítulo 04

Takeo ergueu a cabeça e, ao olhar para dentro do canil, levou um susto tão grande que caiu sentado no chão.

– Não pode ser!

Dentro do canil, encostado à parede lateral imediatamente a frente da porta, estava um rapaz que aparentava mais ou menos a mesma idade que ele e Hayato, cabelos curtos e negros despontados e olhos também negros que fitavam Takeo com um misto de curiosidade e cansaço.

– Não... não pode ser...

O ruivo repetiu antes de levantar-se correr para dentro da casa.  Tinha que mostrar aquilo para o namorado.  Bem que ele sentira aquilo ao lutar contra o Jään.

Subiu as escadas apressadamente e invadiu o escritório do moreninho.

– Hayato!  Você não vai acreditar!  Eu sabia, eu tinha certeza!  Quer dizer, certeza eu não tinha mas...

– Takeo! – o escritor pareceu chocado com a invasão e largou os manuscritos sobre a escrivaninha de madeira – Calma.  Do que está falando?

– Da criatura no canil – Shiroyama não conseguiu se aquietar – Eu não podia vê-lo, mas senti como se brigasse com outro ser humano, como a gente.  Não com um monstro, sabe?

– Você perdeu o juízo.

– Aff – Takeo segurou na mão do namorado e o obrigou a levantar – venha comigo.

– Mas... bem agora que eu estava inspirado?!

– Inspirado? – o compositor não cedeu, continuou puxando o mais jovem consigo – Você já parou pra pensar que nós nunca tínhamos visto algo dessa raça?  Quer dizer, sabemos que eles existem e que podem ficar invisíveis... mas nós nunca os vimos realmente?  Sabe por que? – nem esperou resposta – Por que eles são exatamente como nós: dois braços, duas pernas.  Céus, isso é incrível e...

– Quer dizer que ele ficou visível? – o moreninho, claramente cético, tentou não tropeçar nos degraus enquanto era quase arrastado pelo amante.

– Ficou!  Eu... hum... estava tentando entender por que ele não quis comer a carne e... bem, não importa.  O que importa é que eu o vi!

– E o Jään parece humano?  Takeo, sinceramente, se isso fosse possível acha que a Agência já não teria nos informado?  Acha que a população não teria sido alertada?

As questões do escritor diminuíram a urgência do ruivo.  Ele diminuiu os passos e ficou pensativo.

– Tem razão.  Algo assim já deve ser de conhecimento da Agência.  Não compreendo por que manteriam o segredo...

Os dois se entreolharam de forma significativa antes de continuar e sair da casa.

– Eu não te disse? – o ruivo exultou ao parar em frente ao canil e apontar o inimigo que não estava invisível.

Hayato não conseguiu responder.  Sua surpresa era tão grande que ele chegou a ficar tonto.  Como?  Como aquelas criaturas poderiam parecer uma pessoa normal?  Como uma revelação daquela magnitude podia ser escondida das outras pessoas?  Milhares de dúvidas bombardearam sua mente ao mesmo tempo, de tal forma que foi impossível articular e exteriorizar uma delas.

Shiroyama, novamente animado, agachou-se segurando a grade de arame.

– E não é só isso.  Ele compreende nossa língua e falou comigo!  Não é verdade, Jään?  Você não falou comigo?

O rapaz alternava olhares entre Hayato e Takeo, permanecendo em silêncio.

– Ele tem uma mochila – o moreninho apontou algo ao lado do pretenso inimigo.  Também reparou nas roupas coloridas demais, manchadas de sangue que secava.

– Oh, não tinha notado isso antes – Shiroyama desviou os olhos para a mochila.  Não era muito grande e se estava nas costas do Jään fazia sentido não ter percebido antes, quando tiveram contato físico direto.

– O que vamos fazer?  Avisar a Agência?

Takeo pestanejou.

– Não sei.  Hayato eu não estou gostando nada dessa história.  Tem coisas que não fazem sentido...

– Hn.  Eu nunca imaginei que essas criaturas não fossem monstros, sabe, em aparência e tudo mais.  Takeo, isso é muito maior do que imaginamos.  Céus, não podemos ficar com ele aqui...

– E o que sugere?  Ligar pra Agência e dizer algo tipo “olha, descobrimos sem querer que um Jään parece um ser humano.  Engraçado... começamos a questionar tudo o que vocês tem nos feito engolir esses anos todos.  Podem nos tirar algumas dúvidas?”

A ironia do ruivo fez seu namorado erguer uma sobrancelha.

– Começamos a questionar?  Desde quando?  Olha eu não sei se quero me envolver e...

– Já estamos envolvidos, Hayato.  Espera – Takeo cortou o namorado e fez um gesto para o invasor da fazenda que acompanhava a troca de palavras com visível interesse brilhando nos olhos negros – Depois a gente conversa sobre isso, combinado?

O mais jovem ficou um pouco contrariado, porém cedeu.  Não havia lógica discutir algo assim na frente do inimigo.

– Mas nós vamos conversar muito seriamente, ouviu?

– Ouvi – e voltou-se para o Jään – Ei, você!  Eu sei que me entende e que pode conversar... diga alguma coisa!

Foi completamente ignorado.  Por alguns segundos os três apenas se observaram, até Takeo insistir.

– Me chamou de Tachii!  O que é isso?  Um código?

Nesse ponto Arata rolou os olhos.

