Snowflake escrita por PSaiko


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Veio só por que a Nii me ameaçou!
-.-



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Snowflake

Kaline Bogard


Capítulo 03


– Takeo, vem comer alguma coisa.


O moreninho entreabriu a porta e espiou dentro do cômodo. Aquele era um dos quartos vagos da casa. Tinham se mudado a pouco tempo e não ocuparam ainda todos os cômodos. Os planos eram usá-lo como o estúdio musical de Shiroyama.


Porém, naquele momento, o compositor colocara uma cadeira próxima à janela e observava o canil com a ajuda de um binóculo.


– Onde conseguiu esse treco? – Hayato apontou o objeto nas mãos do ruivo.


– Oh, isso? – o ruivo estava bem animado – Eu tinha visto no celeiro. Deve ser do antigo dono.


Izumi não soube o que dizer. Era incrível o comportamento do amante. Em silêncio fez um gesto com a mão e requisitou o binóculo para observar a vista. Não era um foco tão ruim assim. Através das lentes era possível ver claramente o canil que parecia vazio.


Ainda em silêncio devolveu ao ruivo e foi saindo do quarto. Apenas ao parar sob o batente da porta falou outra vez.


– Venha almoçar.


– Almoçar? Você acha que a gente deve dar algo pra ele... como é mesmo no nome da raça deles...? Jään Ihmiset... eu acho.


– Ei, como assim dar algo pra comer? Eles são carnívoros e...


– Não to falando pra gente dar uma perna ou um braço. Tem carne de porco aí – enquanto dizia isso Takeo ia pendurando o binóculo no pescoço e se levantando – A gente pode dar um pouco. Mas... carne crua ou assada?


– Não sei – Izumi resmungou de mau humor – Eu vou comer lamen enquanto isso.


– Não! Calma, você tem que me ajudar. Depois a gente almoça junto.


– Você está adorando isso, não está?


– Pense pelo lado positivo: vamos ter muito material para seu próximo livro – parou ao lado do moreninho e depositou um beijo nos lábios tentadores – Vem comigo.


Hayato rolou os olhos antes de seguir o mais velho.


Os dois foram para a cozinha. Shiroyama pegou um pedaço de carne do freezer e colocou em um pote de plástico. Encontrou uma porção de carne que sobrara da preparação de lamen e colocou em outra tigela de plástico.


– Vamos colocar um pouco crua e um pouco preparada. Assim esse Jään escolhe o que quer. Eu abro o canil e coloco lá dentro. Você vigia com o ancinho. Se ele tentar me atacar você sabe o que fazer.


– Takeo, ele está invisível! Só vou saber que ele te atacou quando for tarde demais para...


– Relaxa, vai dar certo.


Hayato não parecia muito satisfeito. Mas, como sempre, cedeu aos caprichos do ruivo.


A adrenalina voltou a deixar ambos agitados. Qualquer outra pessoa que observasse o canil nunca imaginaria que tinham aprisionado um Jään ali...


– Espere – o moreninho pegou um ancinho e voltou para junto do namorado – Você abre.


Takeo concordou. Depositou as tigelas no chão e alcançou a chave que Hayato lhe estendia. Com muito cuidado enviou a chave no cadeado e girou, abrindo-o. Com ainda mais precaução abriu um vão na porta antes de pegar o alimento. Lançou um olhar para o moreninho que permanecia em posição de ataque, abriu uma passagem maior na tela de arame e deixou as tigelas lá dentro. Fechou a porta e passou o cadeado travando-o em seguida.


Só então ambos respiraram aliviados.


– Deu certo! – Takeo vibrou – Agora é só esperar pra...


– Espere você. Eu vou almoçar!


O moreninho saiu pisando duro, ainda afetado pela emoção e medo que sentira. Takeo podia estar brincando com fogo!


Shiroyama lançou um ultimo olhar para o canil antes de seguir os passos do namorado. Sabia até que ponto podia ir.


A refeição foi feita em silêncio. O lamen preparado por Izumi estava delicioso. Depois disso Takeo cuidou da cozinha e Hayato foi para o improvisado escritório, tentar escrever alguma coisa ou pelo menos desviar a mente da confusão em que estavam metidos.


O ruivo ajeitou as louças, as lavou, secou e guardou. Guardou os restos de alimento. Quando tudo parecia certo correu de volta para seu posto de observação no segundo andar da casa. Pegou o binóculo pendurado no pescoço e observou o canil.


– Oras, não comeu... – a primeira coisa que investigou era se a carne tinha sido devorada, porém parecia intocada.


Não tinha vontade de fazer mais nada. Aquele mistério o instigava a continuar sua investigação. Horas depois, quando o sol se punha no horizonte, entendeu que o alimento não seria ingerido.