– Não é um código – analisou o Jään – “Tachii” é uma adaptação, tipo um diminutivo, de Takeo.  É muito usado na área de Akiba, ao sul da capital.  Pesquisei isso para um livro de bolso.

Takeo não disse nada.  Ele não conhecia os hábitos dessa região.  Mas agora outra coisa ficava óbvia: além de parecer com meros humanos, provavelmente eles também podiam viver como eles.  Sentiu algo estranho na barriga.  Jääns viviam entre humanos, tinham hábitos humanos.  Apesar dos poderes que os diferenciavam.

– Por que ele ficou tão quieto? – o ruivo ficou inconformado.  Agora que descobrira tanto sobre os inimigos queria ir ainda mais a fundo.

– Não sei – o moreninho deu de ombros – talvez seja tímido.  Ou não vá com a minha cara.

A tentativa de suavizar a situação não funcionou.  Os rapazes estavam tensos com o que acabaram de descobrir e mal podiam imaginar as conseqüências que cairiam em suas vidas.  A ponta do Iceberg flutuava diante de seus olhos.

– Humanos não gostam de dividir – Hayato falou pensativo.

– O que?

– Um professor da faculdade disse isso uma vez.  Estávamos discutindo sobre extinção das espécies.

– Hayato...

– Ne, Takeo, ele não comeu a carne que você colocou.  Se eles vivem com seres humanos e tem hábitos humanos acho que deveríamos dar um pouco daquele lamen – e diante do olhar curioso que recebeu por parte do namorado, completou – Não podemos deixar alguém morrer de fome.  Mesmo que não seja tecnicamente humano.

O ruivo sorriu sem humor algum, ciente de que o olhar do Jään estava fixo sobre eles.  Era fácil compreender o sentimento de Hayato.  Não parecia olhar um terrível inimigo, como a Agência tanto alardeava.  Parecia, tão somente, frente a frente com um igual.

oOo

O céu estava lindo.  Mas o céu no norte sempre era bonito e limpinho, diferente do centro-oeste, onde a capital moderna liberava toneladas de poluição no ar, na água, no solo...

Lá dificilmente Jack, ou algum outro habitante, poderia ver o céu, as estrelas e a lua, da forma como via naquele momento.

A explicação para isso era bem simples: o calor do norte afugentava as fábricas e o comércio, que se concentrava no centro-oeste e, conseqüentemente, na capital.  A oferta de empregos e vida melhor aumentavam.  Fatores que funcionavam como um chamariz e atraiam cada vez mais pessoas, que geravam mais poluição e deixavam vistas como aquele céu noturno inalcançáveis.

Percebendo o teor de seus pensamentos Jack pestanejou e afastou na janela aberta.  Sentou-se na cama e acendeu um cigarro.

Odiava divagar.  Não era da sua natureza se prestar a pensamentos reflexivos e filosofia barata.  Isso era influência de outra pessoa. Ou não exatamente “pessoa”, dada a situação.

Suspirou.

A calmaria derrubara suas defesas.  A falsa impressão de segurança os fizera relaxar.  E não podiam culpar a ninguém além deles mesmos pelas conseqüências.

Por algum tempo fora tão bom viver aquele papel.  Ter uma vida normal, sonhar, planejar e conquistar objetivos.

Pode comemorar, Inferninho.  O emprego é meu.

Parabéns, Ursinho!  Eu sabia que conseguiria!

Estavam conseguindo fazer tudo certo.  Eram felizes e mergulharam totalmente naquele mundo dos seres humanos.

Um mundo que não lhes pertencia.

E fora brutalmente arrancado de ambos.

oOo

– Cerveja, bonitão?

Teruo observou a mulher que se sentou ao seu lado.  Era mais velha do que parecia.  O corpo bonito não revelava as experiências que já passara, boas e ruins.

– Não estou atrás de diversão hoje.

– Ah, direto.  Gosto disso – ainda assim empurrou a caneca de cerveja na direção do rapaz.  A bebida estava tão gelada que fez a caneca “suar” – O que me deixou curiosa é que... bem, eu vim da capital e reconheço alguém da Agência quando vejo um.  Não me diga que aqueles monstros estão vindo pro norte agora?

Teruo pegou a caneca de cerveja e a girou entre as mãos, pensativo sobre o que responder aquela mulher.  O bar estava cheio de pessoas que buscavam um alívio da rotina diária.  E do calor também, já que a maioria tinha uma caneca de cerveja nas mãos.  Ninguém prestava atenção em si ou na conversa que tinha com a desconhecida atraente.

– Pensei que eles gostassem de clima frio – ela resmungou antes de dar um gole na própria bebida.

Teruo respirou fundo e pareceu ficar um tanto distante.  Lembrou dos gritos, do sangue e da dor.  Da desesperança e da sensação de estar perdido, sozinho e sem forças para seguir em frente.

– As coisas mudam.  Por isso pessoas como eu têm que sair e caçar alguns monstros.

O moreno afastou a cerveja e levantou-se para ir embora, desistindo até mesmo do hotel.  Sua noite estava arruinada.

Preferiu voltar à estrada e continuar sua jornada de vingança.  A única forma que encontrara para exorcizar o passado que o assombrava.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Tá ai!
.
Nii me responde a pergunta sobre o Jack! Preciso disso pra dar sequencia!!
.
Valeu.



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