Levantou-se e saiu novamente. Tinha algo naquela história o intrigando tremendamente. Algo que chamara a atenção durante a luta contra o invasor. Ou a invasora, por que, afinal de contas, Takeo não saberia dizer sobre isso quando o assunto era Jään.


Ao parar perto do canil entrelaçou os dedos no gradil de arame e observou o espaço cuidadosamente. Ambas as tigelinhas permaneciam próximas a entrada na exata posição em que as tinha deixado.


Um pensamento preocupante passou por sua mente. E se o Jään tivesse fugido de alguma forma? Não conhecia todos os poderes daquelas criaturas. Talvez, além de ficar invisível, pudessem se desmaterializar ou algo do tipo.


Não.


Fosse intuição ou instinto, ainda podia sentir aquilo olhando de volta, em algum ponto daquele canil.


Com essa certeza Takeo abaixou-se, apoiando um joelho no chão e voltou a entrelaçar os dedos no arame. Pensava em uma forma de... fazer alguma coisa. Nem ele sabia bem o que estava esperando, só uma certeza o movia: necessitava ter alguma reação e sanar a dúvida que surgira durante a luta.


– Olha... – o ruivo começou indeciso sobre que rumo seguir – Eu não sei se você pode compreender o que digo. Hoje pela manhã vi, ou melhor, senti que não lutava a sério. Eu... não sei bem porque estou fazendo isso. Só estou intrigado e... e... e... aff pareço um idiota falando com um canil vazio.


Meio sem jeito abaixou a cabeça e suspirou segurando a vontade de dar um tapa na própria testa.


– Não parece... um idiota... Tachii.


Takeo ergueu a cabeça e, ao olhar para dentro do canil, levou um susto tão grande que caiu sentado no chão.


oOo


– Aqui está a chave, senhor – a garota virou o livro de registros para ler o nome assinado – Jack. Tenha uma boa estadia.


Jack aceitou a chave e deu meia volta seguindo para a escada. O prédio de quatro andares não tinha elevador.


O quarto era pequeno e simples: uma cama, uma cadeira e um guarda-roupas. A outra porta levava ao banheiro. Mas estava limpo e o hotel era do tipo que não fazia muitas perguntas. Perfeito.


Trancou a porta e começou a tirar as roupas, colocando-as com cuidado sobre a cadeira. O banheiro era ainda menor. Porém não precisava de muito espaço.


Abriu o chuveiro e quase suspirou ao sentir as primeiras gotas caindo sobre sua cabeça, escorrendo pelo rosto de feições perfeitas e pelos lindos cabelos negros e longos. Usou o sabonete fornecido pelo hotel para ensaboar-se. O cheiro enjoativo não incomodava.


Ao lavar as mãos permitiu que seus olhos examinassem a tatuagem no pulso. Um número de cinco dígitos: 12084.


Isso trouxe lágrimas silenciosas aos olhos do rapaz. E lembranças dolorosas. Tudo o que conhecia, tudo o que amava e que conquistara com tanto esforço fora arrancado de si. Eles foram presos e marcados como criminosos. Tratados como criminosos.


Shibuya também fora marcado. Cinco pequenos dígitos no pulso esquerdo que os acompanhariam pelo resto da vida: 12083.


Sorriu triste. Jack tinha que admitir a ironia. Até nisso combinavam.


Como aquele cara estaria se virando? Ele não era o rei das boas idéias... “Seguir para o norte. Sempre para o norte.”


Demoraram tanto para ficar juntos e foram separados com uma facilidade impressionante.


Suspirando, Jack ergueu o rosto e permitiu que as gotas frias como gelo caíssem em sua pele, trazendo um alívio que não lhe alcançou o coração.


Estavam destruídos. Shibuya e ele.


E tudo o que eles queriam era viver.


oOo


Teruo pensou seriamente no que fazer. O dia estava acabando e seria infrutífero continuar. O sinal no GPS permanecia fraco e imóvel. Provavelmente aquele Jään não iria a lugar algum.


Por outro lado não podia dirigir até a exaustão.


Resolveu parar num dos vários bares daquela rua e tomar alguma coisa.


O norte era quente demais para ele, acostumado as cidades do centro-oeste onde o clima tendia mais para o frio do que aquele clima abafado e sufocante.


Depois de um gole iria para um hotel e se registraria. Um banho seria mais que bem vindo.


Pela localização do GPS talvez chegasse ao lugar em menos tempo do que calculara.


E poderia dar mais um passo para equilibrar a balança.


Mais do que uma missão, aquela era sua vingança pessoal.


Continua...



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Notas finais do capítulo

Rsrsrssr
.
Mais do cereal



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